Na cena da entrega de uma pizza na residência de Sócrates, há um aspecto que ainda não vi tratado. Para além do ridículo risível, e do voyeurismo predador, aquilo a que assistimos consistiu numa acção espontânea e concertada dos jornalistas presentes para sequestrarem e manipularem a pessoa que calhou terem apanhado pela frente. Como se vê na versão completa do episódio, os jornalistas nunca disseram ao funcionário da Telepizza qual era a razão para o aparato mediático. Em vez disso, começaram a explorar a crescente desorientação do indivíduo e chegaram ao ponto de o instigar a agir como se fosse voluntário de uma experiência destinada a ser transmitida em directo para todo o País desfrutar. A perfeita sincronia de todos os jornalistas (mas eram mesmo jornalistas?) tinha como objectivo captar material nascido da resposta emocional que eles antecipavam pudesse ocorrer assim que o sujeito da sua experiência descobrisse quem era o fulano a quem tinha ido entregar a pizza de extra-queijo + pepperoni.
Pode alegar-se que o episódio é aceitável, normal, engraçado. Afinal, tratava-se apenas de uma singela pizza, das pequenas. E do puto que as entrega, um zé-ninguém. Um ser que está quase ao nível de um arrumador de rua, carne para o canhão da comunicação social profissional. Pode defender-se que não se fez mal nenhum ao animal humano capturado na ocorrência. Se calhar ele até gostou, terá sido inundado com mensagens dos amigos e família com parabéns e convites para isto e aquilo. No local de trabalho, passará a ser uma vedeta. Outras pizzarias poderão fazer-lhe propostas de trabalho, a actual poderá lutar pelas sua permanência. Talvez venha a incluir a história no seu currículo profissional. Talvez participe num próximo Big Brother qualquer, agora que é famoso. Ou venha a fundar a sua própria marca de pizzas; a “Pizzas do Marquês”, por exemplo. No entanto, aquilo a que assistimos foi um espectacular abuso que fica como metonímia da impunidade com que se viola a privacidade e a intimidade ao serviço da comunicação social e suas agendas, tanto as comerciais como as políticas.
No final desta histórica reportagem, após a entrega gorada, irrompeu por flutuação quântica um meta-diálogo:
Esgoto a céu aberto – E o senhor vai voltar agora? Vai dar essa informação à gerência da sua cadeia?
Arguido de massa fina – Da minha cadeia?! Não, que eu não estou preso…
Nada mais lógico: a encomenda de comida feita por um prisioneiro domiciliário ser-lhe entregue por um funcionário da cadeia. Porém, este jornalismo extra-queijo arrisca provocar um curto-circuito semântico junto dos cidadãos alienados que ignorem estarem a soldo de uma superestrutura dedicada a acabar com a corrupção através do aumento de vendas dos pasquins e da destruição do PS, como era o caso daquele indocumentado rapaz telepizzeiro. Tenham cuidado, não se engasguem com o salame.
Porra pepperoni são pimentos não?
@Nvistas:
Não. Pepperoni é uma espécie de salame ligeiramente picante. E o que o extra-queijo revela é que Sócrates deve ter encomendado a chamada «pizza americana» do cardápio Telepizza , porque é a única que inclui o extra-queijo, que depois aparece nas facturas das encomendas. A menos que tenha composto a sua pizza por ingredientes, que a terem sido apenas dois, pode apontar na direcção do «menú para todos» que inclui ainda uma bebida e um pão de alho simples.
Aqui fica a minha modesta contribuição, para que conste dos exaustivos inquéritos e escutas dos procuradores justiceiros.
Quando vi a cena, pensei : – mas vão mesmo entrevistar o rapaz da pizza?iiiiiii
E não é que entrevistaram mesmo, que tristeza de jornalismo.
Só tu Valupi para dares sentido a uma coisa sem sentido:
“No entanto, aquilo a que assistimos foi um espectacular abuso que fica como metonímia da impunidade com que se viola a privacidade e a intimidade ao serviço da comunicação social e suas agendas, tanto as comerciais como as políticas.”
tá bom de ver que foram os jornaleiros que encomendaram a pizza para encher mais uns xóriços com favas & piscinas aquecidas em banho maria e o pizzaboy tamém me cheira que sabia ao que ia e foi escolhido a dedo:
1 – não mandou ninguém para o caralho e colaborou com o guião manhólas
2 – como não sabia o endereço tocou às campaínhas todas, se fosse na torre s. gabriel tinha levado nos cornos do segurança
3 – aparentemente o a guia de entrega referia só extra queijo + pepperoni, a pizza não tinha nome nem tamanho
4 – a telepizza não emite factura das vendas
5 – os motoqueiros da telepizza não trazem identificação, carta de condução incluída.
6 – houve uma entrevistadeira que se ofereceu para ir entregar a pizza com o rapaz.
Também não gosto deste voyeurismo, aliás não suporto. Mas o 44 que não se queixe, pois para umas coisas gosta da comunicação social…para outras não os quer por perto…
Faça como outros arguidos, seja discreto. É claro que, vaidoso como ele é não consegue…
Cara verdadeira anónima,
percebeu ao menos o que o Valupi criticou?!
Tem todo o direito de embirrar com o ex-primeiro ministro, mas tratá-lo por 44 agora que ele está no 33, ou é malevolência ou é muito distraída. Já agora, o que terá tido Sócrates a ver com este ‘jornalismo’ trambiqueiro? Sabe?
« Já agora, o que terá tido Sócrates a ver com este ‘jornalismo’ trambiqueiro? Sabe?»
hum…não é o mesmo que ele ( e outros, independentemente da cor) querem controlar sempre?
Porque não há-de o jornalista moderno português (hum) questionar sobre o que o homem come? Pois não é verdade que os simpatizantes de Sócrash deliraram e logo vieram aqui anunciar que ele comer uma pizza? Hum? Adivinhem quem foi…
E depois, numa era em que também os portugueses copiam os hábitos dos «istrangeiros», é natural que o rapaz da pizza fique famoso.O gajo levava a comida que aquele santo homem, preso político, ia comer. Eu acho que a pizza devia ter sido IMEDIATAMENTE apreendida e guardada…um dia poderemos vê-la num qualquer museu ao Rato…como aconteceu com a fatia de bolo da Isabel II.
E este pessoal só agora se dá conta do jornalismo que há…fogo, e falam de clara ferreira alves, fátima campos, e judoca sousa e sousa…como se estas só existissem agora… tá bem e os enjoados da Sic e tVI…só deram por eles agora. Ou acham que os gajos são melhores que os patetas da rua do Abade..?
ai que risota! até o chulé do fim da jornada de trabalho quase que entrava na história, nesta história. porque na outra entrou mesmo – porque os assaltos à privacidade são como o chulé. :-)
porque é que a tv manhólas não acampa à porta da paulette para nos informar quantas telepiças engole por dia e se a mamã passa por lá todas as manhãs para limpar a nhanha dos sofás. acho que tamém deveriamos saber estas cenas em nome da liberdade de informação.
alguém sabe quando é que o jornalismo de imbestigação entrevista o pizza boy para conhecermos pormenores do vínculo laboral, como é que funcionam as encomendas e como é que é possível irem entregar uma coisa que o cliente não pediu.
A mãe de Sócrates, dirigindo-se ontem à canzoada sem vergonha que a assediava, em competição pela pergunta mais idiota e quase a fazendo cair, resumiu a questão numa fórmula perfeita:
“Tenho pena de vocês.”
Eu penso que o IGNARATZ, cuja vocação e talento é o de VISUALIZAR e transmitir o que vê até à distância, é o jornalista ideal pra inbestigar as bisitas de paulo portas…agora que parece ter deixado o zoo e recomeçado com mais vigor esta sua linguagem faralhárica.
coitada da senhora, agora já não pode falar do filho nos ebentos sociais…ela que concentraba tudo à sua bolta e «meu filho práqui e prácoli»etce e tal… Eu também tenho pena dela…
Um nojo, caro valupi, um nojo! Revolveu-me quase tanto o estômago como ver o prof. Marcelo na festa do Avante. Mas enfim, é a vida! Cada um tem os jornalistas e os professores que merece.
ehehhehhe o marcelo na festa do Avante…lol. Terá sido a música que por lá caíu…? É que os gajos costumavam ter boa música lá, para chamarem o maralhal e tentarem fazer-lhes a cabeça…
O JJerónimo ficou doente…debe ter pensado que o Marcelo lhe quer tirar o lugar à lua…ehehhehehehe.
Tou a ver a cara do marcelo, olhando, tirando nota, e tal, bem é quase tão icónico como tomar banho no rio…
Lol. Será que ele vai visitar a rua do Abade?
O maior interesse jornalístico, e científico até, neste momento, estaria em saber os nomes, o que ganham, o percurso profissional, os projectos de vida, os fetiches sexuais,… dos indivíduos que abancaram à porta da casa em que José Sócrates se encontra. Justifica-se a colocação de uma câmara online por cima da porta, voltada para a rua.
Boa ideia, amigo Lucas. Amanhã falo com a SPEA, que tem experiência nesse tipo de situações, e sugiro que montem uma câmara como esta:
https://www.youtube.com/watch?v=hboy9cvC12Q&feature=BFa&list=PL56823F844553878D&index=1
Se dá para ver os cagarros, também dará para os cagados e suas cagadas.
Oops, envio prematuro acidental. Ia eu a contar que…
… Não só música (Clancy Brothers of all people!), mas livros interessantes. Da única vez que lá fui, movido pela curiosidade, que não pela ideologia, comprei várias coisas técnicas das edições MIR (o óptimo «Princípios de MQ » do velho físico V. A. Fock) e as interessantes memórias «50 Anos nas Fileiras» do gen. Alexei Ignatiev. Mas o que mais gostei desta vez foi da barretina à «proletário de qualidade» do prof. Martelo, capaz de ombrear com a «barretina da lavoura» do Portas na sua vertente agrária.
De onde se pode concluir que em Portugal reina a paz entre as classes. Nisso o Pacheco tem razão.
A Telepizza foi escolhida pelo MP para mostrar à sociedade, duma forma subtil, o cerne de toda esta questão!
Telepizza, o segredo está na massa!!!
o rapaz da cena pizzótica já não trabalha na telepizza.
Agora é funcionário do PS…
https://www.facebook.com/telepizzapt?pnref=story
Continuo a pensar que foi uma excelente campanha orquestrda pela telepizza e que os jornalistas é que foram bem enrolados.
Por outro lado, também passou a ser a pizza do “demónio”…
http://visao.sapo.pt/afinal-ninguem-chamou-o-homem-da-pizza=f829948