Espionagem política – III

Vieira da Silva era o último político de quem se esperava uma expressão que tocasse tão fundo no olho do furacão causado pelo caso Face Oculta. Como se pode atestar pela prova do crime, este homem merece uma estátua pela sua atípica humildade e desconcertante sinceridade. Não há nele qualquer pose que pareça estudada ou artificial, o que se vê é o que há. A discrição, talvez timidez, que o envolve é tanta que só na noite eleitoral das Legislativas despertei para a densidade emocional da sua pessoa. E foi assim, por ser sincero, que se deixou espiar pela melíflua Maria Flor Pedroso.

A pergunta à qual tenta responder pressupõe que as notícias da imprensa, do Sol em especial, à data, transmitiam informações verdadeiras. Em consequência, assistimos ao esforço de Vieira da Silva para conseguir dar sentido a uma situação repleta de incógnitas e suspeições perversas, malignas. E o que diz, é o óbvio: havendo aproveitamento político de uma ilegalidade (ou de um erro), esse aproveitamento configura um propósito de espionagem política – mesmo que não saibamos a quem imputar a recolha ilícita da informação e sua entrega à comunicação social.

A perseguição que se seguiu foi mais uma pulhice, já sem surpresa. Os hipócritas contaram aos berros a história de um Ministro que teria atacado os magistrados de Aveiro, procurando condicionar a sua acção e safar o criminoso do Primeiro-Ministro. Pessoas que têm responsabilidades mediáticas foram por este caminho, algumas que até suscitam esperanças de renovação intelectual no universo político, e acabámos por ficar expostos a mais um exercício de terrorismo cívico.

Este episódio com Vieira da Silva é também uma ocasião para observar com detalhe a torpe duplicidade que está instituída na oposição: qualquer dos seus cães de fila pode abrir a bocarra e largar impunemente as mais ferozes e desvairadas acusações contra Sócrates, Governo e PS, todos corridos com mandados de prisão, mas assim que um dos visados reage é apupado por estar a reagir. Eis a iníqua realidade: há portugueses que se indignam mais com uma expressão verbal, do foro pessoal, dita numa entrevista do que com a conspurcação da Justiça para fins políticos indecorosos ou com o facto de se procurar atingir a honra seja de quem for e como for.

É caso para lamentar que a contra-espionagem não tenha recursos ou vontade.

10 thoughts on “Espionagem política – III”

  1. Se todos, incluindo a oposição, a maior parte da comunicação social, sindicalistas da justiça, podem fazer criticas ao governo e em particular aos seus ministros, porque estes não se podem defender e retribuir-lhes os com as mesmas carícias. Vieira da Silva mostre que os tem no sítio, não se intimide, os bois são para ser chamados pelo nome.

  2. É dos homens comuns, competentes e verticais que este país precisa.Ora a coisa dita precisamente por um homem destes, deixa qualquer um desarmado, daí o alarido.
    Vieira da Silva é nome de homem e mulher, muito grandes, e como temos poucos não os podemos desperdiçar. Bom post.

  3. Em princípio este belo, para não dizer perfeito, post não mereceria comentários, mas é um pretexto mais para chamar a todos esses políticos do PSD e a todos os magistrados e ou juízes que lhes têm ajudado a fazer a “papinha”, todos os nomes feios que existem porque eles todos, esta gentalha, nem nome de gente merece e eu não vou ofender os animaizinhos pondo-lhes o seu nome em cima!

  4. Vieira da Silva-simples direito á defesa do bom nome do governo e ,por tabela do seu.Para os chicaneiros como a Flor(que não se pode cheirar)Pedroso e todos os politiqueiros da treta que o atacam espero que se engasguem com as perguntas que lhe querem fazer.Como é:afinal quem é atacado não se pode defender?E o juiz que diz que não disse o que disse, o que é ele?E os deputados de pacotilha que só se querem aproveitar de quem se defende, para treparem e ganharem o que perderam nas eleições ?

  5. Gostei de ver uma Flor Pedroso natural, solta, sorridente, bonita (cara descoberta), desenvolta. Grande entrevistadora. Imagine-se aquele registo na televisão.

    Quem a vê hirta, stressada, tristonha na RTP, não imagina como ela pode ser visualmente na rádio. Claro que o factor intimidante Picareta Rebelo de Sousa, monopolizador da palavra, interruptor de perguntas e desrespeitador de jornalistas, pesa desfavoravelmente na performance televisiva da Flor. Mas ela foi até agora a única que impôs algum respeito ao fala-barato intriguista. Os anteriores três ou quatro ou não existiam ou não aguentavam o frenesim do Professor Picareta.

  6. Esqueci-me de dizer que Flor Pedroso é uma profissional correcta, ainda que não poupe nas perguntas que tem que fazer.

    É difícil, não é, Mário Crespo, seu patifezinho?

  7. A questão é clara e linear. Embalada pela comunicação social, uma parte significativa da oposição pôs o carro à frente dos bois ao transformar a questão das escutas em bandeira política para atacar o governo na figura do Primeiro Ministro.

    Foi a oposição que enveredou pela política de espião ao trazer para o terreno político o suposto conteúdo das escutas. Melhor mesmo seria dizer política de detective de esquina, uma vez que estamos na esfera das conjecturas e do diz que disse. Acontece que quem de direito não viu indícios de crime coisa nenhuma e arrumou a questão.

    Diz-se que quem tem pressa come cru e foi mais um trambolhão da oposição que agora para disfarçar fala em relevância social dos conteúdos abordados nas conversas: querem ver que o Pinto Monteiro e o Noronha do Nascimento ouvem o Primeiro Ministro conjecturar com os amigos artimanhas surrealistas para controlar a comunicação social e para financiar grupos económicos privados e não só acham isso normal funcionamento do sistema como pactuam para branquear a modalidade. É preciso pachorra de santo para aturar esta deprimente oposição.

    Pois claro que a justiça leva por tabela com o termo espionagem política. Não era suposto as escutas estarem em segredo de justiça? Não sabem que nem a política nem a comunicação social olham a meios para atingir fins? Abram os olhos em vez de se mostrarem surpresos e ofendidos com as opiniões que se limitam a constatar a realidade.

  8. A espionagem politica é mais que evidente.O sr Palma é um serventuário do poder oculto e mafioso que domina vários sectores contra o PS.

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