Devo dizer-lhes que este Carlinhos era um adoravel petulante de buço preto e olhos claros, cheio de vivacidades com raparigas, prompto a rir, delgadito e forte, tendo pelos actos de bravura uma quasi religião. Compensavam-se n’elle delicadezas de femea, brancuras de mãos, flexibilidades de cinta, uma doçura candida de feições, toda a graça ondulosa emfim, dos que adolescem á larga, sem cuidados nem represalias paternas, com os primeiros esboços d’essa energia physica, tenaz, inquebrantavel, leviana e generosa, que ainda agora é tradição em certas raças da provincia, e guarda fama de povoado em povoado. A escóla fôra-lhe apenas um pretexto de troça, onde esse incorrigivel tinha posto em debandada a auctoridade classica dos mestres. E como n’esse periodo as primeiras desordens do sangue, ensaiavam pelo campo da aventura, mais agora ou mais logo, as suas sortidas, não havia mesada que chegasse, nem horas para folhear as lições. Demais, a sua impetuosidade que esplendia côr e frescura de saude, pouco dava á vida cerebral; portanto, voltou á aldeia sem curso, elançado de figura, tendo as olheiras symtomaticas do amor esbanjado, lendo romances, com uma arte especial de surprehender mulheres, e predilecções decididas por quanto fosse prazer.
—Doido, dizia a gente pobre da aldeia, mas que rapaz!
ai que já fiquei encarniçada porque o tinteiro lembrou-se de acabar. mas eu vou vingar-me e vou ler seguidinho.:-)