Quanto é que se ganha nos programas de debate político na TV? Se excluirmos a hipótese de haver quem pague para aparecer neles, seria interessante relacionar os euros embolsados com a qualidade do serviço. Vejamos este exemplo:
Constança – Segundo o Ministro Santos Silva, são 52 cassetes!
Viegas – Era isso que eu ia dizer…
Constança – Não sei, aliás, como é que ele sabe isso…
Viegas – Era isso que eu ia dizer… É que toda a gente sabe isso. Hoje o Jornal de Notícias diz que as escutas foram queimadas, ou que o Presidente do Supremo vai mandar queimá-las, mas, quer dizer, como o Ministro da Defesa diz, são 52 cassetes! Ora, se o Ministro da Defesa diz que são 52 cassetes, quer dizer, é material…
Constança – É material e resta saber como é que ele sabe isso…
Coutinho – Como é que ele sabe que existem… Exactamente, como é que ele sabe que existem 52 cassetes.
Constança – Ele diz que viu na comunicação social, mas eu confesso que não vi.
Nesta passagem temos uma exibição de crassa ignorância (Santos Silva limitou-se a repetir a informação que uma sombria fonte, chamada SIC, tinha transmitido no dia 11 do corrente) e uma manifestação de pulhice crassa (já estavam de cordas na mão, prontos para enforcar aquele que lhes dá baile até quando apenas se limita a sorrir). Tendo em conta que ainda recebemos o bónus de ouvirmos a jornalista presente, apresentadora e mediadora do debate, a puxar pela sua autoridade profissional em ordem a garantir que o espião, afinal, era Santos Silva, quanto valerá, em euros, o espectáculo fornecido ao estimado público? 10.000 euros, a dividir pelos três? 100? 10? Ou terão ficado a dever dinheiro ao Santos Silva, e ao País, à pala das emporcalhadas bacoradas?
Estes ilustres intelectos, capazes de tudo compreender e depois servir ao Povo já devidamente mastigado e salivado, foram igualmente capazes de oferecer estes paradigmáticos contributos para a qualidade da nossa democracia:
Coutinho – Ainda bem que não existe segredo de Justiça! Ou que não seja respeitado…
[…]
Coutinho – A única coisa que eu espero é que os jornais acabem por publicar estas escutas. E sobretudo se elas tiverem indícios criminais. Porque não me parece que os portugueses tenham outra forma de saber a verdade, e outra forma de saber o que é que se passa. E, portanto, muitas vezes – e eu percebo que isso é crime, é uma ilegalidade – existem ilegalidades necessárias para fins mais importantes.
[…]
Viegas – Desde que começou este processo Face Oculta, a primeira coisa que eu li na blogosfera, na imprensa, foi desvalorizar completamente a investigação e começar a levantar suspeitas sobre o nome de Marques Vidal. Agora, esta “espionagem política”, isto também me parece muito desagradável. Parece que esta luta entre os políticos e a Justiça parece querer indiciar, também, que ao Governo não lhe faz jeito que os tribunais funcionem.
Então, recapitulando: ainda bem que se perverte a investigação e se prejudicam inocentes, suspeitos e arguidos; ainda bem que não se respeita a legalidade e se cometem crimes; como seria bom poder chafurdar nas conversas gravadas, e com a deliciosa excitação de alegar fazê-lo em nome da verdade; e o Governo é o primeiro interessado em que os tribunais não funcionem. Enfim, nada mau, para tão pouco tempo de trabalho. São, obviamente, grandes artistas, capazes de malabarismos com os conceitos onde arriscam a própria integridade moral só para maravilharem as estupefactas audiências.
E, finalmente, uma epifania:
Viegas – Hoje vi no Expresso uma crónica do Miguel Sousa Tavares em que o Miguel alerta para o perigo de estarmos perto do fim do Regime. E eu acho que isso é uma grande vantagem, quer dizer, estarmos perto do fim do Regime.
O fim do Regime é um tema apadrinhado e alimentado pela trupe que vê em Cavaco o salvador da Pátria. Tem sido uma pressão omnipresente desde finais de 2007, quando começou a grande manipulação político-mediática nascida da conjugação de várias agendas colectivas e individuais. Nos princípios de 2008, num ciclo que terminou com o bloqueio dos transportadores, o fim do Regime viria de revoltas populares e levantamentos militares. Depois, com a entrada do cabriolé Cavaco-Manela em furiosa actividade opositora, o fim do Regime corresponderia a uma solução governativa de patrocínio presidencial, seguida de alteração constitucional para instituir o presidencialismo. Agora, depois de Belém ter caído em desgraça, e da Lapa ter sido outra vez copiosamente derrotada, falar no fim do Regime é o equivalente a dizer-se que se está farto de perder e que não se vê esperança de vir a ganhar, tal a inépcia própria e da equipa. Que fazer? Mudar de jogo, ora.
Por esta revelação, Viegas, até eu estou disposto a contribuir para a despesa que a TVI tem convosco.
não sei como tens paciência para esta gentinha demente.
espero que o regime acabe. mas este regime em que se debitam bacoradas, em que a pulhice é evidente (da apresentadora e dos convivas), e ainda se é pago por isso.
pensei que esta esquizofrenia iria acabar depois das eleições mas enganei-me. o país, por via da conjugação entre a magistratura rasca, a oposição rasca e comunicação social rasca, está à beira de se transformar num hospício. espero que os homens e a mulheres de boa vontade comecem definitivamente a erguer a voz.
O rato de esgoto Coutinho a defender a ilegalidade com todas as letras. Nem oculta a face, como faz a nova PIDE. Viva a ilegalidade, A BEM DA NAÇÃO! Rato de esgoto fascista!
Val, concordo em absoluto. Sinceramente, não sei onde isto irá parar, mas certamente não é para melhor…
Para se vingarem de um indivíduo, estas pessoas são capazes de minar os alicerces da nossa democracia e matar os mais básicos direitos. Como escreveu Garcia Pereira, hoje calamo-nos perante tais abusos, por eles se virarem contra alguém de quem não gostamos, mas, amanhã, podem virar-se contra nós próprios e, aí, será tarde para queixarmo-nos, pois permitimos e tolerámos o precedente quando deveríamos mostrar a nossa oposição.
Abraço.
Para juntar a isto ontem ouvi a Serra Lopes dizer na RTPN:” o PGR amanhã vai decidir as outras escutas a Sócrates. Eu gosto de ter surpresas, mas, infelizmente, aposto que ele vai dizer que não há crime nenhum…” Vocês já viram a grande vaca!?! Quanto receberá esta gaja para dizer alarvidades destas?
Quanto é que se ganha para escrever sempre a mesma coisa num blog, em suma, ser um astroturfer?
É pá qualquer dia a cassete está gasta.
Nik, afinal o que é que é ilegal?
As maroscas dos “Godinho e seus Godões” ou as escutas?
Clara Martins quando os animais do sexo feminino chamam nomes “feios” uns aos outros está tudo dito.
Porquê vaca e não mula ou cabra?
Ibn Erriq: tenho uma boa e uma má noticia. Você vai continuar a poder comentar este blog, mesmo não sendo nem a sombra do comentador espirituoso que se crê. (pista: a noticia que para mim é boa, para si, é má).
será do vinho?
A impunidade destes juízes e da PJ é lamentável.
Pessoal eles pensam o que?
Que podem continuar a importunar e incriminar os corruptos da nossa praça, sem ter de dar contas a ninguém isso é que era bom.
Mas afinal quem lhes paga o ordenado e as mordomias?
http://jojoratazana.blogs.sapo.pt/
Só faltou ouvir como musica de fundo “A Fanfarra do Homem Comum”.Assim a nota artistica a atribuir pelo Pacheco “Ahab” Pereira cai um pouco, a nota tecnica é quase de certeza um 10. :))
Pedro,
Ufa, ainda bem que vou poder continuar a poder continuar a comentar no blog, desde já lhe agradeço a autorização.
afinal vou pode comentar no blog ou o blog, ou é uma questão de semântica?
Lamento informá-lo de 3 coisas:
1 – Não me tenho ser nem bom nem mau, nem por espirituoso, aliás, é assunto que não me interessa;
2 – Não me deu noticia nenhuma (vá ver definição de noticia);
3 – Infelizmente para si parece ser muito menos inteligente e perspicaz que se julga ser.
Deixe lá, é a vida!
Codigo não escrito para comentar na televisão.
– Absolutamente necessário não se perceber nada do que se comenta (facilita a vida aos pivots).
– Ser de direita (pelos mesmos motivos).
– Ter escrito um livro (capacidade de efabulação).
Estes debates em que eles fazem eco uns dos outros são sempre muito aborrecidos…passam o tempo a confirmar que estão todos de acordo. Seria mais jornalístico debater várias opiniões, mas isto deve ser um conceito ultrapassado e estou a dizer algum disparate.
Mas gostei da passagem “Parece que esta luta entre os políticos e a Justiça parece querer indiciar, também, que ao Governo não lhe faz jeito que os tribunais funcionem.”
Não vi essa luta, vi a luta da comunicação social contra o governo, vi a luta de alguns titulares da justiça contra o governo, isso vi. Logo, parece que não lhes interessa que o governo funcione (mais um disparate ingénuo :)
E o “garante do bom funcionamento das instituições” também participou com a parte mais gaga de todas ( o governo a espiá-lo)!!!
Quem nos tira deste pantanal???
Ibn Erriq: deixa o vibrador.
Sim , pedro Ai UI UI ahhhhhhhhhh!