A entrevista de Marcelo ao DN gerou uma curiosa polémica negativa. Negativa no sentido em que se está a discutir algo que apenas se consegue definir negativamente, descrevendo a sua ausência. No caso, é a ausência do que alguns comentadores gostariam de ter encontrado e não encontraram e do que outros dizem ter encontrado e não se encontra: alguma declaração para usar como arma de arremesso contra o Governo.
Estamos no período mais intenso do dolce fare niente. O País está a banhos. Condições óptimas para uma típica discussão bizantina. Mas será só isso? Será apenas mais uma crise de azia naqueles que desesperam com a gestão paciente e teatral do calendário eleitoral por parte de um actor que poderá estar a aprender um papel novo no acto mesmo de representar uma peça cujo enredo está desactualizado e para que foi outrora escolhido precisamente pela sua popularidade e dotes histriónicos?
Paulo Baldaia, protagonista principal desta polémica, já despachou dois textos sobre o assunto. No primeiro, O “momento” de Marcelo, declara o seu alinhamento com Vítor Costa, uma das vítimas azoadas pela falta de combustível conspirante nas frases saídas da boca de Marcelo. No segundo, O que se disse sobre o que disse e não disse Marcelo, embirra com Sousa Tavares e Louçã e apresenta-se com o orgulho ferido. O registo é de tertúlia, Baldaia tenta ripostar imaginando que existe uma audiência interessada na sua defesa perante o que lhe parecem críticas ao seu trabalho como entrevistador, editor e director – ou talvez estado-se a marimbar para a putativa audiência, servido o jornal onde escreve tão-só como meio para o jogo de espelhos em que se concebe como figura pública.
Espremendo o que o director do DN diz e repete, a sua mensagem resume-se a esta brilhante ideia: Marcelo, por agora, não vai fazer nada contra os interesses do Governo; mas, atenção, Marcelo, num destes dias, poderá fazer alguma coisa contra os interesses do Governo. Este simplismo interpretativo, nascido da auto-infligida necessidade de dizer coisas só porque assim o dita a convenção e a vaidade, transforma-se em hermenêutica pirata na ênfase dada a estas tautologias: “É grave. Não desdramatizo, é grave.” e “Se há responsabilidades, tem de haver responsáveis.” Para o entrevistador, estão aqui os sinais de que Marcelo está a pedir cabeças de governantes servidas em travessas, com ou sem molho. Para quem estime os humildes mas nada modestos preceitos da lógica e da gramática, Marcelo está é a dizer que não se pode desdramatizar aquilo que se calhe considerar grave, num caso, e a explicar que incluso no conceito de responsabilidade, atributo exclusivamente dos seres conscientes e dotados de vontade ou de entidades onde esses seres exerçam funções, está o conceito de responsável, no outro.
Marcelo não exibe a pulsão odiosa e golpista para onde Cavaco foi empurrado pela oligarquia quando o império bancário desta começou a ruir em 2007 e 2008. Marcelo também não precisava de ser Presidente da República para se sentir feliz da vida. Pelo que aquilo que começou por ser apenas uma luxúria e um oportunismo, a sua candidatura presidencial tantos anos em preparação na TV, pode levá-lo para um percurso de verdadeiro estadista. Por agora, ainda é cedo para o sabermos, embora tudo aquilo que tem deixado a direita fanática em polvorosa seja a expressão de um exercício do cargo onde o interesse nacional está a ser respeitado como primeiro e principal critério de intervenção e decisão. No entanto, a futilidade dos exercícios como os de Vítor Costa, Marques Mendes e Paulo Baldaia apenas se foca na intriga. São como meteorologistas que se limitam a observar o tamanho da Lua para descobrirem se vai chover ou fazer sol.
Talvez não venha a propósito, mas, até parece impossível depois de tanto tempo passado, cada vez tenho mais saudades de jornais como o Diário de Lisboa e o República, e revistas como a Seara Nova e a Vértice. Até quando?
não há sábado sem sol, domingo sem missa, e nem presidência como a Marcelista. viva o querido Marcelo! :-)
então , deixa cá ver … …. ….. o marcelo passou de besta a bestial aqui no aspirina !!! ainda bem , costuma ser ao contrário :)
Huuuummmm!
Marcelo?
Huuuummmm!
Foi chefe do PSD!
Huuuummmm!
Na TV (nos comentários) O PSD tinha sempre nota 16 ou mais…
Huuummmmm!
Pelo sim pelo não, vou vestir as cuecas de lata….
Marcelo foi mesmo entrevistado?
As perguntas mais manhosas foi ele próprio quem as fez a ele próprio…e respondeu!
Mas que coisa!
O ‘Dolce fare niente’ domina a política lusa e da UE há décadas. Quem detém o poder nada quer mudar.
É uma regra universal. A primeira vez que estive no PRÓS E CONTRAS afirmei que onde não há E-volução, há grande risco para uma RE-volução. Mas parece que a enorme simpatia do povo Português e a sua facilidade em se adaptar e seguir regras com as quais não concorda, desenvolveu um sistema de ‘cunhas’ que protege alguns indivíduos da vontade de FAZER e não só REFILAR. A maiorias dos que FAZEM emigram em fases de enorme depressão, como nos idos -60 e -70. E agora, quando em cinco anos perdemos 242 mil dos nossos melhores técnicos.
Quando teremos um novo 25 de Abril? Ou continuaremos a aguardar o 25 de Dezembro ad eternum?