O Sr. Rosa alucina porque o deixam alucinar

4. Que Francisco Louçã é sectarista e intelectualmente desonesto, não é grande novidade. A questão é saber:

porque razão protege e defende Sócrates quando este foi o seu principal adversário no Parlamento?
Porque Louçã sempre soube que a Operação Marquês colocaria em xeque o PS. O ex-líder do BE sabe que um PS eleitoralmente fragilizado e marcado pela corrupção (como o PT no Brasil), pode beneficiar o Bloco mas beneficiaria muito mais o centro/direita e catapultaria o PSD e o CDS para muitos anos no Governo.


Luís Rosa

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Os seis anos dos dois governos Sócrates foram precisamente isso: uma farsa. Entre 2005 e 2011 tivemos, com raras e honrosas exceções, uma imprensa controlada, medrosa e submissa face ao Rei Sol chamado José Sócrates.

Não deixa, por isso, de ser assustador ouvir o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa falar na hipótese de uma intervenção do Estado para salvar a comunicação social da crise económica em que está mergulhada quando tivemos há poucos anos um primeiro-ministro que tentou dominá-la para se proteger do escrutínio jornalístico.


Luís Rosa

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Luís Rosa é um dos mais fanáticos entre os fanáticos que fazem o Observador. Nada contra, nem contra uma coisa nem contra a outra. Há muito dinheiro a ser gasto com um tipo de fanatismo que tem uma agenda politicamente óbvia – o que começa por ser meritório – e o modelo de negócio com esta despesa, que nada tem a ver com o ideal jornalístico, encontra-se explicitado na lógica dos investimentos de risco: se atingirem os seus objectivos, terão lucros 10 ou 20 vezes maiores do que o capital investido. Como? Conseguindo levar para o Governo quem propicie aos accionistas negócios cuja escala leve a esses ganhos. Não há mistério algum nisto, é assim desde que há memória nas sociedades liberais (nas outras, acabando por ser o mesmo, é bem pior) e é daí que vem a cassete com que atacam os adversários, erigidos como espelhos cristalinos daquilo que eles fazem desde o berço ou desde a tomada de consciência da gula ilimitada calhando não terem berço. A liberdade, no plano dos princípios, fica bem servida com a actividade mediática deste grupo que não se envergonha por defender e promover a direita decadente. Mas tal não os isenta de crítica (etimologia: análise), bem pelo contrário; sendo que no caso precisamos de uma crítica radicalmente diferente daquela de que estes decadentes alegam possuir o monopólio.

Bastam estas duas citações acima para ficarmos com material para um seminário de mestrado. Na primeira, começa por ser uma delícia ver o Sr. Rosa carimbar como “sectarista e intelectualmente desonesto” Louçã. Não que ele tenha dito um disparate, pois Louçã encaixa na definição com precisão milimétrica, mas porque o que se segue na argumentação apenas consegue demonstrar que o único sectário e desonesto intelectual naquele parágrafo é o próprio autor. Partindo do infantilismo de considerar rixa pessoal os confrontos parlamentares quando Sócrates era primeiro-ministro, de imediato nega a Louçã a liberdade de pensar pela sua cabeça, de ter critérios morais e éticos diferentes dos seus, até de ter informação que ele desconheça. Então, consuma a deturpação projectando em Louçã o que ele, o fanático que persegue profissionalmente Sócrates e o PS, imagina e deseja: muitos anos de Governo para o PSD e o CDS graças à “Operação Marquês”. Na segunda, repete a mais patarata das calúnias que os direitolas agitam desde 2007, sem conseguir perceber o nível de ridículo atingido por defender duas ideias contraditórias de rajada: ou a imprensa, entre 2005 e 2011, era livre e daí Sócrates ter tentado dominá-la como tirano que o pinta para se proteger da “verdade”, ou a imprensa estava controlada – salvo raras excepções, como afirma – e então não se entende por que raio Sócrates precisava de se chatear e arriscar ser apanhado pela gente séria de Aveiro.

Nesta tese de que entre “2005 e 2011 tivemos, com raras e honrosas exceções, uma imprensa controlada, medrosa e submissa face ao Rei Sol chamado José Sócrates” não se dão exemplos. Nem um. Nem um exemplo do que o Sr. Rosa considera uma rara e honrosa excepção, nem um exemplo do que considera uma imprensa controlada, medrosa e submissa. Nem um, nunca. Este aspecto é o que quero realçar pois é a manifestação de um fenómeno muito mais vasto, e muito mais interessante, do que o fanatismo do indivíduo em causa. Podemos conceber uma experiência mental em que alguém o obriga a demonstrar a tese. Que iria dizer? Em que recanto do seu bestunto iria encontrar neurónios para sustentar que no país do império Balsemão (do Crespo, do José Gomes Ferreira, do mano Costa e seus convidados), do Público do Zé Manel carrasco a mando da Sonae, da TVI do casal Moniz e do Marcelo, da RTP da Judite e do José Rodrigues dos Santos, do Sol do taralhouco, da Renascença da Igreja, do DN do Marcelino e da brigada laranja ao tempo, da TSF do Baldaia, do i do Martim Avillez, e da Cofina da criminosa indústria da calúnia, tínhamos uma “imprensa controlada, medrosa e submissa”? Foda-se, senhores ouvintes, a alucinação por que teria de passar para essa façanha deixaria o Sr. Rosa incapaz de conduzir veículos motorizados, ou que fossem a pedais, durante umas horas valentes.

Não faço ideia de qual seja a percentagem nas intervenções mediatizadas, pois tal implicaria fazer-se um levantamento estatístico, mas empiricamente é certo e sabido que quão maior for o sectarismo de uma dada posição política maior será o uso de falácias, distorções cognitivas e puras mentiras sem qualquer fundamento objectivo. Discursos como o do Sr. Rosa, ubíquos nas campanhas eleitorais para enganar o patego e típicos do que os decadentes consideram o “fazer política”, são atentados contra a racionalidade e a boa-fé. Por que razão não só persistem como aumentam de tom e se multiplicam nestes tempos de triunfo das demagogias mais básicas e absurdas? A causa principal está no papel dos jornalistas no fenómeno. Não só eles são incapazes de expor os caudalosos erros de argumentação a que dão palco e alcance como muitos deles ambicionam usufruir do mesmo papel manipulatório dos políticos sectários e dos comentadores fanáticos. Em vez de a imprensa ser um crivo onde se distinga a honestidade da desonestidade intelectual, para que as audiências disponham da melhor informação com que construir as suas livres opiniões e a partir delas exerçam a cidadania e utilizem o voto para uma escolha fundamentada, temos os órgãos de comunicação social cheios de uma fauna que faz da sua venalidade uma carreira, que da política só quer a preguiça e a cobardia de nada ter de decidir em nome do Soberano.

6 thoughts on “O Sr. Rosa alucina porque o deixam alucinar”

  1. Excelente texto. O anti-socratismo, em Portugal e o anti-lulismo, no Brasil, são fenómenos que há muito deixaram as águas da racionalidade. Quem lê o Rosa, o Tavares, ou ouve a Guedes, quem dá uma volta pelo twitter ou facebook do bolsonarismo, tem mais dificuldade em encontrar uma articulação lógica do que constatar uma fixação paranóica patológica, fisiológica. avulsa, tocada a insinuação e escárnio. Independentemente de se concordar ou não com a sua prestação política, ou da opinião que se possa ter sobre a força que tem o contraditório às narrativas dos crimes de que são acusados, nos dias de hoje, a defesa da salubridade e decência do tratamento mediático e judicial a que estão sujeitos Lula e Sócrates, e com eles, todos nós, é o lugar onde começa a democracia. Seguir em frente deixando esses corpos prostrados na estrada seria uma cobardia cívica imprópria de homens livres e sérios.

  2. Ainda assim, Valupi consegue afirmar que o sectário e alucinado Rosa escreve direito sobre Louçã, mesmo que por linhas tortas!

  3. nunca tinha visto a cena da perspectiva do sr.rosa e um facto é que o berloque de esterco na actualidade come do pote . o louçã é mesmo escorpião.

  4. Muito bom, muito boa esta desmontagem dos jornalistas “analistas”, mas que defendem sempre as politicas da direita…
    …. Mas este Luís Rosa lembra bem outro , o “famoso” João Gonçalves…. Lembram-se das tiradas/investidas durante o período do governo de Sócrates…?… Enfim, a farsa continua…. o que me dana (!) é termos uma esquerda que nem sequer reage dignamente para prevenir o que vem aí….com as eleições em 2019…
    Bom Natal….ou o que resta do seu “espírito”…

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