Pelos frutos os conhecereis

De um lado, a nova coqueluche do BE, José Manuel Pureza. Do outro, Frei Fernando Ventura, biblista capuchinho. Um deles, pese embora a sua simpatia e urbanidade, não justifica o esforço de ligar dois neurónios para conservar qualquer pedaço do que disse. O outro é tão rico de saberes e sabedoria que até o espaço entre as palavras se aproveita.

Eis 28.42 minutos que enterram uma polémica que nasceu morta. Mas da qual podem vir bons e sumarentos frutos. Olha um cesto deles aqui dentro.

15 thoughts on “Pelos frutos os conhecereis”

  1. Quando o antigo Saulo estudande do helenismo e perseguidor de cristãos, depois convertido no católico S.Paulo, foi a Atenas explicar o que era e quais os atributos do seu deus, não encontrou melhor explicação do que transmitir a idéia de que o seu deus era uma espécie do deus grego a que chamavam “ignoto”.
    Os filósofos gregos riram do pobre S. Paulo e nunca mais pensaram no caso, tanto assim que não deixaram nada escrito sobre tal encontro além deste retrato do episódio. Uma atitude de gente sábia.

  2. Tive a felicidade de ouvir a entrevista a José Manuel Pureza e Frei Fernando Ventura e fiquei encantado com este último. Aqui se vê a diferença de discurso entre ele e a maioria dos padres, não se vê fanatismo, mas sim respeito pelo pensamento dos outros, só assim é que podemos dar valor ao valor das ideias. Aconselho a que todos ouçam esta entrevista mas, infelizmente só dá em canais fechados.

  3. A este propósito, gostaria de vos deixar um excerto de uma intervenção de Bertrand Russell (filósofo inglês do séc. XX) sob o tema “Porque não sou cristão”.

    O problema moral

    “Vamos versar agora os problemas morais. Quanto a mim há um sério defeito na moral de Cristo, que é a sua crença no inferno. Não posso admitir que uma pessoa profundamente humana possa acreditar num castigo eterno.

    Ora Cristo, tal como o descrevem os Evangelhos, acreditava nesse castigo e descobrem-se muitas frases que testemunham um furor vingativo contra aqueles que não aceitavam a sua doutrina ― atitude que pode estar de harmonia com um pregador mas que prejudicará a reputação dum ser a quem se atribui uma perfeição extraordinária. Se comparardes Jesus a Sócrates, por exemplo, verificareis que o filósofo era suave e cortês para quem se recusava a escutá-lo. Ao que penso, é muito mais próprio dum sage adoptar essa linha de conduta do que deixar-se dominar pela indignação. Recordem-se as palavras de Sócrates no momento da sua morte e aquelas que correntemente dirigia aos que estavam em desacordo consigo.

    Nos Evangelhos ouvireis Cristo exprimir-se deste modo: “Serpentes, raça de víboras, como podereis escapar ao castigo do inferno?”[12] Isto era dirigido às pessoas que não apreciavam as suas palavras. Infelizmente, são muitas as imprecações do mesmo estilo, no que se refere ao inferno, nesses textos sagrados. Especialmente, cito aquele que se aplica ao pecado cometido contra o Espírito Santo: “Todo aquele que fala contra o Espírito Santo, não terá perdão neste mundo ou no outro”[13]. Este texto tem provocado no mundo um número indizível de tormentos. Não aceito que um ser possuindo um grama de bondade natural fosse capaz de instaurar no mundo crenças e terrores deste género.

    Cristo diz ainda: “O Filho do homem enviará os seus anjos que arrancarão do seu reino todos os escândalos e aqueles que cometerem o mal, lançando-os na fornalha de fogo, onde haverá choros e ranger de dentes”[14]. E obstina-se em falar de choros e ranger de dentes, versículo após versículo, parecendo evidente aos leitores que Cristo considerava tudo isso sem qualquer desgosto. Se tal não correspondesse à verdade, essas palavras não apareceriam tantas vezes. Por certo que estais recordados do episódio das ovelhas e das cabras. Aquando o segundo advento, Jesus separará as ovelhas das cabras e dirá a estas: “Afastai-vos de mim, malditas, e ide para o fogo eterno”[15]. E prossegue: “Se o teu pé é para ti uma oportunidade de pecado, corta-o; porque é melhor entrares na vida eterna coxo, do que, tendo os dois pés, seres lançado no fogo do inferno, o fogo que nunca será extinto; onde os vermes não morrem e o fogo jamais é extinto”[16].

    As repetições não cessam. Devo dizer que considero toda esta doutrina, segundo a qual o fogo do inferno é a punição do pecado, como a doutrina da crueldade, doutrina que introduziu a crueldade no mundo e tem justificado séculos de torturas. O Cristo dos Evangelhos, tal como os seus Apóstolos o apresentam, deve ser considerado como parcialmente responsável por esses acontecimentos.

    Entre outros casos de menor importância há o dos porcos de Gadarena. Não é das atitudes mais gentis introduzir demónios nestes animais e fazê-los precipitar no mar, do alto de uma colina[17]. Não era Jesus todo poderoso e não podia simplesmente afastar os demónios? Mas preferiu alojá-los nos porcos.

    Há também a curiosa história da figueira que não tem deixado de me intrigar. Sabeis o que aconteceu com a figueira. “E, ao outro dia, como saíssem de Bethânia, teve fome; e vendo ao longe uma figueira coberta de folhas avançou para ver se encontrava algum fruto. Aproximou-se então da árvore mas encontrou apenas folhas porque não era ainda a estação dos figos. E Jesus disse então para ela: que jamais alguém coma do teu fruto… e Pedro disse para Jesus: Mestre, olhai! A figueira que haveis amaldiçoado secou”[18].

    Esta é uma história muito curiosa, visto não ser a época própria dos figos e não ser possível responsabilizá-la. Penso que em matéria de sabedoria ou de virtude, Cristo não está tão alto como outras figuras históricas. Nesses aspectos colocarei acima dele Buda ou Sócrates.”

    Para os interessados, poderão ler a totalidade do texto em:

    http://www.filedu.com/brussellporquenaosoucristao.html

  4. Isto nunca aconteceu, “deus é amor”, foda-se e toda a gente admira estes padrecas, inseridos na hierarquia da instituição, que, a coberto da biblia obscurantista praticou estes horrores – a memória é curta e assim se vão branqueando os crimes, enriquecendo os cofres e ostracizando os infiéis: http://www.youtube.com/watch?v=0M_f6Jbb140

  5. Adolfo Contreiras, esses Gregos não eram parvos nenhuns, está visto.
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    K, esse Frei só de vez em quando. Já os manos, sempre. Ou quase sempre, prontos.
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    Sinhã, não há coincidências.
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    Manuel Pacheco, exactamente.
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    FV, deixas uma excelente sugestão. Esse livro ajuda a pensar.
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    manutor, larga o vinho.
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    Nuno, mai nada!
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    António P., sendo capuchinho, um, não pode ser uma coqueluche da Igreja. Quanto ao bloquista para Frei, é esperar para ver. As tentações, contudo, são enormes.

  6. Na minha humilde opinião ontem o Carreira das Neves deu uma verdadeira lição do que eu considero ser o verdadeiro cristianismo, em directo. Não o da interpretação do capuchinho que na sua escolastica de soberba aproveitou o palco para brilhar (tão ao gosto dos paineleiros de debates mediatico politicos/desportivos/blogueiros) mas no seu acto diante de um homem digno e frontal que na sua opinião ( a do Carreira) falhou totalmente a perspectiva do significado do livro. O que fez o Carreirra? Disse alguma vez que Deus amava mesmo assim o Saramago ou que ele estava perdoado ou o diabo a sete? Não o Carreira apagou-se e perdou em directo sem o dizer, porque quem quer perdoar não o diz, fá-lo.
    É essa a diferença, há quem possa estudar muita coisa durante uma vida inteira e saber os conceitos de cima para baixo e de baixo para cima sem verdadeiramente compreender o que estuda. É um saber oco e vazio porque neste caso esse saber só se completa na acção. Deus é abstracção, Cristo é acção.
    “Nobody fucks with the Jesus”

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