Em boa hora (a uma hora da cena, precisamente) o João Pedro da Costa (somos primos por decisão mútua) avisou-me que o documentário É dreda ser angolano ia passar na RTP2 (foi nesta sexta-feira passada). Então, finalmente, lá o vi. E o que vi é uma maravilha. A maravilha de não nos apresentaram Angola e os angolanos adentro do género documental coitadinhos ou pantomineiros. Não se explora a miséria nem se vende a ilusão. Não há explicações ou lições para dar seja a quem for, protagonistas ou espectadores.
Independentemente da discussão teórica e técnica acerca da realização e sua estrutura narrativa, que não importa para nada quanto ao que mais importa, temos ali um olhar que conseguiu o feito de nos apresentar os angolanos como pessoas. Cada um é uma pessoa, do taralhouco que mal consegue falar à mulher-polícia mandona, do músico orgulhoso ao vendedor de rua humilde. Cada um tem densidade, não é uma caricatura. A câmara tem aversão ao anedótico que despreza, prefere o anedótico que nos aproxima. Absolutamente notável.
Aliás, só por ficarmos a conhecer um pensólogo, ser desopilante e genial, este documentário merece ser visto e revisto muitas vezes.
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Para mais informações publicadas cá na casa:
Primo: nem imaginas a felicidade que me dás ao saber-te tão agradado com o Dreda. A magnífica oportunidade que me foi dada pelo Pedro Costa da Fazuma (e da Batida, seu novo e empolgante projecto musical) para participar na criação desse mambo foi das coisas mais intensas que pude experimentar na minha vida. O Shunnoz, o Fridolim, a velha Dreda, o Homem do Gelo, o rapaz da ilha, o Sebem, o vendedor da Coca-Cola com o seu freestyle do momento, o Laranja, o Abreu Luís Kissoa, o ex-combatente do kilapi, enfim, todas aquelas pessoas feitas personagens, são para mim tão ou mais reais que as pessoas com que me cruzo todos os dias. É mesmo dreda ser angolano. E apetece sê-lo.
Ai papangú, papangú, que vem aí o Carnaval.
Gostei muito, primo. E só lamento que não tenhas alinhado naquela ideia que, há um ano e tal, discutimos num jantarinho modesto mas criativo. Vendo o documentário, mais me convenço da facilidade com que podemos fazer pontes entre Portugal (e Europa) e os PALOP (e África).
Ando a pensar no mesmo, sabes. Talvez agora, e caso queiras, ainda vamos ou chegamos a tempo.