O ludos favorece o logos

Estou uma vez mais de acordo com um artigo seu, embora não aprecie alguma fraseologia. Lamentável é, em grande parte, a linguagem e as considerações dos comentários. Julgo que se está a ser demasiado permissivo com a liberdade de expressão. Penso que não há que ter medo em dizer não à asneira, à maledicência, à infâmia, à velhacaria.

Aproveito para fazer minhas as palavras de Manuel Loureiro, e dizer-lhe Val, que devia seleccionar os comentários como faz a maioria dos blogues. Da maneira que alguns se comportam dá para notar que estão sempre à espera de poderem provocar e maltratar quem não compartilha das suas opiniões.

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Os nossos amigos Manuel Loureiro e Manuel Pacheco trouxeram uma dificuldade que é comum a muitos outros que não a expressaram, adivinho. Agradeço a oportunidade para partilhar o meu entendimento da questão e respectivas opções neste blogue.

A leitura do meu 1º texto no Aspirina B pode ajudar a esclarecer muito do que faço aqui, até muito do que aconteceu por aqui ao longo dos anos. Mas quero realçar que ele permanece actual, da primeira à última palavra. Para mim, isto de escrevermos num blogue é uma brincadeira. Resulta do exercício da minha liberdade. É o equivalente a estar no jardim da minha casa com o portão aberto e deixando que qualquer um entre – o espaço é meu, ou da equipa de autores, e ninguém é obrigado a entrar nem fica impedido de sair.

Por minha convicção na bondade dessa abertura, só admito limites à liberdade de expressão que resultem da Lei, do bom senso e do acordo com os implicados. Isto porque não ofende quem quer, e vejo como um erro crasso ficarmos afectados pelas palavras disparatadas, ou iradas, de quem não conhecemos de lado algum – para mais, discutindo assuntos que são públicos e polémicos. Por outro lado, todo o vernáculo, e todo o insulto, é por mim admitido e acarinhado. Sempre que alguém opta por gastar o seu tempo a escrever no Aspirina B, mesmo que se entretenha a chamar nomes aos autores ou aos comentadores, esse indivíduo está a manifestar uma preferência relevante: para ele, é importante participar, é algo que lhe faz bem – pelo que respeito e valorizo essa evidência, pouco me importando que o exercício tenha consistido num chorrilho de impropérios contra o autor Valupi.

Eu não procuro imitar os códigos estilísticos e de etiqueta em vigor num órgão de comunicação profissional qualquer. Isto não é um jornal, uma revista ou o canal informativo de alguma entidade. Isto é uma tertúlia, um gozo e a celebração digital da nossa cidadania. Tenho a certeza de que o nosso destino cósmico está ligado a esta procura de aprender, de conviver e de nos ajudarmos uns aos outros a crescer em direcção ao infinito.

23 thoughts on “O ludos favorece o logos

  1. Valupi, o teu maior argumento em relação a outros blogues, é não exerceres a censura de jeito nenhum.

    embora exista algum palavreado escusado, e até ofensivo, na caixa do Aspirina, acho que deves continuar a ser o que sempre foste, um paladino da Liberdade.

    eu por exemplo, era incapaz de dizer o que estes dois senhores dizem, porque gosto demasiado da liberdade, para aprovar condicionalismos.

    e quando exerceres alguma atitude censória, vão dizer que só publicas os comentários favoráveis…

  2. Sou nova por estas bandas e, por isso, desconheço o historial do blogue. No entanto, alguns posts e comentários não me deixaram indiferente por estarem tão bem escritos (o que aprecio). Já o recomendei (o aspirina b) ao meu grupo de amigos, mas não tive grande sucesso, pois na minha geração os interesses, infelizmente, são outros, o que não quer dizer que aceite o rótulo de “geração rasca”.
    Continue, Val.

  3. A última besteira de Alberto João

    P. S. Acho que censurar é sempre pior do que não censurar. Se proibirem as palavras feias, como caralho, puta, etc., também terão de proibir pila, pénis, rameira, vagina, cavaco, apanha-cavacas, leite, etc. Se não, pode-se ainda escrever: “Ó meu cara de membro viril, vai tomar no orifício do tubo intestinal, meu dilecto filho de uma cortesã”. E por aí fora. Às tantas será necessário proibir “pescadinha de rabo na boca” e até “pescadinha de cauda nos lábios”. No fim ficamos todos a fazer a saudação fascista, acho.

  4. Admirável este texto, grande Valupi! Que bom seria que o lesse e nele meditasse a corja que por aí vomita o que diz serem os atentados contra a liberdade de imprensa embora demais saibamos o que tem em mente! Os fascismos, de direita e de esquerda, estão a entender-se! Como irá isto acabar?!

  5. Val:
    Há-de reparar que fiz uma observação, – à qual até se pôde exprimir para os muitos que por aqui andam saberem o que é a liberdade de imprensa. Para muitos talvez nunca foi preciso por terem nascido após o vinte e cinco de Abril.
    Não sabem dar o verdadeiro valor porque nunca lhe mostraram que no antes, o sexo masculino, tanto na escola como na catequese, não podiam estar acompanhados com o sexo oposto.
    Nunca tiverem de se confrontar com um café para os ricos e outros para pobres. Que aos onze anos tiveram de ir trabalhar porque o governo não aproveitava as inteligências, antes preferia ter carregadores de livros e ocupadores de carteiras.
    Que quando vinham os fiscais às fábricas fiscalizá-las tínhamo-nos de esconder para o patrão não ser multado. Não podíamos ir estudar por falta de meios, não podíamos trabalhar por falta de idade, o que se devia fazer com este tipo de miúdos? Ignorá-los. Deixá-los andar à rédea solta? É por isso que digo muitas vezes aos meus filhos e netos que não sabem a sorte que tiveram em nascer depois do vinte de Abril.
    Que quando estava no serviço militar em Angola e numa coluna que fizemos ao Caxito, comandados por um furriel, quando estávamos a petiscar algo num café, um major que lá se encontrava, veio estar com o furriel e dizer-lhe para dispersar que não tinha nada de estar acompanhado com soldados.
    É isto que me revolta e ainda falam em liberdade de expressão, reunião etc.
    Com a outra senhora onde se viu um jornalista chamar palhaço uma série de vezes ao 1º. Ministro e continuar a escrever tranquilo? Mas quando lhe dizem que é um impreparado e devia estar num manicómio – se é que foi dito, ou se dito assim, cai o Carmo e Trindade por causa da liberdade de imprensa.
    O que as pessoas querem é programas da Júlia Pinheiro, Manuel Luís Goucha e outros comparados. Os mesmos que agora se intitulam defensores dessa liberdade não vieram proclamar contra a má educação que se usou contra o 1º. Ministro. Quer se goste, ou não, foi eleito pelos votos dos Portugueses e como tal deve ser respeitado, se não querem respeitar a pessoa respeitem o cargo.
    Por isso lhe digo, é dono do blogue e senhor de fazer o que quiser, o que concordo e respeito mas, que andam para aí alguns e algumas que precisavam de um vinte e quatro, isso precisavam.

  6. Há blogs com os quais cada um sente afinidade, por as mais variadas razões; sinto aqui afinidades ideológicas, pelo menos temos os mesmos adversários políticos, é por isso que aqui estou. Mas quem por aqui aparece, apenas tem um objectivo, fazer passar a sua mensagem, e se esse encanto lhe é negado, esse enorme previlégio que não tem preço, de cada um poder dizer o que lhe vai na alma, não poder ecoar na blogsfera, então a coisa perde a razão de ser; acredito que na euforia do seu usufruto se comentam excessos que possam criar problemas ao hospedeiro. Procuro respeitar toda a gente, em particular o dono da casa, mas esse é um juízo que cada um compete fazer, e aceito da forma como segue; já comeitei em vários, blogs e adoptei a seguinte sinalética, um comentário meu apagado é o mesmo que dizer; olha pá não me lixes com o teu blogar! Portanto o Val já sabe, se eu pisar o risco apaga, então eu arrumo a trouxa e vou blogar para outra freguesia.

  7. VAL eu sou daqueles que me enoja determinados insultos não por serem destinados a quer sejam mas porque tenho a certeza de que a maioria não tinha colhões para o dizer na cara dos insultados.posto isto digo-lhe que aprecio os seus escrtitos mesmo que ás vezes não concorde. quanto á liberdade acho muito bem olhe dou-lhe um exemplo sem nunca insultar ninguem no cinco dias toca na «berlota»e não passa. FORÇA VAL.

  8. “O Ludos favorece o Logos”:

    brincar é sinal e motor de inteligência…
    a inteligência é criativa…
    a “criatividade é a fonte e o fruto do Amor”…
    …Brincar=Amar… :):):)

  9. Val, eu não os quero impedir de dizer palavrões, de caluniarem, de difamarem, de ofenderem – parece que a chamada liberdade de expressão ou de opinião tão badalada, lhes dá esse direito – só não os recebo em minha casa. Fui educado assim, que hei-de eu fazer!

  10. Val, a total liberdade de dizer o que se pensa, por muito imbecil que seja, é uma das grandes mais valias deste canto, em comparação com muitos outros.
    Mas a questão é que o “trolling”, se deixado sem nenhum tipo de controlo, acaba por inibir muito boa gente, que como é óbvio não gosta de ser insultada, e não tem o teu poder de encaixe, de também exprimir e debater as ideias e provocações que escreves. Se por um lado é sempre útil e ocasionalmente divertido saber o que vai na mente dos ranhosos, por outro torna-se cansativo estar sempre a levar com os mesmos insultos. E os Trolls vencem sempre pelo cansaço.

  11. Apoio a orientação de Val. Admiro-a. Obriga-me a pensar. Se calhar modifica-me um pouco, sempre um pouco.
    Gosto também do Aspirina B pois não é só Val. É um blog bastante diferenciado e só tenho visto mais dois escrevedores permanentes. Mas a extensa comunidade de comentadores também valoriza o blog. Dá uma imagem das ressonâncias, do país, de nós. E da noz de nós. É verosímil e cheira a humanidade. Somos todos feitos de um pouco daquilo, do que amamos ou perseguimos. Sempre numa bulha cá dentro. É esta a matéria de que são feitos os sonhos, como dizia o bardo.

    Um blog é um blog, é um blog. Ponto.
    Por isso os blogues são hoje um espaço de liberdade de expressão. Com a outra comunicação social é diferente. E não há livro de estilo que valha quando os jornais, pelos donos que os detêm, revelam sempre, pelo rabo de fora, o gato que comanda: coitado do simpático felino, colega aqui no infortúnio do palhaço que tanto atormenta Crespo, esse grande profissional, embora inquisidor das conversas dos cafés e restaurantes, avant et aprés la lettre. Ou as televisões, públicas ou privadas. Ou as rádios, talvez menos asfixiantes.

    Não sendo político, mas cidadão (claro que os políticos também são cidadãos) não sei que política deveria ser usada, excepto que este é cada vez mais um tema para debate, permanente, dos cidadãos. Mas que o actual vale tudo, desde que seja para dizer mal do Sócrates, é uma máscara grotesca na liberdade de expressão, lá isso é.
    Viva o Aspirina B e quem o escreve.

  12. Eu acho que é um enorme privilégio podermos entrar nestes espaços privados, que são os blogues, e dizermos de nossa justiça. Vejo isto como quem entra num café e em vez de várias mesas, como é habitual, encontra uma única e grande mesa onde todos, e aqui no Aspirina é mesmo todos, podem sentar-se, tendo assim a possibilidade de trocar opiniões com pessoas com as quais, por variadíssimos motivos, num café normal, não se sentariam à mesa. Não concordo com a tese que defende que determinadas linguagens e tentativas de insulto afastam outros comentadores. Não vejo que isso aconteça em blogues com moderação de comentários, pelo contrário, parece-me que frequentemente esses comentários disparatados e tentativas de insulto proporcionam respostas interessantes e muitas vezes divertidas. Falo por mim que, para além do que tenho aprendido com todos, me tenho divertido bastante… :)

  13. Embora me custe ouvir chamarem-te nomes feios, porque acho que não mereces (mas é bem feita, que fazes o mesmo aos outros e eu penso que ainda mereciam mais), concordo que o blog é para lavar a alma e sempre é melhor chamar-nos filhos da puta uns aos outros do que andar aos tiros. Porque com um tiro acaba a peçonha mas também morre o bicho. Ao passo que quem te chamar «cabrão» ainda fica com tempo para reflectir melhor e talvez descobrir que cabrão é ele mesmo…
    Parbéns pela coragem

  14. Caro Val, liberdade até à eternidade. Embora não seja adepto da lavagem dos fígados na blogosfera e por isso não o seja também dos impropérios na caixa dos comentários, sou levado a reconhecer que perante a situação de sarjeta no seio dos ranhosecos do costume isso por vezes se torna inevitável. Acrescento também que censurar é sempre pior do que não censurar como o NIK diz acima.
    Será que ouvi bem? Sidi Ibn Erriq a apludir? CLAP é isso que quer dizer, não é?

  15. Quando os meus sobrinhos tiverem idade para me perguntarem “o que é a liberdade?”, é este post que eu os farei ler. Obrigado.

  16. Existe uma velha polémica à volta da relação entre segurança e liberdade.
    A.E.Stevenson Jr resolve-a bem. Define uma sociedade livre como aquela em que é seguro ser-se impopular.

    Portugal é uma sociedade livre?

  17. Manuel Pacheco, fizeste muito bem em dar a tua opinião. Mas não esperes que todos concordem contigo. Quem não viveu os teus tempos, nem passou pelas tuas experiências, não pode ser castigado por isso nem pode viajar no tempo.

    O que viveste no anterior Regime é precioso, a nossa liberdade ganha com a sua lembrança. Mas impor limites à liberdade de expressão em nome desse passado não faz sentido.
    __

    Manuel Loureiro, e fazes muito bem! Ninguém está obrigado a suportar quem não suporta. Eu apenas aproveitei o teu comentário, e o do Manuel Pacheco que o citava, para dar umas informações acerca da problemática.

    Está tudo bem e agradeço a tua frontalidade.

  18. Val:
    “Manuel Pacheco, fizeste muito bem em dar a tua opinião. Mas não esperes que todos concordem contigo. Quem não viveu os teus tempos, nem passou pelas tuas experiências, não pode ser castigado por isso nem pode viajar no tempo.”
    Não espero e não quero que concordem comigo, pelo contrário, espero ver todos a poderem opinar de forma diferente. Se relato essas injustiças não quero que as mesmas sirvam para os outros. Tenho filhos e netos e não quero que venham a passar pelo que passei, outras gerações mais antigas ainda passaram pior, caso dos meus pais.
    Para mim, liberdade, é desejar a dobrar para os outros o que desejamos para nós. Agora ao que me insurjo é contra a malcriadez que põem nas contradições contra outros opinadores. Há verbos e adjectivos mais apropriados para serem usados. Também sou de opinião que só se serve desses adjectivos os ignorantes, que é como se diz: a agressividade verbal é o único recurso dos imbecis. Eu não pretendo estar incluído nesse grupo. Aqui na minha terra costumamos dizer: “o cu não é meu, pouco me importo.”
    Ainda sobre a liberdade. Tenho textos aqui no Aspirina B, que definem os meus conceitos de liberdade, fraternidade e companheirismo. Quem me conhece sabe que assim é. Às vezes arranjo inimizades, por defender a verdade e os mais fracos, no meu conceito. Agora entre liberdade e malcriadez vai uma grande diferença. De qualquer maneira um obrigado pela atenção. Acredite que é um prazer ler os seus textos, ao contrário de outros.
    Aproveito para mandar uns versos do meu amigo Rodela. Quando não for mais ganha-se a publicidade

    “Sou do meu rebanho”

    Na barraca de pedra em que nasci,
    Pelo tecto via nascer o dia,
    Na masseira o fermento não crescia
    Escrevi à luz do petróleo o que li.

    Na porta, tinha a velha ferradura
    Para evitar que o azar lhe batesse,
    Como se connosco já não nascesse,
    Tão visível na nossa pele bem dura.

    À noite, como se fosse um rebanho
    Rezávamos o terço p’lo pão ganho,
    Mas não abundava no nosso celeiro.

    Só ao Sábado é que comíamos trigo
    Pois condizia com o forro do abrigo
    Era rebanho d’outro cabreiro.

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