Trump entrou para a História política dos EUA ao varrer as primárias como nunca se tinha visto e ainda menos imaginado. Quando a sua candidatura foi lançada, no Verão passado, teve como resposta unânime das melhores e mais batidas inteligências americanas no jornalismo político um desprezo folgazão com o palhaço que se dizia condenado a desaparecer de cena em pouco tempo. Ao começar a somar vitórias, e passado o período do choque com a realidade onde se esperou por uma resposta eficaz dos pesos-pesados Republicanos, começaram também a ser apresentadas as explicações para o fenómeno. Uma ideia comum a vários diagnósticos remete para a retórica do ódio que os Republicanos têm cultivado contra Obama, a qual teria criado as condições para que um candidato retintamente demagogo e populista pudesse aparecer e vencer em modo blitzkrieg. Trump usou esse mesmo ódio contra o próprio partido que está a usar como trampolim, tendo chegado ao ponto de insultar e ofender a dinastia Bush e o herói de guerra John McCain precisamente no capítulo do seu heroísmo. Contra toda a lógica do que se supunha acerca do eleitorado Republicano, esses ataques a figuras sagradas do panteão político e cultural da direita norte-americana não o prejudicaram, pelo contrário. O mesmo espanto para os resultados que obteve nos Estados onde o factor religioso era considerado o principal elemento condicionador da eleição. O tipo da ostentação mais pagã e amoral, ou até imoral para os critérios do tecido religioso americano, o fulano das misses e das mulheres-troféu, era ainda assim o favorito do eleitorado protestante e fundamentalista. Nem Ted Cruz, que discursa como um pastor e cujo pai é pastor evangélico, conseguiu resistir ao vendaval narcísico de Trump.
Entretanto, apostas vão sendo feitas e perdidas acerca do momento em que Trump irá finalmente aparecer como um candidato convencional, dizendo aquelas coisas que deixem a aparência de estar na posse de todas as suas capacidade cognitivas. Afinal, está em causa meter-lhe na mão o maior exército e respectivo arsenal nuclear do Planeta, algo que terá a sua importância. Todavia, ele continua a discursar como o típico fogareiro que está disposto a resolver os problemas do Médio Oriente com dois ou três mísseis nucleares. Pelo meio, deixa indicações de que está apenas na brincadeira, que este festival de bacoradas é somente para ganhar as primárias. Chegando à Casa Branca, resolverá os problemas mundiais em três tempos, tal como em três tempos fecha negócios que lhe dão milhares de milhões de dólares a ganhar. Problemazinho: são cada vez mais aqueles que acham que ele não vai ter outro estilo, que estamos a ver o homem à transparência.
Há uma dimensão da realidade à qual a figura e comportamento de Trump se adequam na perfeição. É a televisão. Os políticos precisam da televisão e fazem o que podem para a conseguir habitar com sucesso. Muitos falham, muitos mais apenas a atravessam de forma quase invisível e sem deixarem memória de si. Ora, Trump veio da televisão para a política já consagrado como estrela da TV. A sua estratégia, ou quiçá tão-só intuição, passa por dar aos telespectadores o que eles procuram enquanto telespectadores: um bom espectáculo. Nesse espectáculo premeia-se a simulação da honestidade (conseguida pelo uso de insultos e ofensas) e a variedade da narrativa (o que lhe permite vocalizar qualquer barbaridade que apeteça largar, sem restrições, e depois negar que a disse sem ser penalizado). Apoio à tortura, impedir a entrada de muçulmanos nos EUA, dizer que se vai construir um muro na fronteira com o México, atacar as mulheres, atacar o GOP, aceitar o apoio de racistas, são decisões absurdas quando se olha pelo lado eleitoral, pois anatematizam segmentos muito importantes para uma vitória final, mas são igualmente decisões brilhantes quando o que se pretende é apenas perder em grande.
Nesta hipótese, aquilo a que estamos a assistir na América nesta corrida presidencial será a maior operação de marketing de que há registo na História.
é uma hipótese pertinente e imensamente inteligente. mas e os outros, os da blitzkrieg, queriam era ganhar. e se for uma operação de markebrieg?
o pior é se ele ganhar…
O que chateia os cornos de muita gente, é que este sacana diz coisas que muita gente queria dizer mas não tem lábia (tomates) para tanto
Opa mal por mal apanha um taxi.
Até uma latrina será a voz de alguém.
Tipo: fujem! fujem, quê sô maluco!
Não só não está, como tem sérias hipóteses de ganhar, apesar da quase intransponível barreira demográfica. Goste-se ou não (pronto, não se goste), é um discurso que acertou em cheio numa certa América profunda.
Vega9000, só que essa América profunda exclui os afro-americanos, os latino-americanos, as mulheres, os democratas (incluindo os Republicanos democratas), os civilizados, os prudentes, os sensatos e os que ainda não foram diagnosticados com défices cognitivos graves.
Os números são os números.
Os americanos profundos , aqueles que fizeram a disneylândia e as torres gémeas, que foram à lua e criaram holiud e fizeram a guerra do vietnã, e elegeram Obama, são burros e imprevisíveis.
São filhos dos europeus, têm a quem sair.
olha outro que se pudesse votava na trump
trump,sabe melhor do que ninguém, onde estão os broncos nos states! por os negros, terem tido justamente mais voz com obama,leva o “trampa” a jogar nesse campo,para colher dividendos.
Já é ingenuidade acreditar que as eleições nas democracias liberais ocidentais não estão marcadas por 2 momentos distintos, antes e pós eleições. Antes das eleições os candidatos elaboram narrativas mais ou menos tremendistas e populistas porque sabem que a politica como é entendida pelo pipol é , infelizmente, um sucedâneo do entertainment, o infotainment criado pelo establishment televisivo. Obama inovou mas olhando para trás fez o mesmo, aliás disse-o na própria noite em que ganhou as 1ªs eleições, onde começou a esvaziar o balão.
Se Trump for eleito não fará um décimo, ou um duodécimo (mais santa casa da misericórdia) daquilo que diz, porque vai ver quem realmente manda. Quem manda na América e na Europa não são as pessoas.
No entanto, como estamos viciados no jogo, podemos sempre avaliar esta fase inconsequente:O pipol está farto de politicos de mensagens medidas por agencias de comunicação e génios do marketing politico. Também estão fartos de heróis das séries das18 às 24, que depois não aparecem no outro dia de manhã quando vão trabalhar. Trump é o tipo que dá sequência e consequência no horário das 8 às 18, um heroi real do imaginário televisivo.A América profunda é muito superficial, quer Politica Bold em Comic sans.