Pedro, mostra o jogo

A Fernanda, no seu Referencial de ética, usou uma expressão que é de rigor geométrico para sintetizar o essencial da prática política de Passos Coelho: “jogar o País ao póquer“.

Foi nisso em que se meteu quando afundou Portugal numa crise política que, no imediato, tornava inevitável o resgate de emergência, e que, com alta probabilidade, poderia não ter dado uma maioria absoluta à direita – o que não se imagina como viria a possibilitar uma qualquer solução governativa dada a política de terra queimada da direita e o sectarismo fanático da esquerda. Como teria ficado o País vendo a Troika a chegar à Portela e não existindo novo Governo estável, ou sequer formado, à sua espera em S. Bento? Tal como se contou na altura, o único critério a que Passos atendeu foi o da sua sobrevivência à frente do PSD, custasse o que custasse aos habitantes do rectângulo e adjacências.

Assim que se agarrou ao pote, começou a fazer exactamente o contrário do que tinha prometido na campanha eleitoral. A dimensão da fraude eleitoralista conjugada com a violência das medidas além-Troika poderiam ter causado tumultos sociais de consequências colossais. Que teria acontecido neste país caso a comunicação social e o PCP tivessem reagido de acordo com a lógica que usaram para desgastar e boicotar a governação do PS? Se com Sócrates, com um programa de desenvolvimento económico e defesa do Estado social apesar das crises gigantescas que teve o azar de apanhar pela frente, conseguiram inflamar a opinião pública até ao paroxismo do ódio, então tudo o que ficasse abaixo de uma revolução vermelha não estaria a fazer justiça ao programa de Pedro&Paulo.

A crise aberta pelo irrevogável que na altura ocupava a terceira posição no Governo e ainda não tinha um gabinete com vista para o Jardim Zoológico foi igualmente vista como ocasião de uma magnífica jogada de Passos, o qual saiu da efectiva implosão do seu executivo como o grande vencedor que, de caminho, conseguia apagar os efeitos da demissão de Gaspar, um abandono impensável desde o início da governação; assim como já tinha conseguido saltar por cima da demissão de Relvas, outro abandono impensável dado serem um casal inseparável desde os anos 90. Só que neste caso talvez o bluff de Portas tivesse sido tão evidente que Passos nem sequer terá tremido de emoção.

Agora que foi finalmente apanhado sem possibilidade de fuga – só porque decidiu não esclarecer a situação, ou porque a situação não é passível de esclarecimento sem que arruíne a sua carreira política – num caso que pode misturar fugas ao fisco, declarações falsas no Parlamento, cobiça por dinheiros públicos indevidos, tráfico de influências e branqueamento de capitais, lançou-se sem pestanejar na divulgação de uma teoria da conspiração que faz de Ricardo Salgado o vilão por detrás da denúncia anónima. Este é o espírito de um verdadeiro e inveterado jogador. Não há problema que não possa ser enfrentado com uma fuga para a frente; ou, no caso, para o fundo – para o fundo da baixa política e do desespero de quem sabe quais são as cartas que tem na mão.

9 thoughts on “Pedro, mostra o jogo”

  1. O caso do levantamento do sigilo bancário:
    Se fosse pedido a mim e se o recusasse era normal porque não pretendo demonstrar a minha idoneidade para concorrer a cargos públicos. Portanto não teria ninguém, de certeza a me criticar, porque sou um entre tantos e não entre tantos um, como é o caso de Passos Coelho. Nesta situação, a de Passos Coelho, importa mostrar que se é sério e também é preciso parecê-lo.
    O que faz levar Passos Coelho a negar mostrar as suas contas bancárias é que por ali anda coisa duvidosa. Porque não se entende que se as contas estivessem “limpinhas” não havia receio de as mostrar ou até publicar nos órgãos de comunicação social. Não era isso que fazia qualquer comum dos mortais? A sua parada de honestidade aumentava e de que maneira. A ser assim, quase que afirmo, ganhava as legislativas de dois mil e quinze com maioria absoluta.
    Mas quando as coisas não são como se pintam o receio da transparência é enorme. Anda-se de embrulhada em embrulhada levando a coisa a cheirar mal. É o que está a acontecer com o caso da denúncia anónima. Cheira mal que até tresanda.
    Espero que os visados pelo advogado da Tecnoforma não fiquem com medo e calados para que os portugueses saibam tim-tim por tim-tim, todo o imbróglio. Por que vejo neste caso jornalistas e jornais de referência meteram a cabeça debaixo da areia, assim como a Procuradoria Geral da República e Secretaria Geral da Assembleia da República. Não há cargos de graça. Quando é preciso tem de se pagar os favores.

  2. Números não fazem strip-tease, ou então ando cego. Quem se expõe mostra-se, é dos antigos gregos. Números cá para fora e já, pois tem uma alternativa airosa: demite-se e vai para casa e ninguém o aborrece, que se crime houve,já prescreveu!

  3. prontes, o tótózero vai aviar pílulas na 2ª. feira, agora é preciso correr com o coelho e depois tratamos da saúde ao bolicoise.

  4. Eu gosto da forma primária como o Reaça procura defender o Passos, tentando espalhar um manto de lama que disfarce o cheiro. Nunca me enganaste ó Reaça. Deves morar em Loures!

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