Não é preciso “ser do PS”, “gostar do PS” e “votar PS” para reconhecer a importância crucial do PS no regime democrático nascido com o fim da ditadura e com a vitória sobre a nova ditadura que se preparava. Essa importância é tão grande que o sistema partidário se organiza implícita e mesmo explicitamente como um jogo de todos contra um. E neste “todos” devemos incluir o próprio PS, que parece ter nos últimos anos adquirido uma pulsão autodestrutiva.
A temática dos “erros” da governação socialista entre 2005 e 2011 é o terreno onde essa pulsão é mais insidiosa e donde se geram vastas consequências. Aparentemente, o tema é banal, pois desde que há política que as oposições fazem campanha apontando os erros dos governantes que pretendem substituir, sejam os tais erros agitados factos ou mentiras. Esses erros, na sua concepção mais benévola, serão ideológicos, correspondendo à competição entre diferentes formas de organizar a sociedade e compreender o mundo. Este é o domínio da ideologia, e poderíamos ficar felizes e contentes se o debate entre partidos e políticos não saísse dos seus limites. Porém, a dinâmica agónica da disputa política invariavelmente leva as oposições a estenderem a mesma acusação para os domínios morais e pessoais, quando não para os legais (como tem feito a direita portuguesa desde 2008 e continua a fazer na “Operação Marquês”). Trata-se do lado mais nefando da prática política, sem qualquer antídoto conhecido para além do exemplo individual.
O que confere um carácter crucial à temática dos erros dos Governos socráticos, e isto 4 anos após a sua saída do poder, é a questão relativa às causas da crise política que levou ao resgate de emergência em 2011. O assunto surge espectacularmente ridículo por ser óbvio o logro que ocorreu quando direita e esquerda se uniram para chumbar uma solução que evitaria no momento a perda da soberania e a chegada ao poder de uma direita decadente e punitiva. Nenhuma das razões invocadas ao tempo por essa coligação negativa tem hoje qualquer legitimidade, os resultados mostrando o contrário do que apregoaram ser o melhor para o País e para os portugueses. Então, como é possível que PSD e CDS tenham desde princípios de 2012 passado a massacrar o PS diariamente com a cassete da culpa pela “bancarrota”, que não existiu, e pelo “Memorando”, que foi alterado para pior por Passos e Portas sem o PS sequer ter sido informado? E como é que a esquerda pura e verdadeira foi reflectindo sobre o seu fundamental contributo para estes 4 anos de empobrecimento material e moral?
É chegados aqui que temos de nos voltar para o PS. Este é o partido que elegeu como sucedâneo de Sócrates uma patética figura que não só se recusou a ser aquilo que exigia sonsamente aos outros, transparente, como ainda por cima levou o partido para uma cumplicidade cada vez mais obscena com os carrascos que enganaram radicalmente o eleitorado e traíram o interesse nacional. Afastado do poleiro por quem promete reconduzir o PS à sua tradição republicana de coragem e liberdade, estranhamente, bizarramente, perplexamente, mostra não ter na sua agenda o ponto relativo à justiça por fazer sobre o que se passou nos idos de Março de 2011. E, concomitantemente, tem-se ficado por críticas vagas e pífias à governação socialista da qual chegou a fazer parte. Resultado: aquela massa enorme de eleitores flutuantes, mais os indecisos, mais os que estão sujeitos à pressão mediática de sentido único, tendem a identificar-se com os infantilismos para broncos que a direita serve caudalosamente e que Passos assume com bandeira principal do seu discurso e pose: os socialistas são loucos e/ou corruptos, deram cabo disto com dinheiro esbanjado em pobres e alcatrão, nós salvámos Portugal porque os xuxas nem o Memorando teriam conseguido cumprir, e agora temos de evitar que os loucos e/ou corruptos voltem senão vai ser o caos.
Correia de Campos fez um pequenino exercício do que deveria ser uma táctica colectiva do partido:
O PS não deve enjeitar responsabilidades passadas. Por ela pagou o afastamento do poder, muitas acusações injustas e esquecimentos oportunistas. Foi forçado a assistir à omissão de que até 2008 se recuperou crescimento e reformou a administração, a universidade e a ciência, a Educação, a Saúde e a Segurança Social. Criaram-se fileiras produtivas ligadas à energia de que agora o país colhe frutos. Investiu-se pesadamente na refinação, na indústria papeleira e na aeronáutica, que hoje ufanam os que delas descriam. Prosseguiu uma silenciosa revolução da agricultura que mudou padrões, empresários, exportação e criou a base para a auto-sustentação financeira do respectivo produto. Tal como a formação profissional, a modernização do secundário contra ventos e marés do sindicalismo de sector, abençoado pela direita. E sobretudo a formação superior com doutoramentos, projectos e parcerias internacionais que nos emparelham com o que de melhor se faz. Também se cometeram erros, que os detratores se não cansam de ampliar. Talvez se tenha deixado prolongar a crença nos equilíbrios automáticos e na solidariedade europeia. Fiámo-nos na sorte e não corremos quando devíamos. Acreditou-se que o grande capital doméstico tinha o mesmo patriotismo que os peões da lide, que a ganância era estigma reservado aos milionários americanos e que o mundo se havia de recompor num patamar sempre superior. Admitiu-se, tempo de mais, a solidão governativa como sinónimo de eficácia na acção.
Cada um desses “erros” enunciados por Campos carece de mais explicitação, e análise, e crítica, e debate, claro. Uns concordarão, outros não, inteligente e inevitavelmente. Mas ao se discutirem os “erros” adentro da esfera de responsabilidade política do PS está-se a desmontar a retórica para borregos da direita e a oferecer ao eleitorado uma alternativa intelectual que pode ser o que está a faltar a muitos para uma decisão. Seja qual for o ponto de vista, o PS tem todo o interesse em retirar aos adversários o monopólio do discurso sobre “erros”, “bancarrota” e “memorando”. E já vai muito tarde, se é que chegará a ir.
sai uma manif de apoio ao governo
“Presidente da República apelou este sábado para a “necessidade imperiosa” de agir no que diz respeito ao combate à apatia cívica e a indiferença dos jovens perante a atividade política.”
http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-05-16-Presidente-apela-ao-combate-a-apatia-civica-dos-jovens
Ditadura. Que palavra interessante. O que é a ditadura? Os Partidos são ditadura? Que promovem os partidos, senão uma ditadura «ou votas como decidimos, ou então comes…».Isaltino, pá, foste ao pote mas deste ao povo pá, limpaste a casa para todos, pá, e borrifaste-te para o partido. Acho que devias ser mais lembrado, pá.
Costa tem de ter a coragem de desmontar o discurso mentiroso da bancarrota. Os governos de Sócrates fizeram muito e muito bem pelo país. O cavaquistâo que se lhe seguiu ainda não conseguiu destruir tudo. Mas pouco falta. O Costa que diga isso alto e bom som e, sobretudo que o demonstre.
A coligação vive no passado e tudo tem feito para que os portugueses
voltem para antes do 25 de Abril de 1974 aliás, em alguns importantes
aspectos, como as relações laborais já lá estamos novamente, com cul-
pas para os sindicalistas que se perpétuam nos lugares de topo e que,
vão fazendo alguns fretes ao desgoverno que nos assiste!
Compreende-se que, o PS queira falar no futuro mas, não pode deixar
os estarolas a recitar a lenga-lenga da bancarrota e, mostrar aos portu-
gueses qual a contribuição dos sequiosos do Pote para a vinda da troika!
Melhor, deve explicitar o que pensa sobre o funcionamento da Justiça,
designadamente, as magistraturas que parecem andar em roda solta,
para quando uma avaliação de desempenho dos magistrados dos dois
ramos? Competência é o que o País precisa para se desenvolver, os
corporativismos tiveram o seu tempo no século passado !!!
ui, ui, ui. já não há corporativismos e o país precisa de competência. Sugiro que se aproveite os autores dos «parexeres» que por aqui são depositados, sobretudo os que se prendem com a justiça…hum, tantos «dótores» por aqui…. «já virem»?
Val, querido, a Olinda está contigo: mais val, a más horas, agora. :-)
Valupi, apesar de ter de descontar a tua tão publicitada antipatia por AC, julgo que estás a ser injusto, o homem já defendeu várias vezes a obra do governo de Sócrates.
Por exemplo, dia 9 de Maio pp:
“Governo não foi capaz de conviver com as marcas de sucesso da governação socialista porque chegou ao poder e “destruiu” tudo o que estava a ser feito.”
See more at: http://www.ps.pt/noticias/noticias/e-preciso-reacender-a-paixao-pela-educacao.html#sthash.kGvXpfKl.dpuf
Eduardo J, o texto não versa principalmente sobre a defesa da obra dos Governos Sócrates. Trata-se antes do exercício que Correia de Campos faz no parágrafo citado, onde assume falar de “erros”. Ora, Costa também já se referiu aos “erros” socráticos, tendo ele dado ênfase aos “erros” na Educação, mas fê-lo a fugir e só num aspecto que nem sequer é alvo da direita. A hipótese que coloco é a de essa recusa em enfrentar de frente a crise política de 2011 estar ao serviço do PSD e CDS que continuam a repetir a cassete sem contraditório.
Para uma parte do decisiva do eleitorado, o PS tem comido e calado, o que deixa a imagem de consentir a versão dada pelos pulhas, de ser “culpado”.
Também preferia que assim fosse, que o PS tivesse os meios para pôr outra cassete a tocar.
O problema é que a sua voz mais incómoda está entre grades até que os meritíssimos queiram e, nesta abençoada plantação à beira-mar, não existe um Guardian, um Liberation, um El Pais, um Le Monde, um Jornal, um República, nem sequer um Daily Show. Tudo lhes é permitido porque o que é papel, rádio e tv está ser dirigido por papagaios da tal narrativa que queres ver contrariada.
Faz-se o que se pode.
Que se ganhe eleições que o tempo e o fim de ciclo hão-de repor a verdade histórica, pelo menos assim o espero…
Como diz o Carrilho, enquanto não expulsarem o Sócrates o PS não tem legitimidade
enquanto citar o Carrilho, o Parolus não tem qualquer legitimidade.
Hum, enquanto o PS albergar suspeitos, ex de suspeitos com linguajar ameaçador e peixeiras frustradas por terem que gramar com o período todos os meses, o PS não tem legitimidade…
ó labrego, aplicando a tua tese ao espectro politico neo fascista, que te é caro, não sobra nenhum, vai tudo de cana. São todos suspeitos!
Ó LIAOE esqueceste-te de te incluir pá. Gajos como tu deviam estar bem escondidos para não contaminarem a democracia – que, por ora, é marreca…viva Salazar. Eis que se ele estivesse presente, teria já limpo a pinocada toda e aqueles que a permitem…precisamos de um novo Estado e de um Estado Novo.
Btw, labrego és tu, que te contentas com o estrume dos que te encarneiram…
subscrevo as preocupaçoes de valupi.aconselho os inimigos do governo de josé socrates,a verem como com todos esses “erros” o governo anterior,só não ganhou as eleiçoes,por que apareceu uma pulha chamado passos coelho a prometer o melhor do mundo aos portugueses. mesmo assim a vitoria só na parte final da campanha se começou a desenhar.se alguem duvida, vejam as sondagens da catolica. paulo portas apercebeu-se desta realidade e por isso só na parte final da campanha disse que não fazia governo com o ps. a partir desta declaraçao e do silencio dos pulhas que se dizem defensores da classe trabalhadora (pcp e bloco) as sondagens deram um grande volta a favor de um governo de maioria mesmo com coligação. com todos os erros se tivesse aparecido alguem a dizer o que o LIVRE está disposto a fazer,(fazer maioria com o ps)a direita e o presidente da republica estavam hoje no julio de matos a tratar de uma depressão aguda!
numbejonada,vá ao rol de gatunos do psd para ter mais contenção no seu comentario.o caso socrates ainda está por provar.os casos da direita são do conhecimento de todos os portugueses,por que sentiram na pele as suas malfeitorias. o recente caso do marco antonio costa (vice presidente do psd) vai agora ser investigado,apos denúncia de um dirigente do mesmo partido.os casos neste governo se houvesse decencia,já não havia ministros suficientes para jogar uma partida de sueca.numbejonada pf. tenha um pouco de pudor nos seus comentarios.
Caro fifi,
Contenção é algo que os IGNORANTEZES de serviço não têm. Nem aqueles que estão incomodados com a prisão preventiva de alguém, ao ponto de injuriarem publicamente a autoridade. Agora os tempos são de facto outros…
numvejonada,não ponho as mãos por ninguém,mas faça o favor de reconhecer que algo vai mal na justiça.saem quase todos os dias, noticias nos jornais ou revistas do mesmo empresario estranho não é ? por que será esta deferência?( correio da manhã e revista sabado ) mas uma acusação que justifique a prisao pelos vistos ainda não há nada só o perigo de fuga…. era bom que avançassem com uma prova para os portugueses ficarem convencidos .
“numbejonada”, gostava que me explicasse esta afirmaçâo ” agora os tempos são de facto outros” .
Meu caro,
Eu não perco tempo com as notícias dos jornais, porque estes não são o PROCESSO.
Já me expressei em abundância sobre os objetivos de uma investigação criminal, conhecidos do arguido. Este, porém, como não está de boa fé, explora a ignorância do português leigo e escora-se na «perseguição política». O mais estranho é que quem o assessoria ou é ESTÚPIDO ou simplesmente é mero pau mandado, pois não compreendo como é que advogados se deixam «entalar» com romarias e hilários como os da Fava.
Sim, os tempos são outros, pois não acredito que as prescrições processuais voltem a emergir como acontecia há algum tempo atrás. E acredito plenamente que TODOS os que foram ao pote indevidamente serão trazidos à justiça, independentemente da sua cor política.