«a Operação Marquês - um tema recorrente nas minhas crónicas - é demasiado importante pelos abalos que pode provocar na democracia, seja na confiança na política, seja na eficácia da justiça.»
O mano Costa reclama ser um dos maiores especialistas vivos na Operação Marquês. Não só não custa a acreditar como é o seu dever. Lembremos que foi dele a decisão de emitir na SIC interrogatórios produzidos nos estúdios televisivos do Ministério Público. Porque esses interrogatórios tinham algum conteúdo informativo ou noticioso que justificasse o deboche deontológico e a violência mediática sobre os alvos e suas famílias? Não, pá, abre a pestana.
Em Março, nas vésperas da decisão instrutória de Ivo Rosa sobre a Operação Marquês, este génio da análise política quis apostar no preto e no vermelho. Como Ivo Rosa não é dado à copofonia com jornalistas e políticos, o mano Costa não fazia ideia, a um mês de distância, do que iria sair daquela cabeça. Achou que seria uma de duas coisas: a validação das supostas provas de corrupção por um segundo juiz que se iria finalmente elogiar ou a desilusão de aparecer o longamente difamado juiz maluco interessado tão-somente em cumprir a Lei. Mas, mesmo neste último cenário, tal apenas poria em causa a “eficácia” da justiça; isto é, continuava a deixar Sócrates como culpado de corrupção, criava era o aborrecimento de, apesar de se ter concedido tantos recursos e tanto tempo para revirarem as pedras da calçada, o Rosário Teixeira e o Carlos Alexandre acabarem o serviço sem conseguirem montar um caso blindado contra a inteligência, decência e coragem dos Ivos Rosas. É que o tema da “eficácia” da justiça é matéria predilecta do mano Costa. Por exemplo, aquando da condenação de Armando Vara num processo onde não se conseguiu provar directamente qualquer ilegalidade, o craque apareceu ao lado da Manuela Moura Guedes para celebrar a “eficácia” sublime da justiça com esse fulano. Pela primeira vez na história da justiça portuguesa, alguém condenado por tráfico de influência ia ser sujeito a prisão efectiva sem sequer ter sido consumado qualquer tráfico de influência nem se ter encontrado qualquer pagamento do sucateiro no seu bolso. Isto sim, é eficácia de aplaudir e mandar as cartolas ao ar.
Ora, em Outubro de 2021, que é feito dos abalos na democracia causados pelo mais importante processo judicial em Portugal? A publicação de O Recurso, em três lances – a narrativa, o acórdão e o “erro” permite medir o pulso a essa febre. No texto, Sócrates demonstra – pela enésima vez – que os “senhores procuradores” fizeram da Operação Marquês uma coutada onde se divertem a aplicar um Código Penal que eles próprios vão inventando conforme as necessidades de ocasião. Esta denúncia, de facto, está à altura do prometido abalo na democracia. Pelo que, no mínimo, o que se esperava era que a imprensa, o jornalismo de opinião, o comentariado, os sindicatos, as ordens e até os partidos políticos botassem faladura a respeito. Fosse para problematizar as questões em causa ou para achincalhar o autor, como irreversível culpado que é haja ou não provas. Pois o contrário foi o que se registou. Absoluto silêncio, nem sequer meio editorial por desfastio. O ostracismo a funcionar com uma eficácia digna dos encómios do mano Costa.
Algumas personalidades públicas, muito poucas, reclamaram ter lido as 4 mil páginas da acusação a Sócrates e restantes arguidos. A expressão frequentemente usada neste grupo rarefeito nem era a de já terem lido mas a de “estarem a ler”, de “terem chegado a meio”. Altamente significativo foi constatar que inclusive entre os jornalistas retintamente fanáticos dedicados ao processo, como os do Expresso e do Observador, jamais se ouviu ou leu deles algo que pudesse ser exibido como o fumo a sair do cano que chegasse para alguém intelectualmente honesto se render e juntar-se ao linchamento. Como reconheceu o mano Costa, por não ter alternativa ou por distracção, a Operação Marquês está montada em cima de “saltos lógicos e sem recurso a prova direta que juntam as várias pontas do processo“. O mesmo é dizer que estamos perante uma ficção. Uma ficção vitoriosa pois a Operação Marquês é um histórico sucesso para a oligarquia, independentemente do que venha a ser o desfecho final na Justiça. Os alvos estão política, social e financeiramente destruídos ou fortemente inibidos na sua liberdade. A lição foi dada, qualquer sofrimento que ainda possa ser infligido é néctar melífluo para os verdugos.
Quem tiver a curiosidade de ir ao texto do Código Penal para entender o que está em causa no “erro do Ministério Público” a respeito da troca do “artigo 17 pelo 16 da Lei 34/87”, a que Sócrates acrescenta relevantes informações contextuais, vai ficar cara a cara com o “mecanismo” que os “senhores procuradores” montaram para ousarem o que jamais tinha antes sido feito em Portugal: uma gigantesca operação de lawfare, só possível de ser lançada ao se ter a cumplicidade de todos os órgãos de soberania, de todo o sistema partidário e ainda da sociedade. É que nunca houve provas de corrupção, nem podia haver. Se houvesse, era o próprio PS que teria de ser posto no banco dos réus.
Eu faço ideia das tentativas que o “mano” terá já feito para desencadear um golpe de mão em direto ao juiz Ivo Rosa através das forças especiais da sic.
“…só possível de ser lançada ao se ter a cumplicidade de………. e ainda da sociedade.”
Estou espantado com o silêncio nesta caixa de comentários. Nem o sr. Camacho, que muito aprecio.
Todo o sistema partilhou a mesma narrativa por isso não existe realmente uma oposição entre a esquerda e a direita, neste caso como em outros, essa é fictícia. O silêncio vem daí, não há tribalismo nem trincheira, nem bons nem maus. A caixa de eco avariou.
Mas quem entregou os pontos para safar a pele foi o grande e querido líder Costa.
Tomando como inspiração a cenarizacao do confronto do mítico Oeste de Hollywood, Costa, o medíocre e cobarde PM, merecia que lhe despejassem o escarrador do Saloon pela goela abaixo. Não tenho a certeza que constituísse uma humilhação, tem um limiar alto de nojo, dá sempre a impressão que era capaz de comer um bife numa casa de banho pública, arrotar e pedir a sobremesa.
No entanto a sua cobardia dá lucro, na República Popular Socialista de Campo de Ourique uma juíza não deu abrigo ao protesto para recontagem dos votos com que o filho dilecto do querido líder, Kim Kosta Son, abarbatou a Junta de Freguesia.
Menos mal, será menos um a debandar e prejudicar o organograma de uma empresa ou instituição pública. Numa análise mais ironica como ex-gestor de eventos Kosta Son deve conhecer bem a frase de Harold Mccmilan “the opposition of events”.
Macmillan did apparently use the phrase ‘the opposition of events’ to describe ‘the force of punishing happenings unforeseen by any election manifesto.
Entretanto, o STJ aceitou o pedido de habeas corpus de Paulo Guichard com uma fundamentação exemplar: é o que está na lei.Uma excelente decisão é pena não poder ser retroactiva e revista em tantos casos. É altura da Justiça deixar de se guiar pelo farol das redes sociais, jornalistas, políticos e sindicato do MP. Para se salvar basta ser justa.
Escândalos atrás de escândalos. A república jacobino-maçónica caminha para o seu fim. Tardio mas inevitável. Deixando um lastro de degenerescência: atentado de Camarate, demissão de António Guterres, Caso Casa Pia, queda do governo de Santana Lopes, escutas na PGR, escândalos do BPN, BPP e BES, espionagem na presidência da república, Operação Marquês, Caso de Tancos…
Dar como facto “a nossa cobardia”, Valupi, é errado e injusto. As críticas ao funcionamento da justiça em Portugal feitas no Aspirina, tanto por ti e outros anfitriões do pardieiro como por muitos comentadores, de cobardia têm nada. Portantes, cuidado com as generalizações, ou serás finalmente obrigado a abdicar dos eternos dez euros que costumas ter no bolso para pagar a multa.
Quanto ao artigo de Sócrates, tem os “defeitos” dos anteriores: é claro e objectivo, dá-lhes onde deve dar, acerta onde é preciso acertar, e ainda por cima, tal como os outros, está bem escrito. Porque essa é que é essa, meus e minhas, o homem pensa bem e escreve melhor.
Quanto aos justiceiros, a crítica que fazem a Ivo Rosa de “desprezo sobre o narrativo acusatório” diz praticamente tudo sobre como funcionam aquelas cabeçorras… perdão, aquelas criativas e fabulosas cabecinhas, ao enriquecerem a língua pátria com um novo substantivo. Até agora, tanto quanto sei, “narrativo” existia apenas como adjectivo (“relativo a narração”). Enfim, criatividade que não destoa da capacidade inventiva de que deram mostras desde o início do processo e bacoquice pseudo-estilosa da escola do supercoiso coadjuvante, que gosta de nos presentear com pérolas não menos estilosas, como aquela que me deixou todo molhadinho sobre “a normalidade do acontecer” (sic… ou sick, se preferirem). Oremos.
E acrescento que é inteiramente justo qualificar de cobarde a vastíssima legião de comentadores (e eles abundam no Aspirina!), cúmplices do fracasso descomunal deste regime. Víboras que se agitam, pressentindo o fim próximo.
sem dúvida , senhor Português . eu , que tenho de apanhar as canas e pagar a festa que as gerações anteriores fizeram com o 25 de abril , uma divida descomunal , estou consigo !!
Finalmente, porra!!!
A yoyozinha já encontrou aqui no blog um rabinho a gosto para passar a língua.
Parabéns amigo portuga.