Pomos de lado, sem o saber; aí reside precisamente o perigo. Ou, o que é ainda pior, pomos de lado por um acto de vontade, mas por um acto de vontade furtivo em relação a nós mesmos. E, de seguida, já não sabemos o que pusemos de lado. Não o queremos saber e, à força de não o querermos saber, chagamos ao ponto de não o poder saber.
Esta faculdade de pôr de lado permite todos os crimes. Para tudo o que está fora do âmbito dentro do qual a educação, o ensino criou ligações sólidas, ela constitui a chave da licença absoluta. É o que autoriza, entre os homens, comportamentos tão incoerentes, especialmente todas as vezes que o social, os sentimentos colectivos (guerra, raiva entre nações e classes, patriotismo de um partido, de uma Igreja, etc.) intervêm. Tudo o que está coberto pelo prestígio da coisa social é colocado num sítio diferente de tudo o mais e subtraído a certas relações.
[…]
Um proprietário de uma fábrica. Tenho estes e aqueles prazeres dispendiosos e os meus operários são miseráveis. Pode ter muito sinceramente piedade dos seus operários e não estabelecer nenhuma relação.
Porque nenhuma relação se estabelece se o pensamento não a produzir. Dois e dois continuam indefinidamente a ser dois e dois se o pensamento não os junta para fazer deles quatro.
Detestamos as pessoas que pretendem levar-nos a estabelecer relações que não queremos estabelecer.
in A GRAVIDADE E A GRAÇA, Simone Weil
palavras simples, exemplo brilhante!que assenta que nem uma luva, no governo de direita.
sentimentos individuais, ligar, precisa-se.
(sim, eu sei, sou detestável.) :-)
(sim, eu sei, sou detestável.) :-)
nem isso consegues ser, mas vai tentando enquanto há vagas.