Incentivos para a lucidez

Costa CM

Entrevista

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A menos que este seja mesmo um país de suicidas, as próximas legislativas irão escolher António Costa como primeiro-ministro. Com maioria ou sem ela, ele é inquestionavelmente a melhor escolha possível entre os diversos candidatos. A fúria ideológica de uma direita sem decência, sem inteligência e sem piedade irá desaparecer. A vida comunitária recuperará alguma salubridade (ou quase toda, caso o PS obtenha maioria), e o PSD poderá fazer uma avaliação do legado do passismo e decidir se quer mais do mesmo ou se recupera a sua matriz social-democrata.

Reconhecer a superior qualidade de Costa, e a oportunidade histórica de mostrar o que vale no cargo político mais desgastante do regime, não equivale a desistir da implacável lucidez de que a democracia depende para se defender e fortalecer. O actual secretário-geral dos socialistas só é um D. Sebastião para efeitos de caricatura pelos seus adversários e está longe de ser um Vasco da Gama. Aliás, ele nem para Nuno Álvares Pereira parece ter vocação dada a desconcertante mediocridade estratégica que estes meses de liderança vêm mostrando. Recorde-se o que se dizia sobre a oposição de Seguro e compare-se com a suavidade da oposição de Costa, onde parece que vigora uma lei de adormecimento geral que copia a ausência de propostas do líder que despertem discussão pública e entusiasmo eleitoral. O ponto de reflexão não é sobre a eventual eficácia desse adiamento do debate, cuja lógica gelada até poderá ser a mesma do ganhar por meio a zero do Scolari, antes a respeito da sua concepção da política e da sociedade que assim fica espelhada.

Vamos admitir que Costa não ignora que o combate da direita contra o PS desde 2008 consistiu principalmente na antiquíssima modalidade do tiro ao carácter. Sócrates, como se vê, prestava-se e presta-se a ser um alvo gigante para tal desporto. Por cima disto, havia salpicos “liberais” dos fanáticos cooptados na Católica e nos blogues do ódio. Chegada ao poder, a direita tirou o máximo partido do resgate de emergência a que tinha sujeitado o País e alinhou com a direita europeia na política da punição ao Estado social, à classe média e aos pobres. Como se não bastasse, esta direita alimenta e alimenta-se de uma máquina caluniadora que domina a comunicação social e que tem no Presidente da República o supremo aliado. Nunca ninguém ouviu uma palavra a Cavaco contra a miséria do jornalismo de agenda caluniosa porque essa pseudo-imprensa tem os mesmos objectivos de ataque contínuo ao PS que Belém cultiva desde o episódio dos Açores. Face a isto, Costa opta por pedir tréguas. É esse o sentido da sua declaração, na sede do PSD, acerca da “crispação”:

Além da nota sobre "as grandes convergências de futuro", António Costa apelou também "ao diálogo entre as diferentes forças políticas", considerando como um dos fatores mais negativos dos últimos anos o ambiente de "crispação e de incomunicabilidade".
"É necessário virar uma página nesse sentido", salientou o líder socialista.

5 de Janeiro de 2015

Não contem com ele, portanto, para estar a perder tempo e votos em bate-bocas marialvas com o laranjal. Poderíamos até ver nesta atitude algo de bondoso para a política nacional se primeiro, ou ao lado, se fizesse a justiça de denunciar o que se passou e suas consequências. Ora, não só tal denúncia está e ficará por fazer pela sua pessoa como o caso é mais bicudo. Por exemplo, Costa já admitiu na TV, a pedido do Lobo Xavier e com a aprovação do Pacheco, considerar que Vara andou mesmo a roubar. Apenas pediu, na ocasião, pudor nos achincalhamentos por ele não ter feito mais do que muitos outros já fizeram na direita. E quanto à “Operação Marquês”, a ida a Évora serviu para confirmar que ele não ficará chocado, sequer surpreendido, caso Sócrates venha mesmo a ser culpado de alguma ilegalidade. Mais uma vez, esta postura poderá estar correctíssima, seja do ponto de vista do seu futuro político como da sua integridade. O facto é que Vara foi realmente condenado em Tribunal, pouco importando para este apontamento estar agora a discutir a validade da prova na base da sentença. Costa conhece muito melhor Vara e Sócrates do que eu, comum observador sem acesso à intimidade do poder partidário, e as suas posições poderão nascer desse conhecimento ou tão-só da sua personalidade. O certo é que existe uma barreira sólida, talvez inviolável, entre o capital político de Costa e o que venha a acontecer a Sócrates ou a outro socialista qualquer que calhe estar na lista do Ministério Público à espera de vez para ser levado ao pelourinho. E muito bem para a cidade, pois claro.

Altura de olharmos para a citação que encima este texto. O Correio da Manhã não é apenas um tablóide, estamos perante um bicho bem diferente. Trata-se de uma das mais poderosas armas da oligarquia, cuja actividade mediática é assumidamente de combate por via da baixa-política, da difamação e da calúnia. São os próprios directores, jornalistas e funcionários que o assumem publicamente. O seu inimigo é um PS que não sirva os seus interesses, como o PS de Sócrates não servia. O seu aliado principal é o próprio sistema de Justiça, o qual comete crimes sistemáticos ao longo dos anos sem que se apure qualquer responsável. Foi para este esgoto a céu aberto que Costa quis ir escrever em Fevereiro de 2014. Foi a este esgoto a céu aberto que Costa resolveu dar a sua 1ª entrevista como secretário-geral do Partido Socialista. E é deste esgoto a céu aberto que Costa recebeu aquilo que assegura ser “um excelente incentivo para este novo ano que estamos a começar“.

Que tristeza, Costa. E o mais triste será adivinhar-te a nem sequer dares importância a quem se indignar com o teu calculismo onde parece valer tudo, até favores a pulhas.

23 thoughts on “Incentivos para a lucidez”

  1. Porque será que não estou a ficar surpreendido?
    Sempre achei Seguro um péssimo SG do PS e fiquei bastante agradado quando, com o meu voto e prévia inscrição, ele saiu de SG. Curiosamente, votei em António Costa mais por oposição a Seguro do que por convicção em Costa. Sempre este homem me inquietou com as suas cedências ao liberalismo exacerbado do Sr. Xavier, na Quadratura do Círculo, Vi nele , então, mais tacticismo do que convicções. E isso desagradava-me muitissimo. Ora aí está a prova. Acho que a escolha não é convincente. Este homem é muito táctito, mas não tem a mínima estratégia. E, pior, acho que tampouco tem idealismos.
    Começo a ter sérias dúvias em lhe dar o meu voto nas próximas eleições.
    Depois, não me venham com a patranha de que o Marinho e Pinto é demagogo e oportunista. O que se passa é que cada vez mais o encaro como séria< alternativa. E quanto a estes tacticistas do catano e que não apresentam alternativas de confiança e mobilizadoreas: que se vão todos foder, estou farto!

  2. pois, a direita queixa-se do mesmo, não diz ao que vai, não tem pugrama e não faz acordos. devia ter entrado a partir e para espantar a caça toda, assim ainda se arrisca a ter uma maioria quando o objectivo do valupi é perder eleições.

  3. A suprema pulhice, a suprema velhacaria, a maior filha da Dantes o problema era Seguro, agora é Costa.
    Val, opta por sempre fulanizar o problema, sendo que o seu raciocínio leva sempre à mesma conclusão: o PS e todos os que por lá andam que elegem as direções do partido não têm culpa nenhuma. Claro que não, a culpa agora é do malvado Costa que faz concessões ao CM e à oligarquia que representa, mas o PS, o partido, com esse está tudo bem e recomenda-se. Este PS no estado em que está fazia um grande favor à Democracia e a Portugal se simplesmente desaparecesse e desse lugar a outros partidos. Partidos que soubessem dar/respeitar/fazer eco da voz de verdadeiros socialistas como, por exemplo, Mário Soares. Mas sabemos lá que más-consciências e telhados de vidro não carrega esta merda de liderança do atual PS para se comportar desta forma complacente e resignada. Mas sobre isto o Val não diz um cú, o que interessa é pessoalizar o problema e assim branquear a causa das causas para que todos fiquemos a acreditar que a culpa é só do Costa e que com o PS está tudo bem. A verdade é que este país está uma autêntica merda, os partidos refletem fielmente este desolador panorama, e não há ninguém com a mínima ideia do que fazer para o mudar. Val escreve o que já todos sabíamos ou suspeitávamos, ou seja, que Costa está feito com “eles”, mas não se atreve a escrever uma única linha acerca das hipotéticas causas de o maior partido da oposição não ser capaz de fazer, sequer, um esboço de oposição. Sobre este tema, nem uma linha… seu grande cobarde!

  4. tu queres que se instrumentalize literalmente, ena!, pa. ora isso é, enapa, uma péssima notícia para a potencial mudança na política em geral e na da oposição em particular. ora pensa.

  5. Deixem o Costa em paz. Ele até disse na Quadratura que o Macedosaúde até estava a fazer um bom trabalho… (já morrem na sala de espera dos hospitais). Afinal, a África está tão proxima!

  6. O pasquim é uma máquina de fazer dinheiro, é preciso
    não esquecer esse lado da questão, claro que, pelo cami-
    nho ajuda a confundir os mais distraídos, fazendo uma
    dissimulação do seu apoio à direita seja, fazendo este
    tipo de entrevistas, dando trabalho a cronistas de esquerda
    despedidos (caso B.B.) e, com este “mix” de opiniões va-
    riadas vai iludindo os incautos!
    Quanto ao A. Costa, hoje, teve uns segundos para criticar
    o que se passa na Saúde, merece por enquanto, o benefício
    da dúvida pois, é mais do que notório que, os situacionistas
    estão em pulgas para saber as propostas de governação,
    desde alguns “jornalistas”, comentadores e, os outros polí-
    ticos … quanto mais tarde melhor!!!

  7. Aqui fica a minha contribuição para entender Costa:

    1) A primeira obrigação de um politico é ser eleito para poder governar e cumprir o seu designio principal. È em face deste objectivo que todas as opções são avaliadas.
    Muito provavelmente, Costa acredita que ter o CM á perna(como Sócrates) o afasta da eleição portanto gere a relação.

    2) Para o PS tomar uma posição mais clara sobre o program de govern TEM DE ESPERAR para ver o que vai acontecer na Grécia. A abordagem ao problema da divida está absolutamente dependente do que acontecer á Grécia, se o Siryza ganhar. De qualquer das formas ser claro desde já só o expõe a ataques da matilha do costume.

    3) Costa não é grande coisa. Nunca foi. Mas é infinitamente melhor do que Seguro, nem que dê beijos na boca ao Dâmaso e vá para a cama com a Moura Guedes.
    De qualquer das formas não apareceu nenhum melhor.

    Portanto, aguentem-se. A escolha nas próximas eleições será sempre na procura do “mal menor” e, neste caso, votar em Marinho é colocar Passos Coelho mais perto de lá ficar mais 4 anos.

    Miguel

  8. Costa não precisa de se comprometer com promessas do foro económico quando há tantas incertezas no horizonte, isso todos entendemos. Mas o País não é só a economia. E a oposição tem muito por onde pegar caso queira desmontar a retórica da direita. Antes e acima de tudo está a justiça.

  9. “Vamos admitir que Costa não ignora que o combate da direita contra o PS desde 2008 consistiu principalmente na antiquíssima modalidade do «tiro ao carácter»”

    E de que trata este post do valupi, hem!
    Este e outros aqui plantados de igual sentido sempre que Costa ousa cometer qualquer acção política fora dos canones políticos do valupi.

    Até a citação no fim do post; “um excelente incentivo para este novo ano que estamos a começar“, retirada da parte em que Costa ironiza com o facto criado pela redacção do manhas, des-comparando o caso com Ronaldo e a bola de ouro, não é senão precisamente o uso da tal «antiquíssima modalidade» usada pela direita reacionária.

    Como diz o Miguel (e diria Sócrates ou talvez o tenha dito em Évora a Costa) uma eleição é para ser gerida com pinças e não à mocada e, consequentemente, como diz ignatz, gerida de modo a evitar que passos possa ser eleito novamente.
    Já o disse aqui que Costa é o típico caçador de moscas com açúcar e não com vinagre. E é preciso perceber que o trato e sorriso aberto e contagiante face a amigos e inimigos faz parte desse seu tipo e carácter de caçar gente para a sua causa.
    E, sobretudo, ter presente que uma maioria absoluta só será possível indo buscar votos ao inimigo.
    Claro, o valupi, pretenso herói quixote defensor dos valores absolutos, não abdica de seu fundamentalismo; claro seria, também, que se se dedicasse à política real nunca ganharia, sequer, uma Junta de Freguesia.

  10. “Antes e acima de tudo está a justiça”

    Não percebi se esta frase pretendia usar o “j” ou o “J”, em justiça.
    Se for com “j” mesmo, não se percebe.
    Se fosse com “J” percebia-se o significado, embora seja igualmente inutil, porque ninguem sabem bem o que é a “Justiça”.

    Valupi, as acções de “entendimento” de Costa em relação ao CM apenas me dizem que Costa, neste momento, valoriza mais a sua eleição e votação no PS, do que a depuração ética da comunicação social portuguesa (não é só o CM…).
    Só demonstra que é um decisor politico com razoável bom senso…

    Rule nr 1….
    ““Thus we may know that there are five essentials for victory:
    1- He will win who knows when to fight and when not to fight.
    2- He will win who knows how to handle both superior and inferior forces.
    3- He will win whose army is animated by the same spirit throughout all its ranks.
    4- He will win who, prepared himself, waits to take the enemy unprepared.
    5- He will win who has military capacity and is not interfered with by the sovereign.”
    ― Sun Tzu, The Art of War

    miguel

  11. Demonstra é que Costa é um cobardolas e que não tem nenhuma ideia nova para o país nem se opõe a este calamitoso estado da coisa pública. Mas o maio mistério são os reais motivos de o PS fazer oposição como um pobre cão que rasteja e se limita a arreganhar a tacha e a rosnar uns lugares comuns que não interessam a ninguém. Fazer oposição é fazer oposição, é combate político, de ideias, de confronto radical e muitas vezes sem compromisso possível na arena do estado de direito democrático. É a prestação neste duro combate que define votos e o futuro da cidade. Quem não entende esta merda e acha que isto se resolve com citaçoes do sun tzu esta completamente aliendo e nao faz ideia da gravidade da situacao de pré-neo-nazismo em que estamos metidos. Palhaços do caralho!

  12. Ò Enapa, desculpa lá ter postado o Sun Tzu em inglês, que manifestamente não percebes.

    Da próxima vou ver se arranjo um desenho.

    miguel

  13. este ENAPA é o IGNATEZE cum a çua bulgare lingua vadalhoca, debes serre um daqueles ca ça isconde atraze do bolante da carrripana quandu te metes cum o códigu da istrada.

  14. ó miguele, meuzinhu, «ninguém sabe bem o que é a Justiça»?oube fala pur tie, tábeie? lá purque leze eçes gajus da filusufia caxam maize práticu dubidarre de tudu, num querre dizerre queles teiem razaoe, tás a berre? se em bez de dizerres justissa diçerres direito, eue até ca cuncordu contigu, purque ço dirreito tá tortu, num há justissa, mas ficass atãoe a savere in rezultadu diço o que debe serre a justiça, tás a berre?

  15. jose neves, estás a dizer que qualquer opinião discordante acerca de Costa é um ataque ao seu carácter? Se não estás, identifica o que no texto configura tal ataque, que é para ver se entendo o que estás a pensar. Se é que estás a pensar…
    __

    Miguel, usei a minúscula para distinguir do sistema de Justiça, a instituição. E usei a minúscula com o mesmo sentido que lhe dei no texto, isso de haver uma questão de justiça a respeito do que se passou em Março de 2011 e consequente resgate, por um lado, como com o que se passou desde 2008 em Portugal a respeito das campanhas negras e golpadas vindas da direita, pelo outro. Ou seja, vejo como um erro de consequências cívicas o silêncio de qualquer líder do PS quanto a essas questões.

    Quanto à existência de bom senso em Costa, essa é uma característica indiscutível. Já a detalhei em diferentes ocasiões, inclusive nesta. Acontece é que esse pragmatismo não tem de ser do meu agrado no que às problemáticas em causa concerne. Mas pode e deve ser do teu e de quem o quiser, escusado seria dizer.

  16. Valupi disse,

    “Que tristeza, Costa. E o mais triste será adivinhar-te a nem sequer dares importância a quem se indignar «com o teu calculismo onde parece valer tudo», até favores a pulhas -.”

    Valupi diz que não, nada disso, qual ataques de carácter, qual carapuça.
    Não, nada do que esta citação acima insinua, escrita pela pena valupinista, configura algo concreto de ataque ao carácter de António Costa; realmente não fulaniza o ataque porque é total quando o generaliza ao “valer tudo”.
    Nenhumas habilidades literárias jamais esconderam almas reviradas.

  17. o homem ainda não foi eleito primeiro ministro e já querem que o gajo se demita, nem o tio jerómino faz destas cenas. oh valupi, esqueceste um poste sobre a ida a évora onde poderias dizer que o gajo foi lá fazer campanha eleitoral e certificar-se que as grades são seguras.

  18. jose neves, pareces-me ter alguns problemas de literacia. Afinal, estás de acordo com o papel que o CM tem na sociedade e na política portuguesa? Achas que o CM pratica o que podemos considerar como imprensa? És da opinião de que quem se recuse a colaborar com o CM e sua sistemática violação do Estado de direito está a agir mal? Conta-me lá o que pensas a respeito do CM que é para avaliar o que pensas a respeito do Costa.

  19. valupi, conta-me lá o que pensas a respeito do mário crespo ou da manela guedes que é para avaliar o que pensas a respeito da isabel moreira e de caminho explica lá o que é queres dizer quando reclamas ser do centro.

  20. as pessoas não estão mesmo habituadas a pensar em paletas de perspectivas. e depois,quando se identifica uma nódoa, quer seja de gordura ou de perfume, concluem de imediato: a toalha é toda ela encardida. até fico com a cabeça aos papos.

  21. bem tarde o meu comentário,mas é de boa vontade.estou de acordo com o texto.costa serviu os interesses do correio da manhã,que já tinha muitos dos seus leitores, a virarem -se para outros lados,indignados com a perseguição a socrates!

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