Nesta edição do Eixo do Mal conseguiu-se um raro momento de televisão. Aliás, único, irrepetível. Aconteceu no genérico final, no seguimento da bela homenagem a Herberto Helder servida pelo dizer de Fernando Alves, e também das admiráveis palavras do Daniel pedindo respeito pela memória do seu pai.
Na usual sequência de planos com que se encerram os programas, captando a descontracção da equipa em off, vimos desta vez o estado de silenciosa e profunda comoção de quase todos. Menos do Daniel. O realizador decidiu não nos deixar espreitar para o seu rosto, fosse lá o que fosse que estivesse a manifestar, se é que estava visível.
Então, aconteceu isto: em vez da obscenidade imbecil da pergunta “O que sente/sentiu?” com que invariavelmente os jornalistas violentam os entrevistados, especialmente em contextos de sofrimento, e que na ocasião estaria a ser feita pelo voyeurismo sobre o luto de um filho, aqui a televisão mostrou que sabe ser humana, que sabe amar.
Muito obrigado.
oxalá não seja irrepetível essa beleza de que falas e que eu não vi mas é como se visse. e parabéns a ti também por tão bem nos mostrares como amar é respeitar a pornografia do sentir.
vi e não gostei. 1/2 do pugrama foi promoção do agáneto que promete ser o pivot anti-sócras das presidênciais, dois em um, um cartão socialista a fazer a campanha suja da direita. da outra 1/2 não me lembro, acordei no fim, quando todos puseram um ar muito solene para a clara dizer umas cenas bué de elegante-ò-literárias do pai do daniel e todos subscreverem. cheirou-me a promoção disfarçada da sic e do daniel, o pai não se deixava fotografar, mas lá arranjaram uns exclusivos fotográficos para a sic.
Também vi e gostei de ver. Aliás, fiz rewind e vi de novo. No meio de tanta pornografia humana, um momento humano e de amizade.
pelos vistos está a resultar.
acho que o daniel oliveira, foi um pouco presunçoso.como sabe ele que vão dar o nome do pai a ruas, ou praças?um poeta pouco lido,com uma escrita feita de palavras que aparecem cifradas .
a última bilha de gás durou dois meses e três dias,
com o gás dos últimos dias podia ter-me suicidado,
mas eis que se foram os três dias e estou aqui…
e só tenho a dizer que não sei como arranjar dinheiro para
outra bilha,
se vendessem o gás a retalho comprava apenas o gás da
morte,
e mesmo assim tinha de comprá-lo fiado,
não sei o que vai ser da minha vida,
tão cara, Deus meu, que está a morte,
porque já me não fiam nada onde comprava tudo,
mesmo coisas rápidas,
se eu fosse judeu e se com um pouco de jeito isto por
aqui acabasse nazi,
já seria mais fácil,
como diria o outro: a minha vida longa por muito pouco,
uma bilha de gás,
a minha vida quotidiana e a eternidade que já ouvi dizer
que a habita e move,
não me queixo de nada no mundo senão do preço das
bilhas de gás,
ou então de já mas não venderem fiado
e a pagar um dia a conta toda por junto:
corpo e alma e bilhas de gás na eternidade
– e dizem-me que há tanto gás por esse mundo fora,
países inteiros cheios de gás por baixo!
Valupi … parabéns pelo seu post.