Porquê dar importância ao Governo Sombra, o programa humorístico de comentário político, ou o programa político de comentário humorista, que começou na TSF em 2008 e chegou à TVI em 2012? Não pela presença do João Miguel Tavares, esse delfim do Medina Carreira e liberal de pacotilha que não tem público para aguentar um programa a solo. Não pela presença do Pedro Mexia, esse intelectual-pop sem veia polemista que também não tem público para ficar sozinho em palco. E não pelo Carlos Vaz Marques, pois o seu papel poderia ser ocupado por muitos outros jornalistas ou por meros animadores mesmo que não tivessem carteira de jornalista. A importância do programa está sustentada na figura do Ricardo Araújo Pereira, sem ele a casa desaba e só ficam escombros mediáticos para espectador não ver. Uma importância nascida do seu mérito como humorista, trajecto onde só compara com o Herman em termos de criatividade, versatilidade e sucesso popular. Last but not least, ao contrário do Herman, o Ricardo ousou assumir posições políticas suficientemente claras para o podermos identificar como alguém situado nos terrenos do BE ou genericamente à esquerda do PS (não faço ideia se milita ou é simpatizante de alguma força partidária).
Acontece que o programa é um dos mais sofisticados produtos da indústria da calúnia. Ocupando canais de referência, sendo embrulhado como formato cómico, e apoiando-se no prestígio variado e acumulado de todos os participantes e, em especial, do Ricardo, o culto do desprezo pelo Estado de direito, pela deontologia jornalística e pela mera decência comunitária é uma prática obsessiva. Isso fica exposto à prova de estúpidos na forma como negam a Sócrates o seu estatuto de inocente até prova em contrário, declarando à boca cheia que ele cometeu os crimes de que é suspeito. Porém, a peçonha vai muito mais longe, por incrível que possa parecer e como o último programa mostrou. Nele, o Ricardo passou longos minutos a promover a leitura do livro do Saraiva, tendo chegado ao ponto de quantificar as ocorrências onde no livro se fazem supostas revelações acerca da vida sexual de terceiros. O Ricardo especificou quais eram as profissões dos envolvidos e o seu género, só lhe faltando nomear os alvos. Por que razão não deu esse último passo?
Recapitulemos. O Ricardo, coitado, tem de preencher com as suas rábulas um programa de entretenimento radiofónico e televisivo. Serve-se do imparável fluxo da actualidade para encontrar o seu material, natural e inevitavelmente. Eis senão quando ele vê chegar o livro do Saraiva e sua lúbrica promessa de se poder espreitar pelo buraco da fechadura para ver o que outros viveram na privacidade. Que fez o nosso génio humorístico? Pois tratou de o mastigar com toda a gula e veio defecar na edição de 26 de Setembro o que assimilou. Que era isto: seis ocorrências onde a intimidade sexual de alguns cidadãos era descrita pelas nobelizáveis palavras do Saraiva. Risota garantida, o dinheiro que lhe pagam para o espectáculo a ficar justificado e o editor e o autor do livro a esfregarem as mãos de contentamento. É que não pode haver publicidade mais poderosa à coisa do que o aceno de estarem lá cuecas penduradas de famosos prontas a cheirar pelo português médio.
E por que razão não disse o nome dos envolvidos, repito? Esse travão tem a sua origem na qualidade essencial do programa como máquina caluniosa: o cinismo. Se o dissesse, o Ricardo sabia que a sua promoção ficaria exposta e ele conivente com a devassa e/ou difamação e calúnias. Não o dizendo, mas identificando a profissão ou cargos governativos dos referidos e ainda o género, passa por sério, por engraçado – e alimenta a imaginação da audiência que só descansará quando chafurdar nesse conteúdo.
Este cinismo é comum aos quatro participantes do programa, e é vendido como humor e liberdade de expressão. Mas não é, ou não é só. Igualmente se pode dizer que é triste e que não passa de liberdade para a destruição.
“E por que razão não disse o nome dos envolvidos, repito? ”
quando há duas explicações possíveis, mas antagónicas, para um fenómeno, devemos optar pela mais simples, diz o bom método científico.
o cinismo é uma coisa complexa e há outro objetivo possível e bem mais simples: aguçar o apetite do ouvinte e impeli-lo a comprar esse escrito de merda.
“quando há duas explicações possíveis, mas antagónicas, para um fenómeno, devemos optar pela mais simples, diz o bom método científico.”
Eheheh Claro! Assim não dá muito trabalho e poupa-se nas horas extraordinárias. Um gajo farta-se de aprender, é um manancial incatalogavel de qualquer coisa de indefinido.
strummer… achas que, depois de estudar um problema, chegar à conclusão que há duas, não uma só, soluções possíveis, deu ou dá menos trabalho?
6.363 The procedure of induction consists in accepting as true the simplest law that can be reconciled with our experiences. tratactus, wittgenstein – que, coitado, é famoso pela sua preguiça e falta de inteligência.
procura tb occam’s razor
“In the scientific method, Occam’s razor is not considered an irrefutable principle of logic or a scientific result; the preference for simplicity in the scientific method is based on the falsifiability criterion”
For each accepted explanation of a phenomenon, there may be an extremely large, perhaps even incomprehensible, number of possible and more complex alternatives, because one can always burden failing explanations with ad hoc hypotheses to prevent them from being falsified;”
Como é obvio.
Confundes tudo teoria e princípios filisoficos com o método cientifico.
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_cient%C3%ADfico
strummer, utilizei o occam’s razor num contexto completamente não científico e como uma mera piada.
além do mais, volto-te a dizer, quando tens duas soluções testadas e estudadas, e não tens nenhum outro critério de seleção que não seja o da maior ou menor complexidade de cada uma, opta pela mais simples, porque, em princípio (lá está, não é irrefutável, claro que não) optas pela correta à falta de melhor critério.
pelo menos este princípio terá (repito terá, porque não sou especialista) ajudado no seguinte:
“In science, Occam’s razor is used as a heuristic to guide scientists in developing theoretical models rather than as an arbiter between published models.[1][2] In physics, parsimony was an important heuristic in Albert Einstein’s formulation of special relativity,[36][37] in the development and application of the principle of least action by Pierre Louis Maupertuis and Leonhard Euler,[38] and in the development of – quantum mechanics by Max Planck, Werner Heisenberg and Louis de Broglie.[2][39]” – wikipedia
Eu tambem nao sou especialista mas ainda consigo distinguir entre a formulação de teorias e princípios que depois podem ou não ser confirmados através do método cientifico. Coisas diferentes. E a piada está em ti com o teu arrazoado de idiotices que repetes como verdades. Mas não tem problema o erro e sagrado, amanhã volta com mentiras novas ou cala-te para sempre. Mais repetições, não.
strummer, não percebes mesmo…para chegares a duas soluções possíveis tiveste que usar o método científico para cada uma delas. o problema é o dilema quando tens duas válidas, cientificamente testadas, mas antagónicas. foda-se, faz um esforço, caralho.
Agora existe mesmo um novo método que é o da moeda ao ar e também o Tarot que esta a ser explorado pela Maya na CMtv. O método científico descreve leis que antes de o serem são hipóteses e teorias. Para serem leis tem que ser verdadeiras e irrefutáveis, não interessa serem mais ou menos complexas.
http://www.universoracionalista.org/hipotese-teoria-ou-lei/
Fui ouvir o Governo Sombra e só por má formação se pode criticar a abordagem de RAP ao lixo do Arquiteto.
Não consigo descortinar as intenções que o Valupi ali percebe.
Joao, estou interessado na tua opinião, mas neste momento não sei qual seja, apenas sei que tens uma.
Podes começar por explicar o que queres dizer com “só por má formação se pode criticar a abordagem de RAP”, faxavor.
O RAP revelou-se, depois de talentoso humorista, uma talentosa caixa registadora. Está ali para ganhar dinheiro e sabe exactamente que teclas premir, que pilas chupar e que peidas lamber para o conseguir. Ospois, prontos, fázi-o, tá fazido!
O saraiva escreveu um livro com mexericos sobre politicos (entre os quais o socrates, presumo) de que um humorista falou na radio e tu vais aos arames a ponto de invocar os principios fundamentais do ordenamento do cosmos porque…
Ah, foda-se ! eu aqui a perder tempo. Vou mas é tomar uma bica.
Boas
isto aqui é só cientistas de categoria. se tiveres duas hipóteses testadas e comprovadas para o mesmo problema não precisas da navalha do occam, precisas é de repetir as experiências.
que saudades do humor apolítico porém intervencionista. é possível.