O melhor momento da Catarina, no debate de ontem, foi quando anunciou que tinha uma pergunta para fazer a Portas. E fez mesmo, ficando tranquilamente à espera de uma resposta que nunca veio. Portas engasgou-se, esperneou e tentou fugir por onde se conseguisse enfiar. Contou com a ajuda involuntária da Ana Lourenço que se colou ao desafio da Catarina e misturou o tema do corte dos 600 milhões. Apesar disso, o trunfo foi eficaz e vimos que nem Portas, mestre da frase de efeito e há décadas a virar frangos no campeonato da hipocrisia, conseguiu salvar a face da Coligação. Pura e simplesmente, não fizeram contas nem estão preocupados com isso. Há malta algures na Europa a fazê-las, eles apenas têm de vencer as eleições ou não perder por muitos de forma a voltarem a boicotar o próximo Governo socialista.
O recurso de colocar uma pergunta ao adversário é muito pouco usado em Portugal em debates. Porém, nas devidas circunstâncias, como as de ontem, é poderosíssimo. O alvo, ao não ter resposta, e ao não querer assumir que não tem resposta, enterra-se nas areias movediças da falsidade e do ridículo. O costume é vermos políticos que têm uma concepção geométrica do que é vencer o debate: ser aquele que ocupa mais espaço dentro do espaço limitado pelo tempo. Daí a pulsão para se interromperem, falarem por cima uns dos outros e falarem sem parar, só para não dar a palavra ao adversário mesmo que aquilo que se esteja a dizer valha menos do que esferovite numa lixeira. Resultado: apenas convencem quem já está convencido e trabalham para as suas claques. Todavia, o que realmente altera percepções e convicções é ter uma concepção aritmética do debate, onde vencer é não só apresentar cálculos correctos como mostrar que o cálculo do adversário está errado. 2+2 não poderão nunca ser 5 ou 3, ainda menos 1000 ou 0. Pelo que tal será demonstrável, e ficará na consciência da audiência a questão: aquele que está a mostrar contas erradas não sabe fazê-las ou quer enganar-nos? Em qualquer dos casos, vitória inequívoca para quem consegue expor o erro no discurso do adversário.
Imaginemos que Costa, na primeira oportunidade para falar no debate desta noite, dizia o seguinte ou uma qualquer variante do mesmo:
Vou aproveitar parte do meu tempo para permitir a Passos Coelho responder a uma pergunta que milhões de portugueses lhe querem fazer: por que razão sentiu a necessidade de mentir, e mentir tanto que acabou por mentir em tudo, na campanha eleitoral de 2011? O senhor deve-nos essa explicação.
Qual poderia ser a resposta de Passos a este desafio de Costa? Se optasse por se mostrar ofendido, não desmontando o ataque, estaria apenas a aceitar a factualidade de ser mentiroso e ter chegado ao poder através de colossais mentiras. Se dissesse que não conhecia a “realidade” na altura em que disse isto e aquilo, estaria a acrescentar mais mentiras, podendo ser de imediato desmentido por Costa dada a profusão de declarações de Passos e altos responsáveis do PSD, incluindo do avô Catroga, onde juravam ter “as contas todas feitas” e terem sido eles a influenciar decisivamente o Memorando. Pelo que a sua única resposta possível seria não responder, levantar-se e sair.
Costa não o fará, para grande sorte de Passos. Azar o nosso.
Valupi, centenas de milhares de portugueses, nos quais me incluo, estão cansados da hipocrisia desta gente que nos governa, depois de terem alcançado o poder alicerçados em mentiras, atrás de mentiras. Aquilo que nós, os ansiosos de mudança lhe pedimos é o seguinte: Ofereça-se para assessor de António Costa!!
Sim, sei que entra na lógica das improbabilidades, mas de facto, aqui fica mais um exemplo, de como seria bastante útil para tirar esta gente do jogo!
essa é uma técnica poderosa nas entrevistas de emprego quando uma espécie tresloucada de entrevistado usa a psicologia invertida. :-) o objectivo é o mesmo: afinal quem é que aqui é uma mais valia, carago?
pode também dar-se o caso do Coelho perguntar ao nabo porque não apoiou nem o compincha de partido em uma altura tão frágil da sua vida pessoal e da política portuguesa em geral – nem os sucessivos ataques ao seu partido tomando-se por base a governação do compincha. ah!
falhou redondamente na defesa da governação anterior a este governo. não é expectável que um candidato que quer o lugar do que já lá está desvalorize uma figura que se torna o centro do debate. espera-se pelo menos a hipocrisia de não o desvalorizar. homessa!
acertei eu, já não é mau de todo – não frustraram as minhas expectativas.
“Costa não o fará, para grande sorte de Passos. Azar o nosso.”
afinal parece que fez, para ganda azar do passos e galo teu.
agora faz um poste a dizer que o costa lê o teu blogue que a bimba compõe com um comentário a pedir emprego.
(ai o galo que canta tão bem! – e se inspira o Costa a melhorar tanto melhor) :-)