Neste texto, que se lê em 5 minutos (muito menos se não pescas nada de inglês), encontramos citações de estudos que reforçam esta ideia: desconfiamos uns dos outros porque temos medo de confiar – caso confiássemos, rapidamente confirmaríamos que há muitos à nossa volta a merecer tanta confiança como aquela que outorgamos a nós próprios (ou mais, e muito mais…).
Esta evidência, pois se trata de algo evidente em todos os lugares, lembrou-me uma das minhas passagens favoritas do Evangelho, a Parábola dos Talentos:
Acontecerá como um homem que ia viajar para o estrangeiro. Chamando os seus empregados, entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, e um ao terceiro: a cada qual de acordo com a própria capacidade. Em seguida, viajou para o estrangeiro. O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles e lucrou outros cinco. Do mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu patrão.
Depois de muito tempo, o patrão voltou e foi ajustar contas com os empregados. O empregado que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: “Senhor, entregaste-me cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei”. O patrão disse: “Muito bem, empregado bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu confiar-te-ei muito mais. Vem participar da minha alegria”. Chegou também o que havia recebido dois talentos e disse: “Senhor, entregaste-me dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei”. O patrão disse: “Muito bem, empregado bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu confiar-te-ei muito mais. Vem participar da minha alegria”. Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento e disse: “Senhor, eu sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e recolhes onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento na terra. Aqui tens o que te pertence”.
O patrão respondeu-lhe: “Empregado mau e preguiçoso! Sabias que eu colho onde não plantei e que recolho onde não semeei. Então devias ter depositado o meu dinheiro no banco, para que, no meu regresso, eu recebesse com juros o que me pertence”. Em seguida o patrão ordenou: “Tirai-lhe o talento e dai-o ao que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, será dado mais, e terá em abundância. Mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a este empregado inútil, lançai-o lá fora, na escuridão. Ali haverá choro e ranger de dentes”.
Eis uma sabedoria milenar que não pode ser mais actual e universal. O medo de perder inibe, atrofia, mata. A confiança, ao contrário, é uma força, um movimento, uma abertura. É também da confiança que nasce a sorte, porque a sorte é o resultado matemático da multiplicação das oportunidades.
Os cínicos sempre ladraram, por medo. Em Portugal estão à direita e à esquerda, em pânico, raivosos. Mas há uma caravana a passar, e que já não vai parar.
bem , aí na parabola não diz para pedir emprestado talentos ao banco , pois não ? penso que é para trabalhar com os talentos que o patrão deu . que é dos talentos ? foram-se em elefantes brancos de potlach . e o que se tem ? dividas. está certo : multiplicai as dívidas e será vosso o reino do inferno !!!!
Caro Val,
quando li ou leram é igual, tinha com alguma probabilidade 5/6 anitos, também gostei de ver castigado o malandro que tinha medo de arriscar. Hoje, não penso assim, só arrisca, o seu ou o alheio, quem pode ou é inconsciente. Logo, se não há “milénio” que te valha, ou tens pai rico, o melhor é fazer como o pobre coitado e concluir que se de pobre não passou mas fico um bom fiel depositário. Considerando a moral da história, a mim já me bastava que não se lembrassem que existo em termos fiscais.
Serve a quem serve meu caro.
Dá noticias.
assim está correcto
Armando Ramalho,
se a pessoa não acrescenta nada em relação a um cofre, fica mais facilmente dispensável, que foi o que aconteceu na parábola…
“É também da confiança que nasce a sorte…”
Lema ancestral:
A Sorte protege os AUDAZES!… :)
Ministério Público diz que médicos não violaram quaisquer deveres
Dois médicos multados em 32 mil euros por escreverem a Sócrates em papel do hospital
28.04.2010 – 23:00 Por José António Cerejo
Usar o papel timbrado e o correio do serviço público em que se trabalha para expor um assunto ao primeiro-ministro pode custar muito caro. Que o digam dois dos promotores de um abaixo-assinado dirigido a José Sócrates em Setembro, agora condenados a pagar uma multa global de 32.872 euros pela administração da Unidade Local de Saúde da Guarda (ULSG).
Polémico em todo o país, o fecho de algumas maternidades iniciado em 2006 também acendeu paixões nos distritos da Guarda e Castelo Branco. Foi nesse quadro que os médicos do Hospital da Guarda (Hospital de Sousa Martins), actualmente integrado na ULSG, pediram no ano passado a Sócrates que clarificasse a sua posição sobre o assunto.
Fizeram-no em papel timbrado do hospital, no qual recolheram as assinaturas de 56 médicos daquela unidade, e resolveram dar conhecimento a mais 17 entidades. O envelope dirigido ao primeiro-ministro foi encaminhado para o expediente da ULSG, de onde seguiu para São Bento a 8 de Setembro. Pouco depois foram ali entregues mais 17 envelopes, contendo outras tantas cópias do abaixo-assinado, para serem enviadas aos seus destinatários, incluindo a administração da unidade.
Alertado pelo funcionário do expediente, o presidente da ULSG, Fernando Girão, depois de tomar conhecimento do conteúdo do envelope que lhe era dirigido, ordenou a retenção dos restantes, remetendo-os mais tarde ao Ministério Público (MP) para justificar uma queixa de “burla e/ou de abuso de poder”, que foi seguida de uma outra por “difamação e injúria”. As participações visaram o oftalmologista Henrique Fernandes e o anestesista Matos Godinho, apontados como responsáveis pela recolha das assinaturas em papel timbrado do hospital, pelo envio dos envelopes para o expediente, e ainda pela autoria de cartas dirigidas ao queixoso e consideradas ofensivas por este.
Dias antes da entrega destas queixas, porém, já Henrique Fernandes tinha participado contra o órgão dirigido por Fernando Girão, para que se apurasse se algum dos seus membros praticou o crime de violação de correspondência. Paralelamente, a ULSG instaurou processos disciplinares contra aqueles médicos, acusando-os de uso indevido do papel no abaixo-assinado, de terem procurado fazer crer a José Sócrates que o documento representava a posição oficial da unidade de saúde e de terem reincidido diversas vezes na utilização do seu papel em cartas que dirigiram a Fernando Girão, depois de serem advertidos de que não podiam fazê-lo.
No decurso dos processos, Henrique Fernandes e Matos Godinho sustentaram que esses documentos abordavam assuntos de natureza profissional, justificando assim o uso do papel e do correio do hospital. A decisão final, que lhes foi comunicada no dia 13, rejeita, porém, esta tese e dá como provada a violação dos “deveres de prossecução do interesse público, de zelo, de obediência, de lealdade e de correcção”. As sanções correspondentes são a multa e a demissão, com cessação do contrato, mas a administração considerou que “parece suficiente, por ora”, a aplicação das multas, que fixou em 17.766 euros no caso de Henrique Fernandes e 15.106 no de Matos Godinho. Os relatórios finais dos processos referem que no dia 9 de Setembro, ou seja, no dia seguinte ao envio do abaixo-assinado, “um responsável do gabinete do primeiro-ministro telefonou ao presidente do Conselho de Administração da ULSG, solicitando esclarecimentos”.
Já em sede judicial, o MP entendeu de forma oposta, mandando arquivar os autos no que toca às queixas de Girão. “A utilização do papel timbrado da instituição para a elaboração do abaixo-assinado não configura qualquer ilícito criminal, assim como o seu envio pelo serviço de expediente”, concluiu o magistrado no dia 6 deste mês. Os médicos “usaram o papel timbrado para assuntos relacionados com a sua profissão e não para questões particulares”. Por outro lado, resumiu, “a actuação dos denunciados não configura qualquer comportamento abusivo e/ou violação dos deveres inerentes ao cargo”.
Quanto ao facto de Girão ter ordenado a retenção dos 17 envelopes, o despacho considera estar-se perante um crime de violação de correspondência, do qual foi formalmente acusado e que é punível com prisão até um ano ou multa até 240 dias.
Administrador acusado e médicos castigados anunciam recursos
O presidente da USLG vai recorrer da acusação de “violação de correspondência” deduzida contra si pelo Ministério Público (MP). Henrique Fernandes e Matos Godinho, por seu lado, vão recorrer das multas que lhes foram aplicadas. “O dr. Fernando Girão entende que o uso de qualquer material do organismo e a solicitação de envio em correio registado de cerca de duas dezenas de cartas, no âmbito de iniciativas com as motivações referidas [questionar o primeiro-ministro acerca da manutenção de maternidades], não está de acordo com a necessária boa gestão dos fundos públicos.
Se os cerca de 2000 funcionários resolvessem usar os mesmos meios para enviar correspondência pessoal, estariam a ser canalizados fundos substanciais para outras funções fora dos limites da prestação de cuidados de saúde”, afirma a administração da USLG em resposta ao PÚBLICO. Este órgão adianta que o seu presidente “não compreende, por isso, que o MP não tenha tido em conta esta defesa dos interesses do Estado, ao ilibar os dois médicos da utilização de meios e bens públicos, para fins privados” — acrescentando que Fernando Girão vai recorrer da acusação “por se entender que não pode ser julgado por defender os interesses do Estado”.
Quanto às multas aplicadas aos médicos, afirma que elas “estão de acordo com aquilo que está previsto pelo Estatuto Disciplinar”. Os dois médicos castigados vão igualmente recorrer. “Depois do despacho do MP que nos iliba, ainda ficámos mais convictos de que temos direito a exigir, pelo menos, o arquivamento do processo”, afirmou o anestesista Matos Godinho.
O medo, o medo de correr um perigo imediato, como tantas vezes observei na guerra, oprime o pensamento ao ponto de fazer nascer uma doença física aparente ao medroso. Mas não é só o medo do perigo de guerra que paraliza a mente e vontade do medroso. Também o medo do futuro é um factor altamente paralizante dos indivíduos medrosos. Estes não querem apenas saber o que será o amanhã, mas até desejam saber o que será a sua vida daqui a dez-quinze anos. Vivem ininterruptamente sob a pressão do medo do amanhã. E, por isso, são incapazes de arriscar o que quer que seja, só sabem jogar pelo seguro e o seu pensamento está sempre prioritariamente dirigido no sentido de assegurar o futuro. Todo aquele que acaba um curso e quer à viva força encaixar-se no funcionalismo público é, normalmente, um indivíduo com medo do futuro.
São, todos os indivíduos com medo do futuro, pessoas que andam penduradas no mundo que os outros fazem e criam diariamente.
um texto tão interessante e tinha de acabar em lodo.
(se não fosse tão confiante, ficava triste) :-)
A culpa é do patrão. Se tivesse dado três a cada um é que as situações eram comparáveis, assim aquele que só recebeu um desmoralizou logo, claro, e pensou que não queria mais nada com aquele gajo, ainda por cima vingativo como se comprova pelo final. Estou com ele. Mas claro que não quero ser exemplo para ninguém.
Mas sim o medo atrofia e Alexandre tinha razão, mas também só confiava em Hefestion, o amigo.
Zeus: faz alguma que deu-me tédio e espirros,
eu não sou zeus mas recomendo-te uma colherzinha de ternura estriadinha. :-)
⅀,
o que só tinha dois talentos não desmoralizou…por essa lógica, devia tê-lo feito :) E não foi penalizado por só ter rendido mais dois talentos, enquanto que o outro, 5! Será que o problema está na quantidade de talentos ou na qualidade da atitude?
apreciar o sol também é um talento. :-)
Agora percebo porque quer o estado reduzir o fundo de desemprego, pois como pessoa que colhe onde não planta e recolhe onde não semeia esperava provavelmente que estes parasitas em vez de usarem a sua fortuna!? para as suas necessidades básicas, a investissem na bolsa ou em depósitos a prazo. Corram p’ra bolsa seus miseráveis subsídio-dependentes e vós, que contais os tostões do vosso salário congelado, para ver se chega para luz, para água, para a educação dos filhos, para o empréstimo da casa, para… para…, arriscai! pois o desemprego a 10%, a subida das taxas de juro, as inflações, os déficites, são tudo ilusões que apenas se destinam a alimentar o vosso medo de arriscar mantendo-vos submissos. Acreditai, pois, que é possível todos comerem, sem nada nem ninguém serem comidos.
Gostei da parabola. Mas o mais interessante é que somos nós, supostamente, o patrão severo, pois entregamos, ainda que involuntariamente, os nossos bens ao estado, seja de que partido for, e ele, em vez de o multiplicar, não só lhe dá sumiço como ainda consegue ficar a dever mais do que aquele que lhe pagámos.
Gerir o dinheiro dos outros é fácil, e falar de barriga cheia ainda mais.
Pois é VM , eu quando falei em Patrão , estava pensando no Contribuinte. e é extremamente penoso saber que o que me custa a ganhar é gasto em brincadeiras de rapazes : estádios da bola , comboios e pistas de carrinhos. e em clubes de iniciados , tipo um tal rui pedro soares e mais umas centenas iguais.
e já agora : parece que foi o excesso de confiança no futuro que colocou muita gente no buraco. suponho que ouviram falar no sobreendividamento das famílias , não é ? se tivessem tido um bocadinho de medo de pedir emprestado tudo e mais alguma coisa , teriam menos ( ? ) , mas seria seu.
e é lindo de se ver , não é ? todos com a corda na garganta porque a encosta era sempre a subir que o vento ajudava.
espera o melhor , mas prepara-te para o pior. é um bom conselho , este.
e não dar passos maior que a perna , também.
viver um passo atrás do que podes ? esse , então , é fabuloso.
E ver um pacóvio novo rico a endividar-se em nome de todos , dos que ainda nem nasceram inclusive , para alindar a sala das visitas , com a cozinha e a casa de banho todas podres ? fogo.
mf, é um bocado verdade o que dizes. É incrível como num país em que os 90 km do Porto a Vila Real demoram 4 horas a serem feitas de comboio, se queira um tgv para Madrid! Se realmente o tgv fizesse falta porque é que há apenas um comboio diário para Madrid, que demora 10,30 horas?! Não há mesmo coisas mais importantes?! É mesmo essa a grande prioridade do país? Não acho nada disso, há montes de outras coisas que têm uma óbvia prioridade sobre o tgv, é mais que evidente.
Val, está muito religioso, muito fanático, não me agrada, mas tu é que sabes.
não pude deixar de reparar: esse sufixo no nome do Valupi é um grande desejo teu – impossível – de seres igual a ele, não é valupiças? :-D
(cá para mim foste tu quem serviu de inspiração ao meu CC e és uma pila gaga) :-D
Edie: junta-te ao Valupi e fiquem lá nesse vosso mundozinho do elogio da produtividade, da competitividade, dos melhores, e pelos vistos da exclusão dos improdutivos e dos preguiçosos, não digo do caralho que esse também eu elogio.
E que às tantas bebam desse cálice será talvez inevitável, pois que o convocam.
O que teria sido humanamente inteligente com o desenvolvimento tecnológico das forças produtivas e o cuidado no controle da pegada ecológica é que todos trabalhássemos menos e trabalhássemos todos, com o suficiente para viver e para interrogar o sentido da vida, o tal a que não queres responder.
Calma, &, que o sentido da vida, parece-me, não será estarmos a deitar as culpas a quem não pensa como nós. Aí quem está a excluir és tu, não eu…
Quem te disse que eu não sou uma grande defensora e praticante da preguiça? Mas só isso não chega.
Não consideras que a actividade humana necessita de se revestir de vários tipos de energia, para criar alguma dinâmica e não deixar desleixar a sua inteligência, o seu bem estar e até a sua pegada ecológica?
Caso contrário, e como tudo o que é mono, pode tornar-se monótono. Até um caralho constantemente preguiçoso pode tornar-se tal coisa..
Depois dizes: “…desenvolvimento tecnológico das forças produtivas e o cuidado no controle da pegada ecológica é que todos trabalhássemos menos e trabalhássemos todos…”. Concordo. Esse é – foi, será? – o objectivo: ressalvo apenas que idealmente nem todos teríamos de trabalhar; porque alguns não o querem e têm direito à preguiça.
Quanto aos mundos em que vivo e aos cálices que bebo, deixa comigo. Os meus mundos não os conheces e quanto ao cálice, não acredito em maus olhados ;)
Seculos mais tarde um outro judeu veio dar uma visão alternativa, talvez não tão parabólica,sobre estas questões.Karl Marx.
É muito significativo o conceito de desigualdade aprovado pela parabola.
Estou com & na sua opinião
A parábola reconhece a desigualdade, porque a desigualdade é parte constitutiva da realidade – a mulher é diferente do homem, a criança do adulto, o forte do fraco, o doente do são, o humano do animal, o animal do vegetal, o vegetal do mineral, o dia da noite, o calor do frio. Quem der o mesmo peso de carga ao forte e ao fraco não está a ser justo, quem esperar o mesmo resultado do experiente e do aprendiz está a ser injusto. Contudo, a parábola premeia a igualdade resultante da acção: pouco importa se começaste com 5, 2 ou 1, podes fazer o mesmo que os outros, aumentar o que te deram.
Ora, não é por acaso que estamos perante uma parábola, em vez de face a um tratado de economia ou de iniciação ao capitalismo. O exemplo concreto dado tem como finalidade despertar o pensamento alegórico, transferindo a lógica para a dimensão interior. Este é o modo semita de pensar, através do concreto, distinguindo-se do modo grego, dado a abstracções.
E foi por isso que trouxe a parábola, para a ligar ao texto acerca da confiança onde o ensinamento é exactamente o mesmo: quão menos tiveres, menos terás; quão mais tiveres, mais terás.
ui, ai, ui, ai que bem que tu falaste agora, Val. :-)
(se bem que agora, agora, apetecia-me ouvir o cão) :-)
O que eu queria relevar era exactamente mais o lado semita.Não é por acaso como dizes. E tambem esta bem contrastado com o exemplo grego, bem recente.
Sinhã, se o Val fosse tão bom a escrever como eu sou a usar o sufixo, já tinha um nobel literário.
Não sou eu que quero ser o Val, o Val é que parece querer ser o Sócrates.
Gosto de ler o Val mas não concordo com tudo, ele é que concorda com tudo do Sócrates. Acho estranho, se calhar é mais um dos primos ou sobrinhos do homem.
podes sempre perguntar-lhe. :-)
(mas tira da boca o sufixo: afinal já és nobel).:-D
A parábola dos talentos dos aldrabões
«Chamando os seus empregados, Pinto de Sousa entregou-lhes os seus bens. Ao Rui Soares deu cinco talentos, ao Vara dois, e um ao terceiro: a cada qual de acordo com a própria capacidade de aldrabar, mentir, manipular e corromper. Em seguida, viajou para o estrangeiro, para a China, onde se foi encontrar com um seu primo, para tratar de assuntos «privados» e «pessoais». O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles e lucrou outros cinco. Do mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu patrão.
Depois de muito tempo, o patrão voltou e foi ajustar contas com os empregados. Rui Soares que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: “Senhor, entregaste-me cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei”. O patrão disse: “Muito bem, empregado bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu confiar-te-ei muito mais. Vem participar da minha alegria, porque tu és dos que mereces o salário e os prémios que a PT te dá”. Chegou também Vara que havia recebido dois talentos e disse: “Senhor, entregaste-me dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei”. O patrão disse: “Muito bem, empregado bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu confiar-te-ei muito mais. Vem participar da minha alegria, porque tu és dos que mereces o salário e os prémios que o BCP te dá”. Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento e disse: “Senhor, eu sei que és um homem severo que não olha a meios para atingir fins, e sem qualquer ética, pois colhes onde não plantaste e recolhes onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e com problemas de consciência e escondi o teu talento na terra. Não tive coragem de andar a aldrabar as pessoas. Aqui tens o que te pertence”.
O patrão respondeu-lhe: “Empregado mau e preguiçoso! Sabias que eu colho onde não plantei e que recolho onde não semeei. Então devias ter depositado o meu dinheiro no banco, ou melhor, num off-shore, para que, no meu regresso, eu recebesse com juros o que me pertence”. Em seguida o patrão ordenou: “Tirai-lhe o talento e dai-o ao Valupi, porque este já mostrou como é bom a trabalhar para mim e a comer as cabeças dos socretinos. Porque, como eu já demonstrei durante o meu governo, a todo aquele que tem, será dado mais, e terá em abundância. Mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Ou seja, aos banqueiros e à Mota-Engil eu dar-lhes-ei sempre mais e não lhes subirei a carga fiscal, mas aos funcionários públicos e aos trabalhadores em geral aumentarei os impostos e vou retirar-lhes uma série de direitos laborais e sociais. Quanto a este empregado inútil, lançai-o lá fora, no desemprego e na escuridão. Ali haverá choro e ranger de dentes”, porque também aos desempregados lhes irei cortar no subsídio. Já o fiz há 5 anos e vou voltar a fazê-lo!»
Val,
estava aqui a pensar nessa dimensão alegórica projectada para a dimensão interior.
Ora imaginemos que se recebe um talento de dom e não de dinheiro. Porque alguém tem talento para cozinhar, fará sentido que se recuse a utilizá-lo, por ser pouco, enquanto o vizinho do lado, o malandro, tem talento para cozinhar, fazer poesia e tocar piano?
edie, não fará sentido nenhum, claro. De resto, o sentido da parábola é o do crescimento, servindo-se do análogo do lucro. Digamos que Jesus não era propriamente um defensor dos mercadores e dos ricos…
pois o móbil do lucro levado a uma escala gigantesca, global, é o que está a ser ensaiado agora pelos empréstimos dos bancos aos Estados com os disparos das agências de notação ao barulho. Que bom, já pensam em termos de dez levantado a nove ou será mesmo que a dez? Tantos zerinhos à direita, que apetite! Pois levam com os infinitos infinitos de Cantor que é para aprenderem.
Edie: está aí a ser fabricada uma coisa que como o K recordou não é mais do que aquilo que o velho Marx enunciou. Atrofiando a base da pirâmide com desemprego, sem apoios, incidindo essa base sobretudo nos jovens não te digo o que vai ser, deixo à tua imaginação. Mas em termos económicos trata-se de bloquear a principal força produtiva,e se te lembras quando é assim há revolução.
Quanto à parábola, ficou por contar o resto da história, deixemo-la por aí,
mf,
Sobre a confiança no futuro que levou ao sobreendividamento das famílias e já que estamos em alegorias: lançar uma semente ao vento, fazendo figas para que vá cair em bom solo é diferente de escolher um bom vale com solo fértil, onde as condições sejam favoráveis para o crescimento da semente e confiar nessa acção consciente.
O medo não é solução, porque guardar a semente na gaveta também não dará frutos, seguramente.
É. E no entanto, o catolicismo é das mais bem sucedidas “”empresas” com fins lucrativos, ao prometer a salvação da alma em troca dos bens terrenos, continua a dar lucro.
&, o clima está, de facto, cada vez mais favorável à revolução; os agentes promotores é que não estão à vista (estarão escondidos atrás de interesses inconfessáveis?)
De analogia em analogia ocorreu-me agora que, da cruz no Sócrates, vamos passar para Sócrates na cruz.