2 de Maio de 2023 pode bem ser uma data de referência para estudos académicos sobre o domínio de uma direita extremada na comunicação social portuguesa, como avançou o Pacheco, tal o espectáculo totalitário produzido editorialmente. Mas é mais relevante analisar essa data no que concerne às consequências políticas.
Por exemplo:
1. Os cães ladram, não mordem, e a caravana passa
Ou seja, a pressão mediática é uma bolha de sabão a estourar na couraça da indiferença do actual Governo. Os jornalistas, os comentadores e os políticos comentadores, a que se podem juntar os jornalistas comentadores mais os jornalistas que se armam em políticos, são uma claque especialista em pateada quando não estão os seus amigos em S. Bento.
A logomaquia furiosa a que se entregam por disso viverem, e por disso consumirem para gozo próprio, só assusta aqueles que se deixam assustar.
2. Quem tudo quer, e acha que pode chantagear, tudo perde
Isto é, Marcelo Rebelo de Sousa foi imprudente e mal-aconselhado nesse sábado do final de Abril em que acreditou que Galamba era um pato com o bico encostado ao cano da sua caçadeira. O tiro viria a sair pela culatra, e foi fatal para o atirador. Ao não aceitar a aversão de Costa a servir-lhe a cabeça do ministro na bandeja, avançou para um golpe canalha em conluio com Ricardo Costa e uma foliculária pé-de-microfone. Saiu-lhe um estadista pela frente, azar.
A partir da recusa de Costa em ceder à pressão máxima a que a direita decadente pôde chegar na situação, nesse tandem Belém-media, foi o Presidente da República que acabou desautorizado e diminuído — ou mesmo ridicularizado por sua exclusiva responsabilidade e proeza.
3. A voz do povo é a voz de Deus, já o contrário é falso
Em suma, quando um Presidente da República resolve andar meses e meses a causar alarme político, e social, agitando uma dissolução da Assembleia pelos mais avulsos, esconsos e subjectivos pretextos, ele justifica o seu despautério arrogando-se ser a voz de Deus. O deus da República, o Soberano. Ora, esse soberano não é o tal fulano em roda livre, empossado sob juramento como representante, é antes a comunidade eleitoral sob a égide da Constituição, num primeiro acto, e depois o Parlamento, em sucessivos actos decorrentes do primeiro.
A 2 de Maio, um certo representante do Soberano provou que um outro representante do mesmo tinha pés de barro e cabeça-de-alho-chocho. Deu voz à voz do povo.
que lindos e desconcertantes adágios, bem feitos, para quem precisa de aprender a verdade. mas eu acho que a cabeça do Marcelo é de alho porro, que nojo a chegar ao nariz da Cidade. !ai! que riso
Já não tenho paciência para o “catavento”.
o cabeça de alho chocho era o galamba
e com esta noticia perdi de vez a fé na humanidade. isto está inundado de demónios, chiça.
https://umsoplaneta.globo.com/biodiversidade/noticia/2023/06/20/investigacao-revela-rede-sadica-de-tortura-de-filhotes-de-macacos.ghtml
Ora vamos lá aos realmentes. Faltam três anos ao beijoqueiro para acabar o segundo e inevitavelmente último mandato, após o que, pela ordem natural das coisas, abandonará (ou abandonaria) fatalmente a ribalta. A partir daí, e exceptuando porventura uma ou outra entrevista e a inauguração de uma rua, praça, chafariz ou casa de alterne com o seu nome, “a normalidade do acontecer” (como diria o supercoiso) mais não lhe reservaria do que a saudosa recordação de glórias passadas e a rotineira e estimulante tarefa de limpar rabo e ranho a netos e bisnetos. O anonimato! A faxina! O horror!
Seria a morte em vida do beijoqueiro, queridos e queridas. O bicho não pode passar sem ribalta, holofotes, o “amor” assolapado de súbditos e admiradores. É a “coca” que chuta constantemente para a veia sem peso nem medida, já que o pagode, dealer generoso do presente, não lhe regateia produto. O futuro previsível, porém, é de abrupta e radical carência, resultando em inevitável síndome de abstinência. Um pesadelo de que o beijoqueiro está perfeitamente ciente e com o qual não se conforma.
Para evitar tão negro futuro, o beijoqueiro precisa de uma sinecura qualquer que continue a garantir-lhe palco. A nível interno, não vejo que tal seja possível. O bicho atingiu o topo da tabela, abaixo de PR tudo é despromoção. Ninguém imagina o beijoqueiro, muito menos o próprio, como presidente de uma Santa Casa da Misericórdia ou de uma Fundação Gulbenkian, por exemplo.
Vai daí, sinecura digna do irrequieto umbigo de Sua Excelência o beijoqueiro-mor do reino só se vislumbra no palco do mundo. Mas para sinecuras no palco do mundo sabe o beijoqueiro que, geralmente, é necessário um empurrão, uma proposta do Governo da Tugalândia. No primeiro mandato, o futuro antevisto pelo beijoqueiro, nomeadamente com a geringonça, era de muitos e bons anos de possível e provável estabilidade e progresso com sucessivos governos de esquerda. Portantes, o beijoqueiro “rendeu-se” à esquerda e sua governação, “traindo” despudoradamente a sua família política de sempre. As aspas significam que, na realidade, o beijoqueiro não traiu ninguém. Fidelidade e lealdade é coisa que reserva apenas para o seu próprio umbigo, magnífico resquício da sua abençoada origem que nunca o beijoqueiro traiu ou trairá. Assim, para garantir ao dito resquício um glorioso futuro nos palcos do mundo precisava o beijoqueiro do favor e empurrão do Governo de esquerda, o único que antevia possível e provável durante o seu (dele, beijoqueiro) prazo de validade.
Desintegrada a geringonça e mergulhado o reino em época de maioria absoluta PS, continuou o beijoqueiro (consultados angustiadamente os astros) a apostar no mesmo cavalo canhoto como garantia de palco e glória futura para o resquício. Isto pensava ele de que, coitado, na sua santa ingenuidade! Desgraçadamente, o desespero da direita tuga, a mais ordinária da galáxia, levou-a há muito a substituir a pugna eleitoral pela infiltração no aparelho do Estado, nomeadamente na justiça, forças de segurança e toda e qualquer instituição ou instituiçãozinha que possa servir-lhe de arma de arremesso para conseguir o que dificilmente lograria na “normalidade do acontecer” eleitoral (trade mark do supercoiso, again). Acrescente-se a essa infiltração, em alavancas e alavancazinhas de poderes fácticos, a OPA contínua que a direita ordinária que nos coube em sorte levou a cabo, ao longo de anos, a tudo o que é mainstream merdia, praticamente sem excepção, usando essa apropriação como arma de arremesso sem qualquer limitação ou pudor. Esse desespero da direita tuga e os desavergonhados mas eficazes instrumentos e tácticas a que lançou mão tornaram possível (ainda que não garantido) o que a recente maioria eleitoral socialista dava como improvável: a defenestração do Governo PS e o possível e milagroso regresso da quadrilha do pote à mesa do Orçamento. Saliente-se, ainda, a estupidez e ingénua leviandade do próprio Governo socialista, esbelto elefante saltitando alegremente de nenúfar em nenúfar, de asneira em asneira, oferecendo negligente e permanentemente o flanco e entregando o ouro ao bandido como se não houvesse amanhã. Nada disto passou despercebido ao beijoqueiro, claro, fino como um rato que indubitavelmente é!
A quadrilha do pote de novo no controlo da manjedoura significa, significaria ou significará que uma eventual candidatura do beijoqueiro a uma sinecura num qualquer palco do mundo deixou de depender do PS e precisará da boa vontade e do empurrão dos que não há muito tempo o consideraram “traidor”. Daí a mudança de agulha do beijoqueiro, auto-recauchutado em chefe de facto da oposição e ciente de que de um finalmente desperto Governo costista nunca mais levará a ponta de um chavelho. E assim chegamos à falta de vergonha com que, caídas todas as máscaras, tenta desesperada e despudoradamente contribuir para o regresso ao pote da quadrilha que, eventualmente, poderá mais tarde retribuir-lhe o favor. Talvez se foda, se a quadrilha em que aposta tiver algum resto de memória e adoptar a velha fórmula de que Roma não paga a traidores.