A morte de Jacintha Saldanha originou uma reacção em cadeia de vingança contra os autores do ardil que enganou a enfermeira indiana ao telefone, grande parte dela originada pelos ingleses que procuram desforra emocional face à gozação. Importa dar atenção ao fenómeno porque ele atinge até os nossos melhores, como podemos ver neste texto do Ferreira Fernandes – O engraçadismo e a enfermeira – onde o escriba se precipita para um moralismo serôdio, ou pulsional, sem sequer ter presente os factos. Para começar, que a morte da enfermeira ainda está em investigação, pelo que a sugestão de suicídio, mesmo que venha a ser confirmada, é por agora provisória. Mas também os factos relativos ao eventual acerto da suspeita, onde se desconhecem publicamente as circunstâncias relativas à situação vivida pela Jacintha antes e depois de se saber que tinha sido enganada e levado uma colega ao engano. Neste particular aspecto da questão, admitindo a hipótese do suicídio, o principal factor ainda poderia ser outro que não o acontecimento ele próprio, antes as atitudes e comportamentos de terceiros à sua volta, por exemplo.
Os mesmos mecanismos moralistas são observados quando se associa a morte por suicídio com alvos politicamente valiosos, como Governos, bancos e empresas. É o caso das recentes mortes ligadas a despejos de casas em Espanha, onde o tema se tornou inevitavelmente campo de ataques ideológicos. Ora, tal prática é nefasta, pois espalha ignorância, irracionalidade e violência. A ignorância científica e clínica a respeito do suicídio como patologia, a irracionalidade lógica acerca da objectividade do acontecimento e a violência social contra bodes expiatórios de ocasião e oportunidade.
A violência maior, a qual subsume as restantes, é a de se validar o suicídio como uma resposta doadora de sentido perante um qualquer dano. É o que faz o nosso estimadíssimo, reputadíssimo e brilhantíssimo Ferreira Fernandes literalmente ao correr da pena:
Jacintha Saldanha não suportou que se tivessem rido da forma como ela exerceu a sua profissão. É uma surpresa extraordinária, isso de haver gente com pundonor.
O pundonor como caução e causa da impotência absoluta e definitiva, da dor que leva aqueles que lhe queriam bem a sofrerem absurdamente? E se a parelha dos pobres coitados australianos, agora a passarem pelo inferno, merece castigo, que dirá essa perseguição de nós? Ninguém mais poderá despedir ninguém, ou recusar um favor a alguém, ou acabar uma relação amorosa, ou não aceitar um beijo ou um aperto de mão, ou mandar um estalo ou uma boca? Qual é exactamente o alcance do pundonor suicidário no que a frustrações, chatices e achaques diga respeito?
Não só nestes eventos sensacionalistas a cultura científica é boa conselheira. Quando se sabe existirem dinâmicas de contágio comportamental no campo do suicídio, especialmente em situação de grave crise económica, é responsabilidade permanente dos profissionais de comunicação contribuírem para a salubridade e profilaxia do espaço público. Se conseguirem erradicar o moralismo e a ideologia, essa será então uma prova de pundonor de que todos beneficiaremos e que merecerá fazer escola.
Lamento mas discordo fundametalmente do Valupi. Por várias razões. Mas menciono apenas duas: 1) o vale tudo da comunicação social sem o mínimo respeito por qualquer tipo de valor que tenha em consideração a dignidade da pessoa humana e 2) a total ausência de um pensamento dos autores da “brincadeira” para a pessoa (que nenhum mal lhes tinha feito) que enganaram.
Surprende-me bastante que o Valupi alinhe de facto com a violação mais elementar (embora seja cada vez mais “normal” e corrente) de valores fundamentais inerentes a qualquer ser humano.
o faroleiro, queres dizer que devemos acabar com todos os programas de humor por serem atentados contra a dignidade da pessoa humana? É que foi só disso que se tratou, de uma banal brincadeira. Sem a morte da Jacintha, por esta altura ninguém estaria lembrado do episódio, nem sequer saberíamos quem tinha sido a pessoa que calhou receber a chamada.
a família real é uma realidade funesta, antes de nascerem já fazem mortes, até o filho faz piadas com o atraso da mãe em esticar o pernil.
oh foleiro! primeiro, que respeito é que a família real merece depois do epsódio pont de l’alma? segundos, porque é que a enfermeira é vítima duma brincadeira e não de uma real palermice?
val
não é uma vulgar brincadeira
um programa de humor tem piada quando é suposto criticar gente pública ou idiossincrasias sociais
as personalidades públicas sabem que, estando por natureza na ribalta, é proporcional um certo tipo de humor precisamente por esse facto
e sublinho “um certo tipo de humor” porque, mesmo sobre personalidades públicas não é legítimo todo e qualquer tipo de humor (por exemplo um humor que, sem qualquer tipo de fundamento, insinuasse a prática por essas personalidades públicas de crimes de particular gravidade e impacto social sem qualquer ligação com as funções públicas desempenhadas)
mas, mais grave, neste caso não é humor; é simplesmente gozar com alguém, que não é nem quer ser ninguém em termos públicos, que tenta fazer o seu trabalho o melhor que pode
o faroleiro, mas ninguém gozou com a Jacintha, o alvo era a princesa. Ninguém sequer sabia publicamente quem tinha sido a pessoa que atendeu o telefone, e no caso de a isso se ter feito referência explícita o mesmo estava enquadrado na situação: qualquer um poderia ter caído na esparrela. É uma brincadeira que se faz em todo o lado e desde que existem telefones. Uma brincadeira sem mal algum, ainda por cima com um sabor especial por ter sido feita por australianos.
Seja como for, estás a defender a ideia de haver uma relação directa entre a brincadeira e o suicídio. Foi precisamente contra essa forma de violência que escrevi.
olha que cretinice deste FF, dizer publicamente que a morte dignifica. além disso nem estou a perceber em quê que passar uma chamada impostora põe em causa o trabalho, do foro da saúde física, de um profissional de enfermagem. e mais: notícia havia de ser o ridículo de haver quem se interne por ter enjoos de gravidez e também de haver quem considere o evento repleto de importância para o mundo. cambada de piolhosos. e oxalá a princesa não sofra um aborto espontâneo – já estou a imaginar os jornais dizerem que a culpa foi dos quatro: dos dois da risota mais da enfermeira morta e ainda da outra (ainda) viva que deve andar a estudar a melhor maneira de, entretanto, se matar também. até dá vontade de rir isto, este auto do iate do inferno. :-)
val
não estou a defender que existe uma relação directa entre a brincadeira e o suicídio; não sei se existe ou não nem é isso que me interessa
tal como sei que o alvo era a princesa; só que isso é irrelevante: se quiserem gozar com a princesa não tenho problemas
não era qualquer um que poderia ter caído na esparrela; manifestamente a enfermeira considerou que tinha cometido um erro profissional (e até admito que, se calhar a direcção do hospital tem muito mais a ver com o suicídio dos que os dosi palermas)
o meu problema é sobre a atitude de total tábua rasa dos dois palermas sobre a enfermeira, alguém, que não é nem queria ser ninguém em termos públicos e que tentava fazer o seu trabalho o melhor que podia
e o problema fundamental nem sequer são os dois palermas (eles são simplesmente o chouriço produto do sistema) mas um sistema de valores cada vez mais dominante sobretudo nos media em que não se pensa duas vezes na dignidade humana das pessoas
o faroleiro, mas o que é isso da dignidade das pessoas? E que sabes tu do que aconteceu de facto à Jacintha, ou no que ela pensou ou deixou de pensar a respeito do acontecimento? Estás apenas a querer castigar os “dois palermas” por causa do suposto suicídio, e essa é precisamente a violência que estabelece a causalidade nos discursos moralistas como o teu.
Val, concordo muito contigo. Não se sabe absolutamente nada das causas desta morte. O moralismo parece-me deslocado.
A verdade é que, se foi mesmo suicídio e ninguém naquele hospital ou na família real teve a mínima atitude de censura, ameaça ou humilhação para com a enfermeira, diria que estamos perante um grau de sensibilidade totalmente raro. O caso já será diferente se algumas daquelas atitudes se tiverem verificado. Coisa que também não se sabe.
é completamente impossível relacionar a morte por suicídio com causas factuais, Penélope, muito menos num caso destes em que não existe um período – em termos temporais – de depressão e visto que está estudado que essa prática não se manifesta, comummente, por impulso. obviamente que os trasntornos mentais desreguladores emocionais, existem mas neste caso serão mera especulação.
Será porventura injusto culpar os engraçadinhos australianos pelo suicídio (se o foi) da enfermeira, mas é perfeitamente legítimo afirmar que apenas se, além de engraçadinhos, fossem completamente burros é que não saberiam antecipadamente que o telefonema seria atendido por um funcionário/a do hospital. E não poderiam igualmente deixar de prever que, concretizado o logro, esse funcionário teria problemas, provavelmente disciplinares, ou que, pelo menos, poderia ser vítima de gozo ou crítica à sua ingenuidade profissional por parte de colegas, vizinhos, conhecidos ou amigos. Não era difícil antever que o que para a enfermeira (e para mim) não passou de boa vontade (que os engraçadinhos anteciparam), seria por muitos apontado como negligência e falta de profissionalismo. Aliás, sugeres isso mesmo, Valupi, quando dizes que “o principal factor ainda poderia ser outro que não o acontecimento ele próprio, antes as atitudes e comportamentos de terceiros à sua volta”. E que tal, como “bónus”, a consciência de ser objecto de gozo no mundo inteiro?
Um dia em que vás a passar no Rossio, às cinco da tarde, e uns engraçadinhos te agarrem e roubem calças e cuecas, deixando-te os entrefolhos expostos ao gozo da multidão, queres convencer-me de que te vais indignar apenas com esta e absolver de qualquer pecado os humoristas que te sacaram os panos? Mais depressa acreditaria no milagre de Fátima!
A ser como dizes que devia ser, Valupi, ninguém mais poderia condenar, por exemplo, bullies e bullying, nomeadamente o cyberbullying. Seria tudo reclassificado como humor e humoristas. E se uma vítima de bullying não aguenta a pressão e se suicida, como ainda recentemente aconteceu com uma rapariga e foi amplamente noticiado, a tua tese parece ser: “Não tinha sentido de humor e era fraca, não aguentou a pressão. Ela que se foda, o mundo é dos engraçadinhos e não está para fracos.” Tens aqui vários exemplos:
http://www.google.pt/search?sourceid=navclient&hl=pt-BR&ie=UTF-8&rlz=1T4HPEB_pt-BRPT498PT499&q=girl+commits+suicide+after+cyberbullying
Fosse alguma delas filha minha e garanto-te que não descansaria enquanto não encontrasse pelo menos alguns dos bullies e os fizesse pagar bem caro. “E se a parelha dos pobres coitados australianos, agora a passarem pelo inferno, merece castigo, que dirá essa perseguição de nós?”, dizes tu. O castigo que merecem é o que estão a ter, nem mais nem menos. Que porra de critério é esse que te leva a pensar que a enfermeira inglesa não tinha mais do que aguentar o facto de ser motivo de gozo no mundo inteiro e aos “pobres coitados australianos, agora a passarem pelo inferno”, ninguém pode apontar o dedo? Acaso estaria a enfermeira, graças aos engraçadinhos, a experimentar as delícias do paraíso? Lamento, mas essa de pôr no mesmo plano gozões e gozados, bullies e bullyados, sacanas e sacaneados, negando aos segundos a protecção que se invoca como direito quase sagrado dos primeiros, cai um bocado mal. Vinda de um gajo lúcido como tu, é como comparar a Feira de Borba com o olho do cu.
E que coisa é essa de os “profissionais de comunicação” deverem “erradicar o moralismo e a ideologia”? O moralismo, pelo menos o serôdio, ainda entendo, mas erradicar a ideologia? Em que galáxia é que isso existe? Os gabinetes do Governo do pote estão cheios de “profissionais de comunicação” (e eu conheço mais do que uma boa meia dúzia) que, nos tempos de Sócrates, juravam praticar jornalismo em que a ideologia era erradicada, mas sabes tu e sei eu que relação tinha tal jura com a realidade. Coisa diferente é o profissionalismo que impede a naturalíssima e inerradicável ideologia de prejudicar a objectividade do trabalho jornalístico, esse sim possível, mas isso é outra fruta, infelizmente muito rara.
desde quando acreditar é negligência? desde quando alguém é obrigado, no local de trabalho, a colocar em causa uma chamada telefónica supostamente oriunda de familiares? onde é que a prática de bullying é comparável aqui?
e, já agora JC, imaginei-me nas tais cuecas do Val, parece-te igualmente comparável isso que dizes – é que só faria algum sentido acaso mas sacassem às escondidas e depois dissessem que tinham, de mal lavadas que estariam, selo.
O alvo do gozo não foi a princesa. Tanto quanto percebi, não pediram sequer para falar com ela e não tentaram enganá-la. Isso, sim, seria um feito e subalternizaria o logro a que foram sujeitas as enfermeiras – a que morreu e a outra. Quando muito, a rainha e seu filhote é que poderiam ser considerados alvos secundários, ridicularizados como foram na imitação. O objectivo foi enganar o hospital e ultrapassar barreiras que em princípio não se pensaria poderem ser ultrapassadas com tanta facilidade. Como tal, o alvo foi o hospital e quem nele trabalhava e o resto é treta.
Mas o que me está a maravilhar nesta caixa de comenários é a extrema sensibilidade e caridade cristã da teísta criptotalibã de serviço e seu expedito e profissionalíssimo diagnóstico, à distância, sobre a natureza dos enjoos da outra, a principesca obrigação que ela tinha de conhecer os motivos exactos do seu próprio enjoo e o exagero do seu internamento. Onde é que já se viu, uma mulher grávida preocupada com o seu estado e a sua saúde?
Foda-se, com médicos assim, talvez seja mais seguro um veterinário.
ai que grande gargalhada, já serviu para alguma coisa, muito obrigada. :-)
(já agora, gravidez não é doença. quer dizer, gravidez é doença de princesa. e às tantas, os peidos e arrotos durante a gestação serão motivo para intervenção cirúrgica.) :-)
Joaquim Camacho, era suposto que o meu texto tivesse um assunto à prova de copos de vinho: o nexo entre a notícia da morte da Jacintha e a culpa lançada para cima dos brincalhões por um suicídio. Isto, e só isto, me suscitou algumas banalidades a partir de um certo ponto de vista.
Ora, tu pretendes discorrer sobre o bullying, os perigos a que estarei sujeito no Rossio e a tua bravura de pai. Está tudo certo mas são temáticas onde, e muito provavelmente, estarei de acordo contigo (menos na parte das 5 da tarde, pois estou a trabalhar ou noutro lado). Quanto a não quereres que os profissionais da comunicação abandonem a ideologia quando tratam de assuntos deste calibre, vou anotar e prometo fazer uma ou duas meditações sobre a matéria.
Dito isto, espero que o vinho seja uma delícia.
ah, carago, JC, isso é que é ter a penca corada. :-)
Val, não sei se foi suicídio, mas era previsível pelo menos alguma sensação de vergonha, de humilhação, da parte das enganadas. Era também previsível a possibilidade de inquérito e/ou processo disciplinar, por eventual violação de normas de segurança ou outras regras do hospital. A humilhação poderá ainda ter sido maior por a imitação ser de péssima qualidade. A mim, que como compreenderás não ouço la reyna com a frequência com que os ingleses o fazem, não me enganava e teria virado o gozo contra os gozadores perguntando a “sua majestade”, por exemplo, se estava melhorzinha do panarício que lhe tinha aparecido na realíssima peida e se o príncipe consorte já tinha curado o último esquentamento.
É claro para mim, apesar dos três garrafões que já emborquei hoje, que os alarves nunca imaginaram sequer a hipótese de a enfermeira se suicidar, se é que se suicidou. Mas era previsível que a graçola poderia ter consequências, para ela e para a outra, de carácter disciplinar e, em última análise, com perda de emprego. Em época de crise, como muito bem lembras, não é pormenor a descurar. E não defendo para os palermas pena mais grave do que as que agora sofrem, a saber: a consciência aguda de que poderão ter sido os causadores, mesmo que involuntários, da morte da enfermeira, o desprezo de alguns milhões de pessoas e a suspensão do programa imagino que merdoso em que eram heróis, seguido de eventual despedimento. Com a notoriedade que agora ganharam, imagino que poderão a curto/médio prazo escrever um livro em que relatam e enquadram a sua desgraçada experiência, oferecendo generosamente metade das receitas à família da enfermeira, o que os recauchutará de novo como heróis.
Conheces provavelmente o caso do anúncio no “Diário de Notícias”, há algumas dezenas de anos, para venda de “Colchões de Molas”, em que, certamente por obra do Mafarrico, faltou o “c” de “colchões”. O país gargalhou com os “Colhões de Molas”, pois não era caso para menos, o jornal vendeu muito mais do que o habitual, a vernaculosa “avaria” tornou-se coleccionável e o anunciante até pediu para o anúncio ser repetido com a gralha (pedido que foi negado), porque a graça lhe tinha aumentado exponencialmente o negócio e toda a gente queria comprar colchões que remetessem para a bojarda (deliciosa, diga-se em abono da verdade). O próprio revisor que a deixou passar, a quem vizinhos divertidíssimos mostraram a coisa antes de ele ir trabalhar e que pensava que o responsável era outro que não ele, chegou ao jornal igualmente divertido e excitadíssimo, a perguntar quem tinha sido o desgraçado. Claro que quando lhe disseram que tinha sido ele próprio passou-lhe a vontade de rir e caíram-lhe os colhões (que não os colchões) aos pés. E mais perdeu a vontade de rir quando apanhou com um processo disciplinar e um mês de suspensão, apesar de o erro ter sido perfeitamente inocente e involuntário.
É evidente que a coisa teve graça e, se fosse comigo, apesar do mês de suspensão, fartava-me de rir e não me coibiria de contar a história, sem omitir o intérprete principal. Mas, se fizeres um esforçozinho, hás-de concordar que nem toda a gente tem o mesmo arcaboiço e temos obrigação de ter isso em conta.
O “humor” idiota e cretinóide dos alarves australianos está ao nível do humor idiota e cretinóide dos alarves lusos que fazem o programa “5 para a Meia-Noite”, da RTP-1, uma coisa intragável e de mau gosto que, inexplicavelmente, perdura há uma porradaria de tempo, sem fim à vista.
Quanto a eu não querer “que os profissionais da comunicação abandonem a ideologia quando tratam de assuntos deste calibre”, alto e pára o baile que nunca disse tal coisa. O que disse foi que tal é impossível, ninguém pendura a ideologia num cabide enquanto trabalha, nem sequer enquanto caga. Digo-te, aliás, que são por vezes de altíssima qualidade as filosofices que me fritam as meninges enquanto arreio o pastel. O que digo é que jornalista digno desse nome deve fazer um esforço para evitar que a ideologia que nunca o abandona contamine a objectividade do que escreve.
Joaquim Camacho,
não se pode pedir aos idiotas que percebam que lançar fogo ao rastilho possa ter consequências. E nesse sentido não são responsáveis. São inimputáveis e não deviam estar a passar pelo inferno, como estão, pobrezitos. É claro que nunca se sabe que consequências podem ter os nossos actos, mesmo que tenham como desígnio nobre ganhar audiência. Cada um é responsável pelas suas opções: se se mata, a responsabilidade é do suicida – não estou a ironizar.
Já para quem agride outrem , (atenção,dependendo de que lado está), não há consequências a identificar.
Este é o único tipo de cegueira que merece complacência:
http://www.youtube.com/watch?v=Ult8PF_8SOg&playnext=1&list=PLCD3A4C375958140B&feature=results_main
Joaquim Camacho, como deves saber porque és uma pessoa letrada e informada, esta piada dos telefonemas a imitar celebridades é um clássico na comunicação social de muitos países já com décadas, décadas e mais décadas de gasto. Logo, o único facto relevante é a ocorrência de uma morte ainda não esclarecida na sequência, apesar de se apontar para o suicídio. Caso ela não tivesse acontecido, toda a gente já se teria esquecido de algo que não passou de uma brincadeira bondosa.
Isso não impede, claro, que domines os protocolos disciplinares em hospitais britânicos (pelo menos, esses) a respeito de gozações à australiana. O que me deixa mais preocupado é essa tua anuência para a eventual mistura entre ideologia e deontologia quando toca a dar notícias ao povo a troco de carcanhol. Vê lá isso, olha que é desse esforço que precisamente estou a falar e o qual é suposto que seja o suficiente para conseguir separar as águas. Sempre.
Val Gostei muito mesmo do que escreves-te, danos uma grande noção como devemos parar, pensar, ouvir e como falar e escrever e estar na vida, para mim a enfermeira devia pedir ajuda muito antes disto da chamada, devia estar mal com ela própria e não foi serena com ela, faltava muita coisa que levou a isto. a rapidez é inimiga da razão.
Primo, concordo tantas vezes contigo que até assusta. E o moralismo do FF foi para mim uma surpresa.
Val,
1 – “Imitar celebridades é um clássico na comunicação social de muitos países”, dizes. É verdade, mas para ter graça deve ser feito por gente competente e implica um planeamento minucioso que tenta reduzir ao mínimo os imponderáveis, nomeadamente quando há interacção com terceiros, e prevenir situações como a que temos estado a analisar. Chama-se profissionalismo e não está ao alcance de qualquer parelha de anormais movidos a alarvidade e a trabalhar em cima do joelho.
2 – Classificar a gozação como “à australiana” parece-me um insulto aos australianos. A parvoeira que com bonomia acarinhas como “algo que não passou de uma brincadeira bondosa” classifico eu assim: primária, alarve, incompetente e de mau gosto. Como podes ver, uma classificação quádrupla, adequada a quadrúpedes mascarados de bípedes. Ao fim de cinco garrafões (e ainda não parei), é o que vejo naquela parelha de pilecas armadas em puros-sangues. Tenho ideia de a RTP ter transmitido há alguns anos uma série de humor australiana, com forte costela Monty Python, e lembro-me de tentar não perder um episódio, pelo que não duvido de que a Austrália produz humor a sério, “à australiana”.
3 – Depois de me ter deliciado mais uma vez, ainda há bocado, com o humor autocrítico, certeiro, telúrico e implacável dos britânicos de Little Britain, completamente desprovido de salamaleques e paninhos quentes, na RTP-2, mais asco fiquei a sentir pela parelha de alarves que envergonha os antípodas, cujo tempo de antena numa rádio se deve, provavelmente, ao facto de a estupidez ser fenómeno universal e não poupar cangurus.
4 – Essa de eu ser “uma pessoa letrada e informada” terá provavelmente uma intenção piadética qualquer, mas os seis garrafões que já levo hoje no currículo (mamei mais um em apenas dez ou doze linhas) impedem-me, para já, de catrapiscar o subtexto.
5 – Quanto à tua preocupação com o que classificas como a minha “anuência para a eventual mistura entre ideologia e deontologia quando toca a dar notícias ao povo a troco de carcanhol”, não sei como explicá-la, mas atrevo-me a avançar duas hipóteses: ou tinhas acabado de sair de uma aula de mandarim quando encalhaste na minha prosa, lendo-a como se de caracteres chineses se tratasse, ou então degustaste-a enquanto fazias o pino e viste tudo ao contrário. Talvez lendo de novo, depois de acabares a sessão de ginástica, interpretes correctamente o que quero dizer quando escrevo: “O que digo é que jornalista digno desse nome deve fazer um esforço para evitar que a ideologia que nunca o abandona contamine a objectividade do que escreve.”
Dizes tu, Val: “Vê lá isso, olha que é desse esforço que precisamente estou a falar e o qual é suposto que seja o suficiente para conseguir separar as águas. Sempre.”
Digo eu, Joaquim Camacho: devia ser o suficiente mas não é, porque há demasiados mercenários, moços de fretes e candidatos a assessores que se autoclassificam abusivamente como jornalistas e para quem esse esforço é parvidez de líricos. É uma gente que desonra a profissão e que, pela total ausência de escrúpulos e vergonha, tende a ser bem recompensada nos órgãos de direcção da pasquinada.
E com esta me fico, vou agora abrir o oitavo garrafão porque a conversa deixou-me um bocado desidratado. Chauzinho.
Amiga Edie, long time no see! Só mesmo tu consegues actualizar aqui o camarada cota com as música dos aqui e agora.
Pois é, amiga, aquilo é lumpen que em rastilho vê cordão de sapato. Rezo para que, em visita ao Jardim Zoológico, confundam o rabo do leão com espanador e tentem levá-lo para casa. Tento imaginá-los, estúpidos como são, a desaparecer goela abaixo do bicho e a rir alarvemente da deliciosa situação, tarde de mais se apercebendo que a delícia foi só para o Kimba. Para eles restará a condição de quimo e depois quilo, finalizando a odisseia digestiva reduzidos ao que antes do encontro com o espanador lhes enformou a alma: merda.
Corrijo: “tarde de mais se apercebendo de que”.
não excluas a probabilidade de TPM no caso, JC. falo muito, mesmo, sério. e se não sabes o que é, fala com a edie que já terá, noutros tempos, passado por isso. :-)
Mas que porcaria de Blog…hehehehe.
uma puta essa jacinta saldanha.
deprimida, menstruada, sisuda e o caralho, tudo para foder a vida a dois desgracadinhos com tanta piada.
coitados dos moços.
Há cegueiras que fazem pena, my friend Edie. Ceguinhos e ceguinhas para quem a cegueira que aqui puseste em música é conceito alienígena. Não a negam nem renegam abertamente, antes fingem incensá-la com verbosidades ocas que debalde tentam preencher com decibéis nutridos mas desafinados, enquanto agitam freneticamente braços, pernas e cauda, tal o nervoso miudinho que a coisa a sério lhes inspira. Arrotam sobre tudo e mais um par de botas, mascaram a parvoíce com tiradas bacocas pseudo-estilosas, pseudopoéticas, a armar ao pingarelho, misturam uns palavrões bué de viris, agitam, metem no micro-ondas… et voilá: pim!
É o caso da teísta criptotalibã de serviço ao Aspirina. Almas sensíveis, frágeis, inseguras, são fraqueza, defeito de fabrico, “uma cena que a mim não me assiste”, é a mensagem da teísta empedernida. Pertence àquela categoria de mulheres pateticamente mais machistas do que o machão mais jurássico (e geralmente impotente) do Bairro Alto e arredores. Arrotam graçolas de mau gosto sobre a pretensa influência negativa das particularidades periódicas do seu próprio sexo, de que aparentemente se envergonham e que consideram inferiorizante, e, adoptando a linguagem e o pensar de quem as diminui, operam, pensam elas, uma espécie de alquimia que as transforma e redime. Ora bardachiça! É a Síndrome de Estocolmo em variante grosseira de chuleco do Intendente, para quem as mulheres valem menos do que o pitbull que tem lá em casa. O que matou a enfermeira foram os desequilíbrios emocionais pré-menstruais da gaja, tás a ver, ó minha?! Olha se o casal de cangurus palermas se lembra dessa!
eu vim cá fazer um donativo ao JC: trago-te um quartilho do meu sangue acabadinho de sair da pipa, sangro logo penso, porque afinal dar sangue é dar vida. é vermelhinho, bem fluido, e não tem daqueles coágulos negros que dão cheirete; podes beber à vontade, desculpa não dar um garrafão mas há muitos e muitas como tu a precisarem dele, e partilhar com o teu grupo. faz um bom, óptimo, proveito e peço-te que, por favor, não o relaciones com morte mas antes com alterações de choro com riso de sorte. :-)
Foda-se!