Um típico exemplo da retórica que vai ser usada pelo BE e PCP até às eleições de 2019 está aqui: Que lição aprendeu o PS? Os malucos que lerem o texto irão descobrir que o autor nem no espaço vazio entre as letras faz referência aos idos de Março de 2011, os tais que mostraram a vontade do PCP e do BE em derrubar um Governo socialista para colocarem no poder o casal Passos-Relvas, o artista Portas e o FMI.
Se o autor fosse obrigado a justificar as decisões da “esquerda pura e verdadeira” nessa conjuntura, inevitavelmente diria que BE e PCP tinham de ser fiéis à sua identidade e programas, histórico e ideários, sendo inconcebível que apoiassem Sócrates e Merkel na ocasião. O que está certíssimo, não oferecendo a menor dificuldade cognitiva; embora abra uma irredutível questão moral. É o mesmo argumento que agora explana, antecipando que BE e PCP irão recusar o acordo com um PS que não renegue a sua identidade e programa, história e ideário.
Estamos no reino das falácias e da ingenuidade, quiçá da parvoeira. Não foi pelo PS ser o PS que PCP e BE deixaram de fazer algo revolucionário: apoiar um Governo socialista minoritário. Foi porque bloquistas e comunistas realmente aprenderam algo com os idos de Março de 2011 e a devastação que se seguiu. Devastação também eleitoral, tendo a coligação PAF ganhado as eleições apesar do ódio que despejou para cima dos portugueses em geral, especialmente os mais pobres. Com Passos de chicote na mão até os professores andavam de bola baixa e reinava uma paz sindical admirável. Não faltam, pois, matéria e ocasiões de aprendizagem para os interessados em cumprir plenamente as promessas de Abril.
O PS irá sempre preferir a racionalidade do centro. É esse o seu fundamental papel no sistema partidário e no regime. Daí, alinhar coerentemente com as forças estruturantes que garantam a segurança das instituições e da comunidade no respeito pela Constituição. Parte dessa segurança é financeira e económica, parte é militar. Ter um partido que represente essa lógica tem sido validado pelo eleitorado desde que há eleições democráticas. Se a “esquerda pura e verdadeira” quer mudar o paradigma, que vença eleições ou que supere o PS em votos. Aí, poderá impor os termos da negociação. Até lá, a forma como pode proteger aqueles que alega representar passa por aceitar os termos da negociação impostos pelo PS e, nessa sede, tentar obter o melhor acordo possível para todas as partes.
É dífícil negociar, daí ser belo – como diriam os inventores da democracia.
O teu post anterior, que não se ajustava à entrevista do Santos Silva, aplica-se plenamente a este teu texto que, diz precisamente o contrario daquilo que o ministro, com alguma experiência e alguma sabedoria, afirma na entrevista do Publico
E’ a tal diferença entre quem sabe (e quer) negociar, e o eterno treinador de bancada que és e que has de continuar a ser para a eternidade, bem ao teu estilo Vãolupi que todos admiramos ha anos…
Boas
Como o rei das “falácias e da ingenuidade, quiçá da parvoeira,” afirma, a “racionalidade do centro” é o lugar natural e preferido do PS. Mas o que é isso do “centro”? É seguir as políticas económicas, financeiras e sociais determinadas pelos “centristas” Merkel e Macron, e adoptar a sua “racionalidade” neoliberal.
Ora, como se pode constatar no resto da Europa, essa tal “racionalidade centrista” só tem conduzido à diminuição da expressão eleitoral dos partidos social-democratas e mesmo ao seu desaparecimento, pois, como se costuma dizer, entre a cópia e original o eleitorado prefere sempre o original. Em Portugal a expressão maior da “racionalidade centrista” foi aquele aldrabão com uma vida dupla e criador da “esquerda moderna” e “reformista”, e que o sádico Passos Coelho elogiava.
Assim um “social-democrata” racional é aquele idiota que insiste em adoptar comportamentos políticos de risco, e que pensa que pode sobreviver ao seu suicídio ideológico. É aquele idiota que não aprendeu com as lições internas nem externas. É caso para dizer que a “racionalidade centrista” tem razões que só a irracionalidade compreende…
«É difícil negociar, daí ser belo.»
Sim, diriam os gregos ‘democratas’ inventores da Democracia. Mas o mais estudioso e sábio dos gregos defendia e era pela Aristocracia, lutou por um cesarismo iluminado de um Rei-Filósofo e acabou a vida desiludido, após aprender várias lições ao longo da longa vida, a defender o reino (primado) da Lei (justa).
Para os actuais parceiros do PS apenas conta a ideologia do sistema em que acreditam e suas vontades para atingir o cumprimento desse sistema re-idealizado pós queda do muro. Chumbaram o PEC IV e caíu-lhes em cima deles e nós uma brutal austeridade e feroz retrocesso económico via à miséria do povo. Mas isso são, para eles, a dor de parto para o nascimento do futuro radioso.
O facto de vivermos cada vez mais num mundo globalizado como um único povo universal onde tudo, até a mais pequena medida tomada no outro lado do globo, nos influêncía algo pouco ou muito isso não conta na antevisão do seu sistema teórico.
É por isso que omitem e nunca nos dizem propositadamente o que fariam face ao que aconteceria caso as suas medidas unilaterais individualistas causassem reacções globais duras de vária ordem sobre o país tornado soberano puro e duro.
Sabemos, pela experiência histórica, que nos esperava uma miséria semelhante ao salazarismo ou pior e face às queixas respondernos-iam ; somos pobres mas livres.
Mas, contradição insanável, eu tenho um amigo pcp que, quando lhe falo que temos liberdade em democracia, me responde que ‘não come liberdade’.
ASS tem razão quando quer, face à subentendida aprendizagem democrática junto do PS, que um novo acordo levasse a um mais alargado compromisso com os parceiros da dita esquerda.
Face à natureza dessa esquerda ainda não liberta da aprendizagem do ‘socialismo real’ e nem aprendeu nada nestes anos com a democracia do PS, o A. Costa contrapropõe que mesmo assim é possível manter a geringonça.
A realidade prática indica que para Costa a quadratura do círculo é possível.
No fundo, o que Santos Silva disse, e disse bem, na entrevista do Público, é que desejava que futuramente o PCP e o BE não fossem tão intransigentes contra os compromissos do governo PS com as regras da zona euro e da UE, o que facilitaria a negociação para um novo acordo que mantivesse a “geringonça”. E não é exacto avançar que o primeiro-ministro o tenha contrariado. No fundo, o que António Costa declarou, e bem, é que não acreditava que o PCP e o BE alterassem a sua posição, mas que isso não inviabilizaria um novo acordo. Eu até quero acreditar que os dois combinaram tudo, abrindo caminho para a negociação. Uma negociação que não vai ser fácil, mas que tem de acabar num acordo, ou a esquerda que o inviabilizar muito se irá arrepender.
que coisa escrita com os pés.
se não há referências a marços de 2011 no texto linkado também constato que neste texto não há referências ao facto de ter sido o lado das instituições democráticas etc e tal que tirou o tapete ao país em 2010 e o submeteu a um ataque especulativo à sua dívida publica que esse sim nos trouxe anos de retrocesso e miséria.
ou a culpa da subida dos juros, do crash bolsista e afins foi da extrema esquerda e do anticapitalismo?
a memória politica selectiva é um dos principais problemas politicos em portugal.
O PCP e o BE votaram contra o PEC IV exatamente como tinham votado os PEC’s I, II e III e não podiam proceder de outra maneira. Quem mudou de campo e foi votar com eles foi o amigo e apoiante do PS.
E não havia maneira de salvar os interesses dos portugueses, perguntar-se-à. Havia. Bastava dar expressão ao “negociar é belo” mas isso não era capaz de fazer um “inculto na arte da negociação” que era o homem que detinha o poder.
Depois tudo mudou. Embora não tenha sido por iniciativa do PS, felizmente fez-se e correu bem. A racionalidade do “centro” é que tem deitado pelo cano abaixo a social-democracia europeia e parece-me que a tentação continua. Quantos PS’s falta apagar?
A afirmação de que o PCP e o BE se juntaram ao PSD para pôr os pafiosos no poder é já uma verdade por aqui, tal como a de que com estes “reinava uma paz sindical admirável”. Mas nem tudo são inverdades, de facto “os professores andavam de bola baixa”, o sindicalismo não é todo igual.