Entre marido e mulher

Vais ler esta notícia até ao fim, e ficar ao lado dessa mulher enquanto ela se esvai em sangue e agoniza no lugar do morto. É o mínimo que agora podemos fazer por ela, pela sua memória e pelo sentido da sua vida. Uma vida cuja desgraça recebeu como prémio ser assassinada.

Esta violência psicótica não é algo lá entre eles, marido e mulher. Grotesca cumplicidade criminosa a nossa. Eles há muito que tinham perdido a capacidade de serem um casal, eram já outra coisa: duas vítimas. Mas só duas de cada vez? Mais, muitas mais. Como em Montemor, o perfeito triunfo do mal. A Manuela foi assassinada dentro de uma ambulância, em frente de um edifício onde está instalado um corpo militar cuja missão é a segurança pública. Depois, o assassino detido consegue ainda balear dois militares dentro das instalações, um deles vindo a falecer. A filha de 5 anos, que estava nos braços da mãe quando esta foi atingida a tiro de caçadeira, também ficou ferida. Não se pode antecipar quais serão as consequências psíquicas do acontecimento que lhe tirou a mãe, o pai e o futuro. As famílias, e amigos, de todos os envolvidos entram também na listagem de vítimas da besta-fera.

Há muito a fazer para evitar estas tragédias. E podemos começar por qualquer lado: por exemplo, metendo a colher onde se corre o risco de alguém usar a faca, a espingarda, o punho, o ódio, a demência.

14 thoughts on “Entre marido e mulher”

  1. Não tenho palavras para descrever tudo isto.

    Penso tratar-se duma questão educacional, agravada pelo conflitos de carácter social que vivemos hoje em dia. Talvez as minha palavras possam somente ser diletantes para quem vive estes dramas. Mas a verdade é que as pessoas assumem submissões emocionais e quando se tentam libertar , dá nisto.

    Depois ainda há a parte cultural. Eu tenho na familia remota um individuo que matou a mulher por ciumes (localização temporal – antigo regime), foi julgado e nada lhe aconteceu porque se tratava da defesa da honra. Para que tenham ideia, o individuo ainda é vivo. Tudo isto pesa.

    Temos de trabalhar para a alteração das mentalidades. É um facto.

  2. Isso que descreve, meu caro, em certos paises da Europa, e breakfast. Duma coisa pode no entanto estar certo, nenhum desses assassinos andavam a lavar os dentes com dentifricos com fluoreto ou eram toxico-dependentes de anfetamina. Ha muita debilidade nuns e alegria de viver noutros. Este mundo ja e cao ha muitos anos e ninguem sabe porque.

    A proposito: tem descendentes?

  3. A descrição do homem, nesse tal artigo, Valupi, corresponde mesmo a um tipo psicótico.
    Carmim fala em questão educacional e conflitos de carácter social e concordo, pois como explicar a propagação da violência doméstica nos países supostamente desenvolvidos?
    Tudo começa pelo respeito pelo outro, mas nem os dirigentes dão esse exemplo. Só estamos rodeados de modelos a não seguir: políticos, novelas à l’eau de rose, consumismo auto-destrutivo, etc.
    Onde não há respeito, não há amor. E o amor faz falta. Gosto dos Black Eyed Peas. Deixo-vos umas letras:

    What’s wrong with the world mama?
    People living like aint got no mamas
    I think the whole worlds addicted to the drama
    Only attracted to the things that bring you trauma
    (…)
    So ask yourself is the loving really strong?
    So I can ask myself really what is going wrong
    With this world that we living in
    People keep on giving in
    Makin wrong decisions
    Only visions of them livin and
    Not respecting each other
    (…)
    feel the weight of the world on my shoulder
    As I’m getting older y’all people get colder
    Most of us only care about money makin
    Selfishness got us followin the wrong direction
    Wrong information always shown by the media
    Negative images is the main criteria
    Infecting their young minds faster than bacteria
    Kids wanna act like what the see in the cinema
    Whatever happened to the values of humanity
    Whatever happened to the fairness and equality
    Instead of spreading love, we’re spreading anomosity
    Lack of understanding, leading us away from unity
    That’s the reason why sometimes I’m feeling under
    That’s the reason why sometimes I’m feeling down
    It’s no wonder why sometimes I’m feeling under
    I gotta keep my faith alive, until love is found
    (…)
    Where is the love?

  4. pronto. daqui a dezoito anos sai, arranja outra e faz – mas com 25 golpes criteriosamente esculpidos – o mesmo

    (as prisões convencionais são muito didácticas).:-)

  5. Dezoito?
    Não!
    Com bom comportamento são nove (9) anos!
    E ao fim de quatro (4) anos já vem passar os fins de semana a casa…
    Pois é!

  6. Duarte:

    “Com bom comportamento são nove (9) anos!
    E ao fim de quatro (4) anos já vem passar os fins-de-semana a casa…
    Pois é”!

    Para se conseguir a flexibilidade da pena tem de se reunir vários factores. Assim como: em primeiro de tudo o Conselho Técnico tem de estar todo de acordo, tem de ter bom comportamento, o meio para onde vai residir se o aceita, está sempre sujeito a se voltar a rescindir ir cumprir a pena que lhe ficou suspensa “vulgo, liberdade condicional”. Também é falso que ao meio da pena seja proposto para a liberdade condicional. Só acontece quando atingir os dois terços. Numa pena de 18 anos os dois terços são aos 12. Se não sair aos dois terços, regra geral saem aos cinco sextos. O que acontece na maioria destes casos.
    Sei que para os familiares das vítimas isto é horrível. As leis são feitas por representantes do povo, o que só nos resta confiar. Não sou favorável à pena de morte, mas era a única solução para estes crimes. A sociedade não vê com bons olhos a sua flexibilidade mas estas pessoas se não forem aos dois terços ou cinco sextos, um dia tem de vir cá para fora.
    Sabe qual foi uma das maiores invenções do Mundo: foi a roda. E de são e de loucos todos temos um pouco.

  7. O que me preocupa não é a pena a que estão sujeitos estes que já cometeram os crimes, o que me preocupa é a falta de pena para os que tranquilamente aterrorizam as companheiras. O que acontece quando elas corajosamente apresentam queixa? Quantos são condenados antes de as matarem?

  8. Quando elas apresentam queixa? Oh querida, primeiro há que mudar as mentalidades de determinados polícias! Por preguiça, comodismo e para poder beber o seu tintinho, já ouvi um polícia a dizer: “Deixem para lá. Se calhar, foi ela que se meteu com ele.” E há os que lucram com isso, como por exemplo as psicólogas recém-licenciadas que julgam estar perante um espectáculo de circo e não sentem absolutamente nada pelo caso. Como as vítimas se podem julgar verdadeiramente apoiadas?

  9. Cláudia:
    “Quando elas apresentam queixa”? Em muitos casos nem devia ser preciso apresentar queixa, bastava haver um trabalho de prevenção por parte das instituições que superintendem estes serviços. As sevícias aos seres humanos seja homem ou mulher, são crime público. O que anda a fazer a Segurança Social, o Ministério Público, as Forças de Segurança? Não deviam funcionar como prevenção. Só aparecem depois do caso consumado. Fazer uma participação requer trabalho e ganham o mesmo quer aja participação ou não. Se ganhassem à peça (trabalho produzido) você ia ver o que era procurar conflitos para auferirem mais ordenado ao fim do mês. Agora tanto vale apresentar trabalho como não, às vezes até são melhor vistos pelos seus superiores. Conheço esquadras de Polícia e Postos da GNR, que só os vemos em inaugurações e em procissões de romarias todos bem uniformizados, para dar nas vistas. Sei do que falo, muitas vezes me insurgi contra este tipo de coisas. Mas era só eu a remar contra maré e é custoso ser só um e os outros irem na mama.
    Enquanto não houver uma sindicância e esta ser feita por pessoas idóneas não se vai a lado nenhum. Conheci algumas que antes de serem efectuadas os dirigentes desses serviços já tinham conhecimento do dia e da hora. Depois era só esconder o lixo.
    Por isso repito: primeira acção a prevenção.
    Mas do que iam viver os advogados e outros membros da justiça?

  10. Pois é, Sinhã. Mesmo as que vão parar ao hospital, repetidamente, brutalmente espancadas, não impressionam as autoridades. Pelos vistos, só deixa de ser arrufo quando acaba na morgue.

  11. É revoltante a violência “consentida” a estes Bonds domesticos. O alheamento é ainda mais brutal, como uma mosca que se sacode no torpor de uma tarde de calor típicamente mediterrânico. A sensação que dá é que é mais uma morte para as frias estatisticas.
    Porca miseria.

  12. Isto acontece nesta escala, porque as vitimas moram num pais sem justiça. Em que uma corporação de inuteis inimputaveis destroi cada dia os alicerces do sistema que nos foi dado no 25 de Abril. Porquê? Porque muitos deles, juízes agora, o foram também nos tribunais plenários. A república saída do 25 de Abril premiou-lhes a ignominia que cometeram com altos postos num complicadissimo aparelho que se diz judiciario e que só serve para ofender as pessoas de bem. E deixar os assassinos a solta, provando que como para eles no passado, o crime compensa sempre.

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