O sensacionalismo e o alarmismo compensam

«A ex-ministra da Justiça Francisca Van Dunem alertou hoje que a repetição “exaustiva” de imagens de violência nos média gera uma perceção errada de insegurança, num país onde a taxa de criminalidade é baixa.

“O estado de segurança, que é real e objetivo [a criminalidade violenta e grave diminuiu mais de metade nos últimos 10 anos], não é percecionado por uma grande franja da população e, sobretudo, não é assim percecionado pelas camadas mais idosas e mais frágeis da população”, afirmou a antiga governante, que falava numa sessão das Conferências de Coimbra, dedicada à segurança urbana.

Para Francisca Van Dunem, o desfasamento entre a realidade e a perceção terá como base a forma como a comunicação social aborda o crime e a violência.

“A verdade é que a repetição exaustiva, por vezes ‘ad nauseam’, de imagens de violência e relatos de violência podem gerar sentimentos de insegurança tão profundos como a própria vivência de uma situação de violência, porque o medo tem um potencial de desestabilização autónomo”, notou.

A discursar no Convento São Francisco, em Coimbra, a ex-ministra realçou que o crime “hoje vende” e acaba por ser “um produto de utilização intensiva nos meios de comunicação tradicionais”.

“Agora que estou reformada, tenho feito a experiência de observar alguns canais de televisão e devo dizer que a experiência de algumas horas – um dia é pesado – dedicada a observar a programação de canais de televisão em sinal aberto é, de facto, uma iniciação a um mundo paralelo e, sobretudo, uma triste descida a um universo de irresponsabilidade”, vincou.

Segundo a antiga governante dos executivos de António Costa, apesar de ser necessário “criar programas de prevenção criminal”, nenhum desses instrumentos será eficaz se não for possível “aproximar a perceção das pessoas da realidade vivida da realidade que lhes é criada justamente por esta bolha”.

“É preciso trabalhar na prevenção com os responsáveis dos órgãos de comunicação social, no sentido de criarmos uma articulação mais eficaz entre o direito de informação e o dever de informar e as exigências de paz e de tranquilidade sociais”, defendeu, sublinhando que o clima de medo gerado pela forma como a violência e o crime é retratado nos média acaba por também cercear a liberdade dos cidadãos.»


Francisca Van Dunem alerta para a repetição “exaustiva” de imagens de violência nos média

20 thoughts on “O sensacionalismo e o alarmismo compensam”

  1. e tem muita razão, sim. o que sei é pelo o que o meu pai me conta e pelo que leio. mas há uma geração – e uma fatia da população por outros motivos – que passa muito tempo em casa a ver televisão e absorver os dramas e as tragédias inchadas, a ficarem tristes e com medo. depois a nuvem colectiva fica miseravelmente carregada e cinzenta e com cólicas. :-(

  2. Bom senso. Aqui em França, mercê da fascização generalizada, ja é voz corrente que o que conta é a percepção da criminalidade, e não a realidade. O resultado imediato é que qualquer paspalho, de preferência asno acabado, se improvisa especialista e vai para os jornais ou para a televisão proferir as piores alarvidades sem controlo. Termos Correio da manhã dia e noite sem parar em tudo o que é comunicação social, em França, não é um perigo. E’ ja uma triste realidade. Isto não vai acabar bem…

    Boas

  3. Eu noto é a banalização da violência atroz ! Das imagens da guerra que as televisões hipocritamente usam. Banalizar o mal, desvalorizar o sofrimento de pessoas que morrem na guerra, sejam russos ou ucranianos (embora que quando são russos a morrer, a gravidade não é a mesma…)
    Concordo com o texto, mas deveria ter dado o exemplo da guerra. A comunicação social passa as notícias que as pessoas “querem ver” e não devia ser assim, evidentemente.

  4. E necessário colocar o “paspalho, de preferência asno acabado, [que] se improvisa especialista e vai para os jornais ou para a televisão proferir as piores alarvidades sem controlo”, a ler Hannah Arendt…

  5. Não percebo o seu comentario, Eduardo Ricardo. Até ver, os Portugueses não têm a percepção de estar em guerra. Não têm a “percepção” de viver sob ameaça directa e permanente de um exército estrangeiro. Em contrapartida, as noticias sobre crimes têm esta consequência : a despeito de tudo o que conseguimos saber sobre a evolução da criminalidade, as pessoas projectam-se quando lêm noticias tipo “jornal do incrivel” e têm a percepção de viver numa sociedade violenta, mais violenta do que ha 30 anos, o que é falso. O texto é sobre este fenomeno.

  6. Eu sei que o texto é sobre esse fenómeno. Estou é a falar dum outro que me parece mais pertinente. a utilização abusiva de imagens violentas da guerra, e fala se disso como se um jogo se tratasse. Todos os dias as televisões passam “conteúdos sensíveis ” e penso que é perigoso (volto a dizer) banalizar essas imagens.
    Quando digo banalizar não estou a falar de filosofia nem dessa socióloga. Falo no sentido literal da palavra.
    Não gosto nada do que vou fazer, quem quiser ver que veja, mas aviso já para a brutalidade das imagens.
    https://youtu.be/unEF8YJzuEk

    Queres viver numa sociedade em q a generalidade das pessoas acha isto normal?
    Para além disso a parcialidade com que o assunto é relatado deixa me impressionado.
    Quando os russos usam drones são os piores do mundo, compram ao irão , vamos boicotar o irão etc. Os ucranianos usam as mesmas técnicas violentas e o mal que antes detectavam desaparece.
    A pessoa que morre representa uma destruição para uma familia /amigos.
    Estas imagens nunca deveriam ser mostradas, mete me nojo. E ainda me mete mais nojo ter que assistir a uma publicidade , foda se o mundo está mesmo perdido.

  7. OK, não tinha percebido. Estas-te completamente nas tintas para o que diz o post e queres apenas falar da guerra na ucrânia, que te preocupa muito, ja sabemos. Como não existe censura, estas à vontade. Não queres também falar-nos também da tua tia Emelda que te batia e te fechava num quarto escuro ? Ja agora, aproveita…

    Boas

  8. João obrigado por compreenderes, és muito simpático ?? gosto de várias pessoas que aqui escrevem, fazem no muito melhor q eu. Mesmo dos teus comentários q por vezes brejeiros mas engraçados ?
    Já que te ralas tanto com a perda de contacto que por vezes os comentários tomam, eu não vejo problemas nisso. E eu.falei sobre o post do Valupi, disse ” concordo com o texto da ministra”.
    A comunicação social tem um poder de contar histórias e apresentar as notícias como bem entender. É um poder enorme. Vou te dar dois exemplos recentes. Lis truss (não tenho opinião absolutamente nenhuma sobre a mulher) foi sujeita a um tratamento por.parte de uma ministra do interior (a gaja é feia q até dói ) de cobardia e traiçoeiro sujo e pérfido (a expressão não é minha). A noticia foi a louvar a atitude dessa mulher, quando ela fez o erro de propósito só para dar uma “lição ” na praça pública.
    Segundo exemplo: a conta do Twitter do Iker cassilas foi hackeada. Um canal.de.televisao disse isto: “cassilas, sendo gay ou não, a frase deu que falar” foi uma merda assim ou parecida.
    O homem desmentiu, mas para o canal noticioso ele “ainda pode” ser gay

  9. Só para perceber: este blog substituiu o Câmara Corporativa?

    É também ‘patrocinado’ pelo Partido Sucateiro, ou louva o António Bosta, o Trafulha 44 e demais máfia xuxa por algum outro motivo? Tontice? Masoquismo? Cegueira voluntária?

  10. mal começamos a falar de quando os blogues eram relevantes, apareceu o filipe directamente desses tempos

  11. m todo o ano de 2019 a Polícia Judiciária (PJ) registou um total de sete crimes de homicídio – um consumado e seis tentados – praticados por gangues juvenis no distrito de Lisboa. Só no primeiro semestre deste ano esse número subiu para 16 (entre 15 tentados e um consumado), revelando uma subida exponencial de 130% apenas em metade do ano.

    https://www.dn.pt/sociedade/pj-regista-subida-de-homicidios-em-lisboa-e-violencia-de-gangues-juvenis-esta-a-escalar-15278214.html

    ó pá , o sensacionalismo da pj …realmente , querer convencer o people que temos um problema de gangs como se fossemos a américa …não se faz.

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