Na semana em que vimos Rui Rio, Manuela Ferreira Leite e Nuno Morais Sarmento a selarem a aliança com André Ventura – e, pelo alto protagonismo destas históricas figuras do PSD, podemos também adivinhar o acordo de Cavaco e Passos à utilização do Chega para se tentar obter uma maioria parlamentar nacional – não encontro nada mais importante para iluminar do que o recente texto que Noronha Nascimento publicou num boletim da Associação 25 de Abril: Investigação criminal: o vermelho e o negro
Trata-se da primeira vez, na minha memória, que alguém em Portugal ousa ser explicitamente objectivo e frontal acerca do que tem acontecido na Justiça desde 2008, ano em que Ferreira Leite chegou a presidente do PSD e em que Cavaco estava a menos de metade do seu primeiro mandato presidencial. Noronha é alguém com autoridade e responsabilidade directas nas questões e casos que trata no artigo, e com o especial dever de contar o que lhe chegou ao conhecimento para que esses factos sejam usados como baluartes do Estado de direito democrático. Parece um bocadinho diferente, portanto, de um badameco irrelevante como aqui o pilas a teclar para três ou quatro malucos num arcaico blogue perdido numa viela da Internet. Por isso mesmo, não consigo esconder o consolo de ver confirmado por uma personalidade com a importância funcional e simbólica do antigo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, que se tornou um alvo político da direita e da indústria da calúnia só por ter resistido a uma golpada cumprindo a Lei, tudo o que intuí apenas pela recolha da informação pública. Tudo e ainda mais.
O retrato do regime com que se fica ao chegarmos ao fim do seu implacável exercício é assustador. E precisamente por ser à prova de calúnias, por se oferecer à confirmação pelos seus pares, pelas autoridades, pelos cidadãos. Tanto que a única reacção que obteve na imprensa veio do Observador, com o pidesco Luís Rosa e o folclórico Miguel Pinheiro a trazerem sacadas de canalhices embrulhadas em sórdido ódio político para o ligarem a Sócrates e a Ivo Rosa. Mais nenhuma voz da opinião “de referência” fez referência a um juiz que grita no meio da praça estar a Justiça dominada por corruptos que a utilizam para atacar e destruir alvos seleccionados. Como explicar o silêncio dos partidos, dos deputados, do Presidente da República, da sociedade, dos fogosos editorialistas com as mãos negras de tanto auto-de-fé que incendiaram contra os “políticos corruptos”, face a esta denúncia vinda de quem estava no topo do sistema de Justiça blindado pela sua independência e teve acesso a todos os materiais necessários ao fundamento da legitimidade e veracidade das questões que levanta?
Infelizmente, explicar esse silêncio leva-nos de novo para Ventura e para a capitulação de Rio à mais obscena decadência política, cívica e moral. O “Sá Carneiro reencarnado num racista cuja missão política está profundamente ligada a Fátima” é como aquele mafioso que cresceu numa organização criminosa na mão da “gente séria”, pessoas respeitadíssimas por outras respeitadíssimas pessoas, e que depois começou a avariar dos cornos e a cometer crimes cada vez mais horríveis. Até que se sentiu tão forte que saiu para criar o seu próprio bando de facínoras. A “gente séria”, obrigada pelas circunstâncias a manter um certo teatro de aparências sob pena de toda a farsa ruir e perderem os holísticos poderes fácticos, não pode imitar o Ventura, por um lado, e passou a temê-lo, pelo outro. Então, recorreu à mais velha das lógicas, “se não podes vencê-lo, junta-te a ele”. Isto faz óbvio sentido – quando só o poder pelo poder é que dá sentido à política. Tal como sentido fez, até 2015, ver a esquerda pura e verdadeira a alinhar com esta direita decadente no ataque e desgaste do PS através de golpadas judiciais e supremacia mediática. Louçã denunciou a “Inventona de Belém”, honra lhe seja, mas essa fica como a excepção à regra da passividade apoiante (a esquerda pura e verdadeira não morre de amores pelo Estado de direito, artifício imperialista, é sabido).
O enigma, que vai a caminho de se tornar num mistério, é o do silêncio cúmplice do PS para com os criminosos a quem pagamos para serem procuradores e juízes em nome da República e em nome da Constituição. Aqui fica uma pista, para os valentes: nunca iremos ouvir Ana Gomes, campeã da luta contra a corrupção (ahahaha), a sequer citar Noronha Nascimento.
Página 8 a 33 do pdf, longo mas muito importante ler!
ui meri espero que o pacheco pereria também leia…
Valupi em paroxismo de dissonância cognitiva. Não há mistério algum: se o PS colabora, por acção ou omissão, com a direita e correlativa indústria da calúnia é porque o PS está, desde sempre, comprometido com a agenda política da direita. O resto é embirracao antiga com PCP e BE (a chalaça “esquerda pura e verdadeira” não será mera coincidência).
Ola,
O texto do Noronha Nascimento é interessante. Noto que a tonalidade geral é de apelo à responsabilidade e de advertência contra a instrumentalização da justiça, que é um perigo inerente a todas as formas de justicialismo. O que ele diz sobre o processo face oculta – apos ter o cuidado de salientar que não se pronuncia sobre os outros processos que involvem o ex pm – esta pejado de razão. Não apenas sobre as escutas. A propria ideia de um crime de “atentado contra o Estado de Direito” com base nos factos que foram noticiado era, e é, claramente fantasiosa e apenas mostra uma falta preocupante de sentido do que deve ser a lei penal. Lembro-me de ter comentado na altura, aqui neste blogue, dizendo exactamente a mesma coisa, creio que a proposito de uma boca infeliz do Freitas do Amaral.
O que eu retenho é que a preocupação da eficacia da acção penal, nomeadamente em termos de combate à criminalidade em colarinho branco, é provavelmente a consideração n° 1 a ter em conta para lutar contra o justicialismo. Uma justiça que pode facilmente ser instrumentalizada, logo desvirtuada, so beneficia a delinquentes. O justicialismo consiste precisamente em pôr completamente de lado este imperativo de eficacia para pedir à justiça o que lhe é impossivel dar imediatamente, mas que é demogicamente facil prometer para depois de amanhã (e, sobretudo, depois da entrega do poder aos demagogos).
Leiam que vale a pena.
Boas
“Lembro-me de ter comentado na altura, aqui neste blogue, dizendo exactamente a mesma coisa, creio que a proposito de uma boca infeliz do Freitas do Amaral.”
pois, eu lembro-me de encheres os caixotes de comentários com elogios ao ministério público e a dares graxa à corporação. quando o gajo publicar o que pensa dos outros processos que envolvem o ex-primeiro ministro voltas com a mesma conversa do eu-já-tinha-dito-o-mesmo.
vai pró caralho e quando lá chegares diz que fui eu que te enviei que os gajos fazem-te desconto.
f, começo a desconfiar que chegaste muito recentemente à descoberta da existência de uma coisa chamada “dissonância cognitiva”, daí ainda não perceberes bem quando e como se aplica.
Já agora, diz aí à malta qual é a “agenda política da direita” em que estás a pensar, please.
Querido Inacio,
Podes verificar por ti, foi neste post :
https://aspirinab.com/valupi/senhores-da-guerra/
(caso o link não funcionar foi em 01/01/2010)
Se encontrares comentarios meus de graxa a não sei quem, xuta ai para a gente ver, mas eu acho que deves estar a confundir. A coerência é uma arte dificil e é muitas vezes considerada neste blogue como lingua estrangeira.
Um beijo para ti
Boas
A malta começa a desconfiar que Valupi estará quase a descobrir que o PS não é socialista, apesar de ter socialista no nome.
f, o que é o socialismo?
“um badameco irrelevante como aqui o pilas a teclar para três ou quatro malucos num arcaico blogue perdido numa viela da Internet”
Não sejas modesto caro Val, não sejas modesto.
Eis a forma de Valupi (e de muitos mais) tentar eliminar a dissonância. Boa sorte com isso, camarada(s)!
fui ali saber e
1- cala-se porque quer que toda a gente esqueça que alguma vez tiveram alguma coisa a ver com pinocrates
2- cala-se porque tem imensa vergonha do dito , logo qualquer assunto que toque , mesmo que remotamente , o leproso , é olimpicamente , e bem, ignorado.
esclarecido?
Jafonso, tens razão, vou corrigir: “quatro ou cinco malucos”.
Não admito ser ignorado! Comigo são pelo menos seis!
pois, mas tu vens cá ler os comentários que fazem à verborreia que debitas. portantes só constas na lista do entulho.
Obrigado conterrâneo e amigo Martins Guerreiro por finalmente haver alguém que dá voz a pessoas sérias e conhecedoras dos factos tal como eles foram e não como são contados.
A história das “cassetes” é exemplar e, diga-se, que LNN foi o homem que mesmo no meio da barragem de fogo contra o governo e as instituições democráticas dos pequenos aprendizes maquiavélicos, teve a coragem de denunciar e mandar destruir as “cassetes”, precisamente porque não continham nada de nada como prova do que quer que fosse e, claro, muito menos de um “atentado contra o Estado Direito por via pacífica” que como explica o jurista é em si mesmo um absurdo.
E mais uma vez fica provado o fanático ressentimento maquiavélico e vergonhoso de Pacheco Pereira quando exigiu ler pessoalmente as ditas “cassetes” e ao fim de dias veio publicitar que estava lá tudo para provar o trombeteado “atentado”.
Creio que num comentário neste blog argumentei que se estavam lá as provas assim tão claras porquê PP não fazia a identificação dessas provas e levava-as ao MP.
Claro o PP foi aos media e disse e depois… nada. Nada não, ficou dito.
Esta era a táctica geral dos pulhas; dizer, confirmar insinuações, inventar e incriminar secundando o “cm” e a estratégia maquiavélica da acusação e do MP.
Realmente o tempo está maduro para o contra ataque e desmontar a paranóia inqualificável montada pela falsa justiça do MP que usou e abusou do poder outorgado pelos cidadãos para enganar os mesmos cidadãos sob a benção do velhaco Cavaco, Presidente e sua corte.
Será que no PS já não há tempo histórico para o aparecimento de um corajoso novo Mário Soares que levante a bandeira e queira repor a verdade dos factos e acusar os verdadeiros fautores da fraude?