Estado de guerra

A actual crise de saúde por causa do coronavírus gera mortes directas mas também pode causar mortes e doenças indirectas ao diminuir os recursos terapêuticos para doentes presentes e futuros de outras patologias, os quais ficarão privados da assistência adequada, uns, e que serão vítimas do crescimento das falhas aleatórias e limitações sistémicas, outros. Tal é não só inevitável como acaba por ser bondoso face à escala do perigo que nos ameaça: uma infecção potencialmente letal que progride de modo fulminante, ameaçando interromper a produção e serviços em todos os países de todos os continentes, e quase ao mesmo tempo. Ter uma reacção de pânico corresponde, neste caso, à manifestação de se estar lúcido. A essência da vida em comunidade está ameaçada, qualquer outro ser humano é uma potencial ameaça para cada um de nós e para os nossos mais próximos.

Há muitas e radicais diferenças, mas também alguns paralelos, com a crise económica de 2008. Então, quem estava no topo da pirâmide social sabia que iria ter uma qualquer diminuição do património, menos dinheiro e quiçá menos propriedades e bens. Uma privação de riqueza que poderia ser fonte de muita angústia e pesar durante alguns anos mas que em nada ameaçava a segurança e a qualidade da vida quotidiana. Para os ricos, para a classe média alta, as casas continuariam confortáveis e giras, os carros luxuosos, os médicos do melhor, os putos a passarem os dias nas escolas e universidades de elite, as férias se não ali então aqui, os trapos sempre estilosos e ostensivos. Era logo abaixo que começava a crise crítica, a qual implicava abdicar daquilo que fazia com que a vidinha fosse remediada e sempre no arame. A classe média e média baixa passava a contar tostões como o pé descalço, a fazer a mala e partir, mergulhadas num poço sem fundo de problemas de finanças, de saúde e de tragédias relacionais. Ainda hoje ninguém fez o cálculo em doenças e mortes que se possam explicar com a decisão tomada pela Assembleia da República no dia 23 de Março de 2011. Nem se fará, pois esse dia uniu direita e esquerda numa escolha irracional cuja única lógica foi a da política da terra queimada, um suicídio partidário que entregou o País a um grupo de fanáticos que fizeram uma campanha eleitoral mentirosa e que governaram com cegueira e ódio. Porém, nessa crise a produção estava apenas economicamente condicionada, localmente mas não internacionalmente, e os serviços continuavam ao dispor, embora com acesso mais dificultado pela “austeridade salvífica”. Já na crise do coronavírus, em poucas semanas podemos ficar sem acesso aos cuidados e recursos mais variados, num efeito acumulado resultante do fecho de locais de utilidade pública, do fecho de locais de trabalho por doença de funcionários, proprietários ou utilizadores e do açambarcamento de produtos vitais pelos fenómenos do medo e do egoísmo. Inicia-se uma cascata de alarme que provoca transtornos graves na população como um colectivo, um ecossistema sociológico com rupturas funcionais, e transtornos graves a nível individual, enquanto entidades psicológicas sujeitas a disfunções patológicas em quadros de pressão social. Somando todos os seus prejuízos, ainda assim a Grande Recessão de 2008-2012 não tem comparação com o grau e tipologia da actual ameaça.

Todavia, há lições à disposição vindas de qualquer crise recente ou de antanho, é ler Tucídides. No caso português, convém recordar que algumas vozes, raríssimas, alertaram para as consequências de se colocar o poder pelo poder à frente do interesse nacional, do bem comum, do cívico e concreto amor ao próximo: Um texto escrito nas vésperas da golpada que nos arruinou. O texto é cristalino acerca da dinâmica política que estava à vista de todos e que, mesmo assim, não impediu o desastre colectivo. Em 2020, estamos numa simetria onde a lógica que nos pode salvar comunitariamente é exactamente a oposta: acelerar e radicalizar em vez de adiar e atenuar. Isto porque o vírus tem na velocidade da sua propagação a raiz mesma do seu fim. Quebrando-se a transmissão, a ameaça desaparece em poucas semanas ou dias. Nisso, é incomensuravelmente mais controlável do que uma depressão ou recessão económicas globais. Claro, diz quem sabe, o vírus ele próprio já se inscreveu no nosso futuro e dias com mais segurança e recursos virão para lidar com ele pelas décadas fora. Com esse e com os outros que inevitavelmente vão aparecer. Por agora, o momento é o de ir buscar o melhor de nós e juntarmo-nos a quem faça o mesmo para mútua protecção. Estamos em guerra.

25 thoughts on “Estado de guerra”

  1. Valupi, tarde piaste e desafinado.
    Quebrando-se a transmissão, a ameaça não “desaparece”.
    É que, mesmo que a quarentena seja de tal forma radical que o vírus desapareça totalmente por uns tempos, será impossível isolar o país do resto do mundo e inevitavelmente novos surtos se seguirão.
    Além do mais, não é nada certo que os curados criem imunidade natural ao vírus e não possam ser reinfetados.
    Portanto há uma elevada probabilidade da quebra de transmissão ser insuficiente para cessar a ameaça.
    Ainda assim, ganharemos tempo, o que já não será mau.

  2. Este Colado com bisga contende-me com a sistema nervosa,como diz um meu cliente! Allô, sr. Francisco !
    Alguma vez passou pela cabeçorra de alguém que o vírus irá desaparecer totalmente? Quantas doenças perigosas conhecemos nós que são declaradas erradicadas pela OMS ,caso da poliomielite, do sarampo,e que reaparecem com o maior despudor?
    Se a cura de algumas doenças confere imunidade ao ex-paciente , outras há que não. Lembro a tuberculose e as variedades que apresenta.
    Isto são as minhas opiniões,um leigo em medicina, que trabalha com ferro, areia e cimento!Mas na juventude ,forçadamente tive que viver com epidemias de cólera,que não é a mesma coisa que este coronovirus.
    O pior defeito humano é o medo incontido, Cada um tem de segurar o seu ! Já me vejo atrapalhado com o que sinto,quanto mais segurar este e o dos outros!

  3. Colado com cuspo, detecto aí uns problemezitos no campo da literacia científica e médica. Aliás, desconfio que nem sequer leste o que escrevi. A ameaça é relativa à sobrecarga do sistema de saúde até ao ponto de ruptura, causando nessa eventualidade mais mortes e doenças do que aquelas que se evitariam conseguindo dar a melhor resposta aos casos que apareçam.

    É uma questão de números, pá, não de banha da cobra ou milagres.

  4. Valupi, não foi isso que entendi, sendo que também não faz muito sentido o que dizes, visto que a sobrecarga virá necessariamente, não será só uma ameaça.
    Ou seja, é altamente provável o seguinte cenário: a quebra de transmissão ocorrerá após a ameaça, após a sobrecarga e eventualmente só após uma séria exaustão de todo o SNS. E a quebra de transmissão poderá, enfim, nem ser suficiente.
    Não estou a dizer nem mais nem menos do que ontem disse o Costa. Preparar o pior cenário, não é ter medo incontido nem criar falso alarmismo, é não ser surpreendido pelo choque frontal like a deer in the headlights.

  5. Colado com cuspo, não estás a dizer nada que se aproveite, apenas tentas lidar com o teu medo recorrendo à caixa de comentários de um blogue no cu da Internet. À mesma, a evolução é imprevisível, e o único terreno sólido (científico e político) é o da prevenção pela mudança de comportamentos.

    Apocalipse? Mesmo que lá chegássemos não seria de atitudes como a tua que viria qualquer auxílio.

  6. Valupi, explicaste perfeitamente por que não comentaste o discurso do Costa, preferindo regressar a essa novela que terminou há 9 anos.

  7. E não podemos mandar vir uns especialistas lá da China?
    Consta que agora os camaradas do PCChina mandam missionários a ensinar como se faz o serviço com comissários de bairro, passes e termómetros a cada cem metros.
    É que só com as medidas do Costa não nos salvamos.
    Com sorte ainda talvez também nos mandem uns ventiladores como para Itália.
    Tudo só para mostrar aos bárbaros barbudos do ocidente que no império do meio não se fazem as coisas pela metade.

  8. gostei de ver o jude law -:) .li os comentários , mas cá é a 1ª vez que ouvi falar nalgum medicamento , parece que nos USA já falaram em alguns antes.

    ( a cotação da farmacêutica subiu 33% no ibex , é bom sinal… e a fleuma do Boris também )

  9. Neste tempo de Quaresma e quarentena, vale a pena aproveitar para ler palavras sensatas e contrastá-las com as profecias apocalípticas de beatas supersticiosas. Ajuda a demolir clichés, frases-feitas, lugares-comuns que foram semeados, a partir da escola primária, pela ideologia oficial do Estado.

    O perigo climático é contudo infinitamente mais global e mais grave do que o do vírus. O mesmo se pode dizer evidentemente das suas consequências se os explorados e oprimidos não se unirem para derrubar este modo de produção absurdo e criminoso. O Covid-19 é um aviso, mais um aviso: é preciso acabar com o capitalismo que conduz a humanidade à barbárie.
    (Extraído de um site modernaço e progressista)

    Ante uma emergência global desta natureza, há quem pergunte se esta epidemia é um castigo de Deus. A questão já tem, pelo menos, dois mil anos: “Mestre, quem pecou, este ou os seus pais, para que nascesse cego?”. A resposta de Jesus foi lapidar: “Nem ele, nem seus pais pecaram; mas foi para se manifestarem nele as obras de Deus” (Jo 9, 2-3). Ou seja, Cristo desfez o mito de que o mal físico, como é a doença, é uma consequência do pecado do próprio: quem é cego não é mais pecador do que quem vê; como quem vê não é, por força dessa sua capacidade, mais virtuoso do que um invisual. Também não é verdade que, aqueles sobre os quais se abate alguma calamidade, são os que mais têm de se penitenciar. Mais um boato que Jesus de Nazaré categoricamente desmentiu, quando Pôncio Pilatos matou uns galileus e dezoito homens morreram quando sobre eles caiu a torre de Siloé. A propósito destas vítimas mortais, Cristo disse que não eram mais culpados do que os outros (Lc 13, 1-5), desfazendo o supersticioso mito de que tais catástrofes eram, em última instância, um castigo de Deus. Que não seja uma maldição divina não quer dizer, contudo, que não se deva ser prudente nestas circunstâncias. Não sê-lo seria tentar a Deus. Quando o demónio transportou Jesus ao cimo do pináculo do templo de Jerusalém e, depois, lhe disse que se atirasse dali abaixo porque, sendo o filho de Deus, nenhum mal lhe poderia acontecer, Cristo não o fez porque, se o fizesse, estaria a tentar a Deus (Mt 4, 5-7). Tentar a Deus não é, como óbvio, induzir Deus a pecar, o que é metafisicamente impossível, mas pôr-se temerariamente em perigo, invocando depois o auxílio divino, que Deus não tem por que dar a quem, consciente e voluntariamente, é imprudente. Em boa hora as autoridades sanitárias propuseram normas de conduta, que seria indesculpável infringir neste contexto de pandemia. Estas regras, que têm um fundamento científico e uma razão de ser prudencial, devem ser observadas por todos os cidadãos, não só por respeito pela própria vida e saúde, mas também por justiça e caridade. Neste sentido, obrigam também em consciência: seria criminoso que alguém, podendo observá-las, o não fizesse, atentando contra a saúde pública
    (Extraído de um artigo de opinião de um padre católico “ignorante”, conservador, “ultrapassado” e “obsoleto”)

  10. A fita do tempo dos acontecimentos (https://observador.pt/opiniao/nas-maos-de-cinicos-aos-pes-de-burgessos/)

    5 de Fevereiro
    A ministra da Agricultura diz que o coronavírus “pode ter consequências bastante positivas” para as exportações portuguesas do sector agroalimentar para os mercados asiáticos.

    6 de Fevereiro
    A ministra da Agricultura diz que o seu sentimento perante o coronavírus é de “preocupação e solidariedade”.

    24 de Fevereiro
    O prof. Marcelo declara que “tudo está a ser feito para lidar com o coronavírus”.

    25 de Fevereiro
    A ministra da Saúde sugere o isolamento das pessoas vindas de zonas onde há transmissão do coronavírus.

    26 de Fevereiro
    A Direcção Geral da Saúde não sugere o isolamento das pessoas vindas de zonas onde há transmissão do coronavírus.
    A ministra da Saúde sugere que a sua sugestão acerca do isolamento das pessoas constituiu um lapso.
    A ministra da Saúde garante que Portugal está preparado para responder ao surto de coronavírus.
    O ministro dos Negócios Estrangeiros garante que Portugal está preparado para responder ao surto de coronavírus.
    A Federação Nacional dos Médicos garante que Portugal não está preparado para responder ao surto de coronavírus.

    28 de Fevereiro
    A directora-geral da Saúde alerta que “não nos devemos beijar todos os dias e a toda a hora”.

    29 de Fevereiro
    A directora-geral da Saúde admite que Portugal poderá ter um milhão de infectados.
    O dr. Costa recomenda que não se levem as mãos à “boca, nariz ou olhos”.
    O ministro dos Negócios Estrangeiros assegura que “estamos a aprender [a lidar com o coronavírus] e julgo que estamos a aprender depressa.”
    BE: “O coronavírus deve dar-nos esperança de que somos capazes de enfrentar a crise climática”
    Numa escola secundária do Porto, os alunos não podem lavar as mãos porque não há sabão. E não há sabão porque, explica uma directora, não há dinheiro.

    2 de Março
    Surgem os primeiros casos de infectados com coronavírus em Portugal. São dois.

    3 de Março
    O dr. Costa corre ao Porto para visitar os pacientes. O prof. Marcelo diz que, por sua vontade, “já lá estava”.
    Após gesticular para os doentes, o dr. Costa garante que Portugal está preparado para responder ao surto de coronavírus.
    A ministra da Saúde implora que não se use a Linha SNS 24 para pedir informações sobre o coronavírus.
    O responsável pela Linha SNS 24 alerta que a Linha SNS 24 está nas últimas.

    4 de Março
    A Linha SNS 24 não atende boa parte das chamadas.

    5 de Março
    Após acabar demitido, o responsável pela Linha SNS 24 reagiu através de um poema. Fica um excerto: “Como velas de pavio forte/Queimamos ao luar/Das madrugadas passadas/A Trabalhar/A escrever, a digitar/A Criar o digital na saúde em Portugal/9 anos acessos, pela força e paixão/Como velas que ardem dentro do coração.” Eu seja ceguinho se isto não é verdade.
    O ministro da Economia jura que o impacto do coronavírus no sector que “tutela” é “bastante reduzido”, salvo em minudências como os “transportes, das viagens e da hotelaria”.

    6 de Março
    A directora-geral da Saúde, que começou por achar que o vírus nunca chegaria a Portugal e depois passou a prever um milhão de infectados, encontrou um ponto intermédio e agora aconselha as visitas a lares de idosos, por não haver “esse grau de risco”.

    7 de Março
    O dr. Costa garante que Portugal está preparado para responder ao surto de coronavírus.

    8 de Março
    O prof. Marcelo, sem sintomas de gripe mas não de outras maleitas, anuncia o próprio exílio em casa.

    9 de Março
    Não tendo sido testado a mais nada, os testes do prof. Marcelo ao coronavírus são negativos. O dr. Costa envia-lhe felicitações pelo Twitter.
    O prof. Marcelo, que sem vírus decretou a quarentena de si mesmo, assoma à varanda e informa o povo de que lava a louça e a roupa, além de cozinhar.
    O dr. Costa admite fechar as escolas e etc. antes de qualquer parecer técnico.

    10 de Março
    Apenas dois secretários de Estado e um autarca vão ao aeroporto receber o português que estava infectado e deixou de estar.
    Em Setúbal, um homem ficou fechado numa casa de banho durante 4 horas à espera do INEM.
    Para o Bloco de Esquerda, “As forças de extrema-direita tentam lucrar com o medo para impulsionar imundas respostas malthusianas e racistas. (…) O Covid-19 é apenas um aviso, mais um aviso: é preciso acabar com o capitalismo que conduz a humanidade à barbárie”.

    11 de Março
    Em Gaia, um homem ficou fechado no carro durante 4 horas à espera do INEM.
    75% dos portugueses não acreditam que o SNS esteja preparado para uma pandemia, o que significa que 25% acreditam ou pelo menos não rejeitam a hipótese.
    Na Trofa, uma turma ficou fechada na sala durante 11 horas à espera de orientações da Linha SNS 24.
    Em Lousada, uma médica ficou fechada no consultório com uma doente durante 6 horas à espera de auxílio.
    O hospital de Coimbra compra fatos de pintor para proteger os médicos.
    A Direcção Geral da Saúde desatou a engasgar-se na actualização do número de infectados.
    Nos aeroportos, os passageiros continuam a chegar sem qualquer inspecção.
    Oportunamente, o Bloco de Esquerda lembra-se de que a Linha SNS 24 “não deve ser explorada por entidades privadas”, não se fosse estragar.
    A directora-geral da Saúde diz para os cidadãos evitarem a “corrida aos supermercados” e, em vez disso, recorrerem à “horta de um amigo”.
    Há 3.000 pessoas “sob vigilância” enquanto se aguardam os resultados de 80 testes. Faz sentido, embora não se perceba qual.
    Em organismos públicos, distribui-se gel desinfectante com a validade expirada em 2013.
    Uma adolescente internada com gravidade foi três vezes às urgências e, como na Bíblia, três vezes negada.
    À revelia de toda a civilização, em Portugal continua tudo aberto – incluindo as praias, aliás repletas.
    Um obscuro Conselho de Saúde avisa a população da sua existência e de uma reunião marcada para o dia seguinte, de tarde que não há pressa.
    A ministra da Saúde proclama o reforço da Linha SNS 24, que não dá uma para a caixa.
    Enquanto 39 países já impuseram o fecho de escolas e etc. (e alguns o “lockdown”), o dr. Costa vai a Berlim desenvolver a tese de que o coronavírus é uma oportunidade para a Europa “mostrar a sua força”.
    O dr. Costa não admite fechar as escolas e etc. sem ouvir os pareceres dos técnicos.
    O dr. Costa promete proteger todos os portugueses, “estejam em que parte do mundo estiverem”.

    12 de Março
    O tal Conselho de Saúde, representado por um sujeito que acha o coronavírus inofensivo, irrompe da reunião e comunica não aprovar o fecho das escolas e etc.
    A ministra da Saúde e a directora-geral fazem uma conferência em dueto onde harmonizam no vazio absoluto, ou na necessidade de lavar as mãos, actividade em que esta gente é tão exímia quanto Pilatos. Ambas rejeitam o fecho das escolas.
    Comentadores isentos aplaudem a decisão de não fechar as escolas.
    O Sindicato Independente dos Médicos nota que o SNS não tem camas para internamento, não tem camas de cuidados intensivos, não tem profissionais suficientes, não tem máscaras, não tem desinfectantes, não tem nada excepto a distinção de “melhor do mundo”.
    Descobre-se um piloto da TAP infectado. As “autoridades” de saúde não quiseram descobrir a lista dos passageiros conduzidos pelo piloto.
    O dr. Francisco George, ilustre antecessor da sua ilustre sucessora, anda pelas televisões a falar com a lucidez de um dependente de metanfetaminas. O objectivo, palpita-me, é fazer as “autoridades” actuais parecerem sensatas por comparação. Não foi inteiramente alcançado.
    23 crianças (e seis adultos) estão retidas num jardim de infância da Maia, por suspeitas de infecção em uma delas.
    O dr. Costa, que com escassas semanas de atraso ouviu os partidos à tardinha, ignorou o parecer dos técnicos e, invocando uma instituição europeia avulsa, anunciou o fecho das escolas – mas só a partir de segunda-feira, que na sexta o vírus faz jejum.
    Em 24 horas, ou menos, as medidas que eram “excesso desnecessário” transformaram-se em critérios indispensáveis à “sobrevivência”. Num ápice, o país saltou do “Toy Story” para o “Mad Max”.
    Comentadores isentos aplaudem a decisão de fechar as escolas.

    13 de Março
    Na Maia, oito ou nove horas depois, as crianças e os adultos saíram do jardim de infância.
    Misteriosamente, o melhor SNS do mundo é o pior da Europa: somos o país com menos camas em cuidados intensivos em toda a EU (4,2 por 100.000 habitantes; a média é de 11,5).
    O Bloco de Esquerda apela à requisição sumária dos “meios, material e instalações” dos hospitais privados, aqueles que o BE quer erradicar a pretexto do lucro ou lá o que é.
    O ministro da Educação explicou o que iria acontecer nas escolas encerradas ao longo da quarentena. Evidentemente, ninguém percebeu. Nem ele, um matarruano que supõe dirigir-se a semelhantes seus: “Ninguém está de férias”. O matarruano trabalha em quê?
    A Linha SNS 24 continua a não funcionar em condições.
    Portugal tem 112 doentes confirmados, 1308 suspeitos, 5674 vigiados e 172 testados.
    A Coreia do Norte e a Venezuela continuam sem infectados.
    A ministra da Saúde teme que Portugal não esteja preparado para responder ao surto de corona vírus.

    Ponto da situação
    Vocês comprariam um carro usado ao dr. Costa? Não brinquem comigo: vocês aceitam que esse vulto coordene a reacção a uma pandemia. Há líderes valentes e até certo ponto confiáveis. Não é o caso. Ninguém aprendeu coisa nenhuma com o Siresp, Pedrógão, Tancos e o que calha. O dr. Costa também não, e permanece incompetente como sempre e dissimulado como nunca. Desde o início desta história que o homem não deu um espirro, salvo seja, sem medir previamente o impacto directo e indirecto do dito na sua popularidade. Para cúmulo, o dr. Costa rodeia-se de figuras compatíveis, uma corte de laparotos que competem pela atenção do chefe e pelo prémio do mais desnorteado. A piedade impede comentários à prestação do presidente da República em título. Quanto à oposição, cabe destacar o BE e dispensar a piedade: aquilo, para quem tinha dúvidas, é da ordem do sub-humano.

    Portugal beneficiou do atraso do vírus, compreensivelmente hesitante a aparecer por cá. Porém, não tivemos sorte nem jeito na escolha de quem manda nisto: de rábula em rábula, frente ao cenário de um país arruinado, ignoraram-se os bons e difíceis exemplos do “estrangeiro” e seguiram-se os exemplos péssimos e fáceis de Espanha e Itália. Pelo caminho, salpicado de cobardia, perdeu-se tempo vital (para muitos literalmente). A culpa morrerá solteira. Os culpados ainda se vão rir disto, se é que não riem já.

  11. só tenho pena de não ter acesso aos dados desagregados por meses , sexo e idades da mortalidade em españa e itália para fazer o óbvio : quais são as diferença nos primeiros meses do anos ? só assim se afere a perigosidade do vírus , não é com manchetes horárias do número de doentes e mortes.
    de hiv morreram ,só neste principia de ano, 338 mil pessoas no mundo …

  12. Para todos, não devemos esquecer, como pessoas, que todos somos transitórios, mas, se queremos garantir a convivência das futuras gerações em uma sociedade aberta, livre e justa, temos que, acima de tudo, cultivar e preservar as instituições democráticas. nelas, as caixas de todas as cores são abertas e aceitar as indicações das instituições cientificas portuguesas e outras

  13. De fome,morrem por dia 24.000 pessoas,no Mundo !
    Um pouco de sentido das proporções,quando se fala desta gripe que por aí anda…

  14. Desculpem o desvio mas, já que estamos a falar de guerra, ninguém fala dos exercícios militares da NATO (EUA, of course) Defender Europe 2020?
    São só 30.000 (dizem eles) soldados e 13.000 tanques (?) que continuam a chegar à Europa sem que desperte qualquer preocupação, quanto mais não seja, em relação à pandemia.

  15. O pessoal fica fechado em casa, o país a marinar e os “camónes” a curtirem por aí que nem uns porcos.
    Parece que é para nos defender dos russos ?
    Só vamos começar a gritar quando tivermos uma garrafa de litro de CocaCola enfiada no cu, certo?
    É só mais uma teoria da constipação, lóle.

  16. Aposto que muitos dos trolls que aqui andam estão danadinhos para escolher entre democratas e republicanos nas próximas legislativas (aqui no quintalinho à beira mar plantado, claro)

  17. Bem , já apanhei alguns dados e na comunidade autónoma de Madrid morreram em 2017 , sem vírus , 37440 pessoas maiores de 70 anos , dá uma média de 104 por dia. Ora , por enquanto , desde que isto começou , em Janeiro (?) morreram 133 pessoas em Madrid , maioritariamente dessas idades ( numa média de 85 anos , média superior a esperança média de vida dos homens ) . Publicitar essas mortes de forma escandalosa é de doidos varridos porque está completamente dentro do padrão da normalidade : os 133 falecidos covid 19 representariam 1.82 % do número habitual de mortes ocorridas em 70 dias em Madrid entre os maiores de 70 anos.
    se isto não é histeria colectiva à orson welles , motivado pelo espectáculo de ficção cientifica dado pela China , vou ali e já venho.

  18. Usar A. Gonçalves como uma autoridade crítica da actualidade política portuguesa é uma actitude tão crente como colocar um cagalhão numa gaiola e esperar que ele cante.
    Tal tipo anda há vários anos nos jornais a fazer relatórios nesse estilo ditirâmbico-profético-castastrófico sobre o país e, sobretudo, sobre pessoas políticas que não são do seu credo ideológico, contudo o país ainda não desapareceu; nem de acordo com o catastrofismo do pensador Barreto e menos ainda segundo os variados “caos” do opinador AG, aprendiz do Dr. Medina.
    Ora se nunca acontece os pensados e previstos amanhãs de “caos” destes tretas pensantes e mais outros parecidos como VascoPV, JoãoMT e até certo ponto MiguelST é, certamente, porque o tal “caos” só está nas suas cabeças instalado como obcecação paranóica.
    Ou instalado neles como método calculista de pôr-se em bicos de pé para obter um razoável ganha-pão junto dos patrões dos media; ou instalado neles como “medo” irreprimível do futuro quando este não corre de acordo com seus desejos idealizados.
    Os seus vistosos alinhamentos literários de factos controversos quando estes são novidades inesperadas propícias a contradições no imediato revelam do calculismo e a crítica sempre à mão da falta de meios, impreparação e consequente desgraça nacional revelam do medo.
    Ninguém deste tipo de gente presta para estar como bombeiro à frente no combate a um fogo num palheiro quanto mais no comando de uma epidemia de “modus” desconhecido.

  19. Mas autoridade em quê? Quando leio um artigo de opinião não estou à espera de um prospecto, de um parecer técnico ou de uma homilia com um ensinamento moral. Há crónicas que o são. Mas não são necessariamente nada disso. A crónica de Alberto é divertida (como de costume) e satiriza com os políticos e toda esta confusão travestida numa suposta autoridade e domínio científico da situação, quando o que se vê é o completo desnorte.

    Quanto ao resto, o que me mete mais impressão é pedirem para não ligarem às redes sociais e para ouvirem os “especialistas”. Uma DGS que hoje diz uma coisa e amanhã outra, personalidades que vomitam opiniões como se fossem dogmas, ministros a falar como se tivessem o domínio da situação. Não há a humildade de dizerem: não sei, ninguém sabe. É uma coisa nova e estamos a aprender. O que virá amanhã é uma incógnita. Ninguém sabe se daqui a duas semanas o problema está resolvido ou se a Europa é toda uma Lombardia. Ninguém sabe nada. E não há estranheza nisso, diga-se de passagem. Mas há muita arrogância. É só doutores a explicar o que vai acontecer em agotso se o Governo fizer isto e o que irá acontecer em setembro se fizer aquilo. E os papalvos ansiosos por ouvir um especialista.

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