Nas muralhas da cidade

Goucha, telelixo e palmatória
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NOTA

PCP e BE são partidos populistas, no sentido em que o populismo também corresponde a uma qualquer forma de suspeita sistémica em relação ao poder democrático e ao Estado de direito. No caso dos comunistas, o seu populismo está ostensivamente presente na retórica veterotestamentária e na diabolização do capitalismo, do liberalismo político e dos americanos. No caso dos bloquistas, a retórica é moralista e a pulsão agónica desemboca no assassinato de carácter folhetinesco. Mas em nenhum destes casos se apela ao derrube das instituições pela rua nem à violência física sobre os adversários ou contra alvos sociológicos. O PCP até evoluiu para ser um dos melhores amigos do patronato, e o BE adoraria tomar de assalto Bruxelas por dentro, usufruindo de todas as benesses e prebendas inerentes pelo caminho.

É do populismo da direita que vêm os fenómenos de radicalismo revolucionário e de promoção generalizada da violência — com provas dadas no Capitólio e em Brasília. Força internacional dominadora na actualidade, dando origem a irracionalidades como o Brexit, a eleição de Trump e de Bolsonaro, e aos fenómenos de ganhos eleitorais da extrema-direita um pouco por toda a Europa. Em Portugal, muito antes do Chega, este populismo teve ensaios no próprio PSD, primeiro com Ferreira Leite e a golpada judicial em Aveiro e a Inventona de Belém, e depois com Passos a admitir abertamente que se poderiam criminalizar políticos por razões políticas, e por fim com este a ser o primeiro-ministro que alimentou a farsa do “fim da impunidade”, caldo de cultura criminosa donde nasceu a Operação Marquês nos moldes em que foi iniciada, desenvolvida e consumada. A violência nestes períodos implicou sempre ilícitos cometidos por magistrados e jornalistas, em impante e impunível cumplicidade. E foi dessa práxis que nasceu Ventura, inventado por Pedro Passos Coelho para ser exactamente o que veio a ser.

Deve-se ter tolerância zero com o Goucha, o qual usou o seu poder de influência para normalizar o ódio inerente ao populismo e à extrema-direita. Vai sem discussão. Mas, por maioria de razão, alguém também devia ter esse heroísmo de apontar aos directores e accionistas da comunicação social que querem fazer combate político usando a escória da cidade. O pior do populismo à direita nasce do editorialismo.

34 thoughts on “Nas muralhas da cidade”

  1. “a uma qualquer forma de suspeita sistémica em relação ao poder democrático e ao Estado de direito”

    tipo, ao ministério público e à forma como este conduz as investigações a politicos corruptos? ou talvez te refiras às teorias da conspiração acerca da actuação do Presidente da República? ou será à imprensa livre, o quarto pilar da democracia?

  2. “O PCP até evoluiu para ser um dos melhores amigos do patronato”

    hahahahaha, afinal este é um texto cómico. oh valupi, devias avisar antes, pá. olha que ainda dás um nó definitivo na cabeça da olinda

  3. “imprensa livre, o quarto pilar da democracia”

    E onde está ela, que ninguém a vê?

  4. @ Valupi:

    1 – Populismos, de facto, ha muitos. Alias, muitas daquelas coisas que muita gente (incluindo o Valupi) hoje em dia apelida de “conquistas civilizacionais” sao resultado de… wait for it… movimentos populistas.
    Faz bem o Valupi em, pelo menos implicitamente, admitir que “populismo” nao e um monolito.
    Faz mal em nunca aprofundar essa analise.

    2 – Falar da ascencao da extrema-direita ignorando as condicoes de fundo para a sua propagacao – a ascencao e triunfo do neoliberalismo desde a decada de 1980 no Ocidente – e ignorante nao so da historia recente mas das licoes da historia do Sec XX.

    A esse respeito recomendo-lhe vivamente ler “A grande transformacao” de Karl Polanyi – umas passagens com a devida circunflexao ao blog Ladroes de Bicicletas que me poupa o trabalho de procura e copia:

    “Dentro e fora de Inglaterra, de Macaulay a Mises, de Spencer a Sunner, não havia um militante liberal que não manifestasse a convicção de que a democracia popular era um perigo para o capitalismo” (p. 429).

    “Um partido dos trabalhadores estava no governo, mas na condição de não se colocar qualquer embargo às exportações de ouro. O New Deal francês não tinha qualquer probabilidade de ser bem-sucedido, uma vez que o governo se via de mãos atadas sobre a questão decisiva da moeda. O exemplo é concludente, uma vez que em França e na Inglaterra, depois de se impor a inocuidade aos partidos dos trabalhadores, os partidos burgueses acabariam por abandonar sem dificuldades de maior o padrão-ouro” (p. 433).

    “A obstinação com que os partidários da economia liberal durante uma década de crise, apoiaram, ao serviço de políticas deflacionistas, o intervencionismo autoritário teve por único efeito um enfraquecimento decisivo das forças democráticas, que, de outro modo, talvez pudessem ter evitado a catástrofe fascista” (p. 440).

    Experimente substituir “ouro” por “Euro”. A situacao descrita fica… tao familiar… quase contemporanea.

  5. unicórnio macho,

    a “imprensa” livre está por todo o lado (até aqui no blog por incrível que pareça), mas não dá é muito dinheiro e por isso tem menos destaque na sociedade e é preciso procurá-la.
    o resto há muito que não é jornalismo, apenas publicidade adornada com factoides. a diferença na cobertura mediática dos afundamentos no mediterrâneo e no atlântico norte deve ser suficiente para o demonstrar à saciedade.
    e claro que esse é precisamente um dos maiores problemas das sociedades modernas ditas democráticas, pois como toda a gente percebe facilmente a fiscalização do poder não pode ser deixada totalmente nas mãos dos poderosos.
    que os pseudo-socialistas aqui da chafarica e de outras só o entendam quando a paisagem mediática não lhes é favorável, só diz algo deles e da concepção que têm de democracia.
    também já só enganam quem quer ser enganado.

  6. excelente e excelente – tanto o artigo como a nota. esse arrependimento que Goucha agora quer passar está bem visível no oportunismo de chamar a Isabel Moreira, recentemente, para uma entrevista intimista – não há melhor cartão de visita para se dizer, na TVI, que afinal até sou, ou somos, amantes da CP, essa mãe que nos protege dos símios da Cidade em todas as suas variâncias.

  7. ela arrependeu-se mais depressa não foi? quando o zezito , pai de todos os populismos portugueses, foi de cana e se começaram a saber coisas a menina renegou-o logo com medo de ser associada a assassinos da democracia. mas que bem que lhe soube o” luxo” pago com dinheiro corrupto , não foi? um burro a olhar para o palácio.

  8. Não existe comunicação social isenta e que se limite a informar não, o que temos são fazedores de opinião e opinadores do mais rasteiro que existe seja na política, desporto ou economia esta gente vive de provocar alarme social um exemplo é a CPI da TAP e, dar a partidos extremistas com um palco mediático que não se justifica a não ser o interesse dos seus donos .

  9. Se a questão não fosse séria, daria para rir do argumento de Valupi de que o PCP seria populista, pela diabolizacao que faz dos americanos. Na minha terra costuma chamar-se a atenção para o facto de alguém ver um cisco no olho do vizinho, ao mesmo tempo que é incapaz de perceber o estadulho que lhe cega a própria vista! Se bem analiso a crença das partes, vertida em vários escritos, a diabolizacao dos russos por parte de Valupi excederá, por largo, a posição daqueles que critica. E, no entanto, esperar-se-ia de entidades que ousam pensar que usassem,sempre, de racionalidade nas análises que promovem. Portanto, neste contexto, PCP e Valupi, a mesma luta: populismo sempre!

  10. ‘temos pena’, o que ainda “está por todo o lado” (por enquanto) é opinião livre. Imprensa livre é outra coisa, é corolário de jornalismo (e vice-versa) e não a vejo em lado nenhum. Uma ou outra manifestação desgarrada de jornalismo não consegue contrariar o facto de que jornalismo e imprensa livre são “espécies” praticamente extintas.

    A “crónica” da Fernanda Câncio é mais uma ilustração do que afirmo. Como (quase) sempre, a Fernanda disseca exaustivamente o assunto que aborda, não deixando pedra por virar, e subscrevo na íntegra o que diz. Pena é que não aproveite as ocasiões em que sobe às “muralhas da cidade” para a defender dos bárbaros que a atacam de fora para, lá de cima, olhar com atenção para os que, do lado de dentro, com ela partilham a urbe. Só assim se compreende que não veja, na sua (nossa) cidade e na cidade “geminada” de Kiev, nazis iguais ao nazi Mário Machado (ou piores) e com eles conviva pacífica e alegremente em torno de umas bejecas e um pires de tremoços. É, aliás, miopia de que o próprio Machado não sofre, pois, como todos sabemos, se apressou, com sofreguidão, a demonstrar militantemente a afinidade que a Fernanda não vê.

  11. Então jornalismo responsável será o que a d. Cancio faz, que é matar dois pardais com uma pedra ? Belo exemplo, do discurso do amor, em contraposição ao discurso do ódio, né … ?
    Já nem falo da propalada importância do Goucha, na disseminação do discurso radical de direita. Quem vê o programa do sr. Goucha ? A não ser nas salas de espera de (algumas) clínicas, pouca gente, verá, em casa, a cmtv.
    Portanto, conviria, em se tratando de jornalismo responsável, quantificar, quando se bota faladura.

  12. Que interessa onde é que tem, onde é que se vê? É na cmtv, não é? Quem vê? Algumas Donas de casa (sem nada que fazer), salas de espera, e pouco mais, talvez a revista maria, ou guida, ou maria guida, e imprensa cor de rosa (para as curiosas, sem real curiosidade de aprender, porque nem o goucha ensina, nem ninguém aprende alguma coisa com o goucha).

  13. A ser verdade o que li noutro blogue, a Fernanda Câncio terá escrito num tweet, para justificar a guerra total da NATO contra a Rússia com a desculpa da Ucrânia, esta pérola:

    “se houvesse uma invasão alien, todos os humanos teriam de lutar lado a lado (mesmo democratas e nazis) contra esse invasor não-humano”

    Ou seja, para justificar a aliança com nazis, a Fernanda adopta o discurso mais racista e xenófobo que o mais empedernido racista, xenófobo e nazi alguma vez poderia proferir. Os russos não pertencem à espécie humana, são “invasores não-humanos”, extraterrestres que podem e devem ser exterminados, antes que eles próprios exterminem “todos os humanos”. Devem ser expulsos do planeta Terra e os que tentarem ficar terão de ser eliminados, pois não há qualquer possibilidade de coexistência com seres assim.

    A quem interessar, tenho uma informação em primeira mão, uma novidade absoluta: o tio Adolfo também o tentou, com judeus, eslavos, ciganos e “outros deficientes”, com os resultados conhecidos. E digo “outros deficientes” porque é óbvio que judeus, eslavos e ciganos o são também, têm defeito de fabrico, o Altíssimo devia estar bêbado quando os criou. Perguntem ao Ventrulhas, ele é que sabe.

    Que decepção, Fernanda Câncio! Já me deixaste de boca aberta daquela vez em que por cobardia, para sacudires a pressão, achaste por bem demarcares-te do Sócrates (“Eu não sabia de nada, ele enganou-me.”), mas desta vez exageraste, não podias descer mais baixo.

  14. @ Valupi,

    1 – Preambulo
    Presumo que o teu comentario de 29 DE JUNHO DE 2023 ÀS 16:14 apenas pretende responder ao meu ponto 1 de 29 DE JUNHO DE 2023 ÀS 10:08. Ao ponto 2 nao e conveniente, de momento, atender…

    2 – Introducao
    Sucede porem, que esse texto que elencas em vez de refutar, ironicamente ilustra aquilo que critico no ponto 1.

    3 – Metodos e analise:
    Vamos la a ver. Por partes.

    3.1 – Comecas por precisamente aflorar que “populismos ha muitos”:

    “O populismo pode ser tudo mais o proverbial par de botas. Inclusive, pode ser algo bom, realizador da democracia (é estudar). Ou ser algo inevitável, inerente à democracia (é pensar).”

    3.2 – Para de seguida ensaiar que afinal nao, “populismo ha so um, o feio porco e mau e mais nenhum”…

    “Mas na versão em que actualmente está associado à direita radical, dita nacionalista e autoritária, xenófoba e racista, antissistema (seja lá o que isto queira dizer), o populismo é essencialmente um tipo de estupidez. ”
    “(…) O populista é um poço sem fundo de palavras dos outros, de propaganda. Tem alergia à inteligência (isto é, à incerteza).”

    4 – Discussao
    Nao sei ao certo se:

    4.1) bebeste uns copos antes de escrever o primeiro par de frases antes de adormecer e depois escreveste a segunda parte ressacado

    4.2) escreveste um par de frases sobrio e de seguida decidiste atacar (com sucesso notavel) a adega para calar a voz da razao

    4.3) se estarias ali a ensaiar um sucedaneo derivativo da doutrina fundamental Catolica da Santissima Trindade – aplicado ao populismo

    5 – Conclusao
    Analise logica e consequente da apropriacao e abuso do conceito de “populismo” por parte de certos sectores sociais no espaco mediatico e que nem aquilo ali elencado, nem isto aqui “postado”, sao.
    E pena.

  15. Lowlander, em relação ao teu “ponto 2”, não acho interessante a tese. Como se trata de um fogacho que ficou solitariamente pendurado no teu comentário, sem argumento que o sustente, não lhe fiz referência para poupar o meu teclado.

    Quanto a vires papaguear para este estupendo blogue o que leste não sei onde, podes continuar que não pagas mais por isso. Antes ocupares assim o teu tempo do que a andares na rua a incomodar as pessoas e a tropeçares nos passeios.

  16. @ Valupi,
    Claro que nao e interessante… pior que estragar teclados, implica pensar o que estraga penteados. Bem mais comodo dizer umas coisas sobre como a extrema direita em Portugal foi inventada por um par de imbecis numa obscura sala da Rua de Sao Caetano…

    Como deves imaginar, foi um alivio saber da tua autorizacao para aqui papaguear de uma forma segura para o publico incauto. Ainda assim vejo-me na embaracosa situacao de te ter de macar e pedir um favor (mais um!):
    tens de me especificar exactamente onde e quando papagueiei. So assim poderei destrincar o que e original, unico e puramente resultado da minha cabeca (como tu brilhantemente fazes diariamente aqui, de resto, neste tugurio) daquilo que e mero teclar psitacideo.
    Como bem alertas, deixar de incomodar o publico incauto no passeio e um imperativo. So munido dessa infima fraccao do teu vasto conhecimento especialista em psitacideos poderei lutar esta minha aflicao.
    Ajuda-me pah!

  17. Lowlander, parece-me que estás a solicitar um serviço de consultoria, ou apoio psicológico, em ordem a conseguires decifrar o que escreves.

    Se for esse o caso, indica quanto é que estás disposto a pagar à hora para ver se a proposta é financeiramente viável.

  18. “Pensar estraga penteados” — descoberta genial, Lowlander, apenas comparável com a das recentemente confirmadas ondas gravitacionais. Agora percebo o alinhamento impecável dos milhares de melenas, franjas e franjinhas que vejo todos os dias. Cheguei a pensar que era da falta de vento, mas se nem mesmo nas muralhas da cidade, sujeitas a violentas intempéries, se vê um cabelinho fora do lugar, está tudo explicado. Já sei o que fazer quando quiser chegar impecável à próxima vernissage: peço conselhos ao Valupi ou à Penélope.

  19. @Valupi

    Entao pah? Estavamos a conversar, nas muralhas da cidade, livres e seguros das grilhetas do capital e tu, de subito, sacas daquele famoso salto mortal e tentas mercadorizar a conversa?
    Parece-me que estas a tentar monetarizar (e logo nas muralhas da cidade!) o meu angustiado pedido de ajuda pah!
    E isso chateia pah! Pois chateia… chateia-me ser sequestrado pah!

    Algumas passagens de Aristoteles e Platao sobre pleonexia assaltaram os meus pensamentos de imediato mas lembrei-me, em tempo espero eu, do teu sensato e justo aviso sobre a ameaca psitacidea que paira sobre o publico incauto. Foi por pouco…

    Todavia, contudo, porem, sem a tua preciosa ajuda, na ausencia desse teu luminoso conhecimento especializado sobre o que e original e o que e psitacideo temo tropecar num poco negro de incerteza sobre como melhor defender o publico incauto das calcadas portuguesas…

    Isto nao pode continuar assim! Apesar de etico-moralmente dubio para ti e seguramente financeiramente ruinoso para mim, nao posso resistir, sequestrado que estou.

    Tenho aqui no bolso (pausa para contar) 19.52€ e (pausa para ler) um cupao (acho que lhe chamam “gift card” – diz que em ingles tem mais prestigio) para usar no “Fiero Hair” ali no Bairro Alto – cortes de cabelo e penteados fabulosos pah. Fabulosos.
    Chega para uma consulta ou duas?

  20. @Valupi

    Estava eu aqui a pedir encarecidamente a partilha desse teu vasto conhecimento psitacideo para proteger a ordem publica, tu ate chegas a sugerir um caminho para prosseguir (um bocado mercenario mas va la…) e agora renegas o servico?

    Ja sabia que pensar seriamente sobre populismo ou extrema direita nao e coisa que valha o tempo desse teu grandioso intelecto.
    Mas agora te desinteressas de ajudar admiradores em apuros com a ameaca psitacidea…?
    Eu sei que tu sabes isto bem de mais, mas relembro-te que episodios de ansiedade seguidos de desinteresse e apatia sao sintomas de depressao induzida por alcoolismo cronico…

    Parece-me que essa tua ultima resposta nao e direcionada a mim mas sim ao reflexo no fundo do teu copo.

    Cuida-te.

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