Liberais sem misericórdia

Dos 190 milhões de euros que alguém poderá reclamar serem seus até meados de Janeiro de 2015, 38 irão para o Estado. Menos 38 milhões de euros em 190 caídos do céu parece que não farão qualquer diferença a quem pode meter 152 milhões no bolso. Mas 38 milhões de euros (ou que fossem 20, 10, 2) permitem comprar segurança, saúde, conforto e novos rendimentos – para o próprio e para quem ele quiser – que o cidadão de classe média não consegue adquirir ao longo de uma vida de trabalho. É muita felicidade junta, como diria Locke. E se o conceito de “felicidade” não for aqui aplicável por ser ambíguo ou estar datado, seguramente que o conceito de “liberdade” chega e sobra para avaliar o atentado aos direitos fundamentais que constitui a decisão de retirar 20% aos prémios de jogo da Santa Casa da Misericórdia a partir dos 5 mil euros.

Essa foi uma decisão do actual Governo sob o pretexto da “crise”. Uma crise que os partidos da direita atribuíram, até 5 de Junho de 2011, exclusivamente ao “socialismo” que retirava o dinheiro da sociedade, daí prometerem em campanha eleitoral o fim dos “sacrifícios” para a população e jurarem não aumentar impostos, para de imediato após terem metido a bocarra no pote passarem a dizer que a crise tinha nascido do excesso de dinheiro que o “socialismo” tinha injectado na sociedade, daí ser necessário retirá-lo à bruta através do maior aumento, e do maior peso, da carga fiscal de que há memória. O “Governo mais liberal de sempre”, com ministros da “social-democracia” e do “partido dos contribuintes e dos pensionistas”, iria esbulhar, espoliar e esmifrar quantos pudesse pelo maior tempo que pudesse. Se mais não fizeram e fazem, tal deve-se unicamente ao Tribunal Constitucional.

Acabar com viagens aéreas em 1ª classe para ministros numas poucas de rotas e despedir uns motoristas será apenas uma piroseira populista. Acabar com feriados definidores da nossa identidade comunitária alegando que Portugal é uma terra de madraços a precisarem de chicote fica como um retrato de alma da oligarquia portuguesa. Mas ir sacar aos prémios de jogo da Misericórida, e logo a partir de tostões, o dinheiro que resulta do livre contributo para causas sociais é uma exibição de fanatismo que só compara com os comunistas acabados de chegar de um centro de estudo na União Soviética nos idos de 70.

São estes os nossos liberais. Mentirosos, traidores, cruéis e anedotas ambulantes.

11 thoughts on “Liberais sem misericórdia”

  1. ladrões. pelo menos, destinem uns tostões para acabarem com os ratos na meia laranja. é que antes dos ladrões assaltarem a dignidade dos portugueses essa escola estava em excelentes condições, posso assegurar.

  2. Melhor não pode ser dito:
    SÃO ESTES OS MISERÁVEIS LIBERAIS PORTUGUESES: “Mentirosos, traidores, cruéis e anedotas ambulantes”

  3. val,tens razão, mastirar aos ricos não é pecado! o que é mais preocupante,é tirar o complemento solidario para os idosos, e mantendo a reforma minima,quando há estudos que dizem que 70% dos beneficiarios,tem outros rendimentos. quanto aos regressados da uniao sovietica,alem dos estudos,tambem visitavam uma cooperativa agricola (era sempre a mesma). o espanto nessa visita ,foi ver o tamanho descomunal de um porco, que por lá andava.um camarada siderado pelo que viu,virou-se para o camarada do lado e diz-lhe: ó zé,ja viste isto? resposta imediata: camarada,isto é fruto do socialismo!quem contou este episodio em livro,foi ex militante do pcp,que depois de abril chegou a ser lider parlamentar mas do psd. no livro que escreveu, este episodio tinha por titulo “o porco socialista”

  4. Neo liberais é a puta que os pariu, são é uma cambada de neo-fascistas a fingir que são neo-liberais.

  5. Val, são isso tudo e ainda por cima fazem “gala” em sê-lo!

    Mas esta medida foi para preparar o terreno para mais uma descarada “privatização” de tudo o que seja jogo…!
    Serão os privados a “herdar” mais esta fonte de receita com a qual o Estado ainda ia acorrendo ao apoio social…!

  6. valupi, o militante do pcp que se passou para o psd , e neste partido foi deputado, tinha o nome de silva marques. val o nome não tinha dito.

  7. Com todo o respeito, mas quem é que no governo se assume como “liberal”. É que não deixa de ser curioso que se acuse o governo de “liberal”, quando a sua acção não é mais do que meramente pragmática, despida de grande ideologia, e quando nenhum governante se revê nas ideias liberais, salvo honrosas excepções, ao nível de secretários de estado, mas com pouca expressão na política global do governo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *