A grande ironia das autárquicas consiste em a “reconquista” (ahahahahah) do PSD ter enterrado ainda mais a direita. É que estava tudo montado para a defenestração de Rio. Se tal acontecesse com algo parecido aos resultados de 2017, os impérios mediáticos do laranjal diriam que a causa estava na fraqueza irremediável de Rio e na malignidade de Costa, o qual tinha andado a prometer milhões ao povoléu assim comprando os votos. Se tal acontecesse com resultados um bocadinho melhores do que 2017, o discurso seria a da fraqueza irremediável de Rio e o azar de Moedas ter sofrido os efeitos da demagogia do primeiro-ministro. Como os resultados aparentam ser bem melhores do que os de 2017 (embora continuem a ser uma estrondosa derrota), e caiu do céu a coroa de glória da vitória em Lisboa, a converseta é a de estarmos perante um “novo ciclo”. Problema: esse “novo ciclo” em caso algum pode ser protagonizado por Rio mas, entretanto, quem avançar contra ele agora arrisca a queimar-se, existindo o temor de o homem se aguentar até às próximas legislativas. Problema ainda maior: Moedas anunciou que “fez história” pelo simples facto de a lotaria eleitoral lhe ter dado a vitória, o que permite antecipar que o resto da sua passagem pela Câmara de Lisboa já pertencerá a outro campeonato, o das historietas e anedotas que irão nascer da sua impotência.
A direita portuguesa beneficia do domínio a toda a extensão da paisagem mediática, vendo-se os editorialistas e jornalistas “de referência” num esforço constante para projectarem negatividades no PS e Governo e para apoiarem os seus amigos e favoritos, mais os favoritos e amigos de quem paga as contas nesses órgãos de comunicação social (excepção para a RTP, em que somos todos nós a pagar essas contas para as vedetas da estação brincarem ao sectarismo). Só assim se explica a decadência, a obscenidade, de vermos Marcelo a alimentar um putativo “novo ciclo” onde políticos que não conseguem ter uma única ideia que valha a pena discutir vão finalmente conseguir substituir outros políticos cuja dedicação à causa pública e cujo cuidado com a comunidade foram, são e serão sistematicamente achincalhados e emporcalhados.
No momento actual, talvez na Esquerda lisboeta fosse boa ideia dar ouvidos a um velho provérbio russo, que reza assim:
« – Quem fica muito tempo calado, corre o risco de passar por inteligente…”.
(cortesia do Joaquim N.)
Falta divulgar o programa de Moedas. Vi no blog “Da Literatura” . É espantoso que não se fale daquele irrealista bodo aos pobres.
Aquilo não é um programa, é um agrupamento de medidas avulsas que teem em comum serem populistas, eleitoralistas e destinadas ao caixote do lixo assim que passe a maré das eleições e da demagogia.
Acho mais provável que venha a adotar medidas do género daquelas que publiquei no poste anterior e trancrevo:
– chamar uma troika de que seja o grilo falante, para governar
– tornar rentáveis os transportes públicos urbanos
– privatizar algumas estruturas municipais e colocar lá a mulher como administradora
Valupi ainda não tomou a medicamentação – Moedas venceu porque teve mais votos, não venceu por ter acertado nos números da lotaria. Saber perder (coisa que Medina soube) é uma virtude, mas não é para todos