Jornalistas, parte do problema

Anselmo Crespo, alguém que não conheço pessoalmente e de quem nunca ninguém me contou fosse o que fosse relativo à sua vida pública e/ou privada, deve ser um excelente e notável ser humano. Pelo menos, é essa a ideia com que se fica ao dar crédito às palavras que dois excelentes e notáveis seres humanos, o Pedro Adão e Silva e o Pedro Marques Lopes, lhe deixaram na emissão de despedida do “Bloco Central” (31 jul 2020), antes desse jornalista ir para a TVI. Os Pedros têm direito à sua opinião mas nem tudo na sua opinião pode ser considerado edível. Falo dos ditirâmbicos elogios à faceta de “jornalista” do indivíduo, algo que não custa a entender ser uma manifestação de afecto nascida do convívio profissional (pelo menos) e do momento celebratório dessa intimidade assim estabelecida, na ocasião de um fim de ciclo e de uma despedida. Certo, e tudo bem. Mas à mesma não se admite, foda-se caralho, que se diga do Anselmo Crespo que ele é uma “grande perda para a TSF”, que se tem uma “profunda admiração pelo seu trabalho como jornalista”, e que ele é um “jornalista extraordinário”. Porque mentir é feio e porque há limites para a hipocrisia, mesmo quando ela é ritualista e bem-intencionada, caso se pretenda manter módica integridade moral. Acontece que a figura é insuportável de cagança, burrice e foleirismo gongórico como jornalista. As suas aberturas do “Bloco Central”, onde servia uma mistela de nacos populistas contra a classe política com tentativas de engraçadismo inanes que causavam vergonha alheia, deixavam invariavelmente um enjoo mental tão denso que tornava merecedor de uma quinta com 500 hectares no Céu continuar a ouvir o resto do programa. Mil vezes melhor a sobriedade e laissez-faire do Paulo Tavares e um milhão de vezes melhor a acutilância e profissionalismo da Judith Menezes e Sousa no mesmo papel. Quanto à qualidade do cromo como autor de “opinião” na imprensa escrita, nada irei aqui dizer porque tenho o genuíno receio de partir o teclado e o monitor com o entusiasmo que a matéria me desperta.

Pois este amigo foi escolhido, ou se calhar ofereceu-se, para ir dizer das boas à Diana Andringa a propósito da carta aberta onde se critica a cobertura informativa da pandemia na RTP, SIC e TVI. O que ficou gravado dá a ouvir um ressabiado corporativo e sensacionalista a pôr à prova, com o seu primarismo e má-fé, a paciência, educação e generosidade de uma senhora jornalista. O bate-boca não alterou em nada de nada a imagem que tinha do Crespo mas deixou-me a lamentar, com dor cívica, que Andringa esteja na reforma em vez de estar a dirigir e formar jornalistas com o seu saber de experiência e decência feito.

As televisões e a pandemia: bom ou mau jornalismo?

Entretanto, isto que o Pedro Tadeu relata é de arrebimbomalho. Ao mesmo tempo, não suscita qualquer surpresa. Há uma indústria da calúnia, com as suas vedetas, os seus amanuenses e os seus agentes secretos. Qual é o espanto?

O jornalismo sobre a covid-19 é corrupto?

13 thoughts on “Jornalistas, parte do problema”

  1. “foleirismo gongórico” é um achado e a mais exacta caracterização da tua prosa, Valupi. Ângelo Crespo, nunca te vi mais gordo mas, so por causa disso, bem hajas !

    Boas

  2. Quando um responsável da informação de um canal é nomeado para recuperar audiências perdidas, tem dois caminhos, um fácil, barato e rápido, outro difícil, moroso e caro. Um é fazer concorrência à informação “popular” da CMTV, o outro é apostar na excelência informativa e nos bons profissionais do jornalismo. O Crespo optou sem hesitações pelo primeiro. É o que rende mais em Portugal: voyeurismo, escabrosismo, invasão da privacidade, sensacionalismo, demagogia barata, anti-política, etc.

  3. quem é que me chamou para aqui?
    este aveque delira quando lhe mexem nos hello kitties da informação direitrolha.

  4. Oi, Valupi. Só tu mesmo para me levar a ouvir este debate na TSF. Devo dizer que o Anselmo Crespo me tinha parecido menos mau como moderador do Bloco Central. Mas possivelmente nem sempre ouvia as introduções. Agora, está péssimo. Deve ser influência do ambiente da televisão, o que só vem dar razão à Carta Aberta. Há anos que digo que a duração dos telejornais em Portugal é o principal factor da perversidade da informação, pelo relevo que dão a matéria “de encher chouriços” e pela imagem que dão da função dos políticos. A duração de uma notícia tende a dar a noção da sua importância. A sua constante repetição idem. Ora, gastando demasiados minutos com determinados acontecimentos (normalmente não-acontecimentos), ou repetindo-os ao longo do dia constantemente, faz com que os mesmos adquiram uma gravidade que nunca tiveram (a que se seguem debates infindáveis sobre as mesmas coisas, entretanto tornadas importantíssimas, transformando-se tudo isto num círculo vicioso). Está tudo mal. Nem na Bélgica, nem em França, nem em Inglaterra, nem na Alemanha e julgo que nem em Espanha os telediários principais duram mais de 35 minutos.
    Quanto à agressividade dos entrevistadores, pare se ter uma noção do que pensam as pessoas comuns, por acaso andava eu no parque no meu passeio higiénico matinal no dia a seguir a uma dessas entrevistas insuportáveis à Ministra da Saúde quando passo por um grupo de senhoras falando precisamente sobre a entrevista do dia anterior totalmente indignadas com a agressividade da jornalista. E diziam “Deus me livre de algum dia ser política! O que eles aguentam, meus Deus”. Toma lá, ó Anselmo.
    Concordo inteiramente com aquela Carta Aberta e com a Diana Andringa.

  5. retórica lamechas , de fazer chorar as pedras da calçada do estado de direito e as vigias das muralhas da cidade , é mais a cena do Valupi.

  6. Penélope, provavelmente muito boa gente gosta, e até admira, o Anselmo Crespo. Por exemplo, se calhar os elogios dos Pedros foram sinceros, por mais que me pareçam artificiais e convencionais. O mesmo para as suas introduções no Bloco Central, as quais foram avaliadas por mim com desvairado preconceito.

    Agora, se dúvidas houvesse acerca da sua honestidade intelectual e respeito pela deontologia da sua profissão, a postura arrogante e inimputável que levou para o confronto com a Diana Andringa é um retrato nítido do seu perfil.

  7. Quem vê e ouve atentamente as TVs repetirem diariamente e de hora a hora as mesmas imagens e o mesmo palavreado de caos e catástrofe iminente é sufoco intelectual insuportável. Fazer um noticiário de 1,5 horas e mete nele como notícia historietas de fait-divers para insinuações políticas tendenciosas é suspeito de jornalismo sujo partidário pago e o Tadeu explica como isso é feito; e nós notamos como isso está infiltrado nas redacções actualmente.
    As TVs generalistas actualmente assumem-se todas como seguidoras do jornalismo não só sensacionalista como de faca na liga para cortar cabeças de pessoas de que não gostam ou não lhes vão comer à mão numa imitação taco a taco com a “cmtv”; porque pensam ser a maneira fácil de obter audiências e porque fazer jornalismo sério dá trabalho e custa mais dinheiro.
    O jornalismo das TVs generalistas são o outro lado mais subjectivo, mais insidioso e menos directo da outra face da moeda da informação à maneira da TV Cofina.

  8. a última que li jornais , e lia todos dias , foi praí há uns 5 anos , e agora é que deram por ela ? omg , chegam sempre atrasados.

  9. e prontes , para descrever o ídolo do V. , o pedro marques lopes , o bacorinho , fui ali buscar o Plúvio , que não gosta da ribalta , mas melhor que ele não há , portanto , terá de me desculpar.

    “Para não variar, a última lauda é um tratado de má escrita, piroseira e lambecusismo.
    Por exemplo,
    «Sim, aquela convicção máxima de que daqui a umas semanas pode ser, afinal, uma enorme dúvida.»
    O fraco articulista não alcança que o de arromba por completo o sentido da frase.

    «E sim, esta é uma casa de liberdade onde o respeito pela liberdade de expressão é sagrada.»
    O respeito … é sagrado, s.f.f!

    «Neste jornal escreveram todas as grandes figuras da nossa comunidade dos últimos 150 anos, ter tido o meu nome e a minha carantonha no mesmo sítio onde toda essa gente esteve faz-me quase rebentar de vaidade.»
    Todas as grandes figuras? Todas, todas mesmo? Peça, que na volta do correio o Plúvio manda-lhe rol das que nunca escreveram no DN.
    Ó homem, não beba tanto! E enxergue-se, ponha-se ao nível.
    No mais, não quero imaginar o que seja «grande figura» para este apedeuta do pensamento e das letras.

    «Para aqueles para quem, agora sei, fui injusto ou me enganei mesmo acerca do que teriam dito ou feito, as minhas sinceras desculpas.»
    Nada de novo, retórica dos melros.
    Quanto às «

    https://chovechove.blogspot.com/search/label/Pedro%20Marques%20Lopes

  10. Parabéns pelo post.
    Não diria melhor, salvo o facto deste colocar o Marques Lopes ao nível do Adão e Silva.
    Ouço o “Bloco Central” sempre que posso e noto que o ML é um improvisador oportunista, incapaz de aprofundar e que recicla, muitas vezes, as ideias do AS de uma forma ridiculamente peremptória a fingir que lhe saíram da cachimoina. Até chega a ser confrangedor ouvi-lo a debater-se com a própria impreparação, contrariando-se até, para se manter à tona d’água.
    Para ganhar crédito, larga umas broas fora do ” mainstream” mas a agenda política é demasiado evidente, tanto mais que emparelhava na perfeição com o Anselmo Crespo, desiquilibrando os debates em desfavor do AS.
    Nem percebo como a Penélope não deu conta das nojentas introduções e da própria mediação intervencionista que chegava ao ponto do merdoso sujeito se envolver em discussões acesas com o Adão e Silva. Quase desisti de ouvir o programa.

    Mas voltando à carta aberta:
    Gostava de saudar o fugaz reaparecimento da saudosa Diana Andringa, a subscrição desta iniciativa de cidadãos que já tardava e a forma calma e descontraída com que ela desmanchou a asquerosa “estrela” do atual jornalismo de cordel.

    Fazendo a ligação com o texto do Pedro Tadeu, não me passou ao lado a chamada de atenção da Diana acerca da exacerbação noticiosa das filas de ambulâncias à porta do hospital. Esta montagem que envolveu, visivelmente, uma logística concertada, não passou desapercebida como manobra de manipulação da opinião pública. Ou alguém tem dúvidas que, entre outras razões, o COVID19 foi pretexto para um ataque concertado ao Serviço Nacional de Saúde?

  11. Ver TV portuguesa é redutor para o funcionamento de um cérebro normal ,algo de que desisti por tanta falsidade e falta de ética em que se procura o caminha mais fácil : Vilipendiar de qualquer forma quem estiver mais à mão ,veja-se a entrevista efectuada à ministra da saúde pela Clara de Sousa é preciso paciência para alguem entrevistado não se levantar da cadeira e dar-lhe uma lambada,mas pensam estes entrevistadores que quem vê a entrevista não se sente enojado pelo trabalho que fazem de ataque desenfreado e sem valores
    éticos.

  12. Se fosse com um familiar meu o comandante dos bombeiro de mafra teria de se ver comigo e se calhar mais alguém e eles sabem bem que eu faria

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