«As declarações de Rui Rio na noite eleitoral são, em si mesmas, a confissão da sua fragilidade. Mais do que falar para o país, luta contra os opositores internos. Sem ideias ou propostas, é apenas um homem zangado. Sorte sua que, a altas horas da madrugada, poucos tenham assistido.
Quanto ao PCP, apesar de ter reduzido a votação e as câmaras conquistadas, consolida-se como terceiro partido do panorama autárquico, mantendo importantes municípios a sul do Tejo.
Já o Bloco de Esquerda, pese embora os seus já 22 anos de história, dispõe ainda de uma fraca implantação autárquica. Está, por isso, mais sujeito às lógicas nacionais e poderá ter sido prejudicado por se ter aliado à direita no voto contra o Orçamento do Estado. Espera-se agora uma reflexão, necessária para que seja possível voltar a contribuir para uma governação à esquerda.
Note-se ainda que a extrema-direita ficou longe dos seus objetivos. Mantém-se um partido unipessoal, com uma legião devota de seguidores, mas sem a menor capacidade para apresentar propostas ou candidatos credíveis. Que ainda assim consiga obter resultados relevantes em alguns municípios é sintoma de problemas que os partidos democráticos têm de saber encarar. Mas, ao contrário da extrema-direita, devem fazê-lo com soluções justas e inclusivas.
Nesse sentido, seria bom que o PSD se mantivesse fiel ao seu legado democrático e não lançasse achas para a fogueira dos extremismos. Primeiro criou André Ventura, depois legitimou o seu partido com o acordo nos Açores, e agora, em troco de um punhado de votos, escolheu uma sósia política de Ventura para a Amadora.
Rui Rio precisava de sobreviver a estas eleições. Seria bom que não o tivesse feito à custa dos valores.»