In dubio pro ranho

Na porqueira, nesta quinta-feira, o frente-a-frente foi entre Francisco Assis e Aguiar-Branco. Tema: as conclusões da comissão de inquérito ao caso PT/TVI. O espalha-suspeições do Pontal trazia um rosto sorridente, mesmo feliz, e um esgalhanço de jurista encartado – o finca-pé à volta do princípio in dubio pro reo. O PS estaria a puxar a brasa para a inocência do réu porque permaneciam dúvidas, enquanto a oposição puxava a brasa para a acusação, precisamente por persistirem dúvidas.

Aguiar-Branco não podia ter sido mais verdadeiro, disse que a política não precisa de provas, chega-lhe ter suspeitas. Provas é no Tribunal, na política vale tudo. Assim, acabando-se os trabalhos da comissão sem conclusões inquestionáveis, a culpa é dos que protegeram a sua privacidade, dos que exerceram os seus direitos, dos que respeitaram a sua consciência e dos que cumpriram a Constituição. A isto Assis respondeu com indignação, denunciando o mecanismo de calúnia promovido pelo seu interlocutor, onde o alvo da suspeita é que tem de fazer prova de inocência.

Para Aguiar-Branco, a política não é a Justiça, mas pode usar materiais que só a Justiça tem autoridade para captar e tratar com o objectivo de os lançar contra os adversários. Como é óbvio, os alvos não teriam qualquer possibilidade de defesa, pois tudo o que dissessem continuaria a ser usado contra eles. Que poderiam dizer ao Pacheco que acalmasse a sua fúria inquisitiva, ele que iria repetir as frases e palavras ditas sabe-se lá em que contexto e com que intencionalidade? Qualquer explicação pública de conversas tidas num registo de privacidade é uma violência moral e psíquica, pois, mesmo oferecendo argumentos que acabem por ser aceites, a humilhação do nome e da pessoa acontece por via da exposição forçada da sua intimidade. Optando por ficarem calados, os alvos igualmente se expõem a um ataque sem defesa possível. É por isso que resulta sempre em ganho para os mentores uma operação de espionagem política. Correu espectacularmente bem o ensopado de enguias à moda de Aveiro.

A forma despudorada, gozona, cagando de alto para a sua honra, como Aguiar-Branco implicou numa conspiração todos os responsáveis da PT e do Governo em causa neste inquérito, a que acrescem os deputados do PS que os encobrem, é trágica e deve ser olhada de frente até aos limites do nosso entendimento. O PSD continua a ser a desgraça que vemos há muitos anos, um partido decadente que concebe a política apenas como uma engenharia do Poder. Não tem ideal nem idealistas, tão-só flibusteiros de ocasião, oligarcas rançosos. E Passos Coelho não é diferente, tendo chegado a censurar a decisão de Mota Amaral que proibiu a utilização das escutas. É esta coisa o futuro primeiro-ministro?

No PSD, declarou Aguiar-Branco, havendo dúvidas acerca dos adversários, opta-se sempre pelo ranho. Quanto a isso, não há dúvida alguma.
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O João Galamba captou outro momento dessa edição, a respeito do Crespo e do serviço que presta ao jornalismo e à democracia. A Fox News de Carnaxide.

11 thoughts on “In dubio pro ranho”

  1. Continuam a alardear a conduta que foi a do Santo.Ofício:
    A inversão da ónus da prova.
    Estes que se dizem juristas e que não se envergonham de exigir que as suspeitas sejam desmentidas uma e outra vez pelos visados, sem que alguma vez se considerem satisfeitos, há muito que tinham na manga a sentenla”!
    Aliás, comprovam a inuitilidade deste pro-forma processual…
    Têm da justiça a mesma ideia da dos regimes totalitários, enquanto se diziam os mais democratas de todos os juizes…
    Uma vergonha, uma nódoa, que talvez só se apague com uma enorme varridela neste regime.

  2. A baixeza de processos a que chegou esta CPI sobre um não caso PT/TVI/Governo leva-me a pensar que os politicos, em geral, já não podem ser considerados pessoas de bem. Juntem-se a eles, na generalidade, os jornalistas, os magistrados e investigadores judiciais e ficamos a compreender o verdadeiro retrocesso civilizacional do País que está em marcha desde o inicio do novo milénio. Atentem bem no que se passou em Portugal desde 2001. A concentração praticamente total dos orgãos de comunicação social nas mãos do poder económicos que só tem a cor da Direita, promoveu o triunfo do jornalismo, da investigação, da magistratutra e dos politicos que nos dominam. E porque é pura verdade que os politicos aproveitaram, incentivaram e aplaudiram esta vergonha, não admira que o BE e o PCP apareçam coladinhos a esta estranha deriva na nossa democracia.
    Vão pagar caros, estes grupos sociais, e já estão a pagar, fazendo recair sobre eles o desprezo crescente dos portugueses. «Cambada de trafulhas», é o mínimo que lhes ouço chamar.

  3. Bom dia Valupi,

    Não vou entrar de novo em considerações juridicas que, pelos vistos excedem as capacidades do telespectador português comum e apenas nos levariam a concluir que, infelizmente, 35 anos apos o 25 de Abril, ele continua a não merecer ter direitos.

    Vou limitar-me a um comentario vindo do planeta do bom senso, que devemos situar numa galaxia distante de Portugal.

    Uma commissão de inquérito não pode ter como objectivo apurar se existem duvidas. Isto é o pressuposto de começo : so vale a pena instituir uma comissão de inquérito SE existirem duvidas (caso contrario, estariamos apenas a dilapidar dinheiros publicos). Portanto uma commissão de inquérito apenas tem sentido se procurar apurar se as duvidas, que por hipotese existem, têm ou não um fundamento sério e objectivo.

    Segue desse pressuposto que quem esperava que a comissão concluisse não existirem duvidas nenhumas e estar completamente provada a inocência de seja quem fôr, esta pura e simplesmente equivocado.

    Quanto à questão politica, ela é simples : a commisão pode ter servido para ver quais são os politicos que pretendem apoiar-se nos portugueses como quem espera de um porteiro que continue a condenar o inquilino do quinto andar, porque aquele ar de santo so pode querer dizer que ele é o demonio em pessoa.

    Em ultima instância, esses politicos valem o que nos valemos.

    Queremos passar a ser considerados como porteiros ?

    Não estamos perante um problema de justiça. Estamos, antes, perante um problema, grave, de consciência civica e de educação politica basica. Pelos vistos, existem politicos eleitos por partidos com forte representação, que apostam num pais governado pelo “achismo” e assumidamente virados de costas para o saber e para o rigor.

    E o nosso problema politico, mais grave ainda, é simples. Não é haver politicos que “se calhar”, mentem. E’ haver politicos que, de certeza, consideram que se devem valer da ignorância e da irresponsabilidade, porque ela ainda é maioritaria no nosso pais.

    Mudem de canal. Mudem de televisão. Mudem de galaxia.

    Ou então, não se admirem de existirem cada vez mais portugueses que preferem mudar de pais.

    O 25 de Abril devia ter tido como resultado empenharmo-nos em mudar O pais, em vez de continuarmos a mudar DE pais.

    Uma promessa que, pelos vistos, ainda esta muito longe de se cumprir…

  4. Esta direita rançosa não consegue disfarçar a lágrima teimosa que lhes aparece de cada vez que se lembram da escola aonde foram formados: os tribunais plenários, pelos quais nunca prestaram contas. Mas que se desenganem os cagões dos aguiares-brancos, jpp e quejandos. Nós não lhes temos medo. Temos nojo. E no dia em que nos quiserem arrastar para o pelourinho, assinam a sua sentença. Os portugueses disseram em Setembro a esta escumalha, para se irem embora! Se não forem a bem, irão a mal.

  5. Mas o pessoal ainda tem dúvidas? O que se pode discutir é se as provas são válidas em tribunal ou não …

    http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/socrates-pediu-compra-da-tvi

    Ou seja, criminalmente, poderão não ser válidas, politicamente, sem dúvida que sim. Em qualquer pais civilizado estas coisas tinham consequências, cá não têm e os “calimeros” ainda exigem um pedido de desculpa e mais tarde ainda pedem uma indeminização.

    http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/jantar-mete-pt-no-negocio

  6. Pois Valupis, o gajo paga-vos bem, mas não chega para negar a evidência: SÓCRATES MENTIU E NEM ASSIM CONSEGUIU LEVAR A DELE AVANTE.

    Sócrates pode ter a força mas não tem a razão. Nem a verdade. Muito menos no bolso.

    Um governo mantido pelo acaso das circunstâncias, sem obra nem outra glória que não a de conseguir manter no poder por anos a fio um mentiroso.

  7. Adolfo Dias, quando dizes que criminalmente poderão não ser válidas, estás a pôr em causa as decisões e considerandos do Procurador-Geral e do Presidente do Supremo? Estou curioso, tão-só.
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    Leonor Sucena, quanto é que o gajo paga e a quem? Sinto que estou a perder dinheiro.

  8. “Sócrates mentiu” dizem os paladinos da verdade. E provas, factos que consubstanciem essa afirmação? Ora essa, mentiu pq nós sabemos que ele é um mentiroso, eis o espectacular raciocinio circular com que somos presenteados por gente adulta e na posse (calcula-se) de todas as suas faculdades mentais!

  9. Eu ainda gostava de saber o que é que Sócrates tem, que enerva tanto esta gente.
    Começo a pensar que o que está em causa, está para além do jogo político.

    Os senhores do PSD são verdadeiros terroristas políticos. Todas as lutas que desenvolvem com o PS revelam a mesma falta de ética que têm nos negócios.

    Quando são questionados para apresentar ideias, são diletantes e evasivos.

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