Grão-mestre vitalício já temos

A Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique corresponde ao segundo grau, em importância, de uma ordem honorífica criada em 1960. Américo Thomaz condecorou Salazar com o Grande-Colar, o grau mais alto, em 1968. Cavaco fez o mesmo a Durão Barroso em 2014. O seu âmbito de atribuição é lato o suficiente para transcender o simbolismo do padroeiro, o qual remete para feitos ao serviço de Portugal efectuados no estrangeiro, admitindo a valorização de qualquer “serviço relevante a Portugal, no País ou no estrangeiro“. Fica assim ao critério de quem a atribui, sempre o Presidente da República, definir-se o que seja um serviço tão relevante a Portugal, em Portugal, que mereça uma das 7 ou 8 modalidades adentro da Ordem do Infante D. Henrique para a celebração institucional e registo na História de certos cidadãos e entidades.

Há dias, Cavaco agraciou Luís Campos e Cunha com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique pelo facto de ter sido ministro das Finanças entre Março e Julho de 2005. 4 meses onde mostrou completa inépcia para o cargo, tendo sido incapaz de conquistar sequer a solidariedade dos seus pares e do partido. Pelo meio, exibiu indisfarçável fragilidade psíquica perante a tensão e exigências da posição, fosse por razões circunstanciais ou endógenas. Após ter saído do Governo, tornou-se um dos seus mais ferozes e activos opositores, usando para o efeito o seu acesso à comunicação social e ainda a SEDES, uma agremiação de patuscos cuja única finalidade entre 2005 e 2011 foi a de servir para espalhar alarmismo na sociedade ao serviço do desgaste e bloqueio da governação socialista. Comparando os dois períodos em compita e respectivos feitos em cada um, os 4 meses como disfuncional ministro de Sócrates e os 6 anos como infatigável franco-atirador contra Sócrates, não é difícil de perceber o que está Cavaco realmente a premiar usando para isso a Presidência da República de forma a agravar ao máximo a afronta.

O DN publicou as declarações do novel grã-cruzado. São cristalinas do que esteve e está em causa:

«O ministro das Finanças no primeiro governo de José Sócrates disse ao DN que "serve-se o país de várias maneiras, incluindo quando se demite de funções por entender haver razões" para isso. "Também é um serviço", apontou o economista que em 2005 esteve quatro meses à frente do Ministério das Finanças até se demitir em desacordo com a política em curso. "Nos quatro meses fiz coisas importantes e saí por razões que hoje são mais evidentes", frisou.»

Portanto, a demissão foi um serviço ao País – algo com que, estou 357% certo, ninguém discordará. Mas depois acrescenta que as razões para tal são hoje mais evidentes. Aqui já a doutrina se divide. O que é que poderá ser hoje mais evidente, ao ponto de ter levado Cavaco a instrumentalizar o Estado e o seu património simbólico no afã de atingir quem concebe como inimigos? Quais são os nexos possíveis entre 2005 e 2016? Estará a referir-se ao TGV e ao aeroporto da Ota, motivos invocados então para a sua deslealdade política e algo que ficou por construir, para o qual havia fundos europeus, que surgia na sequência de decisões de Governos anteriores, que resultava de projecções económicas legítimas e que se ponderava num contexto internacional sem qualquer paralelo com aquele que se instaura a partir de 2008? Ou estará a falar de outra coisa? Se sim, qual será? Quem tiver um palpite, que o partilhe para ilustração geral. É que esta gente séria parece ter alguma dificuldade em largar o registo da insinuação mais manhosa.

Num outro plano de análise, e até mais fascinante, temos a questão de saber como é que a figurinha acabou por ser a eleita de Sócrates para aquela pasta, primeiro, e o que a terá levado a aceitar, depois. Sócrates foi também quem validou entusiasmado e convicto a escolha de Carlos Costa para o Banco de Portugal, só para descobrir, pouco tempo depois, que o Governador era uma das mais insidiosas forças de ataque ao seu 2º Executivo naqueles meses selvagens que antecederam o chumbo do PEC IV e o subsequente afundanço de Portugal. Vai na volta, este Sócrates não é o tal monstro sinistro com super-poderes que ainda hoje faz as delícias do erotismo do Pacheco Pereira e da Helena Matos, antes um tipo que se engana até ao pescoço como qualquer outro. Ou a explicação poderá ser mais realista, admitindo que é preciso abrir os melões para saber se estão maduros, pelo que há sempre elementos imprevisíveis em tudo o que seja uma relação humana – para mais sujeita a tantas e tão fortes pressões como as desses dois casos de traição.

Cavaco rejeitou condecorar Sócrates como é da praxe em relação a ex-primeiros-ministros. Não contente com essa humilhação formal, resolveu ofender por escrito, enquanto Presidente da República, um governante com quem trabalhou institucionalmente. Isto em si mesmo é original e pode servir de fundamento para a criação de uma nova ordem honorífica portuguesa, a Ordem da Urbanização da Coelha. Esta ficaria como uma distinção de mérito que premiaria, em vida ou a título póstumo, os cidadãos portugueses que se notabilizassem por feitos cívicos ao serviço da sonsice, da pulhice e do rancor muito para além do que o comum mortal seria capaz de alcançar nem que para isso dedicasse a vida toda a tentar imitá-los. Grão-mestre vitalício e inspirador mítico desta nova ordem já temos, só falta sacar-se um dinheirito oficial para se fazerem as medalhas e pagar os croquetes aos jornalistas.

11 thoughts on “Grão-mestre vitalício já temos”

  1. “Ou estará a faltar outra coisa” (dentre as que motivaram a saída do ex-ministro das finanças)? Li, algures, já não sei quando, que o ministro saiu do governo quando foi promulgada a lei socrática de não poder-se acumular vencimento ministerial com reformas, tendo de optar por uma ou por outras. Ora, ao que consta, o homem teria de renunciar a 8 mil euros de reforma do BdP por meia dúzia de anos naquela instituição a romper o cu na cadeira do gabinete., caso decidisse pela remuneração ministerial. Cavaco ensinou-lhe como se fazia, mas ele, pelos vistos, não estava disposto a renunciar ao bolo completo. Será que Cavaco teve em conta esta aproximação de sensibilidade ao “cacau”? Será que, para Cavaco, sacar do Estado o máximo que se puder é razão mais que suficiente para receber condecorações? O homem deve ter percebido tudo ao contrário: serviços relevantes servindo-se da Pátria.

  2. Com efeito, José Sócrates cometeu alguns erros de “casting” nos seus Governos,
    seja por mau conselho ou má avaliaçao pessoal, não foi só este ministro dos três
    meses, na Justiça também não escolheu bem! Na realidade o demissionário ale-
    gou motivos pessoais sem especificar na altura, foi dito que tudo se ficou a dever
    à Lei limitativa de acumulações de pensões dado que era beneficiário de 8 mil
    euros mensais por ter passado 4 anos como vice governador do BdP logo, mais
    do que o vencimento de ministro de que só poderia auferir 1/3!
    Não considero ser uma humilhação não receber uma condecoração atribuída por
    Cavaco dado que, os critérios seguidos em muitas não terem qualquer suporte
    que as justifique a não ser pagamento de favores!!!

  3. Chegou há instantes uma caricatura muito engraçada que fizeram para caricaturar o presente post:
    (Conversa entre o ex 44 e o ex -quase- PR):
    ex 44: Então não há uma medalhinha para mim?
    ex PR: Mas…não lhe deram uma pulseira?

    Ahahhahahahahhahah

  4. Ó “verdadeira anónima”

    Quiseram ofertar-ma mas eu RECUSEI, lembra-se ?
    E não considero humilhação não ter sido condecorado por Sua Demência o PR cessante, antes tomo como elogio. Aliás, ainda lhe digo que o contrário tomaria como provocação e ofensa !

  5. ai que riso! a Ordem da Urbanização da Coelha. :-) e depois, com tanto erotismo de uns e outros, o título também podia bem ser o grão-mestre dos bicos. ai que riso! :-)

  6. «entre 2005 e 2011 foi a de servir para espalhar alarmismo na sociedade ao serviço do desgaste e bloqueio da governação socialista.» E então, isto não é suficiente para ser condecorado por Cavaco?

  7. Na hora da despedida, as forças armadas deram três espadas ao coiso, foi alferes em Lourenço Marques, especialidade de Secretariado, trabalhou no Conselho Administrativo e na chefia dos serviços de contabilidade e administração, tendo recebido um louvor, portanto, distinguiu-se na batalha de Macho Grande .
    A juntar à recém proposta Ordem da Coelha, sugiro que se acrescente, a ordem do triplo espadachim. E da pena .
    Porque dá pena !

    NOTA : os escriturários, os amanuenses e os oficiais do secretariado, ostentavam na boina, e nas lapelas do blusão, uma pena de ave, cruzada com uma espada .

  8. valupi,estava tão bem disposto e ao pequeno almoço servido por esse patarata do luis santos e cunha.ele discordou foi do corte que ia levar ao fim do mês,mas como é um “pulha” não teve coragem para dizer a verdade e por isso, refugiou-se nas pseudo divergências politicas. às vezes penso no fascismo,onde” à cabeça” era todos uns canalhas. não enganavam ninguem. na democracia surgem estes santos e cunha, que sem abril,estavam a servir o regime fascista com todo gosto.valupi,não percas mais cera com fraco defunto!

  9. Gostei muito depois de o ler de seguida, Valupi, mas vejo pelo menos três posts ali dentro.

    A medalhinha para o Campos e Cunha é surpreendente de facto, aquela é-o!, alguém sabe se se poderia perguntar ao ainda PR qual a dolorosa campanha do-ex-turbo ministro pelos rigores da pátria e para alegria do Mundo estão abrangidas pela lei portuguesa, como e porquê?

    Sobre a tua proposta, sugiro que a nova Ordem da Urbanização da Coelha se passe a chamar Ordem do PSD, do Espírito Santo e da Urbanização da Coelha o que terá importantes e inclusivas ressonâncias, sendo que a segunda é tripla pelo menos: 1. PSD (o dê em Script), PSD-M do Banif e, claro, Social Democracia, sempre! 1. é também da senhora Maria, o luminoso Espírito Santo; 2 , 2+1 e 2+2. é sempre possível relembrar aos vindouros o amigo Ricardo Salgado, os espertalhões do BES, o sotaque das festas do Divino Espírito Santo outra vez do Banif e, na Coelha, a ínclita geração social-democrata da malta do BPN.

    Assim lembram-se alguns dos recantos por onde andou o gangue do PSD e premeia-se a sonsice (o exemplo maior na actualidade serão as lições de ética política despejadas pelo ex-ex-ex-Marques Mendes, semanalmente na SIC propriedade do Número 1): o BPN, o BES e o Banif.

  10. eh pá, falta o principal. o campos e cunha demitiu-se porque o sócrates foi-lhe ao bolso quando lhe impôs a lei do ordenado único: ou a pensão do banco de portugal (?no qual trabalhou 2 anos) ou o vencimento de ministro. ele não esteve de acordo e andou pelos tribunais para tentar acumular.

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