Amigos

O Jugular e o Câmara Corporativa (pelo menos) estão a homenagear João Pinto e Castro. É um tributo de amigos que são também admiradores.

Nunca partilhei o mesmo espaço físico com ele, nunca sequer falámos ao telefone. Mas sei que o admiro e que ficámos amigos. Vou dar a palavra a Agamben e à melhor explicação possível que até hoje encontrei para a experiência da nossa amizade – igual a tantas outras passadas, presentes e futuras. De tantos.

Há uma equivalência entre ser e viver, entre sentir-se ser e sentir-se viver. Eis uma antecipação decisiva da tese de Nietzsche segundo a qual "ser: nós não temos nenhuma outra experiência a não ser vivendo".

[…]

O amigo não é um outro eu, mas uma alteridade imanente na mesmidade, um tornar-se outro do mesmo. No ponto em que eu percebo a minha existência como doce, a minha sensação é perpassada por um con-sentir que a desloca e deporta em direcção ao amigo, em direcção ao próprio outro. A amizade é esta des-subjectivização no próprio coração da mais íntima sensação de si.

[…]

É essencial que a comunidade humana seja aqui definida, de modo diferente da dos animais, por um conviver, que não é definido pela participação numa substância comum, mas por uma partilha puramente existencial, e, por assim dizer, sem objecto: a amizade como con-sentimento do puro facto de ser. Os amigos não partilham qualquer coisa (um nascimento, uma lei, um gosto): eles são sempre já partilhados a partir da experiência da amizade. A amizade é a partilha que precede todas as outras partilhas, porque aquilo que existe para partilhar é o facto mesmo de existir, a própria vida. E é esta repartição sem objecto, este con-sentir original que constitui a política.

Giorgio Agamben, O Amigo, Edições Pedagogo, 2013, pp. 18-23, trad. Luís Serra e Manuela Ramalho

6 thoughts on “Amigos”

  1. amizade como humanidade e humanidade como política. parece-me bem. mas então tem de fazer-se a distição entre amizade e aamizade ou amizzade. porque o coração também selecciona e consegue ser pequeno na sua grandeza. e ainda bem!

  2. seguro berra mais contra um camarada, do que contra a direita que nos governa.a cassete está em marcha rumo à derrota final.diz ele que na altura ninguem se chegou à frente.ele para que isso não acontecesse ainda a derrota estava quente já estava a candidatar-se ao lugar quando descia de elevador. disse ontem no seu discurso eleitoral que a derrota anterior foi a maior de sempre.esquece duas coisas: a pouco mais de uma semana o ps estava taco a taco com o psd.a maior derrota de sempre foi com 22% de votos no tempo de mario soares.

  3. Obrigado por esta citação do Agamben, que acaba de me convencer que o que ele escreve é uma sequência de pedantismos sem nexo, perfeitamente incapaz de ter o minimo sentido util.

    Isso sem querer criticar a tua intenção, que julgo louvavel e tocante, e justificada.

    Boas

  4. joão viegas, o Agamben vai ficar devastado quando souber da tua opinião. Entretanto, tenho uma informação, no teu caso muitíssimo útil, para te dar: uma consulta de psicologia não é assim tão cara e poderá ser o início da tua recuperação. É acreditares e teres coragem.

  5. ehehehehe,

    Se achas que quero recuperar, ou ser recuperado, tu é que estas precisar de uma boa consulta de qualquer coisa. Até pode ser de psicologia…

    Boas

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