Grandes momentos no comício do pior Presidente da República desde a implantação da mesma

A direita entrou abúlica mas foi aquecendo até ao imprevisto êxtase colectivo. Não contava com o turbilhão de emoções que a esperava nessa tarde de indelével memória. E assim se mostrava sonolenta quando o orador se elevou na tribuna. A cada linha que passava, porém, a temperatura subia. Sentia-se algo novo no ar, uma daquelas energias com que se fundam as nações ou se derretem serviços Vista Alegre contra as paredes de uma inocente cozinha. E começaram, devagarinho, a soltar-se os muito bem. De seguida, vieram os bravo. E, logo depois, os olé. Porque as palavras de ordem jorravam imparáveis no hemiciclo, enchiam de pundonor as hostes sequiosas e feridas. O espectáculo era não só original nos e em 100 anos da República, era também de arrebimbomalho. Já fervendo, Portas ria à gargalhada e tentava abraçar alguém. A Linha Maginot na bancada do PSD exibia-se marejada na comoção, os peitos arfavam. Havia um estupor concomitantemente agitado e lânguido por tanta felicidade. E depois veio aquele tal momento, genial e divinal, em que o orador exigiu que as nomeações para a Administração Pública fossem pautadas exclusivamente por critérios de mérito e não pela filiação partidária dos nomeados ou pelas suas simpatias políticas. Aqui a plateia e balcões simpatizantes explodiram em júbilo. Voavam cartolas e tiaras, à mistura com letras de câmbio e guias de restaurantes. Finalmente, fazia-se justiça naquela casa e diziam-se as verdades: os do mérito estavam impedidos de ir ao pote, o Reino tinha sido tomado pelas mãos sujas dos piolhosos. Algo tinha de ser feito, urgentemente.

Rápido, todos à Avenida da Liberdade neste sábado. – teve ainda tempo de berrar o orador – É que nós somos a geração da direita à rasca!

11 thoughts on “Grandes momentos no comício do pior Presidente da República desde a implantação da mesma”

  1. De antologia, Val. Ia para dizer bravo, mas a partir de agora passa a ser palavra de feias conotações. Só uma coisa me entristece, que a inspiração tenha de vir tantas vezes do horror perante tanta imbecilidade. Enfim, a luta continua…no festival da Eurovisão.

  2. Por falar em festival, estava há pouco o pedro Abrunhosa, grande politólogo nacional a dizer que os Deolinda e os Homens da Luta são o anúncio do estertor do regime “socratista”, que a história se repete desde a Tourada, grande cançaõ panfletária, segundo ele. E eu a pensar que o Ary dos Santos era Poeta…

    Não sei porquê, mas lembrei-me que estes olés de que o Val fala ganharam novo contexto. A tourada é outra e pode ser vista em grande desfile no sábado.
    http://www.youtube.com/watch?v=eMNIGliSArk

  3. É verdade, Edie. Mas que hipocrisia. O que disse está dito! Portanto, vá gozar com a prima, porque o que disse foi porque quis dizer.
    Um pacóvio que se julga uma prima-dona.

  4. Infelizmente, acho que ele vai é tentar gozar com a nossa cara assim neste estilo durante os próximos 5 anos…(perfazendo um total de 20 anos de profundo divertimento à conta do pagode).
    Mas a gente não deixa, pois não?

  5. Então não deixamos? Não é limitado o eco que alcançam as nossas angústias para além de as materializarmos em palavras?

  6. Um dia ele disse sobre mim e todos os meus Colegas uma frase ingénua e parva, mas que ficou célebre e nunca esqueceremos. Devolvo-lha agora, num embrulho enxovalhado, mas ainda não explosivo (calminha, devagar, que temos pressa…), em forma desta interrogação impertinente: “RESTA-NOS ESPERAR QUE ELE MORRA?”.

  7. Maula,

    se as angústias, todas juntas, postas em palavras, já o fizeram tremer- e cair- como PM, porque não poderá acontecer o mesmo como PR?

  8. edie,

    poder pode, certamente. Mas do presente onde me encontro não vislumbro o porvir. Não é poder que me assista, felizmente. Enquanto isso, vou podendo ver a claridade dos dias nos sorrisos daqueles que não fazem da hipocrisia o seu modo de ser.

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