Num ano sem eleições presidenciais na fabulosa e hollywoodesca América, a October surprise foi protagonizada pelas mulheres que denunciaram a conduta sexual de Harvey Weinstein. O próprio reconheceu a veracidade dos relatos, iniciando-se com a queda desse gigante da indústria cinematográfica uma avalanche de casos similares envolvendo outras figuras dos meandros do espectáculo. Corrente que não se sabe quando nem onde irá parar. Aliás, a dimensão do fenómeno é tal que a perspectiva de se descobrirem “oficialmente” os “podres” da maioria das estrelas consagradas seja qual for a sua área de actividade profissional, obrigando ao seu ostracismo e ao apagamento da sua memória, já não surge como um cenário de desvairada ficção à luz do que se está a fazer com Weinstein e Kevin Spacey.
Estamos a assistir a um momento de mudança de paradigma? Foda-se, claro que sim. Basta analisar o caso inicial, o qual era do conhecimento generalizado do meio durante décadas e que só foi denunciado no final de 2017 – apesar de tantas mulheres, e tão poderosas no seu estatuto e recursos financeiros, terem sido vítimas ou saberem dos abusos. Apenas uma coerção social tácita, nascida de um calculismo dominante, explica o prolongamento e extensão dos actos de alguém tão exposto pela sua notoriedade e descontrolo. Portanto, independentemente do imprevisível desfecho judicial e das voláteis convulsões morais, a dimensão social parece suficientemente alterada para levar a uma mudança cultural.
Seguir-se-á uma nova era, sendo que por agora a sexualidade masculina é o novíssimo continente desconhecido. Como se pode constatar neste artigo – Why men use masturbation to harass women – os especialistas consultados não fazem sequer a mínima ideia do que poderá estar a gerar comportamentos como os atribuídos ao hilariante Louis C. K. Porém, a resposta encontra-se à vista dos curiosos, basta assistir aos seus números em palco para tropeçar em conteúdos retintamente pessoais. E pode-se logo agarrar numa primeira questão: será possível separar a qualidade do seu humor, a eficácia dos seus quadros teatrais, do drama em gente onde o material criativo é arrancado da sua privacidade? Teremos de inverter a vexata questio freudiana, “O que querem as mulheres?”, e darmos atenção a estoutra, potencialmente ainda mais enigmática, “O que querem, afinal, os homens famosos e poderosos que batem pívias à frente do mulherio?”
Todos os homens são sexualmente predadores. Se não o forem, algo de errado se estará a passar. Não há moral nesta realidade, apenas biologia. Uma mulher não poderá jamais saber em que consiste esse estado – ou seja, a mulher não sabe o que é ter “tesão” – tal como um homem não poderá jamais saber o que seja ter o período ou estar grávido. Assim, as mulheres não compreendem o desejo masculino, embora se adaptem com maior ou menor facilidade a ele. Igualmente, os homens não entendem o desejo feminino, e, acima e antes de tudo, não concebem que a mulher possa ter uma radicalmente diferente motivação e dinâmica sexual. Era aqui que o tio Freud patinava, projectando na fêmea o seu masculino e, portanto, redutor e erróneo entendimento do que seja a experiência feminina. Este estado predatório nos homens não é uma escolha, antes uma condição que a biologia e a cultura têm ambas reforçado. O falocentrismo que origina nasce tanto da exterioridade anatómica do pénis como da procura das recompensas químicas geradas nos cérebros masculinos com a fácil ejaculação e, por fim, cristaliza-se numa celebração simbólica inserida numa “luta de géneros” muito parecida com uma luta de classes.
Há uma história imensa por contar. É a história do homem como sexo fraco. E ridículo. Por isso, violento. Por isso, violentador por exigência mecânica. E tão periclitante e efémero na sua erecção sempre triunfal. Que seria deste mundo se as mulheres contassem tudo o que sabem desses seres a quem suportam a fragilidade logo na família, tantas vezes, e ao longo de toda a vida, invariavelmente? Elas ainda não estão capazes de contar o que testemunham directa e indirectamente. Na família, nos amigos, nas festas, no emprego, nas férias, nos consultórios, nas saídas, nas conversas, nos quartos. Mas tinha de se começar por algum lado. Começou-se por um celebérrimo ogre. Só que esse, paradoxalmente, era um alvo fácil. Venham os mais difíceis, os ogres que as mulheres amam. Os ogres que as mulheres perdoam. Os ogres que as mulheres protegem.
“Uma mulher não poderá jamais saber em que consiste esse estado – ou seja, a mulher não sabe o que é ter “tesão” ”
O Valupi tem de deixar as mulheres victorianas que deixa logo de dizer coisas dessas. Há muitas que sabem muito melhor do que eu.
como se tesão fosse sinónimo de erecção!
Paulo Marques, creio que estarás a entender “tesão” como “excitação”, “desejo”. Ora, sendo também disso que se fala, não é disso que falo (pun intended).
querem ser actores de filmes pornográficos e ir para a cama com uma dúzia delas que gemam muito e que digam que nem o mandingo tem uma pila daquele tamanho. :)
esse que falas deve ser viciado em porno , parece que o acesso hiper fácil a pornografia está a por os rapazes doentes. um problema grave no Japão , por exemplo.
WHAT??? Os muié num tem tesom??? Tesom és diferente d’erección??? Pois se inté a Lua tem tesom, como diz a cançom, adonde foi tu buscá ideia tan estapafurdom, porra???
Fragilidade humana escancarada deste modo a quem aproveita?
Sabedoria milenar acumulada que foi gerindo estas situações é destruida por falsos aprendizes de feiticeiro.
Ignorância, leviandade, má fé, oportunismo, tudo podemos encontrar.
Depois queixem-se!
As primeiras denúncias tinham unicamente a ver com relações de poder numa certa indústria. Numas certas relações de poder. Nalguns casos inclusive sem a presença do sexo feminino. Daqui a estranheza da temática do post. Pelo menos para mim. Mas como qualquer temática hoje também já admito que ninguém saberá muito bem aonde é que isto irá parar. Em Portugal, há uns anos valentes, o actor Paulo Matos – depois de uma passagem por Paris – denunciou exactamente o mesmo na indústria nacional. Que em Portugal também só havia trabalho depois do teste da cama. Independentemente do verdadeiro valor do actor ou da actriz. Inclusive deu os nomes aos bois.
P, qual a fonte da estranheza que sentes em relação ao texto? Explica lá isso melhor, please.
a generalizaçao de casos infelizes para o todo masculino :) que mau entendedor :)
OK. Então vamos la adaptar o teu arrazoado ao caso do roubo.
“O homem é um predador nato, não consegue reprimir a sua inveja e é inevitavel que transforme em violência a sua ânsia de possuir e fruir o que pertence ao vizinho. Dai deriva uma guerra perfeitamente universal e irresistivel. Não tem nada a ver com educação, ou com ética, é pura biologia. Sempre assim foi e, no fundo, sempre assim ha de ser. Não ha rigorosamente nada a fazer, a não ser sonhar que o homem se transforme em algo de totalmente diferente, que ele nunca foi na realidade e que é angélico, ou mesmo perigoso, pensar que ele é.”
Achas convincente ? Tenho um cliente acusado de roubo, vens à audiência da proxima quinta feira desenvolver este tipo de considerações ?
Boas
Já ví uma garota adolescente masturbar-se nas traseiras de um Cadillac descapotável com uma BIC Cristal preta ponta de escrita grossa, e não me sentí assediado .
Bem pelo contrário fiquei excitado .
Foi nos anos sessenta . Bons tempos !
umami. este texto é que está a ser o meu pequeno almoço. :-)
e se Freud teve sempre razão em considerar que as mulheres têm é inveja do pénis duro e erecto capaz de se satisfazer com tanta facilidade e simplicidade? e se são os homens a sentirem inveja da complexidade sexual das mulheres – fina complexidade que lhes permite gerar vida pelo sexo? e se homens e mulheres, em mixórdia de não entenderem o tesão espontâneo visível Vs tesão espontâneo invisível, forem felizes nesta diferença abismal e animal? e se for por entre o tesão de ser e de dar que vale a pena, homem e mulher, estar?
ou não.
a primeira vez que ele a forçou na cama ela deixou-o. mas ainda hoje lhe dizem que é normal – estavam casados.
chegou uma colega nova ao emprego. começou a perceber que depois de chegar deslocava-se à casa de banho e abria a camisa até ao umbigo. antes de ir embora vai fechá-la. ficava de frente para um colega que queria cativar para ficar com o emprego e usufruir de delicadezas. quem viu sentiu-se terrivelmente mal e falou ao colega e aos outros. protegeram a imagem dela e descredibilizaram e humilharam quem viu. passou quem vê. passou a ficar isolada por conta de desprezar comportamentos de nojo – tanto de quem os pratica como de quem os desvaloriza e protege.
a normalidade sexual é o padrão que cada um escolhe ou deixa escolher. o desvio a esse padrão é que é o crime. e assim se vive na ogrelândia.
Val, podias fazer um textaço sobre o marsápio do Maçães. :-)
faz, faz,faz. :-)