O ódio como motivação

«A presença de Miguel Pinto Luz no encerramento da convenção é a confirmação do que se já percebeu: se o PSD precisar do Chega haverá um acordo. E quanto mais sinais der disso mais utilidade terá o voto no Chega, à direita, e mais precisará dele. Percebendo a centralidade que lhe dão, Ventura subiu a parada: quer ministros. E a sede de poder da direita será tal que os terá.

[...]

Quanto à presença de Ana Catarina Mendes, em representação do governo, é ainda mais significativa. O PS não esteve presente, mas, ao escolher uma das suas principais ministras, Costa quis valorizar o Chega, passando a ideia de que por ele passa qualquer alternativa. O que Macron tem feito, destruindo todo o sistema partidário francês. Só há um problema: as coisas estão a chegar a um ponto em que até o PS parece estar a perder votos para a extrema-direita. Costa está a alimentar um monstro que lhe garantirá a sobrevivência a curto prazo. O problema não são apenas os inimigos da democracia. São os que estão demasiado ocupados consigo mesmos para a defender.»

Daniel Oliveira

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O excerto acima pendurado é mais um paradigmático exemplo do que é o “raciocínio motivado”, servido por este especialista no assassinato de carácter de António Costa. Listemos as deturpações crassas:

1. “Quanto à presença de Ana Catarina Mendes, em representação do governo, é ainda mais significativa.” ⇽ Ainda mais significativa do que a presença de Miguel Pinto Luz, vice-presidente do PSD, e pintado como apoiante de um acordo com o Chega, acordo esse que implicará dar ministérios a Ventura? Como é que a presença de alguém que denuncia o Chega como uma força política que apela ao ódio pode ser mais significativa do que a presença daquele para quem esse ódio será instrumental para tomar o poder?

2. “O PS não esteve presente, mas, ao escolher uma das suas principais ministras, Costa quis valorizar o Chega, passando a ideia de que por ele passa qualquer alternativa” ⇽ O PS esteve presente, porque Ana Catarina Mendes, para além de actualmente ser ministra de um Governo socialista, continua a ser uma deputada eleita pelo Partido Socialista e sua secretária nacional. Ana Catarina Mendes pode ser uma das principais ministras mas foi enquanto Ministra dos Assuntos Parlamentares que esteve presente num evento de um partido com representação parlamentar muito relevante, actual terceira força. Que devia o Governo fazer para satisfazer o escriba, enviar o Ministro da Cultura? Costa não quer valorizar o Chega, quer desvalorizá-lo, precisamente porque por ele passa uma qualquer alternativa. E és tu, Daniel, quem garante que passa umas linhas acima no teu texto.

3. “O que Macron tem feito, destruindo todo o sistema partidário francês.” ⇽ A sério que é Macron quem anda a destruir o sistema partidário francês? E o sistema deixa? Temos Napoleão! Não admira que Costa o queira imitar, que sonhe todas as noites com a destruição do sistema partidário português. É que deve dar um gozo do caraças.

4. “Só há um problema: as coisas estão a chegar a um ponto em que até o PS parece estar a perder votos para a extrema-direita. Costa está a alimentar um monstro que lhe garantirá a sobrevivência a curto prazo.” ⇽ Parece ou está? Há muita coisa que parece e não é, né? Parece que o Sol roda à volta da Terra, é o que parece. Será? O mesmo acerca desses nutrientes para o monstro. É mesmo assim ou parece-te? Vê lá isso bem, pá. O ódio nem sempre é o melhor conselheiro.

5. “O problema não são apenas os inimigos da democracia. São os que estão demasiado ocupados consigo mesmos para a defender.” ⇽ A tese é a de que compete ao Governo defender a democracia da ameaça do Chega, não ao PSD disposto a levar a chungaria fascistóide para São Bento nem ao cidadão interessado em viver numa sociedade onde se respeitam os valores da integração e do socorro aos mais desvalidos, dentro das possibilidades geradas pelo apoio à classe média, ao empresariado e às instituições da saúde, educação, ciência, segurança. Esse encargo, a missão de governar, com a sua desvairada complexidade, surge ao comentador profissionalizado como sendo equivalente a “estar ocupado consigo mesmo”. O nível de psicologização e fulanização é folhetinesco, o exercício de usar o Chega para atacar um primeiro-ministro que se tornou um alvo obsessivo desde 2019 é patético.

Combater Ventura passa por mostrar que ele é um vendedor de banha da cobra, na sua cara. E já foi alcançado, pela mais inesperada figura possível, o Tiago Mayan. Este sui generis protagonista fez mais pela defesa da democracia em 35 minutos do que a colecção completa dos tratados antiCosta que o Sr. Oliveira vende semanalmente ao Balsemão.

4 thoughts on “O ódio como motivação”

  1. o ódio é muito mau , o ódio faz escrever postes idiotas como este. a ana catarina foi lá pelas razões que o daniel aponta.
    larga o vinho e a bajulação. faz muita impressão.

  2. excelente texto crítico sobre o ódio que motiva tanta gente e este escroque DO em particular. o que mais me irrita é haver o povoléu letrado ignorante que, em vez de aproveitar a excelência para burilar a sua massa acimentada e marada, ainda consegue ver idiotice no brilhante.

    vá trabalhar 100 horas semanais, yo, a ver se rebenta e assim ainda se aproveita os despercídios para colar alguns tijolos – ajuda os trolhas Ventura e DO a forrarem o barraco moral e intelectual dos seus carácteres. oupas, ponha-se a monte, vá trabalhar, carrapata encardida e seca e velhaca.

  3. (Antes quero lembrar o senhor Valupi que os sofistas de Atenas, da Grécia Antiga, gabavam-se de poder persuadir a população através do paleio, ou seja, da palavra, tanto a favor como contra qualquer assunto. O ressabiado e repelente Balsemão usa e abusa da palavra dos seus lacaios, entre os quais se conta o gripado DO, para conduzir com êxito o golpe de Estado em marcha com caraterísticas muito portuguesas. Um dos maiores desgostos desta última fase da minha vida foi a minha filha telefonar-me, há uns anos atrás, tinha o meu neto 7 anos, a revelar-me: pai, vou dizer-te uma coisa que te vai deixar triste. O S já não é do Benfica. É do Sporting. O pai deu-lhe a volta à cabeça (através da palavra). Havia um pacto com o meu genro que se revelou um tipo sem vergonha na cara)

    Sobre o oportunista em questão, deixei de ver os espaços em que participa. Prefiro ouvir um patife de direita do que um oportunista de esquerda, lambe-cus. Reparei que o seu motor de arranque estava constantemente a ir-se abaixo, provocado por ele mesmo com receio de se equivocar no itinerário; que quando o diálogo aquecia com outro paineleiro, depressa o eliminava com umas chalaças, sons guturais e gargalhadas mal enjorcadas. Comparo-o muito com aquela asquerosa oportunista Ana Gomes – que se esporra sempre em direto na televisão a servir o INTRIGANTE… Balsemão.

    (A pressão é tanta que até o Marques Lopes ameaça vacilar)

  4. Já é tempo de se perceber que o maior problema de raiz em todas as dimensões é o Sr. Dr. António Costa. Pior do que isso só o corneteiro Marcelo que toca para o rancho quando os faxinas ainda estão a varrer a cozinha.

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