A notícia que o Júlio refere tem uma parte que precisa de ser lida do princípio ao fim. É o retrato fiel da qualidade dos tipos que nos desgovernam:
Côa avaliada por lapso?
Se a Fundação Paula Rego lamenta o “vexame” causado pela classificação negativa, não é a única descontente com os danos de imagem que esta avaliação do Ministério das finanças pode ter causado. Fernando Real, presidente do conselho de administração da Fundação do Côa, responsável pela gestão do Parque Arqueológico e do Museu do Côa, também não ficou propriamente satisfeito quando viu que a instituição a que preside aparecia referida na imprensa local como “a pior fundação do distrito da Guarda”. Na verdade, a acreditar no relatório, não é apenas a pior da Guarda, é quase a pior de todo o país, com uns míseros dez pontos. Que, refira-se, foram todos obtidos no parâmetro “pertinência”, já que em eficácia e sustentabilidade levou com dois rotundos zeros. Um juízo surpreendentemente severo, que poderá ter resultado de uma interpretação equívoca das respostas enviadas por Fernando Real. A história chega quase a ser divertida e conta-se em poucas palavras. Quando o presidente da Fundação do Côa recebeu o questionário, com a indicação de que a resposta era obrigatória sob pena de uma eventual extinção – aviso que a Gulbenkian, por exemplo, também terá recebido -, achou melhor responder, ainda que estivesse consciente de que não teria muito a dizer sobre os números da fundação relativos aos anos 2008-2010, período a que esta avaliação diz respeito, pela razão singela de que a instituição só veio a ser criada em 2011. Foi já, de resto, o actual secretário de Estado da Cultura, Fancisco José Viegas, a dar posse ao respectivo conselho de administração, que só veria aprovado o seu primeiro orçamento em Junho deste ano, há coisa de dois meses.
Real tentou, por isso, responder “não se aplica” onde essa era a única resposta aplicável, mas, infelizmente, explica, onde eram solicitados números, o questionário electrónico só aceitava mesmo algarismos. Decidiu, então, optar por responder com zeros, que os responsáveis pelo tratamento de dados terão aparentemente assumido no seu significado matemático literal, mesmo quando esta interpretação era manifestamente inverosímil. Lembrando que, “logo no início da ficha, estava a data da criação”, deixando claro que a fundação ainda não existia no triénio que o inquérito se propunha avaliar, Real considera que “o erro é tão evidente e grosseiro, que é de admitir que tenha havido um lapso”.
Só lamenta que este lapso tenha entretanto levado “a imprensa local a dizer coisas horrorosas da fundação”, o que, sublinha, “esmorece a confiança de terceiros, num momento em que se está a tentar acordar parcerias para obter receitas que permitam fazer crescer o projecto e, ao mesmo tempo, reduzir os encargos”.
Ao contrário do descalabro que a avaliação sugere, a Fundação do Côa, garante Real, “não podia ser mais poupada”. O seu orçamento para 2012 é de 1,4 milhões de euros, o mesmo valor que, em 2010 e 2011, antes da criação da fundação, o Igespar gastava com o Parque Arqueológico e com o Museu do Côa. E mesmo em anos anteriores, quando ainda não existia o museu – um equipamento com uma “logística pesadíssima” e dotado de tecnologia avançada -, o orçamento do Parque Arqueológico rondava já um milhão de euros.
Fernando Real, que já transmitiu as suas perplexidades à tutela, diz compreender “a necessidade de se avaliar e de se poupar”, mas assegura que o orçamento da fundação “é para pagar salários e despesas mínimas de funcionamento” e “não chega para mais nada”.
Tal como outras fundações descontentes com esta avaliação, a Fundação do Côa dispõe agora de um breve período para contestar os seus resultados. A lei estipula que, após a publicação do relatório e das fichas de cada fundação no Portal do Governo, “as decisões finais serão tomadas num prazo máximo de trinta dias”.
se nao fosse um assunto tão serio ainda me estava a rir enquanto escrevo, como não é, tenho medo, muito medo…