Maitê fez uma peça de humor em Portugal, convencional para os códigos brasileiros e do programa onde foi emitida. E fê-la de forma amadora, iconoclasta, feminina. Amorosa, brincando com os estereótipos, mas até cultural e politicamente relevante. Em 2007.
Alguém faria um valiosíssimo serviço à comunidade se recolhesse as reacções bácoras, como esta, que exibem o pior dos portugueses. Estes parvalhões merecem ser ridicularizados sem piedade.
Concordo que estes parvalhões são dos que merecem ser ridicularizados, mas de preferência com alguém com mais inteligência e sentido de humor que a Maitê. Há peças subtis na linguagem da Maitê que revelam aquele preconceito vastamente instalado no Brasil (sei do que falo) de que os portugueses são todos estúpidos e provincianos. De Sintra, MP selecciona como o mais interessante a mostrar o nº 3 invertido, comentando. “vou mostrar para vocês que estamos mesmo em Portugal”. Só não percebi como é que esse pormenor nos distinguia de outros países (estou a lembrar-me do Brasil) em que isto não seria notícia, porque as barabaridades de português são normais…
Portanto não vejo assim como tão angélica a abordagem da Maitê. Se queria fazer humor com Camões, Vasco da Gama e Fernando Pessoa, esqueceu-se que não tem o menor jeito e o que era para ter graça foi apenas uma amostra de enorme mau gosto.
As desculpas foram ainda piores.
Valupi, ela não brincou com os estereótipos, nem ironizou com os mesmos. Há muitos excelentes humoristas que o fazem, até ao limite do politicamente correcto. Ela não fez nada disso; aqueles esterótilos são dela, não há qualquer distanciamento.. Mas pronto, a tipa é gira e tu és um cavalheiro. A boca do PPM é também parva, obviamente. Estão bem um para o outro.
Tenho também a protestar contra o que Val diz sobre isto ser uma forma “feminina” de fazer humor. Evidente que nem todas as mulheres são inteligentes, informadas, cultas, mas isto parece-me um exagero, Val.
Talvez se o termo fosse “graciosa” em vez de feminina – mas a escarradela em ritmo lento não a qualifica na categoria.
Edie, ainda bem que referiste o começo da peça, o tal 3 invertido. Porque essa escolha é a chave para o que vem a seguir: mera brincadeira infantilizada. Repara que não passou de um pretexto para encher de pitoresco a reportagem. E o que ela diz é absolutamente inócuo, podia dizer as mesmíssimas chalaças se estivesse a filmar em Pernambuco. Aliás, aquela placa com o número da porta até pode ter sido colocada assim intencionalmente, a questão é irrelevante pois em nada representa um aspecto cultural ou étnico. Tratou-se apenas de um oportunismo de ocasião, porque calhou alguém ter reparado naquilo e ela disse o que lhe veio à cabeça dentro da pose escolhida para o efeito humorista.
Eu também não lhe reconheço méritos como comediante, nem a sua carreira foi feita nesse género. O que me parece evidente é o registo descontraído, e profissionalmente amador, que consegue obter o efeito desejado: provocar um momento de boa disposição numa audiência feminina em cujo imaginário há um ancestral culto de gozação com Portugal, tal como nós temos com os alentejanos, os franceses com os belgas, os americanos com os canadianos, e por aí fora em todo o mundo onde há vizinhos e relações de convivência entre grupos.
A forma feminina, tal como eu aqui a entendo, é referente a um olhar que até se poderia dizer ingénuo ou infantilizado, sem malícia agressiva, sem violência.
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Pedro, ela não é conhecida por ser autora de comédia, e não deve ser um acaso. Por outro lado, alinhou em fazer uma peça para um programa cujos códigos iriam acolher aquele seu registo. E, por isso, o riso das outras participantes no programa parece genuíno. Elas estavam divertidas e gostaram do resultado. Aposto que milhares e milhares de brasileiros, que viram o programa, também apreciaram a brincadeira. E porquê? Porque o subtexto era o dos clássicos estereótipos. Só que o riso não está a vir de uma humilhação, antes do saudável ridículo de uma fantasia, uma mera provocação cúmplice.
Val, honestamente tentei pôr-me nos teus sapatos e perceber o teu raciocínio. Quanto muito vou até ao ponto de entender que não houve intenção consciente de humilhar, apenas inconsciente.
Estas coisas normalmente não sobrevivem ao velho teste do efeito espelho. Se uma artista portuguesa fosse ao Brasil mostrar as “idiossincracias” dos brasileiros com o mesmo sentido de humor e de parvoíce estereotipada, penso que o acolhimento seria idêntico. Como teria de ser.
E já agora, informo: no Brasil os protestos são quase tantos como cá. As pessoas acharam de mau gosto, de má qualidade e sentem-se (alguns) envergonhados pelo papel triste da senhora.
Mas qual foi a parte que te humilhou, Edie?
Falei em intenção inconsciente de humilhar, não falei em ter-me sentido humilhada.
Por exemplo, MT teria demonstrado um verdadeiro sentido de humor distanciado e não comprometido com esterótipos básicos se lançasse algo ” esses portugueses são tão estúpidos que passam a vida a ver telenovelas brasileiras, e , pior, algumas delas comigo”, em vez de recorrer à anedota do parvinho que ficou a olhar para o rato… é pior do que aquel de quantos portugueses são precisos para mudar uma lâmpada. É burgesso objectivamente.
Mas precisamente por a Maitê não ter qualquer intenção de humilhar é que ela só falou de situações que eram obviamente irrelevantes. Aquela do computador no hotel não passa de um desabafo que poderia ter-se passado em qualquer país do Mundo.
O que há neste caso de preocupante será essa susceptibilidade nacional para nos sentirmos ofendidos por nada. Esse nosso inconsciente está doente.
Acontece que a Maitê associa sempre essas situações irrelevantes aos portugueses, generalizando. Porquê a insistência em associar a características portuguesas? É assim tão específico? Sim, para certas mentalidades traumatizadas com longínquos colonialismos…
Quanto às doenças do inconsciente colectivo português, concordo, até pelos excessos na resposta ao video. Mas qualquer colectivo se ofenderia pelo tom (mais do que pelo conteúdo) desta infeliz “reportagem”. Duvido que qualquer sociedade gostasse de ver alguém cuspir num dos ses monumentos. É tudo relativo, portanto. Quem está mais “doente”? Quem acha despropositado e estúpido tal acto ou quem acha que é apenas um acto de humor?
Já agora, gostei do sentido pedido de desculpa da Maitê: vocês não têm sentido de humor, mas vá lá, deixem passar que eu preciso de voltar a Portugal (strictly business, nada pessoal).
Sempre julguei que a maitê só tinha sobrancelhas de burra. Enganei-me, ela é burra da cabeça aos pés; burra loira. maitê está velha, tem rugas, perdeu a juventude, a frescura, a beleza, está feia, coitada. Penso que nunca terá vindo a Portugal para apresentar um espectáculo seu, nem para os desfiles carnavalescos me parece que tenha sido convidada. Há no seu «humor» um cheirinho a despeito. Devia ter pensado primeiro nos milhares de brasileiros que vivem e trabalham actualmente em Portugal. Veio ao nosso país para achincalhar, gozar, humilhar os portugueses; pois veio mas nem sequer foi reconhecida nos locais por onde andou, quem se lhe dirigiu a pedir um autógrafo, ninguém! Da raivinha à decepção, foi só o tempo de filmar um três ao contrário em Sintra. Gostava de a ver fazer humor com o tema das favelas, onde se acoitam marginais e ditam leis os barões da droga, ou com o facto de ninguém estar seguro, correndo risco de vida, quer de dia quer de noite, pelas ruas do país donde vem esta serigaita, que se não fossem os portugueses andava a esta hora de tanga lá pela selva brasileira.
Não teve «intenção de humilhar e focou situações irrelevantes». Olha se a tipa quisesse humilhar e focar situações relevantes, como seria?! E já agora, deixem-se de tretas, “quem não se sente, não é de boa gente”, a sabedoria popular tem sempre razão.
Edie, o que ela fez não passou de uma sátira, utilizando um registo de reportagem. Não passou de algo típico dos programas de humor. E justifica-se porque no Brasil o tema dos portugueses é típico da comédia popular. Diz lá: queres proibir as anedotas de alentejanos?
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MJ, não ofende quem quer, também é outra máxima da sabedoria popular.
O que é penoso é constactar a ignorância de quem quer fazer do povo portugues estúpido. Se a Srª em causa, Maitê Proença, fosse minimamente culta saberia qual o significado do numero três invertido, em Sintra é bem capaz de encontrar muitos nas mesmas condições. Provavelmente se tivesse ido ao Jardim/Palácio da Regaleira, também em Sintra, era capaz de achar que estava num parque de diversões.
Como a Sr.ª não entendeu o significado e transmitiu o “achado” aos seus compatriotas, supostamente por achar que estaria a fazer uma piada com a nossa cara, presumo que poucos brasileiros também saibam do que se trata.
Quem é o ignorante nesta história?
O ignorante, Monica, é quem se sente ofendido com uma brincadeira.
Tem certeza?
Esta vai para MJ:
Não fossem os Portugueses quem sabe os ingleses tivessem aportado aqui e não seríamos esse país onde a corrupção e a roibalheira foram caprichosamente importados por Dom João VI. Todos os nossos problemas atuais são reflexo do povo SAFADO e CORRUPTO que colonizou o Brasil. Não é à toa que Portugal é um dos países que ainda sofrem com a CORRUPÇÃO e DESIGUALDADE SOCIAL.
QUE AZAR O NOSSO! (mas ninguém escolhe o pai que tem…)
abraços do Brasil!
Angelo deixe lembrar-lhe que o Zimbabue era colonia inglesa, e verdade se diga que lá não existem nem corrupção nem desigualdade social. SORTE A DELES!!
Não concordo em absoluto.
O que os «portugueses» ou «brasileiros» comentaram é lá com eles, mas o que ela fez foi demonstrar falta de classe, de jeito, de educação, de informação.
Aquilo não tem piada, a não ser para ela e para o seu «grupo de amigas». Eu, pessoalmente, não tive qq vontade de me rir, muito pelo contrário.
Angelo,
Você deve estar a falar dos americanos que, de facto, vos colonizaram com os petrodolares, exibindo as ” verdinhas” nas zonas chiques dessa terra, sustentando o maior puteiro da América do Sul!
Só um povo totalmente incapacitado pode por a culpa em D. João para justificar anos de vadiagem, putaria e cachaça. Atributos que ainda hoje são a vossa imagem de marca! Ler um brasileiro falar de desigualdade e corrupção, em país alheio, dá vontade de rir!!!! Verifica sua história contemporânea e encontra um exército de corruptos, desde presidentes a senadores! Como diz o vosso Millor…” O brasil é óptimo, o serviço é que é péssimo!”
Como já escrevi noutros sítios, o vídeo é inócuo até ao momento final em que a actriz cospe numa fonte dos Jerónimos. Pois cuspir numa fonte pública é, para todas as pessoas minimamente civilizadas, um acto de má criação, ordinário e porco.
Se um visitante português fosse ao Brasil escarrar nas estátuas do Aleijadinho, no monumento aos Bandeirantes, na Igreja da Candelária, no Cristo-Rei, haveria algum brasileiro que tomasse tal por humor?
Ser civilizado, desenvolvido, moderno não significa tolerar tudo. Pelo contrário.
Em Portugal, defender os símbolos da nação é tido como reaccionário e bacoco; mas em países muito atrasados como os Estados Unidos, a Inglaterra, a França e o Japão é sinal de grande patriotismo. E no Brasil também…
O Brasil é um país tão á frente, que carroceiros como o Angelo até têm computador!
Monica, certezinha.
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Transiente, aquilo era para ela e para o seu grupo de amigos, para a audiência no Brasil, não para nós portugueses. E foi apenas uma peça de humor, feita com toda a estima.
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João C., a cuspidela não é ofensiva, é caricatural, é para gozar com o repuxo da estátua.
Val, cuspir numa fonte pública, seja por que motivo for, é sempre ofensivo. É algo que não se faz.
É a primeira vez que escrevo no seu blogue e desconheço a sua orientação política ou ideológica. Porém, estou certo de que é uma pessoa civilizada e não pactuaria com este tipo de comportamento, caso testemunhasse o sucedido.
Vou todos os anos ao Brasil, conheço bem as piadas de português e já ouvi muitas vezes a acusação «vocês roubaram-nos» «a culpa do nosso atraso é vossa» «deviamos ter sido colonizados pelos holandeses ou pelos americanos»
; posso bem com tais atitudes e dichotes, mas não suporto a má criação.
Cumprimentos
João Cerqueira
ide a merda , mais os q acham q aquilo e humor, algum de vos vive aqui no brasil?
ora ´porra tenham mas e sempre presente a nossa Patria
joao costa
João Cerqueira, para ser ofensivo o gesto teria de ter essa intencionalidade. Isto, no plano formal. Depois, teríamos de atender à subjectividade das testemunhas, onde para muita e boa gente a ofensa sentida remete para outros critérios.
No meu caso, teriam de se reunir condições excepcionais, litúrgicas e simbólicas, para que um pedaço de saliva – que sai com água ou seca ao ar – fosse ofensivo fosse do que fosse. O que me ofende são as tintas. Ver um desmiolado qualquer a deixar a sua marca num monumento, ou mesmo numa parede de um banal prédio, ofende os meus sentimentos ou a minha estética.
No caso da Maitê, estamos perante um registo iconoclasta, de desbunda circense para efeitos de registo vídeo e espectáculo televisivo. Ofensivo para alguns? Pode ser, claro, mas muito mais ofensivo, e para todo o Portugal, é a importância dada na comunicação social ao assunto – mesmo sabendo que o que está em causa é o sensacionalismo e as audiências.
Val,
Se alguém convidasse a Maitê para visitar a sua casa e da boca dela saísse um pedaço de saliva sem ela o desejar, tal não teria importância; mas se ela, por motivos simbólicos, estéticos ou outros, resolvesse soltar propositadamente esse pedaço de saliva no chão ou na tolha da mesa, suponho que qualquer um se ofenderia.
Quanto às tintas, sim, concordo consigo os gratitis deveriam ser criminalizados e seus autores obrigados, caso quisessem evitar a pena, a limpar a borrada. Ademais, o grafiti é, regra geral, kitsch e chunga.
Para mim toda a gente tem direito a cuspir, a sujar, a destruir_ mas que o faço dentro da sua casa e com o seu património.
João, como é óbvio no teu exemplo, e tratando-se da casa de cada um, sabemos lá nós o que seria ou não ofensivo, né? Pois iria depender de tantas circunstâncias! Mas uma coisa te posso garantir: se a Maitê, em minha casa, cuspisse no chão ou na toalha da mesa, aposto que ninguém se ofenderia. A menos que já estivesse tudo bêbado, claro.
Ao VAL,
Parece-me pelo conteudo das suas respostas a todos os comentadores que tem um complexozinho de inferioridade em relação a Nacionalidade Portuguesa.
Uma coisa é fazer humor, outra é fazer pseudo-humor derregatório e de mau gosto.Uma coisa é poder dizer certo numero de coisas em privado, outra é dizê-lo através de um meio publico ,como uma estação de televisão.
A senhora Maite não conseguiu ,dando-lhe mesmo o beneficio da duvida, ir além do vulgar e tudo isto não passou de um exercicio de mau gosto e pouca inteligência.Tal com o a Maite , sou de origem Portuguesa , mas não tenho nem a Nacionalidade Portuguesa nem Brasileira, mas independentemente dos erros da História não cuspo nem nos meus avós nem em patrimónios da Humanidade.Se existe alguém com complexos são os Brasileiros que continuam ,depois de mais de 200 anos de Independência a culpar os Portugueses das suas proprias incapacidades.Haja paciência
Tão querida a Maite e as outras! Já me fizeram rir até ficar de olhos molhados pela manhã. Vocês não vêm que aquilo está cheio de carinho por Portugal? carinho picante sim, e acho muito bem, para lavar cavernas,
beijos para ti Maité, e para as outras, fizeram-me rir gostoso,
e sentimental.
pim
A coisa tinha que chegar aos alentejanos e ainda bem porque os alentejanos cultivam a graça e gostam de ser chamados ao barulho. maitê é uma senhora brasileira. essas senhoras são diferentes das senhoras portuguesas. o meu primo januário (alentejano nado e criado) fez à família o seguinte relato da sua passagem pelo brasil, durante 10 dias e há 9 anos atrás: aquelas mulheres são uma perdição, lindas, têm todo o tempo do mundo tal como o Rui veloso, não vão a correr para o trabalho às sete da manhã, ficam muito cheirosas, de quatro e a abanar a cabecinha pela casa como o rafeiro do tio bernardino em dia de osso melhorado; quando querem visibilidade, ajuda nas teses, ou facilidades laborais pedem aos portugueses que, para além de tudo isso ainda as pedem em casamento (o que só eleva um homem), não fritam batatas e tornam-se vegetarianas para não cheirar a óleo requentado (acho que o januário lhe chegou a contar que a ti balbina fazia os fritos com um saco de plástico transparente na cabeça, todos nós nos lembramos disso), não usam cuecas king Size como as nossas usam, usam fio dental, leram e decoraram o dicionário porque levam à letra as palavrinhas todas- ao contrário das portuguesas que não percebem nada do que os homens querem e são tortas que nem mulas. consta que, já de olhos revirados, o primo januário sucumbiu com tanta sedução, mandou em pensamento a custódia (mulher dele) às urtigas, e já não a deixou falar mais.
Era isto que eu queria dizer como portuguesa provinciana duplamente mencionada: pela maitê e pelos portugueses que não são alentejanos.
Não achei grande piada ao vídeo mas daí a encontrar motivos para indignação vai uma grande diferença. Até porque é banal gozarmos com os hábitos do vizinho, muito frequente vermos os nossos humoristas ironizar com alguns dos nossos traços típicos e não raras vezes até ridicularizarem símbolos e figuras históricas. Parece que se formos nós a fazê-lo é até bastante salutar, demonstramos liberdade de expressão e capacidade de encaixe. Já os outros não têm nada que se pronunciar sobre o assunto. Muito menos se for um qualquer filho do nosso destino: é como se a sua maioridade fosse uma ofensa ao progenitor.
O abaixo assinado a exigir desculpas então é cá um atestado de provincianismo parolo do mais desenxabido que alguma vez vi. Ainda por cima sobre um vídeo com dois anos, ou só andamos devagar, devagarinho e parados ou somos mesmo atrasados.
A mim ofende-me mesmo é o Salazar ser eleito maior português de sempre em prime time. Mas aguento-me à bronca, que remédio.
E também são especialistas em ver auras e outras coisas transcendentes.
Nem os portugueses mais cultos escapam aos seus encantos fúteis mas eficazes… e vai daí desatam a dizer e a escrever dislates em defesa da sua amada e contra os conterrâneos: que a amada é que tem razão, os tugas são todos estúpidos e provincianos. E mais ainda por não acharem piada nenhuma a uma peça de humor tão inteligentemente elaborada e mais inteligentemente aida exibida – só lá em casa, no Brasil, que da aldeia global, a moça ainda não tinha ouvido falar…
tra.quinas,
A humanidade é parola, não há nada a fazer. Desde tempos imemoriais e sem limitação de fronteiras, as pessoas indignam-se quando alguém de fora ridiculariza (melhor tenta ridicularizar, o talento não chegou a tanto) as suas coisas de forma tão fútil e ignorante. Deve ser qualquer coisa relacionada com o genoma humano: eu posso insultar o que é meu (família, valores, país, equipa), mas um estranho não.
O que é especificamente português é achar que isso é xenofobia. Parece que somos o único povo “auto-xenófobo” e esta é que é a verdadeira diferença em relação ao resto da humanidade “xenófoba”.
Eddie, sendo assim devo ser alienígena.:) O que neste contexto só posso considerar como um elogio porque evitaria a parolice e quejandos. Mas acontece que não sou e penso que isto não passa de um jogo (sobretudo de interesses) em que, por vezes, alguns têm que se fazer passar por parolos. Por vontade ou por laxismo.
Como seres sociais que somos, um dos nossos grandes trunfos é o espírito de grupo de que falas. Nesse conceito, a identificação e a auto defesa são armas poderosas e eficazes. Mas devem ser utilizadas pela positiva sob risco de funcionarem em sentido contrário. Estivesse a decorrer um abaixo-assinado para promover a nossa História e Cultura no Brasil e não me verias a desdenhar do assunto. Agora, perder tempo e empenhamento com ninharias e novelas (que nunca apreciei especialmente) parece-me um disparate e só serve para valorizar pormenores de total insignificância.
Em relação à auto-xenofobia confesso que não percebi, mas sei que não tenho nenhum jeito para fazer de carneiro e alinhar em rebanho. Discordar de muitos, mesmo que sejam a maioria, não é ter-lhes aversão. Para isso já temos o Vasco Gracinha Moura :)
Também considero o abaixo assinado bastante ridículo e a dar demasiado peso ao caso, mas acho que a indignação pode ser um pensamento positivo. Não tem a ver com telenovelas, mas com clichés acéfalos sobre a nossa identidade, isso é que foi chato. Também não gosto quando os utilizam em relação a outros povos e penso que estes têm direito a manifestar o seu descontentamento.
Quando falo em auto-xenofobia é porque não reconhecemos esse direito para nós próprios.
A tipa precisava de um banho de publicidade e de sensacionalismo e conseguiu. Só quem anda muito por baixo se serve deste género reles de expedientes para que falem de si. Os portugueses que a defendem ou são caganças ou fazem tudo para lhe cair em graça de tão babados. Babados e velhos, pois nem vêem que a dona Maitê está uma carcaça.
isto são os velhos do Restelo. A Maitê continua gira porque isso não tem idade, que aliás não esconde, e divertida. Fico muito contente que tenha chocalhado o imaginário salazarento nacional. Camões teria gostado por certo, oh se teria.
As mulheres amorosas são assim: têm ideias vagas sobre assuntos profundos e se têm que falar deles falam com as ideias que têm, não vão fazer nenhum curso intensivo de profundidades, que não precisam delas para nada para serem lindas. E fazem um beicinho magoado a falar do técnico e do porteiro e do hotel. E esperam que o cuspo se solte para cair na água. E riem. Programas amorosos deviam ser feitos por mulheres amorosas. Mas não há programas destes nas redondezas.
«…se a Maitê em minha casa cuspisse no chão ou na toalha de mesa, aposto que ninguém se ofenderia», escreve o senhor Valupi. Não me convide para sua casa, já não vou aceitar. Não iria sentir-me à-vontade por pensar que toda a sua casa estaria conspurcada pelos seus convidados. Tenho regras e não costumo cuspir na toalha de mesa de quem me convida nem no chão da casa de ninguém, nem na rua. São opções de higiéne, respeito e regras da mais elementar educação. Quando escreve disparates assim, o senhor Valupi ou está realmente bêbedo, ou perde toda a razão e senso naquilo que diz, naquilo que disse e naquilo que há-de dizer. E se a Maitê tivesse um pingo de inteligência e conhecimentos gerais de cultura, saberia o significado daquele 3 invertido sobre a porta da casa em Sintra. Não é o único em muitas localidades de Portugal e tem uma razão de ser que a «cultura» de Maitê não atingiu, nem fez por isso. Quem sai ridicularizado, não é Portugal nem os portugueses, é o Brasil graças a uma brasileira que pensa ter o mundo a seus pés.
Carlos Gomes Pinto, o humor pode ser incómodo sem ter de ser considerado ofensivo. Quem é que define os limites do aceitável ou do inaceitável? Se consideras que a Maitê tem pouca inteligência, como é que te deixas ofender por alguém que tem pouca inteligência? Que raio de lógica é essa?
Tem mas é juízo.
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z, dizes muito e muito bem: ela foi amorosa.
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maria do carmo, brincar com os alentejanos é algo só possível de ser feito com afecto, e muito.
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tra.quinas, muito bem.
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J. Ferreira, não alinho na tua explicação. Ela apenas fez uma brincadeira para mostrar às amigas e à audiência daquele programa brasileiro, onde a peça passou sem qualquer problema por ser aquilo que é: uma sátira simpática e até algo infantil.
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lenor, excelente comentário.
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M. Carmo, e os guardanapos na tua casa estão autorizados a chegarem perto da boca dos convidados ou as tuas regras de higiene levam a que os guardanapos não saiam das gavetas sob pena de ficarem salivados por alguém mais mastigador?
Não faço xixi dentro de água quando vou à praia mas sei que isso não é generalizado, De vez em quando, e quando menos espero, calha-me um pirolito. Um horror!
A estatuária fontenária privada deste país tem dado especial destaque ao menino que mija para dentro do tanque. Não percebo porque a Maitê não tentou ironizar toda essa simbologia. E felizmente que não se lembrou das gárgulas medievais em que as puras águas pluviais saem pelo ânus de umas quaisquer nádegas carregadinhas de intenção. Ainda bem porque fezes a boiar no passeio deve ser mesmo muito inestético.
Sempre gostei de gozar com o lançamento de búzios que os brasileiros adoram, as vísceras de galinha fazem-me rir e não troco os Pauliteiros de Miranda pela Capoeira. Só espero poder continuar a fazê-lo enquanto estiver para aí virado.
A autenticidade, mesmo com erros ou como resultado de exorcismos próprios, tem uma beleza especial que devia ser mais valorizada nos dias que correm em que a principal motivação para a nossa actuação é o cuidado com a imagem que passamos. Não tarda seremos uma massa mole e pegajosa que vagueia pelo planeta ao sabor de tectónicas e climatologias diversas.
Não se canse, Valupi. Nada o pode salvar dos disparates que disse para se armar em bom, ou, melhor, ser da elite bafienta e retardada que teima em ser do contra porque é de bom tom.
Se ficar caladinho vai fazer melhor figura. Já temos a Maitê, porquê aturar dois, não me diz?
Admiro-me que, por snobismo se candidate ao «Óscar da Estupidez e da Vaidade Só para Contrariar». Acredito que vai ganhar.
M. Carmo, agradeço o teu apoio. Também espero ganhar, que eu perder nem a feijões.
Bom, temos a concluir de todas as intervenções que a peça da Maitê não chega a ser ofensiva, não chega a ser divertida, não chega a ser inteligente, não chega a ser profunda, não chega a ser culta, não chega a ser informada. A peça da Maitê é, pois um pouquinho de coisa nenhuma.
Caramba, esgotei a capacidade de falar sobre o nulo.
Bye.
Vamos lá por partes…O vídeo não revela exactamente que a Maitê é “…Amorosa, brincando com os estereótipos…”. Tem coisas ofensivas. Quando se diz que, a propósito do 3 invertido, se percebe que se está em Portugal, o que ela queria dizer é que não somos propriamente muito espertos. Se calhar até não somos, mas a questão não é essa…
Além disso, quando ela refere que há a idéia (no Brasil, certamente) de que os portugueses são esquisitos, e avança como pretensa confirmação um exemplo pateta, convenhamos que também não estamos num nível especialmente simpático.
Depois, temos o outro lado da moeda: as reacções tontas, destemperadas, estúpidas, de uma espécie de virgens ofendidas. Bem sei que vivemos em tempos de crise e qualquer episódio potencia desmesuradamente reacções que noutro contexto não teriam grande realce. Refiro-me, por exemplo à cuspidela. É óbvio para qualquer mente sensata, que a intenção dela era a de replicar a postura da figura central da fonte: O jeito da boca e o deixar escorrer a saliva não são exactamente uma eacarradela num monumento nacional. Não passou de uma tontice, sem quaisquer outras conotações…
Tratou-se apenas de um episódio infeliz, que devia ser tratado como uma travessura impertinente e infantil, mas apenas isso. As reacções que se lhe seguiram são de uma gravidade bem mais assinalável que o acontecimento que lhes deu origem…
Edie, fizeste aí um bom resumo.
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FV, se concluis estarmos perante uma travessura impertinente e infantil, então porquê optares por ver como antipático, pateta e, fica subjacente, pré ou quase ofensivo aquilo que, como reconheces, fazia parte de uma representação, de um jogo?
É que o nexo narrativo seguido implicava tentar fazer humor com os esteriótipos mais boçais. E é por não haver adequação entre a realidade e o que se lhe atribui que se gera o humor naquele contexto. O mecanismo é universal, e chama-se caricatura ou farsa. Se ela teve sucesso, se foi talentosa, essa é uma outra questão. Agora, estar a carregar a peça de uma intencionalidade moralmente reprovável é que revela fraquezas surpreendentes na nossa sociedade portuguesa. Enfim, se calhar quem está a falar não passa de uma minoria sempre mais vocal no culto das indignações. Só falta dizerem que a culpa do que a Maitê fez é de Sócrates.
Val,
Só te quero chamar a atenção para que o vídeo se destinava ao público brasileiro. Tenho muitas dificuldades em perceber como é que os brasileiros iriam interpretar o vídeo como uma inadequação “…entre a realidade e o que se lhe atribui..”, gerando-se o tal humor a que te referes.
Quanto ao resto, estou de acordo…
Mas, FV, os brasileiros que assistem ao tal programa, público de classe média e alta, cultos, conhecem muito bem Portugal. Estão informados, viajaram, têm amigos ou familiares em Portugal, e por aí fora. Eles gozam com a piada, não com a realidade. A piada nasce de ser uma provocação sem lógica nem matéria, não por ser um retrato ou uma análise. As brincadeiras com os portugueses, no Brasil, remetem para o princípio do século XX e décadas seguintes, onde entraram imigrantes que se dedicaram a certos sectores de actividade (as padarias, por exemplo, ou o imobiliário) onde obtiveram sucesso. Vinham do Portugal rural, enquanto o Brasil era já um país com urbes sofisticadas, cosmopolitas, enormes. O choque cultural foi grande. Mas é um pouco como cá com os galegos, que tiveram muito sucesso na restauração, onde para portugueses invejosos eles apareciam como alvo de vitupérios. São fenómenos universais, antropológicos.
De facto, o vídeo foi infeliz e feito tão naturalmente que nem ela julgaria o impacto que viria a ter, como se pode ver, dias depois.
Nota-se tanta naturalidade, (coisa que ela não está habituada, quando em representação) uma conversa sem qualquer jeito, que só podia servir para encher programinha (esse tal saia justa).
A meu ver, e calhando de mais alguém, ela não cospe, ao querer sim, imitar a fonte a deitar água.
Quanto ao ver Sintra como uma “vila_zinha”, de notar que Sintra tem, não sei quantas vezes menos habitantes, que o Morro dos Macacos (favela embutida no Rio de Janeiro) e quanto a mim, ela cingiu.se ao aspecto populacional.
As gafes, nada a acrescentar ao que foi ouvido no vídeo, e porque nem todos podem e são inteligentes, dei o tal desconto!… e não fosse o acto de representar a fonte, nem lhe teria dedicado um vídeo… http://www.youtube.com/sotvendo
eu acho que a Maite brincou como sempre existiram piadas com os portugueses, ela também fez algumas graças…é só isso, gente…todo mundo faz piadas com Portugal…