O João Lopes botou faladura sobre ele – Como publicitar um… penso higiénico? – e por excelentes motivos. Mesmo que se seja contra, por qualquer razão ideológica, saberá muito bem estar do contra perante algo tão brilhantemente pensado, brilhantemente produzido e brilhantemente realizado.
se os homens alguma vez tivessem sangues e tivessem de usar penso nos genitais seria o fim o seu mundo. às tantas, ser como uma mulher é mesmo isso: conseguir ser, e carregar, com alegria, com um mundo por fora do nosso mundo fazendo, ao mesmo tempo, o mundo dos outros.
mas há homens que são, um orgulho, bem mulheres. :-)
Um bocado pateta. Em que é que dizer, por exemplo, “my old grandmother looks like a girl” pode ofender alguém? Obviamente a única ofensa é ao reflexo pavloviano politicamente correcto que se pretende instituir.
Por exemplo, quando se diz que uma figura pública do sexo masculino se comporta de modo efeminado deverá isso ofender alguém? E se corresponder à verdade, e até à verdade exuberantemente assumida, deverá continuar a ofender?
Se alguém disser, por exemplo, que no último euro-festival da canção o cantor Conchita Bratwurst, apesar das suas barbas, tinha um aspecto efeminado por estar de vestido feminino e saltos altos, deverá isso constituir uma ofensa?
O que é ressentido, como de costume, é o contexto de anormalidade, quando se decreta que, por definição, a anormalidade não existe. Como se «anormalidade» fosse um conceito com implicações na esfera moral e não simplesmente do número e/ou da disfuncionalidade.
Já lá dizia o daltónico ao invisual que todas as visões são normais.
Para quem não está a perceber nada, convém ler o recente trabalho psiquiátrico (nos vários sentidos possíveis) que defende que no ensino infantil se ponham os meninos a brincar aos jantarinhos com as suas bonecas, e as meninas aos carrinhos e soldadinhos, indepentemente das suas preferências e tendências, presumivelmente para os adaptar melhor ao mundo dos papás-mamãs do mesmo sexo ou em mutação de sexo.
Gungunhana Meirelles, estás a falar de outras dimensões ligadas às questões de género. Dizer que um homem é efeminado calhando esse homem estar assumidamente a querer exibir essas características não pode ser considerado uma ofensa posto que é descritivo. Mas se dissermos a um rapaz que não tem habilidade para jogar futebol, por exemplo, que ele parece uma rapariga por causa dessa inabilidade – e tendo em conta que já existem milhares, se não forem milhões, de mulheres a jogar futebol de competição por esse mundo fora – então está-se a usar a referência ao feminino como um insulto tanto para o rapaz como para a condição feminina.
Como não vives na América, falta-te o contexto histórico e sociológico da expressão “like a girl”.
Nada disso. O que eu estava a comentar (um pouco indirectamente, é verdade, mas era para não ir preso) é justamente esse tipo de sugestão de que uma simples intenção humorística deve ser considerada, hoje em dia, uma provocação anacrónica e insultuosa.
No vídeo, comparam-se as atitudes de jovens mais antigos com as de criancinhas obviamente formatadas pela «revolução» em curso, e o que se pode observar é que os «antigos» captam com humor e realismo (e algum exagero natural, ou a intenção bem-humorada perder-se-ia) determinadas atitudes femininas, enquanto que os «novos» levam muito a sério as perguntas e respondem, comme il se doit segundo a norma p.c. — i.e. mortalmente sérios e na estrita obediência ao pressuposto de que as mulheres correctas devem ser, antes de mais, tão ou mais masculinas que os homens, e os homens correctos, tão ou mais femininos que os astros mediáticos e comunicacionais apresentados como role models à juventude telecomandada.
É esse o reflexo pavloviano que se pretende instituir.
Para ser ainda mais preciso, observe-se a subtileza final da mensagem: não está lá «sim, as nossas pobres mentes ébrias de sexismo levaram a barrela e ficaram a brilhar como nunca antes» com todas as letras, mas o espírito é esse.
E quanto a esse desporto de meninos queques e metrossexuais tatuados a que se chama futebol, o que os homens a sério devem praticar é a caça de crocodilos à mão, como nós aqui na Austrália.
Gungunhana Meirelles, continuas sem entender o que viste. A questão não diz respeito às naturais diferenças entre os géneros, mas sim ao uso de uma expressão – “Like a girl” – a qual na América pode significar um insulto por transmitir a ideia de que as raparigas são uma versão defeituosa dos rapazes.
Creio que também escapa ao teu entendimento o facto de o vídeo ser um anúncio para vender pensos higiénicos a adolescentes.
Val: não é só nos EUA. Em português – e, pelo menos, em Portugal – a expressão «pareces uma menina», quando dita a um rapaz, não é simpática. Implica que ele não sabe qual o seu papel de «rapaz» e como o interpretar. Se se disser a um rapaz que ele bate/luta como uma rapariga, isso significa que ele não o sabe fazer, pois fá-lo como uma pessoa do género oposto. Não é necessária uma particular acuidade observadora para se perceber que o que é feminino é, frequentemente, associado a algo negativo. E como a masculinidade se constrói por oposição ao feminino (ser homem é, antes de mais, não ser mulher), os rapazes são ensinados e incentivados a não se parecer com meninas, as quais são associadas a futilidade e fragilidade física e emocional. O mundo real vai muito para além dos estereótipos que nos impingem. As raparigas é que são frágeis e emocionais (sempre ligadas à sua biologia, como se os homens não fossem feitos da mesma matéria), mas a verdade é que os homens se suicidam mais (e muito mais!) do que as mulheres. Alguém ouviu dizer que os homens são mais frágeis emocionalmente, ou que não se lhes deveria atribuir responsabilidades que exijam frieza e clareza de pensamento porque eles «se suicidam mais»? Alguém ouviu alguma vez dizer que não se deve atribuir um cargo de confiança a um homem porque eles não conseguem separar o emocional do racional? Pois, pois não, mas a verdade é que muitos mais homens que mulheres não aguentam a realidade e optam por acabar com a vida.
Ceridwen, assino por baixo as tuas palavras. E isto já para não falar nas questões da violência doméstica.
Ao lado, Ceridwen. Não se trata de «perceber que o que é feminino é, frequentemente, associado a algo negativo». Por esse caminho, se dissermos (ou, vá lá, pensarmos, se formos bem educados…) que uma jovem com a infelicidade de possuir pilosidades de chimpanzé alfa, músculos de alterofilista, voz de baixo e uma queixada de granito, é demasiado masculina, estaremos a associar «o que é masculino a algo negativo», o que não é obviamente o caso. O que estaremos a fazer é simplesmente a verificar algo de incongruente e a lamentar interiormente as crueldades do destino. Não é a mesma coisa.
Val, o que eu creio que escapa ao teu entendimento é que o nevoeiro p.c. é de tal ordem que um anúncio para vender pensos higiénicos a adolescentes poder constituir mais uma achega para o encaminhamento da revolução em curso nem se apresenta ao teu registo consciente.
Gunhgunhana Meirelles, tens uma leitura da alteração de mentalidade em relação à condição feminina, que ocorre já desde a Segunda Grande Guerra, que eu não compartilho. Onde tu vês uma nova forma de limitação à liberdade do masculino eu vejo a tentativa de alterar um desequilíbrio que é fonte de violências várias.
Correcção ao Val: «nova forma de limitação à liberdade do FEMININO».
O vídeo fala por si, mas é preciso captar a subtileza da mensagem a dois tempos: 1º tempo: brincar de forma bem humorada com gestos e trejeitos feminis é incorrecto (por isso se convence o infeliz do miúdo que ofendeu a irmã etc.); 2º tempo: o que é correcto é substituir o gesto feminil por pugilato.
A outra parte da revolução não está explícita, mas se o amigo Val tiver algum filho macho de 10 anos, e ele um belo dia lhe aparecer em casa a contar que andou aos beijinhos ao colega de carteira e quer mudar de sexo conforme o educador e a caixinha do telecomando recomendam, nessa altura já vai perceber.