Política da terra queimada

Está a acontecer na Califórnia algo similar ao que aconteceu em Portugal em Junho e Outubro: incêndios cuja tipologia devastadora, com uma velocidade de expansão muito maior, resulta de alterações climáticas para as quais ninguém, nem os americanos, se preparou, e perante os quais ninguém, especialmente os americanos, sabe como se preparar.

Em Portugal, oposição à direita e comunicação social de referência (passe a anedota) cavalgaram a onda da fúria emocional e da culpabilização dos malandros do costume. Primeiro, por causa do contexto eleitoralista, no caso de Pedrógão, depois, por endémica miséria moral inerente a quem se limita a ladrar quando passa a caravana. Mas a degradação maior foi ter visto o Presidente da República a usar as vítimas e os prejuízos dos incêndios para se deleitar na jogatana palaciana. É pedagógico reler os elogios que recebeu por um dos mais espectaculares e sofisticados exercícios de manipulação afectiva ao serviço de um cinismo que é destino.

Aquilo que foi considerado como erro crasso de Costa, a sua reacção executiva e expressiva aos incêndios, tem um reverso. O de ter sido ele o exemplo perfeito da recusa em usar o fogo para agradar à plateia e aos camarotes.

44 thoughts on “Política da terra queimada”

  1. «Está a acontecer na Califórnia … incêndios cuja tipologia devastadora, com uma velocidade de expansão muito maior, resulta de alterações climáticas …»

    Caro Valupi,

    Palavra de honra que te ficaria reconhecido se me conseguisses desenvolver em que medida é que uma situação hiper-tipificada de “Santa Ana Winds” resulta de uma alteração climática.

    https://en.wikipedia.org/wiki/Santa_Ana_winds

  2. Valupi,

    Admito que esteja. Por isso mesmo, e se não fosse muito incómodo, tinha pedido que me elucidasses. Com efeito, do que tenho lido ( p.e. aqui :
    https://www.wired.com/story/losangeles-wildfire-science/
    ou aqui:
    http://www.latimes.com/opinion/op-ed/la-oe-halsey-socal-fires-why-20171207-story.html )
    a conclusão que retiro é que : “Every single year, we have ideal conditions for the types of wildfires we’re experiencing. What we don’t have every single year is an ignition during a wind event. And we’ve had several.”E, mais adiante: “Southern California, …is an “ignition-limited ecosystem.” It’s always a tinderbox. The canyons that cut through the transverse ranges align pretty well with the direction of the Santa Ana winds; they turn into funnels. “Whether or not you get a big fire event depends on whether humans ignite a fire,”
    Mas, claro, estou aberto a rever tudo isto se tiveres evidência de uma “alteração climática” que tenha impactado nesta situação.

  3. JRodrigues, fico com a ideia de que, primeiro, não sabes patavina do que aconteceu neste incêndio, e que, para agravar, nem sequer tens olhado para os registos das temperaturas dos últimos 20 anos.

  4. Valupi,

    Obrigado pelos esclarecimentos. E desculpa o incómodo. Afinal tens toda a razão: já tenho idade bastante para saber que não há como discutir crenças.

  5. Essa malta fandanga deve estar ansiosa que a tempestade “Ana” faça inundações e outros estragos para depois vir dizer que o Estado falhou, digo, o governo falhou. Dessa malta espera-se tudo.

  6. «Afinal tens toda a razão: já tenho idade bastante para saber que não há como discutir crenças.», Valupi tens de criar um cantinho para o empregado do mês. No caso, e até porque ela chegou tardiamente, essa é uma forte candidata a entrar directamente no top 10 das melhores frases do ano no Aspirina B durante o ano de 2017.

    Esclarecimento: para quem anda por aqui a apanhar bonés (e se os há, meninos!), o J. Rodrigues antes era um assanhado defensor da crença-maior personificada na alma e no corpo de José Sócrates. Pelos vistos, ganhou juízo e agora é mais um que perdeu a fé (e que “acalma” a sua descrença no que o pobre Valupi escrevinha por aqui).

    Nota, ainda. Quando vi este post pela primeira vez havia ali uma incorrecção (um nas ou um das mal parido, que terá sido corrigido) pelo que, não existindo chamadas de atenção nas caixas de comentários de um blogue em que normalmente não habitam grandes literatos…), o autor relê solitária e vaidosamente por várias vezes o que escreve. Uma vezes para (se) entender, presumo.

  7. sabes o que te vai a oposição responder? que a política da Califórnia vizinha é sempre melhor do que a minha. como é possível haver gentalha que não saiba ainda que o Homem, apesar de muito querer, não controla tudo?

  8. Caro Valupi,

    Tens uma lata que não deve nada à dos melhores demagogos da nossa praça. Coloco-te uma questão cuja pertinência demonstro e tu, para evitares entrar por terreno que exponha as fragilidades argumentivas da tua “fé” , comportas-te como um troll e enveredas por uma tentativa patética de questionar a minha habilitação para falar do tema. Mas como sabes tu se não passei mais de vinte anos a “olhar para o termómetro”? Como podes afiançar que não sou especialista em Ecologia Aplicada, ou que nunca integrei nenhuma equipa que tivesse dedicado ao estudo ( por exemplo, em Berkeley ) dos problemas associados ao ordenamento na floresta californiana ? Bendita pesporrência a tua !

  9. Eu não te dizia Yo? É preciso ter cuidado com os impostores que perderam a fé!
    Isto está bonito, está !

    JRodrigues
    11 DE DEZEMBRO DE 2017 ÀS 11:40
    Caro Valupi,

    Tens uma lata que não deve nada à dos melhores demagogos da nossa praça.

  10. JRodrigues, talvez tu sejas a maior autoridade mundial viva sobre a problemática dos incêndios no Sul da Califórnia. No entanto, por que razão achas que te basta trazer dois textos entre centenas ou milhares deles sobre o mesmo assunto para te sentires satisfeito nesta conversa?

    O ponto é muito simples, com ou sem Berkeley no currículo: tens alguma coisa a dizer a respeito do termómetro?

  11. pois é , . Eric e eu , com base nas estatisticas dos últimos 20 anos , e face ao aumento nos jornais e tvs de fogos , sismos ,vulcões a vomitar e catástrofes variadas com nomes xpto ( brunos , anas , maria vai com as outras , é tudo da joana )estou com uma fé incrível que é o apocalipse a chegar.

  12. Caro Valupi,

    Sobre o “termómetro” falaremos quando quiseres. De resto já o tentei noutras oportunidades, sem que me tenha apercebido haver da tua parte real interesse nisso. Mas entretanto não te desvies do tópico. E o tópico é que no teu texto associaste directamente os recentes fogos na Baixa Califórnia às AC’s, quando não parece haver nada na tipologia deste evento ( incêndio florestal em contexto de ventos de Santa Ana https://en.wikipedia.org/wiki/Santa_Ana_winds ) que os distinga das largas dezenas de outros ocorridos desde que há registos, conforme poderás verificar com singela navegação na internet.
    Os links que deixei tiveram a simples intenção de sugerir a existência de outras abordagens ao assunto que não pela via das estafadas AC’s.

  13. e eu, que estou certa de que a coisa tem vindo mesmo a aquecer que até queima, agora tenho de ficar em aquecimento de banho-maria para falares sobre a temperatura? não, não, JRodrigues, fala agora, carago!, ou cala-te para sempre. :-)

  14. JRodrigues, tens de me refrescar a memória a respeito dessas ocasiões em que não te sentiste a receber a atenção que julgas merecer da minha parte. Mais te informo que se quiseres publicar alguma coisa da tua lavra neste cu do mundo serei o primeiro a agradecer a tua generosidade.

    Ora, voltando à batata quente (pun intended), desviar-me do assunto é coisa que ainda não fiz, o mesmo não se podendo dizer de ti. O assunto é o que está lá em cima: a tese de que os incêndios em Portugal que suscitaram ataques políticos ao Governo têm um aspecto análogo aos incêndios que neste momento devastam o sul da Califórnia. Esse aspecto identifica-se pela expressão que dizes estar estafada.

    Com humor, mandas-me para a Internet procurar a confirmação de não haver nada nestes fogos da Baixa Califórnia que não se encontre no registo de fogos anteriores. E fico sem saber se também te desmanchas a rir com a sugestão ou se apenas eu. É que tu és aqui o cromo no assunto, como reclamas, e eu não passo de um distraído leigo para quem a temática das alterações climáticas ainda não cansa. Daí a questão do termómetro. Se formos pelo termómetro conseguiremos atingir um terreno de salutar objectividade.

    Então, conta lá: para ti as temperaturas médias têm aumentado neste planeta nos últimos anos ou não?

  15. Tanto no Centro de Portugal como na Baixa Califórnia as alterações de termómetro são muito menos relevantes do que a gestão urbana e rural dos solos. A coexistencia próxima de combustível e casas nesses lugares resultará sempre em catástrofe.
    http://www.slate.com/blogs/future_tense/2017/12/07/we_keep_saying_the_same_things_about_wildfires.html
    Acho oportunismo reles o aproveitamento de uma catástrofe para fins de política partidária. Agora, as opções estratégicas para prevenir essas catástrofes merecem um julgamento político. É uma aberração sem nome proibir as culturas que, quando sujeitas a gestão racional, comprovadamente apresentam mais rentabilidade, mais contribuem para a riqueza do país, melhor combatem a erosão dos solos e são mais eficazes na prevenção de grandes incendios. É outra aberração sem nome obrigar com um chicote proprietários idosos executarem a limpeza das suas pequenas courelas, isoladamente, quando esse trabalho apenas faz sentido operacional e tem custos comportáveis se fôr executado de forma coordenada e contínua, em determinada área. Essas opções, sim, deveriam receber o nome de criminosas.

  16. Outra aberração sem nome é acusarem os comandantes de bombeiros de homicídio. Um dia destes, só os loucos saem do conforto de fazer coro com a indignação mediática do momento para dar a cara pelo que quer que seja. Sempre que alguém morre têm que entregar cabeças no altar da expiação.

  17. «…. os incêndios em Portugal que suscitaram ataques políticos ao Governo têm um aspecto análogo aos incêndios que neste momento devastam o sul da Califórnia. Esse aspecto identifica-se pela expressão que dizes estar estafada.», i.é : «…resulta de alterações climáticas…»

    Valupi,

    A menos que consigas demonstrar que as condições meteorológicas observadas na Baixa Califórnia durante o recente evento de fogos florestais são anómalas, a premissa climática da tua tese não passa de uma lamentável boutade, para dizer o mínimo. Reconhece-lo ou não é matéria da tua discricionariedade. Mas não contes comigo para tentar iludir esta questão transformando-a, aqui e agora, num debate sobre temperaturas.

    Quanto ao “estafadas”: quando as AC’s são invocadas porque se inundam as caves construídas no leito de cheia da Ribeira de Albufeira, porque se partem umas pernadas de umas quantas árvores durante um banalissimo temporal de Outono, porque alguém filma um urso escanzelado ( sem sequer diagnosticar se está assim de doença, velhice,….), ou pelo mais com que a criatividade jornalística nos desinforma diáriamente, que melhor qualificativo recomendas ?

  18. Independentemente das razões cientificas , cuja análise critica ultrapassa em muito as minhas humildes competências, há uma coisa que me parece evidente em relação às chamadas Alterações Climáticas: é que elas se transformaram no “detergente” ideal para branquear décadas de incompetência e corrupção na (má ) gestão do território.

    Vejam este exemplo:

    http://www.sulinformacao.pt/2017/11/camaras-do-algarve-encomendam-plano-para-se-prepararem-para-as-alteracoes-climaticas/

    Como se, quando se autorizou construir em leito de cheia, sobre arribas ou em ilhas-barreira, já não se soubesse que isso seria sempre um disparate monumental face ao clima e à dinâmica costeira já conhecidas.

    Esta situação recorda-me Ivan Illich, quando profetizou que da mesma forma que o capitalismo tinha facturado com a poluição também ia facturar com a despoluição. Estamos numa situação parecida. Talvez sejam estas “oportunidades” para betonar arribas e desviar ribeiras que tanto entusiasmam as plateias nas arengas de Al Gore

  19. JRodrigues, é engraçado como continuas a fugir ao assunto. É que não sou eu que tenho de provar nada, até porque nem sequer se faz prova na matéria em causa como tens o dever de ser o primeiro a saber. Daqui deste lado há a mera constatação de que nos anos 90, quiçá 80, se começou a falar na comunicação social em “aquecimento global”, expressão que viria a ser substituída por “alterações climáticas” dado não ser rigorosa a primeira nomeação do fenómeno (há partes do planeta que não aquecem tanto como outras, há até partes que arrefeceram entretanto, há mudanças nos padrões das chuvas, nas vagas de calor no Verão, na duração do Inverno, etc.). Este o contexto para se falar de 2017 como um exemplo disso mesmo, correlacionando a seca que vinha do final de 2016 com os incêndios do Verão e do Outono. A coisa não parece ser difícil de entender: a seca e as temperaturas anormalmente altas, com o acrescento da passagem de um furação perto de Portugal em Outubro (de que não há memória, pelo menos popular), criaram condições para fogos com uma violência e expansão extraordinárias. Igualmente, na Califórnia, a juntar a todos os outros factores usuais a que apelaste, há uma seca extrema e níveis de humidade ainda mais baixos do que é normal. Isso explica, segundo os responsáveis políticos que ouvi e ainda os bombeiros no terreno, a velocidade de progressão neste incêndio que já entrou para a lista dos 5 maiores de sempre na zona.

    Ora, que tem tudo isto a ver com o teu aborrecimento por causa de uma ramada levada pelo vento?

  20. oh pá , fiquei curiosa , : afinal qual a diferença nas temperaturas da baixa califórnia de 1974 até hoje?
    temperatura para aqui , temperatura para acolá , números nem vê-los , à escala global não valem , e só as florestas que ardem periodicamente é que contam para o aquecimento global?

  21. Valupi,

    Quem estiver de boa fé a ler esta troca de teclas concluirá por si quem está e não está a “fugir ao assunto”.

    Sobre o que dizes do estado de seca na Califórnia , seria melhor reveres as tuas fontes, pois parece que há quem discorde:
    «Between October 2016 and March 2017, California averaged 30.75 inches of precipitation, the second-highest average since such records began being kept in 1895, according to the National Centers for Environmental Information, part of the National Oceanic and Atmospheric Administration.» ( Daqui: http://www.mercurynews.com/2017/04/06/california-storms-this-water-year-now-ranks-2nd-all-time-in-122-years-of-records/)

    Quanto ao “termómetro”, se quiseres “petiscar” qualquer coisita dos problemas que se colocam nesse dominio, poderás, sequiseres, seguir esta pista: http://news.mit.edu/2017/correcting-records-thomas-karl-0425 ( e mando esta para que não digas que sou faccioso…).

    Concluindo: quando quiseres debater clima, dispõe; para debates onde se mistura ideologia com ciência, não tenho competência.

    Cumprimentos.

  22. JRodrigues, tens de rever a metodologia do debate. Não se trata de fazer um ping-pong de ligações aqui e ali. Trata-se do que se está a passar no momento. Como exemplo, essa referência da precipitação entre Outubro de 2016 e Março de 2017 acaba por servir o argumento das alterações climáticas bastando cruzá-la com um dos artigos que começaste por agitar, no qual se refere uma mudança na flora da zona, onde as espécies autóctones, capazes de retardar o avanço dos incêndios, têm sido substituídas por espécies invasivas de combustão mais fácil e com um ciclo de crescimento mais rápido. Nesta lógica, a chuva referida teria provocado uma abundância da tal botânica alienígena, gerando ainda mais combustível na seca seguinte.

    Corrige-me se estiver enganado, please.

  23. Então vamos lá a ver se entendi:

    – começaste por afirmar que os incêndios em curso na Califórnia «resultam das alterações climáticas»
    – questionado sobre que alteração climática teria sido essa, esclareces, vários comentários depois, que «na Califórnia, … , há uma seca extrema »
    – perante o contraditório facilmente acessível ( é um facto que nesta época a Califórnia interrompeu uma serie de anos secos e deixou de estar em seca) , dás a volta ao texto e dizes que «essa referência da precipitação entre Outubro de 2016 e Março de 2017 acaba por servir o argumento das alterações climáticas» . Porque não corresponde a um padrão climático conhecido ( alternância anos secos / anos chuvosos )? Não. E explicas: porque induziu « uma mudança na flora da zona » ! Ah sim ?! O clima ( habitual )levou a uma mudança na flora ?! Terá sido o mesmo clima que andou a plantar eucaliptos pelas encostas das nossas serras ou a escramalhar acácias pelos respectivos vales ?

    E ainda tens o topete de insinuar que sou eu quem necessita de rever a metodologia do debate ?!

    O caso é que não apresentaste um único argumento com solidez bastante para suportar minimamente a tua tese inicial, no que à Califórnia concerne. Querias falar ( e falaste bem …) do aproveitamento abusivo pela baixa politica de problemas estruturais, e não encontraste melhor cabide para pendurar o teu discurso . Podias ter admitido isso, aceitavas que tinha sido um azar, e ninguém te levava a mal, pois são merdas que acontecem. Assim, tens estado a fazer o papel de qualquer crente, para quem a sua fé se sobrepõe sempre aos factos, por mais pertinentes que eles sejam.

  24. Ó JRodrigues, não se vêem eucaliptos nem acácias a arder na Califórnia. Não é preciso fazer estudos para perceber que quanto mais plantação ordenada e bem gerida de eucalipto existir(ou outra plantação ordenada e bem gerida qualquer) menor será o risco de ocorrencia de incendios catastróficos. O que aconteceu em Portugal foi a inevitável consequencia de 3 factores: a reduzida área ardida nos últimos anos, a abundante precipitação recente e a existência de extensas áreas sem gestão florestal (de todas as espécies, pinheiros, eucaliptos, medronheiros, carvalhos e castanheiros,…) colocou a carga inflamável no terreno em máximos históricos. Nessas condições, qualquer faísca é suficiente para desencadear o desastre. As alterações climáticas não são para aqui chamadas. Agora, o que interessa é saber o que fazer para que essa conjugação de factores não ocorra novamente. Repito. Proibir as culturas mais rentáveis, cuja gestão racional tem provas dadas na prevenção de fogos catastróficos, sem apresentar alternativas consistentes, é uma decisão política irresponsável.

  25. Lucas Galuxo,

    Concordo contigo quando dizes que as « as alterações climáticas não são para aqui chamadas». Também concordo quando dizes que o (des)ordenamento e a (má )gestão explicam o essencial do que passou. Quanto à ideia das “culturas mais rentáveis”, aí já teremos de ir com mais devagar. Importaria saber, por exemplo, se a rentabilidade no curto prazo compensa os problemas que acarretam no médio/longo prazo ( um conceito que entretanto deixou de estar na noda….). Esse debate existia nos finais dos anos setenta do sec passado. Dois dos protagonistas foram dois académicos da Univ Évora ( Mariano Feio e Gomes Guerreiro ) , e o tópico a eucalipização da Serra D’Ossa. Na altura a questão que se colocava era se a prazo os sistemas de baixa intensidade pré-existentes não seriam mais rentáveis. Claro que quarenta anos depois a resposta complicou-se, porque a alternativa aos eucaliptos deixou de ser a pequena agricultura / pastorícia para passar a ser o abandono. Ainda assim, em certas condições, há problemas que os eucaliptos colocam que não devem ser encarados com ligeireza, como são exemplos a conservação da água e dos solos.

  26. :-) olha que cambada de ogres! acaso vocês acham normal andar a suar dos pés e das pudendas até novembro? as alterações climáticas são um facto inegável, cáspite! – assim como os efeitos a variadíssimos níveis, nomeadamente no que ao tetraedro do incêndio diz respeito. outras, e também, variadas causas existem, obviamente, mas negar e rejeitar as alterações climáticas (a grande força da natureza como uma espécie de vómito à iteração petulante do Homem) é, no mínimo, ignorância.

  27. “há problemas que os eucaliptos colocam que não devem ser encarados com ligeireza, como são exemplos a conservação da água e dos solos.”

    Qual é o problema da conservação da água e dos solos com a cultura do eucalipto? Ouço repetir essa ficção há muito tempo mas todos os casos práticos que conheço indicam que não há problema nenhum. As fontes correm tal e qual e os solos mantêm ou aumentam a sua fertilidade após a retirada dos eucaliptos. Se souber exemplos do contrário indique por favor.

  28. JRodrigues, quem começou por falar da relação entre as alterações climáticas e os incêndios na Califórnia foram os responsáveis políticos e os bombeiros norte-americanos que lá estavam, e estão, a combatê-los. Claro que eles falaram sem terem pedido a tua autorização, induzindo-me em erro. Mas mesmo assim o entusiasmo com esta oportunidade de chicoteares os malandros das alterações climáticas talvez seja um bocadinho exagerado.

    Depois aceleras em direcção à alucinação, e eu tenho de admirar a tua capacidade para a pilhéria. É que no primeiro texto que mandaste ler para a minha aprendizagem no assunto encontra-se esta ideia:

    «Before humans, wildfires happened maybe once or twice a century, long enough for fire-adapted plant species like chapparal to build up a bank of seeds that could come back after a burn. Now, with fires more frequent, native plants can’t keep up. Exotic weeds take root. “A lot of Ventura County has burned way too frequently,” says Jon Keeley, a research ecologist with the US Geological Survey at the Sequoia and Kings Canyon Field Station. “We’ve lost a lot of our natural heritage.”»

    E mais à frente, esta maravilha:
    «Climate change makes fires there more frequent and more severe.» -> calma, vou traduzir: “A tanga das alterações climáticas causa bué da fogos bué da maus”.

    Donde, quando me atiras com eucaliptos e acácias fico com a certeza de que nem sequer lês os artigos que me recomendas do alto da tua sapiência (que não questiono, até porque não tenho como). Ou então lês, e até concordas, mas estás em modo de reinação.

    Quanto a dizeres que a Califórnia deixou de estar em seca porque choveu bem entre Outubro e Março, isso, outra vez, é para a gargalhada. Um período de chuvas fortes, ou acima da média recente, não acaba com secas severas de anos e anos. O que faz é aumentar a vegetação, a qual, chegada ao Verão, volta a ficar seca, só que agora com uma carga combustível muito maior. Acredita, isto não é “rocket science”, nem sequer algum ramo sofisticado da ecologia ou biologia. Isto é o mero bom senso a funcionar numa caixa de comentários.

    Para conseguir dar algum sentido ao que tens dito, e trazido, volto ao teu primeiro comentário. Nele apareces a defender a ideia de que os actuais incêndios se inscrevem num padrão comum. Ora, se tal pode ser considerado incontestável, é o lado em que resolves embirrar com a expressão “alterações climáticas” que te deixa num lugar mal frequentado. A menos que, entretanto, tenhas tempo para explicar aqui à malta porque é que anda tanta gente enganada ao usar essa expressão.

  29. contenção da população , até conseguir-se reduzi-la a metade ; diminuição do consumo nos paises “desenvolvidos” a menos de metade ; instituição de um rendimento individual máximo ( 3 milhões parece-me bem) porque todo ser humano nasce com direito a uma quota parte de recursos naturais e não faz sentido que haja uns acaparadores que gastem o equivalente a , sei lá , duzentas mil pessoas “normais ” . todas estas medidas custam zero , niente , nada , sinal inequivoco que são boas , implicam apenas uma mudança de filosofia de vida no planeta . small is beautifull , decrescimento sustentável. podemos fazer qualquer coisa quanto ao lixo , quanto ao envenenamento do nosso planeta pela ciência dos quimicos e merdas , no que se refere às alterações climáticas podemos fazer tanto como os dinossauros.. quanto aos fogos , podemos fazer como as celulosas , ordenar a floresta , limpá-la , vigiá-la constante e atentamene de modo a apagar os fogos no início . e rezar para que o vento não seja diabólico. porque se tirarmos o vento da equação qualquer um apagava os fogos.

    anda muita muita gente enganada é com as energias verdes e as banhas da cobra caríssimas. isso é que é . os ” trovões são a ira de Deus ” é um mito com muitas variantes.

  30. Valupi,

    Bom esforço mas, lamento dizê-lo, a redacção que produzes está ao nível do que se aceita a um caloiro de geografia do secundário.

    Foste aos texto que linkei literalmente à pesca de qualquer coisa que pudesse apoiar a tua tese fazendo de conta que não tinhas percebido que os escolhi exactamente por conterem uma abordagem abrangente que inclui o contraditório à tese das AC’s para explicar o evento em causa. No mais, e tal como os textos referidos, continuas sem apontar um único factor climático que tenha sido observado que não se enquadre num registo normal de um Outono na Baixa Califórnia e que apoie a tua tese de que a tipologia destes incêndios resulta das AC’s.

    Lucas Galuxo,

    Quando transcreveu o que escrevi esqueceu o inicio da frase: «em certas condições….» . Convirá que esta é daquelas que fazem toda a diferença

  31. JRodrigues,
    Ninguém defende plantar eucaliptos em todo o palmo de terra disponível. Não existem culturas com indicação universal. “em certas condições…” pode referir-se tanto ao eucalipto, como ao carvalho, como ao milho, ao tomate ou ao sobreiro. Assinar uma lei proibindo de cruz uma cultura, sem levar em consideração precisamente as certas condições locais, é um erro colossal. E uma ingratidão, uma acto hostil, até, perante uma das poucas fileiras económicas que permite a Portugal alimentar a esperança de não ser um Estado em bancarrota permanente. Para mim, é o suficiente para fazer mexer o ponteiro que indica um solução de governo responsável e uma agremiação permeável à gritaria demagógica de ocasião.

  32. «Assinar uma lei proibindo de cruz uma cultura, sem levar em consideração precisamente as certas condições locais, é um erro colossal.»
    Concordo com isso.
    Até se compreendia uma medida dessas como uma espécie de “moratória” destinada a ganhar tempo para repor um módico de ordem no granel instalado, não só ao nivel do (des) ordenamento e da (má) gestão florestal, como dos interesses das corporações que em seu redor orbitam. Mas isso tanto é válido para o eucalipto como seria para o pinheiro ou até para o olival de regadio que começa a assumir características de monocultura no perímetro do Alqueva. Tomar tal medida apenas na base da ideia de que o dito cujo “arde mais” é pura demagogia ou então preconceito. A quem o pense por preconceito poderíamos sugerir , p.e, uma visita ao estado em que ficou o montado que existia na zona Casais / Marmelete ( Monchique) depois de arder todo em 2003 e ter ardido todo de novo em 2016.

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