Os sósias de Trump

Podia dar um tiro a alguém no meio da 5.ª Avenida e não perdia um único voto, OK?“, disse Trump num comício em Janeiro de 2016. Esta declaração foi interpretada como mera manobra retórica, uma metáfora provocatória, chocante, para alimentar a voragem mediática que fez de Trump um exímio manipulador dos processos fanatizantes que lhe foram dando crescente força política. Mas o que nessa altura ainda podia passar por desbocada extravagância deixou de o ser quando, ao mesmo tempo, vimos há dias Steve Bannon a fantasiar a decapitação de Anthony Fauci e de Christopher Wray e, a partir da Casa Branca, com o selo da presidência atrás de si, vimos um Presidente dos Estados Unidos da América a dizer que a contagem de votos após o dia da eleição iria provocar situações de “perigo físico” por causa da violência vinda das ruas contra os funcionários eleitorais.

Pode-se fingir, por mil razões e circunstâncias, que não se tomou conhecimento destes factos. Não se pode é, sob pena de tal implicar não se estar na posse das capacidades cognitivas mínimas para ser autónomo, ignorar que estas duas pessoas estão activamente a tentar provocar crimes, e que esses crimes são potencialmente assassinatos, e que esses assassinatos visam o prémio supremo de atingirem Joe Biden. Num país em que há 120 armas na posse de particulares por cada 100 indivíduos, e em que os grupos militarizados do racismo, fascismo e nazismo norte-americanos foram convidados por Trump a ficarem em “stand by“, não é difícil prever o futuro. Num país em que pela primeira vez na sua História se vê um Presidente a tentar dinamitar a democracia no que tem de mais sagrado, a descoberta da vontade soberana dos cidadãos, e a recusar-se a aceitar a derrota, prever que o futuro desejado por Trump é a explosão demente do ódio letal não custa.

Aos ingénuos, como eu, é sempre uma surpresa ver pulhas com protagonismo social e poder político. O pulha é pulha porque se sente impune, seja este chamado Trump com uma espantosa carreira de vigarices ou um infeliz qualquer a despejar merda numa caixa de comentários perto de si. O pulha só respeita uma lei, a do vale tudo. E, porque foi tendo sucesso praticando essa anomia, não só fica condenado a ver todos os adversários como imitações de si mesmo como jamais respeitará qualquer valor que implique ter de abdicar do que considera ser a sua poção mágica. Convém é reconhecer que a pulhice é um factor que explica maioritariamente o que vemos acontecer no que se chama “fazer política” quando está em causa a direita decadente – isto é, a direita que não assume e promove o Estado de direito democrático e os direitos humanos como fundamentos invioláveis de qualquer ideologia ou programa político.

Por exemplo, quem leia e oiça Eduardo Dâmaso e Octávio Ribeiro a gabarem-se de conseguir cometer crimes em conluio com magistrados, de perseguir alvos políticos e de envenenar o espaço público com calúnias, ainda gozando com a concorrência que vai indo à falência por estar agarrada à deontologia jornalística, encontra sósias de Trump. Por exemplo, quem usa violações do segredo de justiça e captações da privacidade de testemunhas, suspeitos e arguidos (portanto, cidadãos estritamente inocentes ao tempo da captura dos materiais e sua exploração mediática) para ganhar dinheiro na comunicação social a fazer assassinatos de carácter é um sósia de Trump. E, sem outro exemplo comparável em Portugal, quem faz acordos políticos com um partido dirigido por uma pessoa que se mostra não só disponível mas febrilmente interessada em violar direitos de outras pessoas e em transformar a nossa comunidade no terreno selvagem de uma desumanização cada vez maior e mais perigosa, esses idiotas são sósias de Trump.

20 thoughts on “Os sósias de Trump”

  1. Felizmente, por aquelas bandas o 4º poder ainda funciona e, desmonta
    as mentiras e megalomania do Trump ao cortar-lhe “in extremis” o pio!
    Algo que, será muito difícil encontrar por estas bandas, a prática mais
    corrente é a desinformação a favor dos “patrões” , bem como, o frete do
    bota abaixo sob o chapéu da “corrupção” … atirando o país para o grupo
    de Estados permissivos, afugentando possíveis investidores para gran-
    des projectos … com cobertura da ala justiceira que quer governar!!!

  2. Quando falas em violar direitos dos outros, estás a referir-te ao Costa?
    Estás tão preocupado com os direitos dos americanos e os teus estão a ser violados e não dizes nada?
    Estás em prisão domiciliária e não te preocupa?
    E nem ficas um bocadinho indignado?
    Ó Val nem um textozinho a condenar estas medidas pidescas e fascistas próprias de regimes totalitários?
    Devem estar a pagar bem para estares calado, não?

  3. Cuidado, Lucas! Olha que vais para a lista negra, rotulado como trumpista, fascista, putinista, kamunista e sabe-se lá que mais-ista!

  4. O meu comentario de ha bocado devia ter sido postado aqui, desculpem-la. Ei-lo :

    Muito bem. O homem pura e simplesmente não aceita, nem nunca aceitou, as regras do jogo democratico e a submissão do Estado ao Direito. Muitas das suas afirmações são tecnicamente apelos à violência, quando não são mesmo apelos à resistência armada contra a ordem constitucional. Isto é completamente inaceitavel e, infelizmente, vai continuar equanto houver idiotas capazes de aplaudir em nome de “ao menos ele é um palhaço como nos”. A desvalorização estupida das instituições das nações unidas, com a arrogância ignorante de quem acha que, por definição, esta acima de qualquer lei, radicam na mesma parvoeira, ou seja no triumfo do taberneiro que, nunca tendo feito um chavo na vida, acha que revoluciona o mundo quando da um murro no balcão e que se baba a seguir com os aplausos acéfalos dos bêbados que o aclamam.

    O perigo continua ai, na facilidade com que aceitamos o discurso irresponsavel, imaturo, de quem se instala no conforto da bancada e se acha na plena legitimidade de atirar bojardas atras de bojardas. H. Arendt bem advertiu que o totalitarismo não é uma deriva propria do nazismo ou do comunismo, mas uma tendência presente em qualquer ideologia. Obviamente, Trump foi um triste parêntesis durante o qual os EUA mergulharam perigosamente no lodo. Isto não faz de Biden um santo nem da alternativa democratica um mar de rosas. Mas importa continuar a exercer vigilância, até porque as forças despoletadas por Trump continuam por ai à solta, e não apenas nos EUA.

    Boas

  5. No gráfico anterior, colocar uma cruzinha à frente de Portugal para comparar o trabalho de Costa com o trabalho de Trump, seguindo a técnica de quem instrumentaliza os dados de uma catástrofe natural para fazer combate político-partidário.

  6. Porra, Lucas! A mania que tu tens de que a realidade tem o direito de estragar uma boa narrativa! Acaso tens consciência de que és uma marioneta do Putin? Amanhã bate-te o FBI à porta e descobre pela certa os cinco quilos de Novichok que tens escondidos no autoclismo e por baixo da tábua de engomar. Eles andem aí, tovarich! Pisga-te enquanto é tempo! Olha, eu já passei à clandestinidade, estou escondido no Aqueduto das Águas Livres, não digas a ninguém.

  7. Lucas, o link que puseste às 16.21 só está clicável até “earliest”. Para aparecer o quadro de que falas, que inclui Portugal, tem de se fazer copy paste do endereço todo, a parte que está a azul (clicável) e a que aparece a preto (inactiva), até ao fim, e despejar tudo no local onde aparecem os endereços electrónicos.

  8. Aos leitores francófonos que assinam o Le Monde aconselho a leitura de um excelente artigo que analisa a fractura entre os dois campos eleitorais nos EUA, que é a mesma do que em 2016 e que se pode encontrar em muitos outros países, nomeadamente na Europa. O artigo é assinado por uma equipa de geógrafos, entre os quais a portuguesa Ana Póvoas :

    https://www.lemonde.fr/idees/article/2020/11/07/l-election-americaine-de-2020-montre-une-radicalisation-des-antinomies-dans-les-tetes-et-dans-les-lieux_6058865_3232.html

    O que o artigo explica muito bem é que o apoio que Trump encontra em quase 50 % dos eleitores, se explica pela fractura entre duas populações, uma tendencialmente urbana, concentrada nas grandes aglomerações e beneficiária, quando não activamente implicada, na evolução da economia, a outra, periurbana ou rural, que vê esta evolução como uma ameaça. Ignorar esta fractura e não querer ouvir o desespero da população que se sente abandonada, vulnerável e sem futuro é obviameente empurrá-la para o populismo. Isto é válido nos EUA como aqui na Europa. Urge pois voltar a dar soluções e perspectivas à parte crescente da população que se sente marginalizada e que não vê outra alternativa do que ir atrás de demagogos para protestar. E’ incomportável governar contra quase 50 % do eleitorado. Na euforia da vitoria, Joe Biden afirma estar consciente disso. Esperemos que não sejam só palavras. A advertência é clara. O palhaço do Trump foi à vida, mas se não mudarmos os fundamentais, há de surgir outro. Candidatos não faltam…

    Boas

  9. Obrigado pela correcção, Camacho.

    Viegas, o artigo do Le Monde é muito original pá! Ainda ninguém tinha reparado que o voto Democrata estava em áreas urbanas e suburbanas e que o voto republicano predomina nas áreas rurais Nem que o agronegócio brasileiro está 100% com Bolsonaro. Algo de errado se passará quando os primeiros tratam como estúpidos os que lhe põem o comer na mesa.

  10. Galacho,

    Os votos ainda não foram todos apurados, mas tu ja sabes, e ja sabias ha muito tempo, o que eles revelam. Nada que me surpreenda. So não percebo porque te das ainda ao trabalho de ler seja o que for, ou de dares atenção ao que se passa fora da tua cachimonia…

    Quanto a resto, não sei se os primeiros tratam de estupidos os segundos mas, ainda que fosse verdade, o sentido do meu comentario é precisamente o oposto. Mas, mais uma vez, tu la te entendes com o que gostas de ler no que os outros dizem…

    Boas

  11. Sempre infalíveis a descobrir que era branco o cavalo branco de Napoleão, são os génios do costume, Lucas. Experimenta ir ao site da Euronews em inglês, clica em “US PRESIDENTIAL ELECTION 2020”, aparece um mapa dos EUA com os estados pintados a azul ou encarnado conforme o vencedor. Se depois clicares estado a estado aparece-te essa realidade com chocante evidência, mesmo na maior parte daqueles em que o Biden venceu, pintados a azul no mapa geral mas mostrando uma realidade completamente diferente no mapa sectorial (Pensilvânia, por exemplo). As raras excepções estão principalmente em estados pequenos da costa leste (como Massachusetts, Vermont, Rhode Island e outros) e, na costa oeste, na Califórnia. O estado de Nova Iorque, então, é de ir às lágrimas. Nos que o Trump ganhou, então, o mapa de pormenor é de uma evidência quase chocante, vai-se a ver e o gajo é criptomaoísta.

  12. Faltou-me dizer que esse mapa da Euronews esteve disponível desde a noite das eleições, mas mesmo antes, para quem nunca viu de perto o cavalo branco de Napoleão, era por demais sabida a alvura histórica da alimária.

  13. Outro comentario de atrasado mental. Este nem precisou de ver o mapa do artigo para achar que ja estava disponivel “na noite das eleições” (?!??). Mas porque é que estes gajos não optam antes por ir à missa ?

    Boas

  14. O Broas adiantado mental continua, insistentemente, incansavelmente, cansativamente, pateticamente, confrangedoramente, a pedir-me namoro. Não entendeu ainda, o parvalhão, que eu não gosto de cu de cão, nem de cloaca de pavão.

  15. Oh parvalhão, se não queres namoro, não comentes os meus comentarios escrevendo asneiras. E’ muito simples. Que eu visse, eu não comentei as tuas baboseiras…

    Boas

  16. quais baboseiras? aquilo é ranho pela derrota do trump. anda por aqui muita supremacia disfarçada de esquerda puritana, são mrppês que sobraram do prec75 em campanha pelo ventura.

  17. Durante 37 dias após as eleições, os mídia declararam em uníssono Al Gore como “president-elect”.
    Depois, tiveram de engolir em seco a sua derrota confirmada pelo SCOTUS.
    Nada de novo, portanto.
    Até que o SCOTUS diga que as pretensões de Trump são, mais do que improcedentes, totalmente infundadas, assiste a este todo o direito de não aceitar as opiniões dos mídia.
    Até lá, aguardem calados.

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