A crise do Orçamento favoreceu Cavaco e a sua recandidatura. O fenómeno é inevitável e acabou com os laivos de esperança que Alegre pudesse ter de sequer chegar à 2ª volta. Acresce a pobreza estratégica da sua candidatura, incapaz de aproveitar o tempo disponível para construir um discurso sobre o qual apeteça ter opinião. Alegre é irrelevante, quando não é penoso. Os seus apoiantes também o sabem, por isso só têm um argumento a seu favor: ele não se chama Cavaco. Logo, quem não votar Alegre é cúmplice de Cavaco, insistem para assustar as crianças.
Sócrates repete com Alegre o mesmíssimo erro cometido com Soares em 2006, em ambas as situações levando o partido a apoiar candidatos presidenciais ostensivamente incapazes para a função. Mas trata-se de um erro que ele não podia evitar, embora o tenha de suportar – é a prova de que o PS é grande, muito grande, grande demais para um único homem. Muitos foram os que alinharam com o plano de Louçã para ter um cavalo de Tróia dentro do PS, alguém que minasse por dentro a autoridade de Sócrates. Alegre fê-lo exemplarmente de 2007 a 2009, altura em que conseguiu ter massa crítica interna para impor a sua candidatura ao PS. A desorientação actual do projecto é o corolário irónico do cinismo dos seus mentores.
A estouvada ambição de um poeta politicamente néscio, velha glória de trovas e ventos passados, incapaz de resistir à fantasia régia e recusando enfrentar os seus limites cognitivos, teve uma consequência terrível: impediu boas, óptimas, candidaturas à esquerda. A melhor de todas, para mim, seria a de Maria de Belém Roseira, mas a senhora jamais ousaria beliscar o sonâmbulo seu amigo e companheiro de jornada. O PS, evidentemente, tem muitos outros nomes que seriam capazes de congregar o centro e reduzir Cavaco à sua perversidade, incluindo independentes. Todos eles ficaram abafados pela nossa esquerda imbecil, a qual continua fratricida e lunática.
E assim temos Cavaco, o pior presidente da história da (minha) democracia, o mentor de um dos ataques mais canalhas e patéticos a um governo em vésperas de eleições que há memória, aquele que seria perfeitamente viável derrotar, com as portas da reeleição triunfalmente escancaradas. Nem precisa de outdoors e cartazes, diz com toda a razão.
E com a rédea definitivamente solta para influênciar sériamente a governação num periodo particularmente difícil e delicado, com consequências que nem me atrevo a antecipar.
Tudo graças ao trabalho da “esquerda” radical que, ou muito me engano, ou está tão interessada em Alegre como presidente como em ver o Dalai Lama no Vaticano.
Já a possibilidade de culpar o PS pela derrota deste, surgindo como os “verdadeiros defensores da esquerda” e ganhar mais uns incautos deve provocar hectalitros de saliva para aqueles lados. Aposto que o Daniel Oliveira já tem as crónicas e posts todos escritos, e que Louçã já gastou três espelhos nos ensaios.
Ainda bem que o PS é grande. Senão afogava-se neste mar de estupidez. Mas lá que vai ter de engolir um valente pirolito, lá isso vai.
Amigo Val, o que está a acontecer com o “Beto Alegre” já eu o previ há muito tempo aqui na Pharmacia. Tudo isto me provoca alguma tristeza, sobretudo depois de ter ouvido o discurso “unionista”(1) do Sr. Silva. Resta-nos O LOPES para nos livrar do actual presidente. É assim que se chama o cordeiro sacrificial do Jerónimo?
Penso que o PS, apesar de tudo, continua grande. Mas numa coisa discordo de ti, infelizmente não tem muitos nomes capazes de tal cometimento.
(1) Unionista de União Nacional, claro!
Este nosso povo português tem mesmo fibra, depois de não se ter deixado converter por 48 anos de salazarismo, luta agora para não se deixar submergir por uma direita manhosa e perversa e uma esquerda teimosamente bolchevique. É obra!
No fundo, no fundo, tão no fundo que quase não se vê mas está lá, não será mais conveniente ao PS ter o Cavaco em Belém do que o Alegre? Já imaginaram se o discurso esquerdista radical do homem em termos económicos e políticos se materializasse em vetos constantes e mais não sei o quê, incluindo a destituição do governo por não exercer os “valores do socialismo” que considera gravados para sempre no seu peito ao lado da pátria?
Por outro lado, já todos os portugueses perceberam que o PS apoia Alegre a contra-gosto e que a sua derrota mais que provável é uma boa maneira de o “arrumar” mais aos trauliteiros do BE.
Am I right or am I right?
Sinceramente, penso que no contexto actual, um Alegre devedor do BE como PR era bem pior que Cavaco. Só de pensar que o meu preferido inicialmente, Fernando Nobre, candida, estúpida e ligeiramente afirma que mandava chumbar o OE -no actual contexto nacional e internacional- deixa-me os cabelos em pé e a agradecer aos deuses a mais que certa eleição de Cavaco. Tal como este malfadado OE, é o mal menor. Se me passasse pela cabeça que Cavaco corria o risco de perder, corria a votar nele.
É verdade Valupi, foste a pessoa que sugeriu a Maria de Belém e também me parecia boa escolha, a melhor opção. É pena. Entretanto o estrafogamento nacional vai ter ferramenta própria.
Penélope, claro que é mais conveniente. Já uma vez aqui o disse, é preferível o pulha ao ideólogo chéché, porque ao menos o primeiro é minimamente previsível e, dentro dos seus objectivos, racional. Agora é um preço extremamente elevado a pagar pelo ajuste de contas com a ala lunática do PS, aquela que pensa que, no fundo, o BE é que representa os ideais de esquerda, que o PS “traiu” os seus ideais com Sócrates. Enfim, todos os que coram quando os acusam de ter “metido o socialismo na gaveta”. A malta que tem pena que a barriga já não deixe vestir a t-shirt do Che.
Agora quanto a essa de “arrumar” o BE, tenho muitas dúvidas. Acho que eles estavam a contar com o tal apoio a contra-gosto para se abocanharem mais um pouco da bandeira da “verdadeira esquerda”. Para o BE, Alegre é um meio, não um fim. E o pobre pateta nem hoje se apercebe disso. Se se apercebesse, fazia o derradeiro sacrifício pelo pais e retirava a candidatura. Ainda vai a tempo. O PS avançava com um nome independente, e tramava o BE. Mas à grande.
É uma constatação que para a maioria dos clientes do aspirina, se prepara alegremente para votar Cavaco.
Outra coisa não seria de esperar.
Este país não está nesta situação, apenas por culpa dos pais desta politica, os que votam cegamente nestes actores também são culpados.
Mas infelizmente este é o país que temos.
Agora o pai do monstro e dos mostrengos que por ai se vão passeando, hás custa deste povo que caminha rumo a um futuro sombrio e de tormentos, isso sei quem é, apresentou hoje mesmo a sua candidatura à presidência da republica sem vergonha nem pudor.
Agora espero que o povo português na hora de votar, reconheça e retribua o seu demérito com um grande e rotundo NÃO.
Vega, eu penso que Alegre é um meio e não um fim não só para Louçã mas também para Sócrates. Ou seja, em si, pouco valor lhe reconhecem, mas Louçã quis usá-lo para dividir o PS e Sócrates para que o próprio Alegre livre o PS da melga. E porque a alternativa e não lhe dar apoio seria pior, dividindo, essa sim, o PS.
Jojoratazana, ninguém aqui (penso) vai votar no Cavaco. O personagem é bastante repugnante – crispado, sorriso hidráulico, conservador, banal q.b. como PR, com tontices como a comunicação ao país a propósito do estatuto dos Açores e outras parvoeiradas, intriguista em nome de uma suposta superioridade moral, já foi 1.º ministro 10 anos, PR 5, já estamos fartos, fartíssimos do homem. Não é seguramente graças a mim que vai ganhar. Só que o restante panorama é um bocado pior e imprevisível demais.
Adorei o generoso eufemismo “limites cognitivos”. Poderia também sugerir “apedeutismo”.
Jojoratazana está cheio de razão! O pessoal do Aspirina B, tal como o pessoal do Corporações e do Jumento, vão todos votar Cavaco. Limpinho! É tudo a mesma gente e são obedientes e reverentes para com Sócrates! A actual direcção do PS vai atirar o partido para um jejum de poder como nunca se terá visto. Sócrates e Cavaco serão apanhados pela enchurrada. Acho que o Val bebe cada vez mais, ele que aconselha os outros a deixar o vinho…
Tens toda a razão, Alfredo Gomes. E se há coisa que se tem visto com Sócrates é jejum de poder, o homem que deu a primeira maioria absoluta ao PS e ganhou eleições contra tudo e contra todas.
Tens de começar a ir à porqueira botar opinião.
Vou fazer parte dos abstencionistas. É o sistema todo que tem de ir ao ar.