Os informadores do Ministério Público

Alguns dos nossos melhores jornalistas (o seu currículo, o seu trajecto, os seus salários, a sua farronca assim o prova e comprova) já só querem é ser informadores do Ministério Público. Não para todos os casos, calma! Nem eles teriam tempo para tanto, embora não lhes falte a gana. Só para aqueles em que, mistérios da profissão, calha terem informação preciosa para entregar ao Ministério Público e assim conseguir-se meter em Évora uma certa bandidagem do pior. Um desses casos é o famoso “assalto ao BCP”, em que um primeiro-ministro mandou o conselho de administração da CGD dar dinheiro a Joe Berardo para ir fazer maldades à gente séria e depois, não satisfeito, ainda obrigou o Banco de Portugal a deixar que Santos Ferreira e Vara fossem conspurcar as sacras alcatifas do BCP. Donde, a ânsia destes jornalistas em ajudar a Justiça em ordem a que se faça justiça não pode ser maior.

Um deles é o extraordinário Pedro Santos Guerreiro. Um crânio superior e uma pena diamantina. Eis como o homem se oferece aos procuradores interessados:

«Na semana em que Joe Berardo foi ao Parlamento, na CPI da Caixa, rir-se na nossa cara e dos nossos impostos, escrevi aqui no Expresso que já não interessava chorar das bestialidades: “O Ministério Público tem de analisar as suspeitas criminais de que os bancos possam ter sido burlados. E se sim, então a associação que interessa analisar é a de Joe Berardo & André Luiz Gomes, porque ninguém acredita que Joe saiba fazer contratos complexos.” Nesse texto, explicava como a renegociação do contrato da coleção Berardo tinha incompreensivelmente prejudicado o Estado, e perguntava: “Houve burla? Burla dá cadeia”. O texto é de maio de 2019. Hoje, junho de 2021, Joe Berado e André Luiz Gomes foram detidos por suspeitas de burla qualificada, de administração danosa, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais.

[...]

A associação Berardo & Gomes segue agora para um juiz, mas por prender duas andorinhas não acaba a primavera. É preciso mais, é preciso continuar a investigar e a inquirir. Se não, apenas continuaremos nos ai olé, ai olé, foi na loja do Mestre André.»

Percebido? Em 2019, já estava tudo explicadinho numa página do Expresso graças ao brilhantismo deste Guerreiro. Contudo, o Ministério Público demorou dois anos a decifrar a caligrafia, daí o atraso em mandar a ramona. Se o cooptarem, promete, o bando completo das andorinhas será apanhado e depenado em menos tempo do que ele demora a teclar os seus relatórios semanais. Ai olé, ai olé.

Outro bravíssimo jornalista disposto a sacrificar a sua carteira profissional pela honra e prazer de perseguir uns certos malfeitores que ele conhece de ginjeira é o João Vieira Pereira, actual director do PSG. Com vista a ajudar a boa gente do MP a entender o que lhes está a oferecer, escreveu um artigo intitulado A quadrilha, onde se pode ler o seguinte:

«Esta semana recordaram-me um texto que escrevi no Expresso em outubro de 2011 onde acusava Berardo de se ter especializado em investimentos de guerrilha, pois entrava em empresas de forma hostil, atacando a gestão e outros acionistas até estes pagarem para ele se ir embora. No mesmo texto defendia que não precisávamos de “empresários” como ele. Naquela altura, há dez anos, Berardo era notícia por existirem dúvidas sobre o valor da sua coleção, que tinha sido dada como garantia aos bancos depois de um negócio duvidoso com o Estado que levou à criação da atual exposição.

[...]

Falta o capítulo final. Qual será o próximo passo de Berardo, que hoje com 76 anos enfrenta a possibilidade de passar até 12 anos na prisão? Não acredito que o faça, mas ia adorar que ele não ficasse calado.»

Este Vieira ganha ao Santos por 8 anos. Ao ir buscar um texto seu de 2011, com a supina beleza de já nem se lembrar dele não fora uma alma atenta e devota que lho recordou, mostra os seus incandescentes predicados para tratar do Joe. O Joe sabe coisas, sabe nomes, recorda-se das datas e dos locais, e só precisa da motivação certa para abrir a boca e começar a cantar. O João valentão gostaria de ajudar o velhote nesse processo, só precisa de ficar a sós com ele um bocadinho, de preferência com um rottweiler ao lado e uma moca de Rio Maior nas mãos.

O Expresso e a SIC têm outros jornalistas doidinhos para colaborarem com o Ministério Público em certos casos literalmente fantásticos, como este do filme “O Assalto ao BCP”. Seria muito bom que tal acontecesse, nem que fosse para acabar com as doridas lamentações de falta de recursos em que tropeçamos sempre que uma parte do Ministério Público se entretém a mandar-nos areia para os olhinhos.

17 thoughts on “Os informadores do Ministério Público”

  1. a detenção do berado para ser interrogado pelo carlos alexandre durante 45 minutos serviu para o seguinte:

    . desviar a atenção para o despacho de arquivamento de suspeitas na venda do pavilhão atlântico ao genro do cavaco
    https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/mp-arquivou-suspeitas-na-venda-do-pavilhao-atlantico-ao-genro-de-cavaco

    . salto em frente para reacender o fiasco do processo marquês até a acusação se reformar por inteiro.

    . prender um comendador por 3 dias, para mostrar que a justiça afronta os poderosos e inocenta os modestos cujas reformas não chegam para pagar despesas

    . sacar 5 milhões por conta, caso o gajo vá na conversa e caia na esparrela de dar pistas onde tem a massa guardada. eu mandava-o foder, ia para a prisão até esgotar o prazo e punha o advogado a fiscalizar os atropelos habituais à lei.

    . o tradicional merchandising para alimentar jornais, intriga política e novas estrelas justiceiras mana mortalha, cilinha 1/2reles e o duarte 100%marques.

  2. Se os cornudos adoptassem o low-profile, a nossa cena políticos jurídica não ficaria mais amena ?
    Este pessoal do “levantamento indisponível ‘ grita e arrepela-se demais . Leia-se a ” petite histoire ” cá do bairro e tirem as vossas conclusões.

  3. um abrão a chamar cornudos a incertos como forma de amenizar a cena política.
    mais uma pintura abstracta. não se percebe e a conclusão que tiro é óbvia, a petite histoire és tu e tás com muita sorte não te chamar anedota.

  4. trol

    (inglês troll)

    nome masculino

    1. Criatura imaginária, com origem no folclore escandinavo.
    2. [Informal, Depreciativo] Pessoa feia, desagradável ou pouco inteligente.
    3. [Informal] Indivíduo que coloca mensagens ou comentários provocadores, maldosos ou ofensivos em sítios de discussão pública on-line, com intuito desestabilizador.

    Plural: tróis.

    (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa em linha)

  5. Calote de mil milhões e nem teve lugar a uma ida a Évora. O sonso de Maçães e o MP desta vez já não precisam de oito anos para fechar o despacho de acusação.

  6. A “opinião” é hoje em dia uma mercadoria à venda na praça pública pelo melhor preço; e como a opinião é dedicada e feita à peça o comprador de opiniões exige, empresariamente, que a sua encomenda satisfaça os seus interesses quer imediatos, de médio ou longo prazo; o fabricante de opinião que está neste mercado de valores sabe com precisão, de experiência e necessidades de sua vida corrida, que tipo e sentido opinativo tem de produzir; afinal o cliente tem sempre razão.
    E, deste modo, chegámos a esta podridão; até ao ponto de ver apodrecer de desonestidade alguns espécimes que prometiam um mínimo de atenção; contudo, estes, vão continuamente degradando-se, deteriorando-se e apodrecendo por dentro de tal forma que enoja; já fazem lembrar nas suas sentenças e risos macabros a ralé que acorria aos autos-de-fé ver massacrar os ossos e arder os corpos dos sentenciados pelos detentores do cânon da verdade e da justiça pela fé do mistério.
    Estão todos lá, na tv; onde se faz uma reunião de um mais o jornalista de serviço, ou de dois, três, quatro ou cinco ou todos os convidados fabricantes de opinião à peça, lá onde mora diariamente esta espécime de vendedores é, mesmo aí, nesses abjectos círculos de vendedores de opinião que se ouvem as maiores anormalidades e assassinatos lógicos numa fúria imaginativa de ficcionar a moral, o bem e o mal para torcer a realidade e nos querer fazer de imbecis.
    Ouvi-los falar do Medina como se este fora o autor do regulamento interno para servir o Putin; ou ouvi-los falar do Cabrita como autor de um assassinato porque um incauto se atravessa numa auto-estrada e comete um acidente; ou das vagas de covid porque o governo não soube lidar e vencer o vírus de imediato como fizeram os chineses; ou como para tudo o que diariamente simplesmente acontece logo saltam do covil uma caterva de opinadores falsos moralistas para culpar gente honesta que odeiam por delegação é um dó de alma de qualquer cidadão bem educado.
    São os vendidos da vida.

  7. este espécimen, mais um exemplo de lambecuzista, salvo da falência por Guterres, só sai a terreiro em mactéria de julgados de pás ( digo bem, a especialidade dele é a construção civil ) então, diz, ele, que a comunicação social funciona, em matéria de opinião, na óptica da unanimidade ( porque dizem todos o mesmo, têm todos a mesma opinião em relação às matérias que o atormentam ) portanto, a luminária, ignora que a essência da sobrevivência do sector privado, é a diversificação na oferta, e não a conformidade . E o pagode aplaude . Mais um que viveu e se calhar ainda vive “encostado ao PS” . Já lá vou phoder-te a outro lado .

  8. “… a essência da sobrevivência do sector privado, é a diversificação na oferta, e não a conformidade.”

    a galp vende gasóil, a repsol vende gasolina, a bp vende gpl, a edp vende electricidade, a endesa vende electricidade em pó, a vodafone vende comunicações telefónicas, a nos vende tv cabo, a meo vende cenas que não funcionam e por aí a fora é só exemplos de diversificação de oferta e inconformidade de preços.

  9. Oh !
    Trengo, escreví sobre a comunicação social, e tu sabes bem disso .
    Todos esses exemplos que elencaste, são sectores específicos de bens essenciais, em que na pratica funciona a cartelizaçao ( Cartel de Merdellin, concertação de preços ) “regulados” por brochismo do(s) governos, que tiram o cavalinho da chuva, não querem assumir nem autoridade nem responsabilidade, e se desresponsabilizam e desregulam a mactéria, atirando para cima de “Altas-Autoridades” que como todos sabem são tão “isentas e imparciais” que são indicadas pelos sectores interessados .
    Porquê ?
    Porque o sistema de porta-giratória tanto aproveita aos que vêm das empresas e para lá regressam, como para os aspirantes-a-ser, que são os ex-governantes, que uma vez cessadas funções governamentais, têm que arranjar tacho em algum lado .
    Transcrição da Ináciotice :

    “a galp vende gasóil, a repsol vende gasolina, a bp vende gpl, a edp vende electricidade, a endesa vende electricidade em pó, a vodafone vende comunicações telefónicas, a nos vende tv cabo, a meo vende cenas que não funcionam e por aí a fora é só exemplos de diversificação de oferta e inconformidade de preços.”

  10. “… a essência da sobrevivência do sector privado, é a diversificação na oferta, e não a conformidade.”

    escreveu sobre a comunicação social o rei do broche aos justiceiros da intrigalhada pela cruzada de salvação da pátria às ameaças de corrupção e demoras na fila dos covides. atão toma lá:

    o correio da manhã faz 1. página com notícia fake sobre o acidente do cabrita e o observador, o eco, o jornal de notícias, o sol, a tvi, a cmtv, a sic, a rtp e restantes merdas reproduzem, acrescentam intriga e promovem debates sobre a condição de fragilidade do ministro do interior por andar num bmw confiscado a um traficante.

    aqui ao menos ninguém paga nada a ninguém, todos copiam todos e o consumidor só paga a mensalidade da meo, nos ou fodavone.

  11. esta do atão deve ser do abrão . ou do clementina .
    diz nada que possa comprovar . mais um lambecuzista .
    pela lógica do cabeça-pequenina, quiçá vítima do Zica, se dez jornais noticiarem a ocorrência de um furacão no pacífico, um facto verídico, estão todos eles a produzir ( e a reproduzir ) fake-news .

  12. “… a essência da sobrevivência do sector privado, é a diversificação na oferta, e não a conformidade.”

    “Trengo, escreví sobre a comunicação social, e tu sabes bem disso .”

    “se dez jornais noticiarem a ocorrência de um furacão no pacífico, um facto verídico, estão todos eles a produzir ( e a reproduzir ) fake-news .”

    portanto escreveste sobre a comunicação social, mas afinal não se aplica à comunicação social porque estraga o efeito daquilo que querias dizer.

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