O Pacheco não é parvo

Quando não há provas suficientes, faz-se fugas de informação ou faz-se aquelas cenas de buscas sistemáticas. E isto é que é uma prática que, podendo ser legal no limite, é uma prática inaceitável do ponto de vista da democracia. É uma prática que inquina a vida pública. Implica em muitos casos abuso de poder. Porque muitas vezes a atitude é esta: "Tenho indícios". O que é que são indícios?...

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Que é sempre uma forma que tem efeitos na opinião pública, porque é sempre uma maneira de dizer que não há fumo sem fogo. Portanto, se o Ministério Público faz estas coisas é porque há fogo.

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Vá lá ver... Eu não sou jurista, mas não sou parvo. Quando digo não sou parvo é no sentido do senso comum. Quer dizer, a gente vê coisas e o senso comum implica interpretá-las. Eu não acho que isto seja a mesma coisa de um primeiro-ministro andar desconfiado dos bancos, e andar com maços de notas entregues por um motorista, do que aqui se veio a saber. Portanto, eu faço distinções, e distinções a partir do que se conhece publicamente.

Pacheco Pereira, 3 de Dezembro

Pacheco Pereira é um cidadão com crescente poder político e mediático desde os anos 80. Abandonou a política activa em 2011, continuando militante do PSD, sendo há uns bons trinta anos um dos mais prolixos e influentes dos comentadores políticos. Embora seja designado como historiador, graças às suas investigações e obras de diferente tipologia nessa área de estudo, a sua formação académica foi em Filosofia. Tem como marcada característica comportamental achar que sabe tudo acerca do passado, do presente e do futuro da humanidade. Estes os predicados para o considerar a mais donosa das vedetas da indústria da calúnia.

Porquê? Porque são incontáveis as suas declarações, textos, posições políticas e cívicas com as quais não só é fácil concordar mas que até apetece aplaudir, louvar, mandar a cartola pelos ares no júbilo de assinar por baixo. Como aqui — A ideologia antidemocrática do justicialismo — cuja versão oral televisionada se encontra acima ligada. Este é o Pacheco em versão Dr Jekyll, promovendo a salubridade do regime, do espaço público e da comunidade. Só que logo depois, no caso acima citado com uma diferença de poucos minutos, aparece o Pacheco em versão Mr Hyde. Neste papel, a sua obsessão com Sócrates tolda-lhe o juízo, implode o seu edifício moral, arrasa a sua ética, e a pulsão assassina comanda-lhe a motivação.

Veja-se do que é capaz. Começa por reconhecer que o Ministério Público comete abusos de poder a coberto da figura dos “indícios”. Admite que o Ministério Público é autor de fugas de informação quando não consegue obter provas. Explica que essas fugas de informação, sob a capa de serem “indícios”, funcionam na opinião pública como provas da culpabilidade dos visados por causa da autoridade institucional do Ministério Público. E, de repente, num rebate de consciência, sente necessidade de excluir a Operação Marquês da lógica da sua crítica, apesar desse processo ser histórica e exemplarmente adequado a ilustrar tudo o que tinha acabado de denunciar. Exclusão que não pode sustentar pelos factos, o que leva a sua dissensão cognitiva a agarrar-se à mais infantil imbecilidade no afã de manter a sua identidade de Torquemada do Sócrates. Ao invocar o “senso comum” como critério interpretativo para avaliar partes soltas e esconsas de um caso com a complexidade homérica da acusação a Sócrates, o Pacheco desmente-se a si próprio. Assume aliviado o seu lugar no rebanho que pasta o que o Ministério Público abusador do poder, literalmente criminoso, quer que ele engula.

Este suicídio da sua honestidade intelectual é o fruto podre de o Pacheco se ter servido de todos os abusos, e crimes, fornecidos pelo Ministério Público aquando da operação Face Oculta. Então, o Pacheco era o general de campo do tandem Ferreira Leite-Cavaco, e o PSD e o Presidente da República serviram-se abertamente da espionagem feita a um primeiro-ministro. Falhada essa intentona, a dois meses das eleições foi lançada a Inventona de Belém. E na última semana de campanha, quando já era pública a farsa montada por Cavaco, o Pacheco apareceu frente às câmaras a profetizar que estaria para breve a revelação de graves crimes cometidos pelo Governo socialista. Meses mais tarde, o mesmo Pacheco iria chafurdar nas escutas a Vara e Sócrates, mais uma vez aparecendo frente às câmaras a garantir que elas tinham indícios de crimes sortidos, embora não tivesse dado a mínima explicação acerca do que caluniosamente denunciava. João Oliveira, deputado do PCP que ouviu o mesmo material captado na espionagem, disse que não havia ali nada com relevância criminal.

Ou seja, o Pacheco afinal é cá dos nossos. Tem dois pesos e muitas medidas. Em competição eleitoral, vale tudo, e um Ministério Público abusador e criminoso a favor do laranjal torna-se de uma utilidade preciosa para cobardolas e pulhas. Ele limitou-se a aproveitar as vantagens ao dispor na ocasião. Fora desses transes, há que trabalhar para a fantasia de ser um impoluto e sapiente senador da República. O paladino da moral, da decência e dos bons costumes, tais como se elaboram a partir da magnífica biblioteca da Marmeleira. É que ele não é parvo, é apenas um tipo que troca a filosofia pelo senso comum quando não resiste a mergulhar de cabeça no justicialismo.

5 thoughts on “O Pacheco não é parvo”

  1. Maior crime contra Portugal?
    Um Primeiro-Ministro e um Governo, que faz um contrato com uma empresa estrangeira (neste caso, francesa) dando-lhe a exploração de todos os aeroportos de Portugal por 50 anos, em troca de 1500 milhões de euros, com a empresa a pagar esses 1500 milhões com os lucros que ganhou em apenas 2 anos?
    Foi o mesmo Primeiro-Ministro e Governo que quiseram acabar com o “Dia da Restauração de Portugal”.
    Quantos mais milhões de milhões de euros não custou este crime de lesa-Pátria, do que o destes episódios?
    E aquele Primeiro-Ministro e Governo que fizeram o crime contra Portugal na SLN, BPN, BPP e BES, que também foi dar aos estrangeiros o que era de Portugal, na mesma escala de milhões de milhões de euros?
    Quem olha para uns desses, como se os outros do partido oposto fossem os culpados, é o quê para Portugal?

  2. A CAUSA DO ATRASO?

    1 – Em 1900 viviam em Portugal cerca de 5 milhões de pessoas. A taxa de analfabetos era de 70%. Por ano, mais de 40.000 portugueses emigravam. Dois grandes Partidos dominavam o espaço político: o “partido Progressista” (chefiado por Luciano de Castro) e o “partido Regenerador” (chefiado por Hintze Ribeiro).

    2 – Sete anos depois da dita “Implantação da República”, em 1917, Almada Negreiros fez o “Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Séc. XX”. Escreveu: “O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem Portugueses! Só vos faltam as qualidades”. E, em 27 de maio de 1926, Fernando Pessoa, escreveu: “Não sei o que faça. Não sei o que penso. O frio não passa. E o tédio é imenso”.

    3 – O Cavaco e os seus Governos também, quando lhes jorrou o dinheiro emprestado da CEE, desataram a construir auto-estradas e rotundas em todo o lado, esquecendo-se das qualificações dos portugueses. Optaram por não gastar o dinheiro emprestado nas profissões científicas e tecnológicas (médicos, professores, engenheiros, cientistas das áreas da matemática, física e química, etc.). Baixos-salários, 80% dos detentores das pequenas e médias empresas em Portugal não têm a escolaridade completa. Vendeu tudo o que era indústria aos estrangeiros, acreditando no Liberalismo.

    A CAUSA DO ATRASO é esta. É a mesma.

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