Continuando a análise à entrevista que Miguel Sousa Tavares fez a Ventura, que a Penélope já iniciou com acutilância, vou-me focar apenas no papel do jornalismo pois do entrevistado não veio qualquer novidade face ao que já sabemos da sua retórica e da sua estratégia. É o jornalismo, ali representado por aquele jornalista, que surge como o mais importante problema político na forma como os Estados de direito democrático convivem com os populismos.
No caso, o jornalista escolhido para lidar com Ventura deixou-nos envergonhados, perplexos. O problema não foi só, nem especialmente, o de não se ter preparado. O problema é a certeza de que se tivesse estado 6 meses em estágio e em estudo obsessivo para a ocasião o resultado seria igual. Isto porque, num certo sentido fundamental, não é preciso preparação alguma especial ou geral para entrevistar o Ventura e outros populistas análogos. Basta que se queira mesmo fazer a entrevista – isto é, dar a ver o que está ali à nossa frente, o que está nas palavras ditas e caladas, o que está no mundo interior de quem se quer expor guloso e fátuo na miragem do poder fácil, imediato, pulsional.
O famoso Miguel não queria fazer uma entrevista, queria dizer coisas sem interesse nenhum, e mesmo essas lhe saíram em registo trôpego. Mas será ele o pior representante da sua classe profissional? De todo. É um desafio insano tentar identificar um jornalista que seja exemplar na recusa de ceder ao populismo mediático – calma, existem! Na maior parte dos casos, os jornalistas portugueses “de referência”, com lugar cativo na imprensa escrita e na TV, tornaram-se desde 2007 cúmplices activos, sistemáticos, entusiasmados de uma degradação dos laços comunitários entre os cidadãos e o Estado em nome de uma alegada missão de fiscalização do poder político e suas falhas no campo moral ou suspeitas de ilegalidade. Porque o combate político à direita a tal levou numa mistura de óbvio aproveitamento da vantagem posicional (as direitas dominam os órgãos de comunicação social privados e foram sempre tendo vedetas de altíssima influência na RTP) e porque o populismo de direita como zeitgeist emana directamente do tabloidismo e já vinha a ganhar balanço desde o princípio do milénio. Com a crise de 2008, o “vale tudo” do poder pelo poder foi assumido como arma política legítima por partidos até aí institucionais e onde se cultivava e respeitava sacramente o sentido de Estado. Em Portugal, é canja ir buscar mensagens populistas antipolíticos (logo, contra a democracia e o Estado de direito) às intervenções e opções de Cavaco, Ferreira Leite, Passos e Portas.
Porém, contudo e sempre, Sócrates. O pânico sentido pela direita com a maioria absoluta do PS em 2005, o carisma do animal que prometia superar a longevidade das maiorias de Cavaco, à mistura com o desespero e caos da perda do império bancário constituído pelo BPN, BCP e BPP nessa legislatura, levaram a que se utilizasse a Justiça para campanhas negras e golpadas sucessivas. O papel da comunicação social dominada pela direita, que viria a crescer com o aparecimento do i e do Observador, foi o de caucionar e explorar a judicialização da política e a politização da Justiça. Ainda hoje, por inexistência de projecto e ausência de liderança, a direita tem nesse aparato bélico e dissoluto a sua mais potente arma para desgastar e ferir o PS. André Ventura é uma criação desta decadência, tendo sido necessário um Passos Coelho irresponsável e indecente para que se libertasse no sistema político o vírus que acaba de infectar Rui Rio.
Sousa Tavares, filho de advogado e com experiência profissional como advogado, reagiu ao ataque de Ventura a Paulo Pedroso de uma forma que validou a calúnia lançada num estúdio da TVI à sua frente. Porquê? Por que caralho se deixa um caluniador profissional caluniar à sua vontade no que é suposto ser um espaço de jornalismo com jornalistas presentes? Num outro estúdio da TVI podemos entender melhor a lógica do fenómeno. Eis o que o Pacheco Pereira largou, nesta quarta-feira, dirigido a Ana Catarina Mendes, também ela uma vítima da indústria da calúnia e do ódio político:
«Essa usura da democracia alguém lha deu [a Ventura], alguém a criou. E nisso o PS e o PSD têm uma grande responsabilidade, porque não combateram devidamente a corrupção, permitiram que carreiras corruptas se passassem no seu seio quando toda a gente sabia que eram corruptas e as pessoas tinham a carreira toda a ponto de chegarem a primeiro-ministro. Porque isso é um ónus que o PS não se livra, o de ter um primeiro-ministro em tribunal acusado de corrupção. Disso não se livra. [...] E os grandes partidos abriram o caminho ao Chega, e abriram o caminho para estas coisas, ao permitirem pessoas corruptas, que toda a gente sabia que eram corruptas... Ó Ana Catarina, o Sócrates não nasceu ontem... Desde a história das marquises que aquela carreira era toda... A gente dava um pontapé num caso qualquer, no Freeport, em qualquer caso, e apareciam elementos suficientes para que um partido sério não promovesse, e para que um dirigente político sério e preocupado com a corrupção não promovesse. E a verdade é que não só promoveu como participou no Governo, como ajudou a chegar a ministro e depois a primeiro-ministro, e o mesmo acontece no passado e no presente. E isso é válido também para o PSD, porque eu no PSD conheci dirigentes partidários, alguns estão agora na cadeia, que chegavam às reuniões das secções seis meses antes, diziam cobras e lagartos, e ofereciam "ai, você precisa de um fax?", na altura ainda era fax, e "pegue lá" e entregavam um rolo de notas. Toda a gente sabia isso, e, no entanto, ganhavam eleições. E isto é o ónus. É muito fácil criticar o Chega mas isto é o ónus que deu gasolina ao Chega.»
Ora, vamos lá à continha. Estamos perante uma cassete mas isso em nada lhe retira importância, bem ao contrário. O Pacheco volta a repetir, pela enójima vez, que não precisa da Lei, das investigações pelas autoridades competentes, das provas validadas por magistrados, do processo justo, das defesas, da Constituição, para descobrir quem é corrupto dentro do grupo de cidadãos que chegaram ao topo da hierarquia do PS e do PSD. De caminho postula que não há campanhas negras, assassinatos de carácter, calúnias e golpadas por obra e graça da direita em Portugal. O seu método para farejar corruptos é outro, muito mais célere e barato, bifurcando-se entre o “toda a gente sabe” e o “eu estava lá”. Para o “toda a gente sabe” o alvo é invariavelmente Sócrates, jamais Cavaco, Dias Loureiro, Miguel Relvas, Isaltino Morais ou sequer Oliveira e Costa, entre tanta rapaziada disponível para engrossar a lista. Desta gente não há notícia pachequiana de toda a gente saber seja o que for, o que não invalida que alguns saibam umas coisas e outros saibam outras, mas sobre isso o Pacheco não adianta mais pormenores – logo ele que sabe tudo, azar o nosso. Quanto ao “eu estava lá”, período em que era um superior operacional do Cavaquistão e em que igualmente não há notícia de se ter visto o Pacheco a entrar na Procuradoria-Geral da República para acabar com a corrupção em que tropeçava diariamente, ficamos a saber que isto dos corruptos laranjas é mais é faxes. E que mal vem ao mundo por se oferecer tecnologias com esse grau de fiabilidade às secções do PSD? É uma problemática em que ficamos a matutar por uns segundos antes de voltarmos ao “toda a gente sabe” sobre o tal Sócrates, que é o que nos enche de gozo.
O ódio é uma paixão mais fervorosa do que o amor. O Pacheco irá levar para a cova a sua tara por se saber patético, como político, na comparação com Sócrates. Mas igualmente leva o consolo de lhe ter cuspido em cima milhares de vezes. Acontece que, como se pode ler nesta passagem citada, ele igualmente cospe em cima de Mário Soares, António Guterres, Almeida Santos, António Costa e, por estar ali à sua frente, em Ana Catarina Mendes. Todos eles, e todos os outros lá no PS, sabiam que Sócrates era corrupto e ajudaram-no. Logo, são todos corruptos, num qualquer grau e tipologia, declara num estúdio da TVI com um jornalista presente. Jornalista que não o interroga, não o chama à responsabilidade, antes valida as calúnias bolçadas em descontrolo emocional.
O Pacheco ganhou, e ganha, muito e bom dinheiro a mentir. João Miguel Tavares seguiu-lhe as pisadas, apurou-lhe a fórmula, e não ambiciona outra coisa. Ventura igualmente mente na esperança de ganhar o seu. Não há nada de estranho nisso. Estranho, ao ponto de ser vexante ou circense, é ver marmanjos com a carteira de jornalista a darem o nome e a cara para que caluniadores profissionais tenham sucesso.
Nojento post destes esquerdalhas que já não têm onde cair mortos e a tremer com os 20% que o André Ventura vai ter nas presidenciais!
na terça-feira a tvi entrevistou o ventura.
na quarta-feira entrevistou o rio para comentar a entrevista do ventura e de seguida passou a circulatura para análise da entrevista que o rio deu sobre o ventura. não tá mal, para um partido com 67.826 votos e 1,26% de representatividade.
tlm, 9:23 e já no vinho?
uma pessoa lê esta espécie de muro das lamentações socratintas e fica doida para votar no chega. o pacheco tem toda a razão e estas cenas branqueadoras fazem um mal do caraças .
pq é que o ps está calado ? morre de vergonha do que fez , alçar a pm um psicopata social.
A gloriosa direita já a embandeirar em arco. Finalmente encontrou um líder, que julgam que por ventura os fará chegar ao poder. Esperem pelo resultado das presidenciais e depois falamos.
Psicopata social é a tua tia, pá! Mas vá lá, já arranjaste uma desculpa para votar no Bentura: foi o Aspirina que te obrigou.
yo yo yo, a velha desculpa “a esquerda é que m faz votar num racista!!”. O racismo é q te faz votar num racista, nem coragem para assumir o que sao tem. Se é o valupi que te faz ser racista, nao leias, ninguem te obriga a nada, ao contrario dos populuxos em quem queres votar.
Não liguem que a Yo nunca enganou ninguém…
Como nem coluna vertebral tem para assumir as suas escolhas, diz que a culpa é do mafarrico e de, como diz o val, meia dúzia de gatos pingados que escrevem neste blog.
E continua a saga do falhado político, e porquê? para se encobrir a si e aos seus da pandilha cavaquista que ajudou a criar, a engordar e a emporcalhar a Democracia.
O Noronha Nascimento deu o alarme com o seu conhecimento de crédito oficial e de pessoa séria de dentro dos processos reais como se passaram e não como contaram e contam os Pachecos tios-padrinhos dos corruptos durões, actuais banqueiros Relvas e Dias Loureiros e sobretudo Duarte Lima acusado de homicídio a sangue frio e tantos outros da cáfila de gatunagem do BPN que, eles sim, fizeram caminho para que a Democracia chegasse a Chega.
Deveria, o testemunho deste homem que assistiu e sentiu por dentro a inversão de culpa por meio de um processo político e não jurídico, o toque de reunião para acusar todos eles e a Vidal sua persona de mão; acusá-los na praça pública tal como eles fazem mas sobretudo acusá-los formalmente nos nossos tribunais e se for preciso levar o assunto para o Tribunal Europeu.
O Pacheco é um dos que está mesmo a pedi-las uma vez que se sabe acusar também deve ser obrigado a fazer prova de acusação. É seu hábito fazer tal discurso com o mesmo àvontade com que viu armas de destriuição maciça no Iraque; até já atribuiu uma “mancha” a “toda a gente” do PS como cúmplices encobridores “daquela carreira que era toda…”; era toda o quê? Não disse. Mas que “todos sabiam”. Sabiam o quê? também não disse nem diz. Das cassetes (cd) que leu pessoalmente e viu nelas claramente “um atentado contra o Estado de Direito por meios pacíficos” mas também nunca tornou pública esses dados probatórios inequivocos da sua visão nem os levou à PGR.
O seu sistema de caluniador vingativo do seu desastrado fracasso político, ele que se julga intelectual capaz de ser ideólogo do mundo, é tão cínico, ou pelo menos mais cínico subreptício e mais eficiente, que o feirante de banha da cobra Ventura.
E o PS ou toma uma decisão de enfrentar o falso Adamastor inventado pelos seus inimigos políticos e provar que é uma mentira ilógica, sem prova de factos e portanto sem realidade ou deixa os pachecos deste país a colar-lhes a tal “mancha” pachequeana de pecado original tal como se fora uma etiqueta racista para distinguir corruptos num parque de virgens que actualmente já inclui o Chega.
Cabrão que fala sem provas, merece crédito ?
Condenados sem sentença transitada em julgado, são exclusivo português ?
Quem faz e mostra deve escutar inválidos e estéreis ?
As pessoas não mudam,só refinam. Não há surpresas,só enganos!
Conheço o Pacheco há 52 anos.Não há surpresas.
O Pacheco Pereira encontra maneira prosaica, individualista, e anarquista de faz: o achincalhe, a piada, a história jocosa para depreciar as pessoas ainda não condenadas, ou não fosse ele um estratega dos laranjinhas podres
Pacheco Pereira e Lobo Xavier são muito mais perigosos do que André Ventura. Dizem e fazem exactamente a mesma coisa, apenas com um pouco mais de rococó. Ventura tem a vantagem de não disfarçar.
Subscrevo o comentário de José Neves, bem como o de Valupi, do Aspirina B. É uma das mais brilhantes análises políticas jamais alguma vez lidas por mim. Texto de excepcional qualidade. Felicito com muita veemência Valupi. Muito boa noite.