Louçã anda a escrever todos os dias e a fartura é tanta que até lhe deu para explicar o PEC IV à esquerda pura e verdadeira. Vindo do homem que declarou ser a sua recusa o “princípio da saída da crise“, está bem de ver que é prosa de especialista. Mas as ocasiões para discutir o PEC IV com os responsáveis pelo seu chumbo são tão raras que esta merece a nossa mais dedicada atenção. Bute lá.
Tudo se resume a um ponto: o PEC IV ser um conjunto de medidas de austeridade que jamais o BE e o PCP poderiam aprovar sem com isso estarem a abdicar dos seus programas e identidades. Esta lógica é indiscutível, vai por isso sem discussão, mas é também, e pela mesmíssima razão, um sofisma. Para se manter internamente coerente precisa de se separar da situação concreta onde historicamente se realizou, precisa de se transformar numa abstracção.
Abstracção é igualmente a acusação que se faz ao PCP e ao BE de se terem aliado à direita no chumbo do PEC IV para derrubarem o Governo socialista. É uma abstracção por não atender à anterior abstracção com que Louçã responde a esta. Quem tem chamado à sua responsabilidade BE e PCP, todavia, está a apontar para a situação concreta onde se decidiu ser preferível entregar o poder à direita do que continuar com ele nas mãos da esquerda – ou que fosse só nos dedos, no mindinho.
O argumento de Louçã é básico e não pode deixar de o ser sob pena de se esboroar. Louçã não se relaciona intelectualmente com o contexto de Março de 2011 e seus inerentes constrangimentos: Governo minoritário + pico da crise europeia das dívidas soberanas + política europeia sob domínio ideológico e formal dos fanáticos da austeridade radical + oligarquia portuguesa interessada no derrube dos socialistas assim que Cavaco fosse reeleito + oligarquia portuguesa interessada na vinda da Troika nas condições mais leoninas que fosse possível conseguir para a imposição do ataque ao Estado social. Louçã apaga a realidade por uma simples razão: apesar de tudo, é um rapaz que tem vergonha na cara – prefere esquecer que ele sabia de ciência certa que Sócrates estava coberto de razão quando, ainda a tempo, anunciou quais seriam as consequências reais da entrega do País à direita mais decadente que já apareceu nesta terra de marinheiros e fadistas.
A vitória de Costa deixou os sectários da esquerda pura e verdadeira num estado febril. Jerónimo começou logo durante a campanha das primárias a gritar que vinha aí o Belzebu, um taralhouco na bancada do BE convenceu-se de que alguém está interessado no seu ódio ao PS, várias figuras menores não se têm cansado de agitar as bandeiras do asco que sentem pelos socialistas, e Louçã foi pelo mesmo caminho, embora com mais originalidade, aqui ligando Costa ao PEC IV. O que estão a dizer em coro é que só aceitariam negociar com o PS caso este partido de direita assumisse que estava há 40 anos no lado errado da barricada. Ou tudo ou nada, propõem os guardas da revolução.
Teria sido, de facto, impossível aprovar o PEC IV com os votos do PS, BE e PCP? Estará para nascer duas vezes quem diga que seria possível. Mas podemos imaginar as condições de tal milagre. Começaria por uma reunião. Ou começaria por muitas reuniões. As reuniões serviriam para se fazerem trocas. As trocas teriam de ser exequíveis. Por exemplo, querer trocar o voto favorável ao PEC IV pela saída de Portugal da zona euro e da União Europeia não seria exequível. Querer trocar o voto favorável ao PEC IV por medidas que reforçassem o Estado social e a condição dos trabalhadores seria exequível. Exequível mas não imediatamente, pois o PEC IV estava a ir na direcção contrária por força de factores que escapavam ao domínio da soberania nacional naquela situação. Então, quando? Quando pudesse ser, é a resposta. E para o poder ser, os partidos que estariam a negociar esse acordo estariam no mesmo passo a negociar um acordo de Governo para o restante daquela legislatura e para a legislatura seguinte. O ganho imediato, portanto, era o de evitarem entregar o pote aos bandidos. O ganho mediato, o de se ver pela primeira vez em Portugal a esquerda a governar com a extrema-esquerda.
Mas milagre por milagre, teria sido muito mais fácil fazê-lo logo em Setembro de 2009. Nessa altura, houve mesmo reuniões. Uma com cada partido da oposição. Ainda não se sabia do estouro que a Grécia estava para dar e do terramoto que tal gerou na Europa. Apenas se sabia que PSD, CDS, BE e PCP concordavam no essencial: os portugueses iriam ser carne para os canhões dos traidores e dos sectários.
é curioso que o artigo se cinja à votação do PEC4. não fala do debate parlamentar, das suas próprias intervenções, da moção de censura que apresentou, da sua rejeição em falar com a troika, da sua rejeição em falar com o governo aquando das conversações pro Orçamento de 2011. não fala do antes e do depois. parece que isto foi uma cena que aconteceu num par de horas e pufff, chumbinho. e sempre a mesma converseta, é tudo e sempre “o PEC4 ter austeridade. nós não gostar de austeridade. nós chumbar PEC4”, sem compreender que as votações parlamentares têm quase sempre (!) consequências externas ao debate em questão, e de que as do chumbo desta era bastante óbvio: Portugal não teria dinheiro para pagar os empréstimos que venciam no Verão, sendo assim obrigado a pedir ajuda externa, demitindo-se assim, e como é óbvio, o governo (ainda estávamos no tempo em que as pessoas não se limitavam a pedir desculpa, demitiam-se quando as circunstâncias se alteravam) e abrindo caminho à maioria absoluta que ainda hoje suportamos. voltar a isto quatro Primaveras depois, só porque, coitadinho, sofre muito com as bocas que lhe mandam pela sua triste figura nesses dias, é que é incrível. até porque a explicação é tão porra de simples que enjoa: o PEC4 era uma coisa má que servia para a todo o custo evitar uma outra muito muito muito pior, como se veio a verificar. Louçã não percebeu este raciocínio na altura e ainda hoje não chega lá. que canseira, que tédio, que caduquice.
Caros Valupi e Crisóstomo,
Compreendam de uma vez que a táctica e motivação política do louçã e do jerónimo nada tem a ver com o facto do sim-PecIV ser o mar da palha perante o oceano atlântico que foi o não-PecIV em termos de austeridade. Eles, ainda antes de serem avisados por Vieira Da Silva e Silva Pereira no dia da votação, já haviam analisado, concluído e decidido, segundo as respectivas cartilhas ideológicas, que para os seus partidos era melhor a austeridade oceânica e dura que a austeridade suave.
Desde o Prec inicial do 25A que os ideólogos daquela espécie entendem que todos que votam no PS andam enganados e como tal merecem e têm de aprender, entenda-se ser castigados, por não se arrependerem, penitenciarem e seguirem o caminho do amanhã pleno de felicidade com dias de trabalho para o país diariamente, piqueniques continentais semanalmente e festas do avante mensalmente: a vida toda em festa e alegria no trabalho permanente.
Eles sabem que esta “cambada” da classe média que vota PS é o maior estorvo à progressão dos seus grupos de assalto ao poder, Eles sabem que, golpeando e enfraquecendo a democracia, um golpe ocasional e com sorte e trabalhinho de sua organização militante quase militarmente, podem tomar o poder e terão, necessária e imediatamente, de implementar a sua ditadura chamada democracia popular. E nesse caso a principal tarefa, e a mais difícil, é liquidar a classe média e proletarizá-la.
Ora, uma austeridade extrema conjuga todos os “bens” e “ganhos” em proveito do jogo dos louçãs e jerónimos do país:
– coloca a democracia em estado de sítio
– provoca a mais desvairada confusão política nas pessoas
– a maior aversão aos políticos e políticas que houveram
– cria o caldo de total anarquia e degenerescência democrática
– estabelece as condições “objectivas” e “subjectivas” do mandamento(m-l) para o golpe revolucionário.
Ou seja, o golpe revolucionário de extrema-direita, tal como a austeridade oceânica provocou cá e na Grécia, favorece e aproxima a possibilidade do contra golpe de sinal contrário.
É isto, na minha opinião, que determina a acção do jogo político de louçã e jerónimo e jamais quaisquer opções de relatividade de grandezas de maldade.
Eles, tal como o louçã faz agora e sempre, onde arranjar argumentos laterais e manhosos para se explicarem perante a opinião pública enquanto fazem o jogo democrático nas eleições e na AdR mas isso são apenas cortinas de fumo para descuidados.
Porra, que não sais dai. E o PEV V, o que se vai propôr amanhã em alternativa à politica da direita, como vai ser ? Vamos repetir a brincadeira e fazer exactamente igual ? Pelos vistos…
Ah, ja sei, vais importar da Coreia do Norte uns dirigentes “responsaveis” que vão ganhar as eleições internas nos outros partidos de esquerda e pugnar por uma fusão com o PS. Ja me esquecia…
Boas
David Crisóstomo, exactissimamente. E repare-se como ele tem o requinte cínico e hipócrita de dizer que Sócrates, depois do chumbo do PEC, só se demitiu porque quis. Que irresponsável do caralho.
__
jose neves, muito bem. Esse é que o materialismo dialéctico do PCP e quejandos, sempre a apostar no quanto pior melhor. Por isso, estar a tentar convencer comunas para o diálogo democrático e um compromisso de governação é o mesmo que tentar convencer um calhau a cantar ópera.
__
joão viegas, larga o vinho ou toma os comprimidos, o que te for mais fácil.
Loucã “sabia que Sócrates estava coberto de razão” !!! Pois sabia, como muitos dos portugueses sabiam mas todas as baterias estavam viradas para “matar” Sócrates, embora muita gente soubesse da canalhice montada.
Muitos assobiaram para o lado, mostrando a cobardia generalizada que se lhes pegou à pele e à alma !!!! calaram que é como quem diz “anuiram” !!!
Mas Louçã sabe que nós sabemos !!!!
Nunca o vamos desligar, a ele a toda e esquerda irresponsável do que se seguiu e nos conduziu e este “presente imperfeito” !!!
A direita estava pronta a montar a onda de “atordoamento” vinda do “ocidente” e cola-la ao Governo de Sócrates !!!
O tempo vai pôr no lugar muita coisa !!! O tempo e a inteligência dos portugueses !!!!!
o pec 4 alem de ser menos “austeritario” mantinha no parlamento uma maioria de esquerda.quizeram ir ao pote. foderam-se. louçã já se via como lider o lider do syriza em portugal, acabou na praça de taxi com os seus deputados.o pcp é um caso para psiquiatras analisarem.o mesmo comportamento com resultados diferentes!
Que gelatinosa e piegas lamúria. Que fedor a pieguisse e auto comiseração. Vitimizacao palonça. As comadres e viuvas chorosas do pestilento cadáver morto vivo socrático -tresanda ainda a snobismo manhoso, saloio e a uma colossal arrogância pedante como no sagrado dia que lhe fizeram a folha no parlamento (bem hajam mil vezes esquerda e direita ). RIP FDP
Enterrem essa MERDA de vez e vão à vossa vidinha de carpideiras dondocas …
à vidinha vais tu no proximo ano.ainda hoje, foram buscar um tecnico do governo socrates para a endireitar a justiça!joca a direita só chega ao poder graças a um partido que é uma aberraçao na democracia portuguesa.é uma especie de equipa b. do psd.quando os votos não chegam para governar sozinhos (e tem sido a maioria das vezes) bate à porta do paulinho e ele lá surge sempre disponivel para vender o corpo e a alma ao diabo!
A oposição ao Governo…Parece-me que passou a ser assunto secundário neste novo PS do costume: primeiro há que saber como ficam distribuídos os tachos e qual é a parte do pote que irá calhar a cada um nos vários cenários possíveis (isto, evidentemente, tem o objectivo de os tachistas saberem se vale a pena oporem-se ao governo ou não…). Depois, então sim, os tachistas “colocados” cerram fileiras ao Grande TACHO do governo, aí sim, todos “unidos” como uma grande família socialista!
O que aos Valupis deste reino incomoda , é que alguém afirme que o rei vai nu.
Ou neste caso , denuncie o que era na realidade o PEC IV.
Augusto santa ignorância…
Como bom demagogo o Louçã omite o essencial da questão. O PEC IV podia passar mesmo com os votos contra do PCP e do BE.
Bastava que estes não aceitassem fundir as suas moções com a da direita. Sim, bastava que a votação das moções tivesse ocorrido em separado. Mas não, o PCP e o BE acordaram com a direita fundir a primeira parte das moções – a recusa do PEC IV- e só votaram em separado os considerandos, fazendo o jeito à direita e derrubando o governo Sócrates. Se a totalidade das moções tivesse sido votada em separado, o PEC IV tinha passado, o PS sozinho tinha mais votos que a direita. Essa é, na minha opinião a questão que devia envergonhar esses ditos esquerdistas que não passam de aliados disfarçados da direita.
nem percebo porque é que discutem com a esquerdalha, o péquequatro rendeu ao bloco 1/2 dos deputados e tendência a desaparecer, os comunas vão levar o mesmo tratamento nas próximas eleições, é por isso que o loução de censura chia fino e o jeropinga se espuma quando lhes cheira a costa.
Em todo este continuado discurso de a culpa é do BE e da CDU pelo que se abateu em Portugal há como base um profundo desprezo pelos eleitores e suas decisões. No mínimo uma condescendência gigante, mas na realidade um grande aborrecimento pela democracia depender de … eleitores.
Não foi Louça ou o Jerónimo que puseram a direita no poder. Foram os eleitores. Os mesmos eleitores que vocês conseguem elogiar por devolver 1/2 dos deputados ao BE mas que nem mencionam por terem tirado o poder ao PS.
Como é que vocês resolvem esta salganhada sem achar que os eleitores são uma massa de brutos e ignorantes?
Para evitar dizê-lo vão batendo no BE e na CDU. A democracia é muito chata…
Eu gosto deste governo? Não. Nada. Mas chegou lá com eleições. Aceitem isso, percebam o que poderia ter sido feito diferente e cresçam um bocadinho.
A única vez que fui à Assembleia da República, ainda em 2010, Louça levantou-se e fez um elogiu a José Sócrates, que estava presente, e este, durante todo o discurso de Louça fez caretas, olhou para o lado, e nunca – NUNCA – sequer olhou para Louça.
Queriam depois que o salvassem?
Cresçam. Vocês não acreditam em democracia.
Se o Costa tiver compreendido, de uma vez por todas, que a nossa esquerda radical sempre teve e continua a ter o PS como inimigo principal, vai deixar-se de tentativas de diálogo com os esquerdalhos. Veja-se o Marinho e Pinto. Chegou à politica para disputar ao lado do PCP e BE o espaço da esquerda e, logo, sem a mais leve ponta de pudor, desata a atacar violentamente o PS-Costa. Pantanosos são Guterres e Costas, lembram-se? Assim fala Marinho e Pinto. A direita? Pantanosa? Que nos importa, se o inimigo é o PS?
E eu que pensava que Marinho e Pinto era …Pois era! Caiu-lhe a máscara e a vergonha na cara. Que trafulha! Isto está pior do que eu podia imaginar Assim percebo melhor por que Ramalho tem sido o padrinho carinhoso de Cavaco.
Ramalho Eanes, claro.