Há uns dias, disse a uma pessoa amiga que me lembrava de uma sua reacção a um certo facto ocorrido poucos anos atrás. Ainda antes de ela me perguntar do que me lembraria ao certo, declarou e demonstrou que não tinha sequer reagido. Encostado às tábuas, fiz um mortal à retaguarda e acabei a pedir misericórdia recorrendo à retórica de ter sido a sua ausência de resposta aquilo de que me lembraria. É possível que esta explicação final esteja correta, no sentido de ter ficado impressionado pelo facto de não ter reagido, mas a facilidade com que afirmei lembrar-me do que não estava em condições de descrever revela algo de essencial a respeito dos processos pelos quais se formam falsas memórias. Este tópico da invenção de memórias, aliás, tem merecido extensa investigação e literatura nas últimas décadas, com particular ênfase na exploração mediática de memórias falsas de abuso sexual paterno, sendo especialmente importante no campo policial e judicial por óbvias razões.
Sócrates voltou a falar da sua memória do jogo Portugal-Coreia do Norte de 1966, para a confirmar, reforçar a sua veracidade (informou que se trata de uma das suas memórias de infância mais queridas, tendo-a partilhado com a família, amigos e com o próprio Eusébio) e chamar a atenção para o facto de não ter dito que nesse tal sábado tinha ido para a escola ter aulas mas, isso sim, para jogar à bola. Entretanto, ao longo da semana passada apareceu o testemunho de Jorge Patrão, o qual confirmou a lembrança de Sócrates e deixou outras pistas para quem quisesse confirmar o seu relato. Aparentemente, nenhum jornalista quis ou não houve interesse em publicar a confirmação. O servicinho estava feito, pela milionésima vez.
Não existe na comunicação social portuguesa nada que se compare ao poder e agenda do Correio da Manhã, Sol, Público do Zé Manel, Expresso do Monteiro, TVI do casal Moniz, SIC do Balsemão e do Crespo e até da Rádio Renascença. Estes órgãos dedicaram-se desde 2007 a um trabalho sistemático de difamação e calúnias, ou apenas à replicação e amplificação do seu eco, com os mesmíssimos alvos: Sócrates e o PS. Foram alimentados a jusante por magistrados que espiaram e perseguiram politicamente o ex-primeiro ministro, e que cometeram crimes de violação do segredo de Justiça, e validados a montante pelas forças políticas que aproveitaram o material sujo para o combate político. Até o Presidente da República quis ser protagonista dessa estratégia terrorista, acumulando o papel de aproveitador das campanhas negras com o de seu produtor. Em simultâneo, o Pacheco Pereira andava de cronómetro na mão a fiscalizar os segmentos das notícias de política no Jornal da Tarde da RTP, os imbecis abraçavam-se em delírio aos ranhosos por causa de um anúncio da Antena 1 que tinha ousado usar o tema da greve para promover os seus serviços noticiosos e no Parlamento passarões que desconheciam o que fosse a Ongoing estiveram meses a queimar o Governo socialista e recursos vários só para concluírem que o Correio da Manhã era o jornal que tinha mais investimento publicitário do sector público.
Não conheço nenhum estudo que se tenha dedicado à análise e reflexão do impacto que Sócrates teve na sociologia política – aliás, na antropologia – de um país onde os extremos se tocam e se abraçam, onde o PCP é uma organização apreciada pela extrema-direita e onde a extrema-esquerda se alia à direita do pote para derrubarem um Governo de centro-esquerda com obra feita e projecto na defesa do Estado social, desenvolvimento económico, aposta na Educação, avanço científico e promoção da liberdade. Não sei o que diriam os infelizes que assinaram textos a acusarem bovinamente Sócrates de ter mentido sobre uma memória de infância se tivessem de expelir opinião sobre as caudalosas mentiras e devassa da sua privacidade e da sua família que se abatem sobre o homem desde a altura em que foi considerado politicamente imbatível por vias lícitas. Muito provavelmente, acham muito bem tudo o que lhe tem sido feito, porque ele merece isso e pior.
No fundo, o que este ódio a Sócrates revela, para além da natureza moral e condição mental dos algozes, é o antiquíssimo desejo de eliminar os adversários através de um festivo linchamento popular. E não se pode dizer que esteja a correr mal, não senhor.
que pontilhão magnífico! :-)
é interessante isso de haver prateleiras vazias no armazém da memória. e de colocarem em causa o armazém, absolutamente privado e intransmissível, do Sócrates também. de facto, é caso para estudo de caso.
De facto, não está a correr mal. Conseguiram o linchamento de Sócrates. Ia dizer “linchamento político”, mas achei que era inadequado, porque foi mesmo linchamento da pessoa de Sócrates. Não vale a pena pensar que não foi. Por onde passo, e tenho passado por muito lado, o nome de Sócrates é maldito. Os pulhas conseguiram. Só a História o poderá resgatar. Podem gabar-se do trabalho que fizeram. Foram mestres da pulhice.
Uma coisa me surpreende em tudo isto que vem a ser a abjeta campanha da “direita” contra alguém que claramente viu não ser fácil derrotar com métodos decentes.
Trata-se do seguinte: no excelente blog de Rui Namorado – O GRANDE ZOO – vi há dias referência a um texto de Emir Sader, intitulado O ENIGMA DE LULA, que merece leitura atenta e reflexão.
Emir Sader (1943) é um sociólogo e cientista político brasileiro; graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, mestre em Filosofia Política e doutor em Ciência Política por essa mesma Universidade; marxista,colabora com publicações brasileiras e estrangeiras sendo membro do conselho editorial da reputada revista inglesa, New Left Review. Foi presidente da Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS, 1997-1999) e é um dos dinamizadores do Fórum Social Mundial.
Pois bem, o artigo termina referindo a fantástico nível de popularidade que Lula da Silva continua a manter vários anos após ter abandonado o poder – nada menos do que 83% !
Ora bem: sendo que a comunicação social no Brasil não é nada meiga com a esquerda, antes pelo contrário, vejam-se as ferozes campanhas em tudo o que é a rede Globo a propósito do “mensalão” p.e. e eu pergunto como é possível que apesar dessas ferozes campanhas os níveis de popularidade tenham sido e continuem a ser daqueles níveis!
E depois: o que explica esta abissal diferença com o que por cá se passa?! O que é que distingue estes dois povos, duma forma tão brutal?
Não vale a pena vitimizarem-se nem inventarem teorias de conspiração. Sócrates não o faz. Para o cadafalso mediático olha a inveja e a impotência de todos os medíocres. Estou convencido que muitos, como eu, que não votei nele, nunca simpatizaram tanto com o político, nem que seja pela bravura com que oferece o corpo às balas. Episódios como este não o prejudicam. Bem pelo contrário, cobrem de ridículo e ajudam a revelar quem não presta nem para apoiar alternativas.
“Restaurante da Mealhada que se sente roubado pelo Governo cobra refeições a mais ao CDS”
http://www.jornaldenegocios.pt/economia/politica/detalhe/restaurante_da_mealhada_que_se_sente_roubado_pelo_governo_cobra_refeicoes_a_mais_ao_cds.html
Claro e evidentemente.
Certeiro como sempre, Val. Absolutamente bem resumida a PULHICE contra o homem, pois CONTINUAM A MORDER EM TUDO O QUE PENSAM PODEM EXPLORAR! E o PCP continua na mesma…sempre a atacar o PS!
É assustador concluir-se que afinal sempre era verdade a história da escola e que quem quase cortou os pulsos em público de escândalo fingir que nada foi dito ou esclarecido.
Rogério Fernandes decidiu trazer “cerca de 1000 garrafas de vinho para o que for preciso”
http://www.dn.pt/politica/interior.aspx?content_id=3626699
porcos a comerem leitões é pedofilia
Lucas Galuxo, de que vitimização falas? E qual é a teoria da conspiração que está a ser inventada?
Ai Valerico, Valerico
Sobrelevando desde já a grave/crónica patologia paranóica e psicótica que manifestas de forma marcadamente erótica e pretensiosamente exibicionista em cada post de Amor e Devoção ao teu Amado Pinóquio, fica a pergunta:
– Será que tens noção das razões profundas e substanciais, de natureza visceral, emocional e idiossincrática, muito para além de todas as que enumeras apaixonadamente há anos – e que traduzem apenas a espuma dos processos, a tua preguiça analítica, a paranóia redutora, a cegueira da paixão e uma total incapacidade de saíres desse labirinto de ressentimento, mistificação e ódio infantil que te impedem claramente de te aproximares, nem ao de leve, das nucleares razões do ÓDIO e ASCO que esse personagem CRIOU sobre ele próprio????????) e que levaram uma boa parte da sociedade portuguesa a produzir uma reacção inflamatória, com anticorpos altamente reactivos, contra esse personagem e, sobretudo, contra o seu real persona?
– Entretanto, toma um banho com lixívia e sabão macaco porque fedes quase ao vómito a paixão platónica não correspondida e a proselitismo decadente.
– Larga o vício e bebe uns tintóis …
A prova da veracidade deste “post” sobre
a campanha negra contra o PS, com força
desde o caso Casa PIa e, por aí fora, está
no comentário de 12H00, um vómito de
cobardia ou quem sabe, de uma paixão não
correspondida!!!
Val,
Vais dizer que José Sócrates é o único político com a vida vasculhada à cata de pormenores que, nada tendo a ver com as suas ideias políticas, os que com ele não concordam utilizam para tentar enfraquecer?
Vais dizer não há tentativas de manipulação e intoxicação informativa por parte de simpatizantes de algum partido?
Já pareces o Pacheco Pereira a dizer nos jornais, nos blogues e na televisão que os jornais, os blogues e a televisão estão ao serviço de uma só agenda política. Caramba, Sócrates dá uma entrevista todas as semanas. As pessoas não são todas estúpidas a ponto de ninguém entender a bondade das suas razões se as tiver. Nessas perseguições doentias a este ou outros políticos, há quem esteja a tentar puxar uma corda sem reparar que o laço está enfiado no próprio pescoço.
Lucas Galuxo, podes misturar a teu bel-prazer os alhos com os bugalhos que não pagas mais por isso. Se há outros políticos com a vida vasculhada? Se calhar há, ora manda aí uns quantos nomes para eu aprender contigo. Mas o que tu nunca viste, nem tu nem ninguém, foi um político devassado como Sócrates foi e continua a ser. Conheces escutas a conversas privadas de outros políticos? Se sim, quais? E onde foram publicadas? E eles estavam, ao mesmo tempo, a exercer o cargo de primeiro-ministro? E quantas capas do Correio da Manhã, quantas reportagens canalhas na TV, quantas mensagens de ódio de comentadores na comunicação social tu contas a respeito desses outros políticos que queres comparar com Sócrates?
Depois aludes às intervenções semanais de Sócrates como se elas tivessem alguma relação com o que escrevi. É que o teu problema é o de pensares que falar sobre Sócrates de um ponto de vista da crítica ao que lhe fazem é equivalente a estar a promover Sócrates o político e suas eventuais políticas. Aplica-se a ti, portanto, a imagem que trouxeste da corda ao pescoço.
Ó Val,
Não te disse que a campanha contra Sócrates tem sido menos pulha do que contra outros. Mas olha que em matéria de mensagens de ódio e insinuações canalhas não é preciso ir muito longe. Quem quiser entreter-se com o tema, pode escolher, por exemplo, os nomes de Cavaco Silva ou Passos Coelho e ver em que termos são tratados nesta casa ou na Câmara Corporativa, ainda por cima de forma anónima.
Mas acho que não me expliquei bem. O que te queria dizer é que, muito graças a essas intrujices e à forma como delas se tem defendido com bravura, nunca simpatizei tanto com o político José Sócrates como agora. Vendo bem, até ao finíssimo recorte literário e intelectual da guarda que aqui lhe fazes têm ajudado.
Com o tempo, a lama assenta e a água fica limpa. Nada de desesperos.
Lucas Galuxo, estás a usar como comparação os “termos” em que se fala de Cavaco Silva e Passos Coelho em dois blogues que são lidos livremente por meia dúzia de gatos pingados, e que já concordam com as ideias neles expostas ou lá vão para também livremente dizerem o que bem entenderem como estás aqui a fazer, com os anos de campanhas negras que ocuparam toda a comunicação social e o Parlamento apenas para tentarem assassinar o carácter de um primeiro-ministro e secretário-geral de um partido. Acho que precisas de largar o vinho antes de teclar.