Ver as famílias dos candidatos à presidência dos EUA subirem ao palco no final dos debates televisivos, e ficarem uns minutos à conversa uns com os outros com genuína estima, ou ver os mesmos candidatos juntos num evento onde é suposto brincarem à política através do humor, faz-nos ficar cheios de inveja. Estes protocolos são celebrações da essência da democracia, demonstrando que antes e depois do combate político está a nação – isto é, a comunidade, o respeito de todos por cada um e o de cada um por todos. E também nos deixa a pensar que após a eleição de um homem com um tom de pele um bocadinho mais escuro do que o daqueles que chegaram no Mayflower, e depois da previsível eleição de um presidente que não mije de pé a acontecer nas próximas eleições, a grande conquista para a democratização completa da sociedade norte-americana será a eleição de um cidadão solteiro ou divorciado. Seguramente, ainda nesta primeira metade do século.
Por cá, reina a decadência. Cavaco, a figura mais importante da direita portuguesa após o 25 de Abril, fez do seu discurso de vitória na noite eleitoral em que foi reeleito um vendaval de rancor como ninguém poderia ter imaginado possível. Na altura, Freitas do Amaral apareceu a defendê-lo, dizendo que o que realmente importava para o correcto exercício dos seus deveres era o discurso da tomada de posse, e que aí, garantia Freitas, iríamos ver um Cavaco a unir os portugueses e a levá-los para uma convocação de esforços tão necessária nos idos de Março de 2011. O que se seguiu foi outro acto impossível de prever à luz da prática dos anteriores Presidentes da República e à luz do mero bom senso democrático. O que se seguiu, pois, foi outra explosão de rancor, mas essa ainda mais violenta porque longamente pensada e preparada com o máximo detalhe.
Cavaco não está só, claro. A prática da direita partidária actual, a que se juntam os comentadores arregimentados, os jornalistas engajados e a arraia-miúda assanhada, é a da promoção do ódio, a hipocrisia moralista levada ao seu extremo alucinatório, a cultura da calúnia como substituto do programa político.
Felizmente, somos só 10 milhões e os americanos mais de 300 milhões. A democracia nada tem a temer da nossa falta de educação.
Concordo plenamente contigo, Valupi. Os nossos debates provocam-me sempre uma sensação de frustação, pois quando um dos candidatos se apercebe de que o outro está a expor com eficácia as suas ideias e a chegar ao público interrompe-o imediatamente (ou melhor, malcriadamente), para boicotar a mensagem do adversário. Quando a interrupção não é completa, opta pelo pontuar sistemático do discurso do oponente com monossílabos ou frases curtas que perturbam o adversário o e levam frequentemente a perder o fio à meada, além de que irritam e prejudicam irremediavelmente a apreensão do raciocínio pelo espectador. E se o outro, dois minutos depois, usa o mesmo método, é ver a virgem ofendida protestar com veemência a sua indignação e pedir para não ser interrompido, assim insultando sem pingo de vergonha a inteligência dos espectadores que acabaram de o ver fazer o mesmo. É uma táctica vergonhosa e antidemocrática que algumas luminárias entendem que dá “vivacidade” e “dinamismo” ao debate.
Mais vergonhoso ainda é ver os “moderadores”, na maioria de direita, aplicar o mesmo tratamento ao candidato do seu desamor, quando o da sua simpatia começa a levar no trombil e não dá conta do recado sozinho. O respeito, quase diria sagrado, pelo tempo e pela palavra do adversário que vejo nos debates americanos, que de modo nenhum prejudica a sua imediata contestação no minuto seguinte e nos permite apreender com clareza as posições em confronto, é sempre um prazer e uma lição que me reconcilia com a América e me leva a dar-lhe o desconto pela Amérdica que por vezes toma conta do leme.
No fim do debate de ontem, porém, parece-me que houve algum oportunismo e desonestidade do Romney, a curto-circuitar as regras. Enquanto ao lado do Obama apareceu apenas a mulher, o republicano despejou a família inteira em cima do palco – filhos, filhas, noras e genros, netos e se calhar bisnetos, só faltaram os cães e os gatos -, tentando capitalizar a seu favor o forte sentido de família dos americanos. Sabendo nós que aqueles debates são previamente combinados ao mais ínfimo pormenor pelas equipas de apoio dos candidatos, custa-me a crer que a imagem do casal Obama completamente submerso em palco pela “grande família” do republicano não tenha sido prevista. Cheira-me a truque de quem vê a derrota como cada vez mais provável.
Concordo com Val
Lembram-se de na vitória de Sampaio sobre Cavaco em que os apoiantes de Sampaio comemoravam organizadamente em frente a Sampaio com uma enorme caraça de Cavaco?
“E agora tirem-me daqui esse gigantone”, gritou Sampaio aos microfones, claro que o gigantone um dia regressou, não sei se chamou gigantones aos antecessores.
Só que os antecessores continuam a dividir para poderem continuar a reinar no reinado deste.
Na América os Bush meteram a viola no saco, isso é democracia.
Também tem a ver com o facto de que nos EUA Democratas e Republicanos, especialmente as suas elites dirigente, säo farinha completamente do mesmo saco, e nem se däo ao trabalho de fingir que säo diferentes. Pura hipocrisia.
Entretanto, os seus votantes degladiam-se e odeiam-se de forma figadal, entre os votantes, sim, as diferenças säo abismais.
E depois, acho completamente nojento meterem as famílias ao barulho, seja só a mulher, seja a chusma toda. Quem se elege näo é uma família, é um candidato. Já me mete nojo quando na Finländia se discutem as/os companheiros dos candidatos, imagine-se se se metem filhos e netos, e cäes, e sobrinhos.
O primeiro parágrafo do Camacho é sintomático do que é “debater” no Sul da Europa. Faz-se aquilo até entre amigos, é täo sul-europeu que até enjoa. No Norte da Europa a cultura é de ouvir até ao fim, e só depois é que responder. Às vezes os primeiros 10 segundos säo para pensar na resposta, e o interlocutor espera, näo usa o tempo para mandar farpinhas… a näo ser que seja o populista local. Os populistas discutem “à Sul”, e é uma vergonha.
O Romney não meteu o cão no palco porque iria lembrar aos eleitores a bronca de 1983. Numa viagem de férias, com a viatura cheia, resolveram meter o cão numa jaula, ou cesta presa ao tejadilho do carro e lá foram de Boston até ao Canadá. Parece que o bicho resistiu , os defensores dos animais é que não lhe largam o pelo.
olha que rico texto que me fez gargalhar e quase mijar sentada.:-) mas sabes uma coisa, todos nascemos democratas. por isso é que perante o silêncio nos obrigam a chorar como sinal de vida – para nos avisarem, a castração, que vimos para um mundo onde o riso e a brincadeira, a leveza, serão apenas momentos – meras excepções restritas e controladas.
Eduardo,a ser verdade,já acredito na estoria do avião.Esse individuo é mesmo burro.Se ganha regressamos ao passado mais negro da historia dos EUA .
“Ver as famílias dos candidatos à presidência dos EUA subirem ao palco no final dos debates televisivos, e ficarem uns minutos à conversa uns com os outros com genuína estima, ou ver os mesmos candidatos juntos num evento onde é suposto brincarem à política através do humor, faz-nos ficar cheios de inveja.”
— Ai que santa ingenuidade!! É tudo marketing!… Apesar da alguma genuína diferença de “estilos”, no panorama dos EUA tudo é estratégico e fruto de organização (ao pormenor, ao minuto, na “calibragem” do sorriso e no guião dos “stunts” de humor, etc.). Não nos iludamos só porque somos “feios, porcos e maus” e os outros parecem mais “bonitos”…
O lado mais negro dos EUA é agora que está lá o Obama
(Óllhó Rural cheio de humor…negro)
Rural, pegando no seu primeiro comentário: “E agora tirem-me daqui esse gigantone”, gritou Sampaio aos microfones… e gritou muito bem, com um sorriso nos lábios, escusando-se a instigar provocaçöes ao candidato perdido. E depois disse que seria “o Presidente de todos os portugueses”. E foi mesmo!
Já o perdedor dessa noite, quando voltou ao poleiro, foi a vergonha que se viu em termos de revanchismo, ainda maior nos discursos pós re-eleiçäo. Enquanto Sampaio foi o Presidente de todos os portugueses, o Cavaco nem por sombras o quer ser, e näo é sequer o Presidente dos seus eleitores, mas apenas o Presidente de quem lhe paga!
Sampaio é uma figura odiada dentro do PS, lembremo-lo. Foi o único a efectivamente tentar entendimentos à esquerda, acabando por consegui-lo para a Câmara de Lisboa, no que foram os anos de ouro do desenvolvimento da cidade.
“säo farinha completamente do mesmo saco, e nem se däo ao trabalho de fingir que säo diferentes. Pura hipocrisia”, disse Maquiavéll dos americanos.
Pois cá em Portugal é cada um a puxar para seu lado: “o lado deles”, nunca o lado do país.
Sampaio ouviu Guterres denunciar o pântano e assobiou para o lado.
Ouviu o outro falar no país de tanga e Sampaio e empossou o play boy Santana com pompa e circunstância.
E continuam os vários presidentes a falar grosso com ares de sapiência, mas a pensar no “seu auto biografia” não no futuro do país.
E em Portugal PS+-D (PSSD?) também é farinha do mesmo saco. Qual é o espanto?
Que queria V. Exa. que Sampaio fizesse quando ouviu Guterres denunciar o pântano que deixou criar, e que foi gerindo até estar afundado demais nele? Despedir o país?
Sampaio agiu de acordo com a Constituiçäo, empossou o líder do PSD, quando o ex-líder fugiu para Bruxelas. Se o PSD elegeu um playboy para líder, problema de quem votou nele. Näo se vota para 1.o Ministro (por mais que os tugas queiram), vota-se para um Governo. E nessa altura havia uma maioria parlamentar que apoiou a posse do Santana. O que Sampaio fez mal foi convocar eleiçöes antecipadas! Palhaçada ou näo, o (des)Governo de Santana era legítimo, e se Santana quisesse demitia-se. Mas näo, demitiu-se só depois de o Presidente convocar eleiçöes… que giro!
Do nojento Soares, ele näo merece qualquer tempo de antena.