Portugal é um país de cobardes. O medo bebe-se no berço pelas palavras das mulheres e silêncios dos homens. O povo tem medo dos senhores, as oligarquias têm medo do povoléu. Medo de existir, disse alguém que anos depois estava do lado dos apavorados. Medo de Salazar, medo dos comunas, medo do patrão, medo do vizinho, medo de errar, medo de perder. Portugal só se liberta no exílio, só se encontra na terra estrangeira; nesse ultramar e nesses trópicos onde, finalmente, vive à solta.
Em 2009, 35 anos depois do 25 de Abril, um partido político com ambição de governar fez da promoção do medo a sua estratégia principal para as eleições. Os chefes deste partido chegaram ao ponto de lançar a suspeita de estarem a ser escutados pelas autoridades só porque eram da oposição. Foram mais longe: disseram que os portugueses já não podiam confiar no Estado, pois este podia estar a violar a sua correspondência, a persegui-los no trabalho e nos negócios, a tirar-lhes o direito à manifestação e reivindicação. Isto foi feito enquanto esse difamado Estado violava as comunicações privadas do Primeiro-Ministro e o acusava de um crime inexistente com base nessa inaudita violação. Os mesmos que exultaram com as pulhices criadas para atacar Sócrates, Governo e PS são os mesmos que continuam a promover a irracionalidade do medo como manifestação do seu ressabiamento ou da sua cobardia; talvez das duas condições em simultâneo.
Veja-se o ridículo a que a união nacional dos ranhosos com os imbecis consegue chegar. Contudo, isto de ter medo da liberdade de expressão, vindo de quem vem, faz todo o sentido. Uma coisa é certa: não foi com este sangue, aguado e anémico, que Portugal se valeu nos primeiros séculos da sua História.
O medo:
Quem o diz ou quem o espalha sabe lá o que é medo. Medo, era quando se levava algo a um patrão, para empregar um seu filho ou um seu parente e julgava que o que dava era pouco, podia haver outro que dava mais, mesmo sabendo que o que dava fazia falta aos seus.
Medo: era quando se levava algo para o professor (a) para que seu filho fosse “puxado” não abandonado, para não reprovar nenhum ano para quando acabasse o círculo escolar, 4ª classe, ir trabalhar. O que acontecia aos 10/11 anos, para ganhar algum para o sustento da casa.
Medo: era quando se tinha direito a reclamar o que era seu e não o fazia porque era despedido. E tinha a P.I.D.E. à perna e um rótulo de conspirador, que nunca mais arranjava um emprego.
Medo: era quando o patronato andava a negociar com o dinheiro, meses de atraso do abono de família e, se tinha de tirar o chapéu, a vergonha e algo mais, para receber o que era seu.
Medo: era quando os pais viam os seus filhos irem para o serviço militar, além do que deixavam de receber (a féria) ainda tinha que suportar com outros gastos – viagens de fim semana, certos tipos de alimentação, se não passavam fome, o que era servido por vezes nem os cães tragavam.
Medo: era quando se era metido no Vera Cruz ou noutros barcos e se partia para defender o que era de meia dúzia e as promoções dos oficiais. Quando se regressava encontrava-se um futuro incerto e ainda se tinha de suportar a cura de algumas doenças tropicais.
Medo: era quando se queria constituir família e não havia condições habitacionais, salariais e outras tais, para se almejar a ter um filho, o que se ganhava pouco dava para o sustento quinzenal – nessa altura recebia-se à quinzena.
Medo: era quando se tinha das intempéries porque a construção civil deixava de trabalhar – a chuva o frio e a neve não permitia – e não havia subsídios para isso nem para a doença.
O que posso dizer dos que dizem terem medo é que deviam de viver nesse tempo. Julgo que não passavam a meninice, que o medo os levava como a meningite nesse tempo, levava parte das crianças.
Muitos falam do medo e sabem lá o que é o medo. Sabem o que digo: tenho medo de viver num País de me(r)d(r)osos.
tens a certeza que não tens um grande medo, val?
Sim, apanhei parte disso, desse medo. Medo de ter «negativas» porque não podia chumbar porque tinha que começar a trabalhar aos 15 anos e se perdesse um ano o emprego era pior… Havia um rapazito no predio ao lado que de vez em quando tinha «medíocres» e a quem o pai batia com o cinto porque era GNR e estava habituado a bater nos suspeitos…
GRANDE post do Manuel Pacheco. Também” gramei ” muitas dessas ….
Vou fazer link, Val… naturalmente!
Um grande abraço :)
O controlo absoluto da imprensa, a ameaça transversal e a bravata são a conduta normal do grande vítima das pulhices criadas para o atacar.
Um país que tem a governá-lo um PM que não é capaz(e o afirma)de governar com oposição(maioria),se não é um “país de covardes”,é,pelo menos,um país (des)governado por covardes.
O sr.Val tem todo o ar de ser um dos “célebres”(tristemente)assessores do Pinóquio,que todos andamos a pagar principescamente por ínvios sacos azuis, e o sr.Pacheco deixa entender,pelo que descreve,que passou a sua vida emigrado da opressão salazarista, a gozar o paraíso além-cortina-de-ferro.
Manuel Pacheco,
Os que hoje dizem ter medo, sabem lá o que é o medo. Ou porque são demasiado jovens e lá em casa ninguém lhes contou como era a vidinha ou, não o sendo, não se importaram de viver de joelhos a beijar a mão aos poderosos.
Trabalhei numa empresa onde uma colega denunciou ao Sindicato determinado facto. No dia seguinte, já o patrão sabia quem tinha sido a autora da denúncia. Outra, foi despedida porque havia a suspeita de o marido pertencer ao pcp. Poderíamos ficar aqui a noite toda a contar histórias de medo e de terror.
É costume dizer-se que quem tem cu tem medo.A porra é que não só não têm medo de levar no cu como até gostam muito.